terça-feira, dezembro 05, 2017

Terça, 5.
Modernices. Porque cheguei tarde e carregado, falei ao meu motorista de táxi habitual para que me fosse esperar ao aeroporto. Ele pediu-me o número do voo para me seguir pelo smarthfone de Paris a Lisboa e estar assim em ponto na gare. Ao chegar de chofer nem ver. Contactei-o uma, duas, três vezes para o portátil. Por fim ele respondeu dizendo-me que ficara preso num qualquer acidente de trânsito. E eis como de nada servem as modernas tecnologias.

         - Uma boa novidade ao entrar ao portão, foi o corte dos eucaliptos do meu vizinho. Senti-me como se me tivessem aberto a porta de uma gaiola vegetal. Os horizontes rasgaram-se, o perigo de incêncio ficou afastado por mais uns dois anos. Ou definitavamente, não sei ainda.

         - Por aqui frio canalha. Hoje -2 graus. Em dias assim, não poupo na energia e durmo com o quarto aquecido. Basta pôr no ponto três da irradiador, os chineses não irão enriquecer comigo. Há um ano, em Viena de Áustria, dormia de janela entre-aberta e chaufagem desligada. Em casa da Annie, fecho sempre o aparelho e descanso com o quarto aquecido durante o dia. Não sou por isso muito frileux.


         - Tenho ali uma pilha de livros para ler. Sem contar com as 1540 páginas do Montaigne, devo ter leitura para uns três a quatro meses. Só o terceiro livro da Bíblica de Frederico Lourenço, são mais 1000 páginas. Não se veja nisto qualquer espécie de lamento. Pelo contrário, agradeço a Deus ter-me concedido na recta final da vida, um imenso espaço de tempo consagrado ao espírito. Foi isso que lhe pedi, é isso que Ele me concedeu. A par deste silêncio, deste céu limpo, destas horas serenas, das árvores e dos pássaros que me cercam em conformidade.