domingo, dezembro 03, 2017

Domingo, 3.
Antes de deixar Paris, sob frio implável, visita ao mosteiro de Maubuisson, Val d´oise, a meia hora de Paris. Um parque soberbo que não podemos visitar e o interior da abadia cisterciense bem recuperado com ateliers para artistas e salas abertas ao público. Infelizmente, imperavam as pavorosas instalações, que roubavam ao visitante as abóbadas imaculadas do conjunto das Salas das Religiosas, do Capítulo, do Falatório e das Latrinas – únicas conservadas de um vasto domínio religioso do século XIII, fundado pela rainha Branca de Castela, esposa de Luís VIII de França. Pouca gente e a vista da neve lá fora imprimia na paisagem a luxuriante beleza das árvores gotejando folhas de variadas cores que atapetavam os espaços.



         - A Michel, nossa vizinha, levou-nos ao Hugues e a mim, à Defense. Há anos que não ia por lá, àquela paisagem de betão e vidro de uma sinistralidade impressionante. Para lavar o espírito dos horrores arquitectónicos, desci a Saint-Michel onde a Paris de outros tempos conserva o traço cultural que a engrandeceu aos olhos da humanidade. Ali Haussmann está intacto, como Napoleão III, como a catedral de Notre-Dame, como Julien Green nos seus passeios nostálgicos, como... Entrei por breves instantes no Luxembourg numa despedida devaneadora que me aproximou das raízes que soletram na intimidade as coisas que não se contam e se guardam para encher os romances que nunca escreverei...


         - Um derradeiro olhar sobre o jardim, hoje atapetado de neve, que eu admirava ao acordar quando abria os reposteiros da janela e descia os olhos sobre aquele sossego matinal onde só os pássaros tinham lugar.