Segunda, 4.
Logo
que assentamos pé no solo, somos esbofeteados pelo bafo putrefacto do futebol
com todas as suas insondáveis orgias de violência, impropérios, patetices e importâncias
balofas. Naquele mundo não entra a justiça, as leis, a política da república -
só ganguesters dominam.
- Barack Obama esteve em Paris rodeado
de seguranças. Foi à capital francesa para uma conferência de que quase todos
os ex-presidentes desta e daquela nação produzem. Recebeu segundo a imprensa 350
mil euros! O homem, se fosse democrata e sério como dizem que ele é, nunca
aceitaria uma tal afronta aos migrantes e pobres que ele diz defender. Esta
minha indignação apresentei-a eu esta manhã ao João Coregedor e logo ele me
devolveu: “Não te esqueça que ele pertence a uma sociedade capitalista.”
- Soube da morte de Bélmiro de
Azevedo. E também tive notícia da opção do PCP contra o voto de pesar na
Assembleia. Discordo, embora o João me tentasse convencer da lógica do partido.
Conheci o Engenheiro, estive com ele umas duas vezes, e pareceu-me um homem
fora do baralho capitalista no sentido restricto do termo. Conheço a lógica do
sistema de mercado e consumo, mas Corregedor ainda fala em luta de classes. Por
amor da santa! Ele não era nem melhor nem pior que os outros, simplesmente não
exibia a riqueza, comportava-se como qualquer comum mortal, era austero no seu
viver, trabalhador, enfrentava o poder, era politicamente incorrecto. Todas
estas características levavam-me a ter apreço por ele.
- Almocei no Príncipe com mais nove
amigos. Antes não o tivesse feito. Carlos e Virgílio (quase recuperado), dantes
de serem servidos, envolveram-se numa discussão a que assistiram os empregados
e àquela hora alguns poucos clientes. Foi muito triste, sobretudo quando o tema
foi o malfado dinheiro.