sábado, dezembro 30, 2017

Sábado, 30.
De repente, perante a revolta que vai de Norte a Sul, os deputados que se fecharam a cadeado para cozinhar e aprovar uma lei que os favorece em pleno, vêm agora dizer isto e aquilo sobre ela, de modo a deitarem poeira para os olhos dos portugueses. Parece que Marcelo Rebelo de Sousa, do hospital onde foi submetido a uma operação, vai despachar o assunto pondo o seu veto presidencial. Quem os topa a todos, é Margarida Salema, antiga directora da ECFP, que ontem ao Público diz textualmente que a lei tecida às escondidas, é “muito duvidosa do ponto de vista do Direito” e sobre a isenção do IVA aos partidos, defende que “não se aplica às campanhas, sob pena de inconstitucionalidade”. E siga a marcha.   

         - Foram muito curiosas as defesas do João ontem à mesa da Brasileira. Com o empenho do orador que ele foi na Assembleia, ocorreu em favor de Cristiano Ronaldo, contra a juíza que o quer na prisão por dívidas ao fisco no montante de 17,7 milhões de euros, repetindo que ele não sabia do negócio e afirmando que “o maior jogador do mundo” evoluiu muito, é inteligente, ao ponto de ter aprendido inglês e deixar de socar os companheiros no relvado. Eu argumentava, pelo contrário, que Ronaldo sabe de tudo, conhece os movimentos financeiros, tem personalidade dupla, e de inteligente pouco possui sendo é esperto.
        
         De igual modo, saiu em defesa de José Sócrates, argumentando que é tudo uma cabala, que o ex-primeiro-ministro é uma pessoa honesta e tudo não passa de mentiras da direita. Perante a minha indignação, repetiu aquilo que costuma dizer quando eu não concordo com ele e não me importo de o rebater: “Isso vindo de ti, que és uma pessoa culta e inteligente!..“

         - No restaurante onde almocei, havia uma fila de gente para encomendar o prato ao balcão e pagar. Na minha frente tenho um casal de miúdos pelos dezasseis/dezassete anos. Ela já com ar de madre prioresa, ele imberbe de bexigas no rosto. A dada altura, ela ordena-lhe que reserve a mesa que vagou para dois, sentando-se com os haveres de ambos. Ele abanca, mas ela fica de olho nele. De longe, dá-lhe ordens para pôr o casaco dela na cadeira da frente, depois que dispa o seu porque está calor, depois que não há Coca-Cola, só Pepsi. Ele encolhe os ombros e ela aceita o refrigerante. Paga a despesa e leva os dois tabuleiros à mesa onde o paxá a espera, satisfeito. Só faltou meter-lhe a paparoca na boca - o moço era de uma passividade assustadora. Quem disse que os tempos mudaram deve andar distraído. Dito de outro modo, os homens estão condenados a serem segundos no futuro.     


         - Esta manhã, leitura das primeiras cinquentas páginas do Capítulo Segundo que terminei esta semana. Muita coisa a clarificar, a suprimir, alguma a reescrever. Aqui e acolá, sensação de fracasso que me deixou profundamente deprimido. Ainda por cima, tempo depressivo.