Terça,
19.
Chou
Chou decretou o fim do Daesh dizendo que fora corrido do Iraque e da Síria.
Pobre monarca! Não tarda vai ter a resposta no seu próprio país, levando ao
desastre os seus súbditos. Como se fosse possível acabar com o fanatismo
religioso por decreto. Eu bendigo o nosso sistema político que por ser
semi-presidencial, não permite a coroação de um qualquer tipo chegado ao poder
vindo do nada.
- Tive de estar em Lisboa muito cedo.
Desci em Entrecampos e entrei no metro. Horror! Horror! As massas de gente a
caminho dos empregos são um autêntico pesadelo. Filas intermináveis para as
poucas máquinas distribuidoras de bilhetes, as antigas bilheteiras fechadas
definitivamente, as plataformas a abarrotar. Não admira que muita gente viaje à
pala. E como de costume, “o povo é sereno”. Nenhuma revolta, nenhum protesto.
De que somos nós feitos, Santo Deus!
- Almocei com o nosso grupo no
Príncipe. Fiz uma troca com o Paulo Santos: ele oferece-me o seu último livro,
eu um dos meus à escolha. Conversa empolgante em torno da mesa: Paulo,
Alexandre, Carlos, Mário. Ignorei o pide que me queria crucificar há tempos na
sequência de uma discussão sobre o regime de José Eduardo dos Santos e outras
parlapatices políticas. Depois, na companhia do Irmão, ficámos que tempos
sentados no parapeito do metro, no Chiado, à conversa sobre arte a rimo-nos de
tudo e nada, apreciações sobre quem estava, quem passava, dos saloios turistas
que como baratas tontas não sabem onde aliviar o vazio que passeiam.
- Vou ter que me decidir. Toda a gente
me empurra nesse sentido embora eu, no íntimo, quisesse deixar após a minha
morte o que me saiu do coração e foi construído com sangue, fibras, raiva e
suor. Despir-me numa manhã tão fria, é algo que ninguém deseja.