Terça, 5.
Modernices.
Porque cheguei tarde e carregado, falei ao meu motorista de táxi habitual para
que me fosse esperar ao aeroporto. Ele pediu-me o número do voo para me seguir
pelo smarthfone de Paris a Lisboa e estar assim em ponto na gare. Ao chegar de
chofer nem ver. Contactei-o uma, duas, três vezes para o portátil. Por fim ele
respondeu dizendo-me que ficara preso num qualquer acidente de trânsito. E eis
como de nada servem as modernas tecnologias.
- Uma boa novidade ao entrar ao
portão, foi o corte dos eucaliptos do meu vizinho. Senti-me como se me tivessem
aberto a porta de uma gaiola vegetal. Os horizontes rasgaram-se, o perigo de
incêncio ficou afastado por mais uns dois anos. Ou definitavamente, não sei
ainda.
- Por aqui frio canalha. Hoje -2
graus. Em dias assim, não poupo na energia e durmo com o quarto aquecido. Basta
pôr no ponto três da irradiador, os chineses não irão enriquecer comigo. Há um
ano, em Viena de Áustria, dormia de janela entre-aberta e chaufagem desligada.
Em casa da Annie, fecho sempre o aparelho e descanso com o quarto aquecido
durante o dia. Não sou por isso muito frileux.
- Tenho ali uma pilha de livros para
ler. Sem contar com as 1540 páginas do Montaigne, devo ter leitura para uns
três a quatro meses. Só o terceiro livro da Bíblica de Frederico Lourenço, são
mais 1000 páginas. Não se veja nisto qualquer espécie de lamento. Pelo contrário,
agradeço a Deus ter-me concedido na recta final da vida, um imenso espaço de
tempo consagrado ao espírito. Foi isso que lhe pedi, é isso que Ele me
concedeu. A par deste silêncio, deste céu limpo, destas horas serenas, das
árvores e dos pássaros que me cercam em conformidade.