Quarta, 13.
Há
por aí um novo escândalo que não difere muito dos demais, mas tem a
particularidade de atacar a idoneidade das instituições caritativas que
proliferam de Norte a Sul de Portugal. Tem sede aqui ao lado, na Moita, e era
gerida por uma personagem de antologia, pelo aspecto como pela argumentação.
Digo era porque ante o brouhaha foi
obrigada a demitir-se assim como um outro gestor, Manuel Delgado, secretário de
Estado da Saúde no Governo de Costa, que auferiu num ano 65 mil euros da
Raríssimas, organização apoiada pelo Estado e com ajudas de vários lados.
Aquela organização, sem fins lucrativos, ajudava as pessoas com doenças mentais
raras e teve até como consultor o Ministro da Saúde e Segurança Social, Viera
da Silva, que também não sai bem deste escarcéu. A dita senhora, é acusada de
ter um ordenado fabuloso, de usar os fundos postos à disposição da IPSS em
viagens, um carro espampanante e até vestidos assinados, tudo comprado com o
cartão da Raríssimas.
- Esta questão levanta uma pergunta: é
a Raríssimas a única a aproveitar-se dos fundos e donativos das empresas
privadas? Estou certo que não. Até porque o Estado não fiscaliza nada, deixando
as irmãs da caridade à mercê da ira de Deus. Eu fui sempre contra estas e
outras instituições. Acho que é ao Estado que compete zelar pelos portugueses,
promovendo a dignidade, o trabalho e os salários em conformidade. Há milhares
de “técnicos” e caritativas criaturas a viver à conta dos infelizes. Todos
ganham. Ganha o Estado porque declina a responsabilidade em terceiros, ganham
os supermercados porque escoam os produtos, ganha o Estado com o iva das dádivas
dos cidadãos, ganham as empresas porque não pagam tantos impostos. E assim,
neste mar misericordioso, vão vivendo dois milhões de pobres. Sem esquecer,
aquela alegria que invade os corações das senhoras e senhores de posses, que
fazem a penitência dos seus pecados com o tempo e dinheiro consagrado aos dias
de recolha de “bens para os mais necessitados”. Não sei se escapam assim ao
inferno, sei que neste mundo passam por santas criaturas que dão dois dias por
ano a uma causa que o céu odeia.