Terça, 12.
Ora
bem. O temporal passou com ventos fortes, chuva abundante e a mimosa não mexeu
os pés nem ao genuflexo se prestou, pelo que considero que temos árvore para
vários anos. Não vou dar crédito ao que me disse o homem do fogo, nem ao rapaz
bombeiro que queria uns patacos para arredondar o ordenado - se salário tem.
- Há muito, muito tempo que não caía.
Acontece que vinha carregado com uma braçada de lenha para a lareira e eis que tombo
indo as cavacas cada uma para seu lado. Disse logo: isto é em hora do Couto que
faz anos hoje! Bom. O pior – à parte um joelho a sangrar -, foi ter que mudar
de camisola porque, tendo rebolado o corpo, acabei deitado de costas.
- Por coisas cómicas. Ontem, indo eu
ao encontro do João para almoçar, por alturas do Rossio, sou interpelado por um
senhor de cabelos brancos, vestido como um inglês de alto coturno, onde não
faltava o chapéu à tirolês, casaco de bom tweed,
calças de fazenda verde alface e sapatos castanhos com um rebordo na pala
na cor da chapéu. O homem indagou se eu estava bem de saúde, diz-me que não me
vê há muito tempo, informa-me que trabalha na Alfândega “só na parte da manhã,
mas ganho 2 mil euros/mês” e que tem também uma pequena firma em frente à saída
do metro e pergunta-me se não quero acompanhá-lo até lá para me dar um “cartão
de visita”. Digo-lhe que vou na direcção do Chiado e ele oferece-se para me lá
levar, “porque tenho ali o carro”. Pensei, entro na fnac por aquele lado e
evito de subir esta parte da Rua do Carmo. Quando lá chegámos, ele saca do
telemóvel e diz: “Olha, traz-me um cartão de visita e dois telemóveis para
oferecer a um amigo que encontrei.” Depois, voltando-se para mim: “Não tem aí
cinquenta euros trocados. Estão ali os meus dois netos e queria dar-lhes vinte
e cinco euros a cada um.” Como tinha acabado de retirar do multibanco 40 euros,
digo que só tenho duas notas de vinte. “Vá ali ao multibanco e levante dez.”
Recuso. Ele: “Então empreste-me os quarenta euros que a minha secretária já
lhos dá.” O que se seguiu já os meus leitores adivinham. Agora por que caí eu
no conto do vigário? Porque a sua cara lembrava-me um amigo de longa data que
não via há muito e como a bastantes amigos que vou encontrando, pensei que a
velhice o tinha desfigurado. Agora que fui comido com charme, elegância e
gentileza, fui. Um verdadeiro gentleman...
- Grandes incêndios na Califórnia. A
acrescentar a esta desgraça, sobreveio outra: o pó da terra possui um parasita
que até os pulmões dos habitantes ataca. Muita gente deu entrada nos hospitais
com dificuldades respiratórias.