Domingo,
3.
Antes
de deixar Paris, sob frio implável, visita ao mosteiro de Maubuisson, Val
d´oise, a meia hora de Paris. Um parque soberbo que não podemos visitar e o
interior da abadia cisterciense bem recuperado com ateliers para artistas e
salas abertas ao público. Infelizmente, imperavam as pavorosas instalações, que
roubavam ao visitante as abóbadas imaculadas do conjunto das Salas das
Religiosas, do Capítulo, do Falatório e das Latrinas – únicas conservadas de um
vasto domínio religioso do século XIII, fundado pela rainha Branca de Castela, esposa
de Luís VIII de França. Pouca gente e a vista da neve lá fora imprimia na paisagem
a luxuriante beleza das árvores gotejando folhas de variadas cores que atapetavam
os espaços.
- A Michel, nossa vizinha, levou-nos
ao Hugues e a mim, à Defense. Há anos que não ia por lá, àquela paisagem de
betão e vidro de uma sinistralidade impressionante. Para lavar o espírito dos
horrores arquitectónicos, desci a Saint-Michel onde a Paris de outros tempos
conserva o traço cultural que a engrandeceu aos olhos da humanidade. Ali
Haussmann está intacto, como Napoleão III, como a catedral de Notre-Dame, como
Julien Green nos seus passeios nostálgicos, como... Entrei por breves instantes
no Luxembourg numa despedida devaneadora que me aproximou das raízes que
soletram na intimidade as coisas que não se contam e se guardam para encher os
romances que nunca escreverei...
- Um derradeiro olhar sobre o jardim, hoje atapetado de neve, que eu admirava ao acordar quando abria os
reposteiros da janela e descia os olhos sobre aquele sossego matinal onde só os
pássaros tinham lugar.