quinta-feira, setembro 30, 2021

Quinta, 30. 

Quando saí do dentista, atravessei a Conde Valmor pédibus cum jambis. Por todo o lado, precisamente nos passeios cruzados constantemente por muita gente, a inteligência iluminada de Medina, ou antes aquela governação na onda de tudo quanto é moda que desmoda como dizia Jean Cocteau, criou corredores para bicicletas. Aquilo são decursos de pavor, onde com facilidade somos atropelados por ciclistas que parecem treinar para a próxima maratona. Não lembraria ao tinhoso construir pistas nos passeios públicos! Pois bem, esta foi a obra que o bebé Nestlé deixou de herança à capital. Suponho que foram as meninas do BE, Deus as abençoe, disseram que só em Lisboa naquelas autênticas pistas olímpicas, morreram já 28 idosos. Espero que Carlos Moedas destrua aquelas faixas que desafiam a vida a quem nelas passa ou, pelo menos, as desça para a estrada.  

         - Os taxistas são uma instituição de conhecimento e má-língua em todo o lado. Ontem entrei num táxi. Ao aproximarmo-nos da zona do Arco do Cego, o condutor diz-me:

         “- Estamos na zona do Costa. 

         - Costa?

         - Sim, o António Costa. Ele morava aqui. 

         - Pensava que era na Avenida da Liberdade. 

         - Sim. Parece que comprou lá um andar, mas agora foi viver para Benfica porque esta está em obras. O dinheiro deles dá para tudo. 

         - Julgava que a residência da Avenida da Liberdade era alugada – disse eu quase a medo.

         - Talvez. Mas diga-me lá quem é que pode viver nessa avenida ao preço que estão as casas. Só o Ronaldo e o Costa.” 

         - Vamos ver se percebo mais esta nova jogada do nosso magnetizador António Costa. Independentemente do bom trabalho que sua excelência o senhor vice-almirante Gouveia e Melo fez na organização da vacinação a nível nacional (pese, embora, o início autoritário que emendou rápido), o primeiro-ministro, num estratagema bem urdido, sobretudo desde que uma revista americana, digo bem, americana elogiou o trabalho do oficial da Armada Portuguesa, apressou-se a dispensar o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante António Mendes Calado para dar o seu posto ao vice-almirante Melo. Por uma razão fundamental: Calado tinha-se manifestado contrário a Lei Orgânica de Defesa Nacional proposta pelo PS no Parlamento e, julgo, também assinou a Carta dos 28 com Ramalho Eanes à cabeça. Costa tinha de apressar a vingança pois, como o mandato do actual chefe militar tem ainda a duração de dois anos e Gouveia e Melo, em 2003, já teria passado à reserva por limite de idade no posto que ocupa hoje, urgia aproveitar a situação e afastar aquele que se opõe ao Governo. Mas Costa, na fúria de planear “quem se mete com o PS, leva”, esqueceu-se que quem exonera um oficial da craveira de Mendes Calado, é o Presidente da República enquanto Chefe Supremo das Forças Armadas. Daí as reuniões hoje em Belém. Marcelo não deve ter gostado da manobra. Todavia, quem tenho a certeza que não a apreciou, foi o ex-CEMA, Almirante Melo Gomes, ao afirmar a propósito:  “A demissão de Mendes Calado parece a reedição do PREC de 1975, em que há saneamentos políticos", acrescentando: "Uma pessoa que não está de acordo, exprime as suas ideias no local próprio, no Parlamento, diz que cumpre a Lei e depois é demitida. Se isto não é saneamento político é o quê?" Bem entendido, penso que Gouveia e Melo não foi tido nem achado para esta vergonha. É até para ele uma desonra o modo como tudo foi programado pelo ministro da Defesa e o primeiro-ministro. O tom é ditatorial e antidemocrático, o gesto salazarista. 


quarta-feira, setembro 29, 2021

Quarta, 29. 

Há dois factos que são cíclicos quando de eleições: todos se arvoram vencedores e, ante a abstenção, querem transformar o voto, que é um direito e um dever, em obrigatório. Nem lhes ocorre que a partir da imposição ficam expostos à certeza de que o eleitor exprime por revolta votando em branco ou com manifestações concretas de ordinarices no boletim. A culpa é sempre dos portugueses faltosos às urnas, nunca das políticas e deles políticos corruptos e mal preparados para governar. Eu sou dos que acham que a não ida às urnas, é uma manifestação política tão válida como qualquer outra. E se fosse político e, sobretudo, democrata nunca imporia tal obrigação contrária à democracia, na medida em que esta tem como expressão máxima a liberdade. 

         - Dito isto, o que se passou nas autárquicas, foi uma vergonha. O Partido Socialista ganhou em maioria de câmaras, mas perdeu as mais simbólicas e importantes: Lisboa, Coimbra e Porto. Por culpa de António Costa que foi a todas impondo o saco dos milhões da esmola que a UE nos deu uma vez mais, em vez de ser honesto e propor desenvolvimento, projectos, trabalho e tenacidade. Foi primeiro-ministro, falou a partir de S. Bento, baralhou funções na avidez do poder, maltratou os seus adversários, foi sectário, impositivo, senhor disto tudo em vez de secretário do seu partido. Os munícipes deram-lhe a resposta à altura. O melhor, o mais saboroso, foi ver Medina apeado. Os lisboetas estavam fartos de propaganda barata e elegeram Carlos Moedas que surgiu silencioso, do fundo de uma lembrança desagradável, para lhe arrebatar o posto. Quem viesse depois do bebé Nestlé, faria (fará) sempre melhor. É isso que eu espero do actual presidente da Câmara de Lisboa. Todavia, a grande vergonha e preocupação, foi ver que 46,32% de portugueses recusaram por desinteresse, desconfiança, descrédito e saturação de um regime formado por barões e baronesas, sem a mínima formação e convicção democrática, em 50 anos de democracia não conseguiram mudar Portugal para melhor, votar neles. Mais: que agradável foi ver as meninas do BE reduzidas mais uma vez à sua insignificância! Assim como aquele cometa de pequenos partidos oportunistas, compostos por intelectuais de esquerda, que debitam postas de pescada em jornais e parlatórios públicos, mas nada percebem da acção e do saber prático da política.  

         - Já agora, porque tudo anda relacionado e as sinapses económico-politicas são um facto, quero referir a fuga do banqueiro arrogante e visivelmente cúmplice de vários crimes para o estrangeiro, o novo-rico João Rendeiro. O ex-presidente do Banco Privado Português, foi condenado a seis meses de prisão efectiva por crime de burla qualificada, entre outros que aguardam decisão do tribunal. Está algures fora da Europa e como se mandasse num país pequeno e nos seus minúsculos governantes que deve conhecer como ninguém, via internet, informa que o seu estatuto moral e próspero, não pode ser enxovalhado por uma ou um qualquer juiz sem nível para o julgar. Assim, sem mais. Toma e embrulha.  

         - Anteontem o Filipe apareceu e almoçámos lá fora no terraço. Depois do almoço de arroz de pata no forno regado com um excelente Marquês de Borba que ele trouxe, rematámos o repasto com os primeiros dióspiros que o encheram de satisfação e eu lhe ofereci meia dúzia para levar aos filhos. Seguiu-se a serração dos taralhoucos e aí tanto ele como eu foi manifesto que não nascemos para aquilo. Desde saber como funcionava a serra (desde o ano passado que não a utilizava e havia esquecido completamente o seu manuseamento) ao términos do trabalho sem que eu conseguisse parar a máquina, tudo nos aconteceu. Felizmente o Filipe é homem das novas tecnologias e vai daí, sacando de telemóvel, logo me deu a ver o seu funcionamento e a recordar o que tinha olvidado. Do que se conversou, não é para aqui chamado.     

         - Ontem almocei com a Teresa e João na Benard. Agradáveis e opíparos momentos, onde a política foi posta de lado, por quem, imaginem, João Corregedor! No Chiado não corria vento e a tarde ficou saborosa convidando ao remanso que se estendeu por umas três horas de cavaqueira salteada. Teresa Magalhães ofereceu-nos o catálogo da sua última exposição, A Invenção da Vida, ocorrida em Julho deste ano, no recentemente inaugurado Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves; falou-nos do trabalho que tem em mãos que pretende explorar o subconsciente. Curioso, quis logo saber como se traduz na tela uma tal dimensão humana e pedi-lhe que fotografasse um ou outro quadro para eu ver. Estava brilhante, com voz clara, discurso lesto. Quando lhe disse que pensava que ela já não conversava, respondeu que só conversa quando há conteúdo para isso, querendo dizer que o que se passa na esplanada mais acima não a atrai “de maneira nenhuma”.    

         - Acabei de chegar do dentista. Comboio bondé. Amanhã e depois não cedo a nenhuma tentação por mais excitante e roliça que seja – daqui não arredarei pé!  


domingo, setembro 26, 2021

Domingo, 26.

Não queria deixar escapar a sentença do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, responsabilizando a Rússia pelo assassínio de Alexander Litvinenko ocorrido em Londres em Novembro de 2006 com polónio 210. O ex-espião pertencera ao KGB no mesmo período em que Putin fazia parte da organização e mantinha de longa data divergências pessoais com ele. 

         - O Outono instalou-se esta semana. Com ele as noites choram e as suas lágrimas contribuem para que árvores e plantas não morram ao mesmo tempo que a mim me favorecem reduzindo a carga de trabalhos diários a regá-las. Mas continua a fazer calor e hoje o robot prosseguiu silencioso o seu baile limpando paredes e fundo da piscina, de modo a que eu possa utilizá-la até ao limite deste Verão estupendo que tivemos.  

         - O que dá sentido a esta vida, é a que vem depois. 


sábado, setembro 25, 2021

Sábado, 25.

Angela Merkel está de saída ao fim de dezasseis anos de poder. Marcou um estilo de governadora, onde impera a simplicidade, um certo jeito pessoal que não se apropria do cargo, uma forma de se apresentar internacionalmente sem temer nem se deixar subjugar pelos seus parceiros, um toque humano na maneira como decidiu, defendeu ideias e ideais, como manteve a Alemanha a principal força da Europa com assento nas decisões do mundo, com sensibilidade bastante para reconhecer os dramas humanos e compreender a dimensão do cargo que ocupou. Talvez se venha a falar no futuro de merkelismo, porque a sua acção deixou um traço forte em vários momentos da História recente, destacando eu a crise dos migrantes que acolheu de braços abertos contra a sociedade xenófila alemã, a interlocutora avisada quando da crise na Ucrânia, o diálogo com a França e o sentido supremo da liberdade na direcção da União Europeia, o embate com Donald Trump e alguns outros déspotas. Nem tudo foram rosas? Decerto. Ainda assim ninguém lhe tira a referência de uma das grandes chanceleres que a Alemanha teve, ao lado de Adenauer, Willy Brandt e Kohl. Que a Europa tivesse dirigentes do seu quilate e seria hoje um espaço de liberdade, progresso e humanidade.    

         - Ontem fui ao encontro da Carmo para um almoço no Vitta Roma. Ficámos até tarde à conversa e, curiosamente, sem que se falasse mal de ninguém... Conversámos sobre arte e artistas, a galeria que expõe os seus trabalhos em Paris, muito perto do Museu Picasso, em pleno Marais. Eu não sabia que ela havia trabalhado em azulejos, arte que aprendeu na Bélgica. A seguir demos um passeio pela avenida do mesmo nome e certificámo-nos – sobretudo ela – que muita coisa tinha desaparecido, sendo aquela artéria um lugar de passagem sem o interesse e o chique pindérico de outros tempos. 


sexta-feira, setembro 24, 2021

Sexta, 24.

No fundo da história pessoal de cada um de nós, está escrita a vida que não relembrará a nossa passagem por este mundo. 


quinta-feira, setembro 23, 2021

Quinta, 23.

É uma autêntica desgraça para milhares de espanhóis que viram partir campos e casas reduzidos a lava incandescente que ameaça ficar por mais três meses destruindo tudo à sua passagem. A ilha parece estar toda ela em ebulição, como um braseiro monstruoso que as escuridões cálidas acicatam de fúria no sereno de noites imemoriais, perdidas nos confins de mundos inabitados ou povoados de assombrações dantescas. Felizmente não se regista nenhuma morte, mas os danos são incalculáveis. É toda a paisagem com seus elementos adornados por mão humana que se perde para torrentes de magma descendo ameaçadoras montanha fora. Tudo é escuro, o próprio ar irrespirável, a bela ilha virou um espaço de morte, silvado do murmúrio do fogo que se agita em labaredas horrendas, vestida de beleza e segredos, quando a natureza acorda para se manifestar virando a terra ao contrário e exibindo o mais extraordinário mistério.

         - A campanha autárquica prossegue oferecendo o mais burlesco espectáculo humano. Desde o Fanan às meninas cantadeiras, tudo se iguala em palhaçada e anedota de mau gosto e imperecível charlatanice. Se o nosso futuro não fosse tão sério, eu descia a terreiro vestido de cetim acobreado, castanholas e saia rodada, carnal e grosseiro, para me esgotar de cansaço e gozo até ao romper do dia da votação – o dia das trevas.  

         - Não sei que bicho me mordeu para atacar tanta coisa em sucessivos entusiasmos de trabalho. Talvez fosse a energia octogenária da Piedade que me transmitiu força, o facto é que de uma assentada podei as palmeiras e levei os ramos para o fundo da quinta juntando-os aos infestantes para queimar; tratei a mesa do terraço com verniz; apanhei o resto dos marmelos, uvas, figos, maçãs e, por fim, um ramo de odoríficas alfazemas que ofereci à minha empregada. E para findar a tarde – oh, supremo prazer! – meia hora de natação. 


quarta-feira, setembro 22, 2021

Quarta, 22.

“Se vamos formar os Estados Unidos da Europa, devemos começar já”, dizia Churchill em 1946, citado por Ana Sá Lopes há dias no Público. Vejamos. Paul Morand, embora tivesse alinhado pelo lado errado da História, achava o ilustre homem um enganador e um amador em tudo. Quem melhor do que ele para o compreender depois de ter exercido funções ao mais alto nível em Londres, entre 1939-1940. Através da embaixada francesa no Reino Unido, cruzou-se não só com ele, como com um vastíssimo mundo político-económico, atravessou o mar várias vezes, foi ao encontro deste e daquele, lutou para evitar a II Grande Guerra e tudo fez também para deixar de lado a França no terrível conflito, ao ponto de ter apoiado Pétain e Pierre Laval em Vichy. A ideia de uma Europa unida, estava a hibernar muito antes de o velho primeiro-ministro britânico se arvorar em arauto da causa. No concerto das nações civilizadas do Ocidente, durante a guerra, quase todos os intelectuais e homens políticos ligados a De Gaulle (e não só) urdiam nisso. No seu Journal de guerre é frequente lermos os seus nomes e, entre eles, o fundador da União Europeia tal como hoje a temos: Jean Monnet e, também, Robert Schuman. Talvez no fundo, Winston Churchill quisesse qualquer coisa próxima da Commonwealth, ou melhor meter todos os países no mesmo saco. O homem nunca foi verdadeiramente claro, optando pela sua habitual ambiguidade que o tinha arrastado na mesma enxurrada da tragédia de Oscar Wilde sem se comprometer e se importar com o sofrimento do autor de A Balada do Cárcere de Reading de 1898. São dele estas palavras: “A Grã-Bretanha é fundadora e centro de um império e da Commonwealth. Nunca faremos nada para enfraquecer os laços de sangue, de sentimento, de tradição e interesse comum que nos unem aos outros membros da família britânica de nações.” Seguiu-se um período em que o ex-primeiro-ministro se desdobra em viagens, discursos, proclamações de irmandade e assim. A ambiguidade e o duplo (na vida política, intelectual e até sexual) que existia nele, é registada por Morand, em Junho de 1940: “Le discours de Churchill, três pâteux et long, hier, contenait une menace à l´égard de l´Allemagne et une à l´égard de la France: `Nous ne pouvons vous délier de votre promesse de ne pas signer de paix séparée` e conclui Paul Morand: “Ce qui est contradiction avec son autre frase: “Quoi qu´il arrive. Notre victoire sera la victoire de la France.”  O que se seguiu foi que o cultíssimo e sólido primeiro-ministro Edward Heath, em 1973, depois de um referendo à população, deu entrada do Reino Unido na então Comunidade Económica Europeia nas condições que todos conhecemos, isto é, não totalmente dentro da União Europeia. 

Já agora, se me permitem, relembrarei que os portugueses nunca foram tidos nem achados na escolha que outros países verdadeiramente democráticos tiveram. Assim como direi – e é sintomático – que tenha sido com governos socialistas que fomos desprezados e nem nos inquiriram se queríamos entrar em tal sociedade. Primeiro com Mário Soares, com a entrada na então CEE; depois com aquele que meteu a mão nos bolsos do Estado, José Sócrates, com o chamado “Tratado de Lisboa” e por fim com António Costa que agora apenas se serve dos dinheiros da UE para ambições pessoais mais largas. 

         - Justamente, António Costa. O homem não tem vergonha nenhuma. O que ele se comove com o destino dos trabalhadores da Galp de Matosinhos! Apenas razões de ambição e poder lhe soltam suspiros que não o abalam quando se trata de milhares de trabalhadores postos em situação dificílima com perda de emprego devido à Covid-19; ou as centenas que o seu homem de esquerda pôs na rua da TAP. Provavelmente, uns para ele, são trabalhadores de primeira e outros de segunda. Uns têm barriga de mosca, outros estômago de orangotango. Costa não merece a estima dos portugueses e espero que eles saibam distinguir o mandato autárquico socialista e do país, remetendo-os para canto na Assembleia por largos anos. Penso que é isso que irão fazer os comunistas a nível legislativo. Estão a ser demasiado enxovalhados para voltar a acreditar num homem que desonra o socialismo que proclama. 


terça-feira, setembro 21, 2021

Terça, 21.

Chamam-lhe Cumbre Vieja ao vulcão que anteontem entrou em erupção na ilha de Palma, nas Canárias. Desde há duas semanas que ameaçava com epicentros a mais de 20 quilómetros de profundidade que por estes últimos dias vieram à superfície. O que as imagens hoje nos mostram, é a sua força bela e destruidora, que expele magma a distâncias imensas, reduzindo vegetação e mais de 100 casas a cinza e deixando na paisagem uma tal transformação que diríamos ter-se ali consumado todos os versículos da Bíblia, até se lançar no mar. 

        - São uma derrota para a autoridade déspota de Putin os atentados numa escola russa, em Kazan. Morreram pelo menos sete estudantes e uma professora, várias dezenas de outras foram feridas. O ataque foi obra de um ex-aluno, de 19 anos, e os motivos parecem ter sido a raiva e a revolta. Estes fenómenos que se julgava só terem lugar nos EUA, também podem ocorrer em regimes ditatoriais. Nada é perfeito, senhor Vladimir Putin. Nem o KGB ou FSB ou SVR. 

         - Fui ao Centro de Saúde mostrar os resultados da série de exames anuais e aproveitar para falar sobre o cisto de Backer que retornou há dois dias durante o sono. Chegou violento, mas com o medicamento do Tó abrandou, impõe-se em tamanho, mas não em dor. Em vésperas de partir para Paris, não vinha nada a calhar ter por companheiro um chato desta natureza. Bom. Diz-me a médica que não me apoquente e trocou-me a droga do meu amigo (salvo seja) por outra que é menos invasiva, disse. Quanto ao mais, porque chegou há dois meses, mostrou-se surpreendida pelo óptimo resultado de todos os exames e quis saber o que como, como vivo e assim, mas isso fica para outro dia. Avanço que ainda não foi desta que fiquei condenado a tomar porcarias “para o resto da vida”. 

         - Que mais? Parece que vamos ter chuva. Adiantei-me e guardei a lenha debaixo do telheiro embora tivessem ficado de fora os taralhoucos maiores que vou pedir ao Filipe mos cerre como digestivo do almoço que conto oferecer-lhe segunda-feira. À parte isso, colhi quase todos os marmelos e rezo para que os muitos, muitíssimos, dióspiros amadureçam antes de deixar este mosteiro. Os medronhos é certo e sabido que irão estragar-se porque só agora estão a começar a exibir a sua bela cor avermelhada-laranja. Ah, os figos! Sim ainda ontem lá fui apanhar mais uns quantos. Estes que receberam a bênção das primeiras chuvas, vêm rechonchudos e saborosos. Narrar estes factos caseiros, é reinventar uma vida de antanho, é trazer para o presente a renovação da felicidade que ficou nos interstícios dos dias idos, quando tudo era humano, tinha nomes próprios e fazia da existência um longuíssimo poema que nenhum poeta armazenou talento para o escrever. Estou que não posso de encantamento. Arrisco até perder a cabeça nestas linhas lançadas ao acaso sobre a folha do computador, nesta hora alvíssima, quando o sol espreita a pedir licença por entre os ramos das árvores, no fio das sombras que vai de um lado ao outro da quinta e eu avisto do lugar onde a escrita se exerce contra todos os ditadores, os democratas de caviar, os usurpadores da verdade, e toda essa fila de grisalhos danados que espreitam vez de tomar o poder aos rafeiros que se reformam, de olhos cansados, pendentes dos rostos onde morreu a avidez e a verdade restituiu a humildade e a sabedoria de quem só lhe resta farejar a morte...  


domingo, setembro 19, 2021

Domingo, 19.

Perante o estado das nações, cada uma a puxar a brasa à sua sardinha, há muito que advogo que a Europa devia ter um sólido sistema de segurança. Comecei a pensar assim quando o alcoólico Bush (filho), disse que a Europa era uma velha senhora frágil e ultrapassada. Depois veio o matulão do Donald Trump e percebeu-se que a América não era parceiro em quem se possa confiar. Agora com o tremeliques Joe Biden, aplicando os mesmos princípios do seu antecessor, mais delico-doce mas nem por isso menos brutal, confirmou-se as minhas apreensões e certezas. O que o homem fez é em linguagem chã uma sacanice, quando negoceia com o Reino Unido e Austrália, um pacto para a região do Indo-Pacífico, fornecendo-a com submarinos nucleares nas costas dos seus aliados europeus. A França reagiu porque já estava envolvida no negócio da venda dos 12 submarinos, pelo astronómico valor de 60 mil milhões. Se apenas se tratasse de uma negociata de salteadores, tudo estaria bem. Porém, o problema é mais vasto e envolve a China que há muito domina o espaço marítimo naquela região. O que sairá desta afronta, está para se ver. Uma coisa é certa: a Europa não pode confiar mais nos EUA com ou sem Trump – os seus sósias estão por todo o lado. 

         - Uma parte dos países estão em eleições, mas em quase todos sabe-se antecipadamente quem é o vencedor. É o caso da Rússia onde a ida às urnas é uma fantasia e uma comédia, prevendo-se que Putin ganhará por larga margem; é o caso entre nós que terá o Partido Socialista por vencedor, já que Costa nunca despiu a estamenha de primeiro-ministro e empurra com a barriga sacos de milhões de euros; é o caso da Alemanha onde a senhora Merkel já não pode candidatar-se e o seu sucessor é Armin Laschet. Por mim é-me indiferente, posto que, por estarmos em campanha autárquica, a câmara daqui (comunista) consertou este fim-de-semana (e bem, enfim!) os caminhos de terra batida que me levam e trazem ao meu cenóbio. 

         - Andava inquieto com a falta de conhecimentos acerca do livro citado na questão do Le Monde. Fui pesquisar e, afinal, trata-se de Freshwater, peça de teatro, sátira passada na época vitoriana que Virginia Woolf escreveu no século passado e foi encenada por Viviane Forestier uma amiga de Julien Green. Fiquei esclarecido, resta lê-la. 

         - Acabei de fazer 30 minutos de gloriosas braçadas com a água já como eu aprecio: fria q.b. De seguida fui apanhar marmelos e romãs para oferecer aos Legros que não param de me convidar para almoçar e jantar. Com eles a conversa é interminável e sempre apimentada com humor por vezes picante. Bref


sábado, setembro 18, 2021

Sábado, 18.

Por estes dias diversas obrigações obrigaram-me a correrias malucas em Lisboa. Quando de súbito, estando eu a descer as escadas rolantes do Corte Inglês vindo do restaurante, amparei-me ao corrimão e deixei que o sistema me levasse e com ele o meu pensamento por instantes voou na direcção de ? Quando cheguei ao patamar, as duas senhoras que desciam comigo, abordaram-me: “O senhor precisa de ajuda?” Pensei tratar-se do meu caminhar andarilho e original mas depois, percebi que não seria por isso dado que elas não me haviam visto andar. “Não. Obrigado” respondi. Então uma delas disse: “É que o senhor tinha uma cara tão triste que metia dó. Parecia que não estava cá.” Sosseguei-as e fui à minha vida. Mais tarde reflectindo sobre o assunto, lembro-me de ter deixado por algum tempo este mundo, mas não sei explicar que outro planeta era esse e, sobretudo, porque quando para lá deslizei me tornara tão infeliz para atrair a misericórdia das duas simpáticas criaturas. Também não me recordo como era essa região para a qual me ausentei; sei que estive em algures, mas não sou capaz de dar qualquer pormenor. Mistério.   

         - O jornal Le Monde mandou-me um questionário sobre a obra e a escritora Virginia Woolf. Extenso, grosso modo, em inglês que fui respondendo como sabia e me recordava, com espaço para a minha opinião pessoal sobre alguns dos seus livros e do grupo Bloomsbury e Hogarth Press. No dia seguinte, mandaram-se o resultado: 80% de aprovação. Nada mau, tendo em conta que há muito não leio a autora de Orlando. Penso que não me deram os 100% porque não consegui ter opinião sobre uma obra que nem sabia da sua existência e infelizmente nem anotei o título. 

         - Vou continuar como se nada fosse. Pelo menos até ao fim do mês, irei tratar a água e nadar quando o tempo o permitir. Hoje de manhã, até frio fazia no jardim dos Legros onde estive à conversa e a tomar café. Agora, 16,28, corre um vento desalmado - que ao menos ele sirva para enxotar as moscas democráticas que nos oferecem um pote de coisa nenhuma. 


quinta-feira, setembro 16, 2021

Quinta, 16.

“Notre vie est un livre qui s'écrit tout seul. Nous sommes des personnages de roman qui ne comprennent pas toujours bien ce que veut l'auteur.” Julien Green. O segundo e terceiro volumes do Journal intégral do diarista foram hoje postos à venda. O Jackie que ontem apareceu a desafiar-me para jantar tendo chegado há dois dias de Paris, disse-me que por todo o lado nas montras das livrarias está anunciada a saída da obra. Daqui a pouco vou almoçar com o casal Legros. 

Julien Green, chez lui, rue Vaneau 


quarta-feira, setembro 15, 2021

Quarta, 15.

É muito engraçado sem ter graça nenhuma. Há pouco liguei à SIC para saber novas do mundo. Aparece António Costa, anafado, de fato e gravata, falando, feliz, com tudo o que foi feito para erradicar o coronavírus das nossas vidas e agradecer aos professores, médicos e pessoal auxiliar e aos portugueses por terem sido exemplares e obedientes das regras da DGS. A seguir vem uma série de notícias: professores em greve, médicos a manifestarem-se contra os baixos salários e a saturação de trabalho, doentes sem médico de família, empresas a fechar com os trabalhadores e pedirem medidas de protecção, funcionários de autarquias na rua a reivindicar justiça e melhores ordenados, à porta do Parlamento estão em protesto professores do ensino artístico e o cortejo de descontentes não tem fim, como se Costa vivesse num país e os demais noutro. 

         - Quando ontem falei das ligações perigosas entre políticos que viajam do público para o privado, não sabia quanto a coisa é escandalosa. Veio orientar-me sobre o assunto o médico Bruno Maia, que parece milita do partido das duas meninas, mas isso pouco me interessa sendo mais importante o que ele diz no livro que acabou de sair: O Negócio da Saúde: Como a medicina privada cresceu graças ao SNS. Segundo ele “a destruição das carreiras médicas através da empresarialização dos hospitais e da introdução de contratos individuais de trabalho representam 40% do total”. Por outras palavras: cada médico privado é para o negócio da medicina, um empresário individual com tudo o que isso implica. A pouca vergonha entre hospitais públicos e privados, vem de longa data,  e faz com que os que laboram no público só façam 42 horas por semana, dados de 2018, o resto do tempo quem os quiser encontrar sabe onde os procurar, digo eu. Diz ainda o neurologista que estudou o percurso de 45 ministros e secretários de Estado da Saúde depois do 25 de Abril de 1974 até 2020. “40 % apresentam ligações a empresas do sector anteriores ou posteriores ao início de funções governativas”. É este o Portugal que António Costa quer e os acólitos aplaudem. O povo doente que se amanhe, que morra se tiver que morrer, posto que o país continue com doentes de primeira (ADSE e privados e de segunda (SNS esfarrapado).  

         - Sua Santidade o Papa Francisco está de visita pastoral à Eslováquia depois de ter passado pela Hungria. Antes de deixar o Vaticano, escreveu a introdução ao livro do seu antecessor Bento XVI, A Verdadeira Europa, Identidade e Missão : “Hoje, na Europa, perde-se cada vez mais a ideia de respeito por cada vida humana, a partir da perda da consciência da sua sacralidade, isto é, a partir do ofuscamento da consciência de que somos criaturas de Deus.”  

         - Bom. Não me posso queixar, os exames globais que hoje me chegaram, indicam um homem de vinte anos pleno de saúde. Todos os parâmetros estão largamente dentro do que é considerável não para uma pessoa de mon âge, mas para imberbes. Até a tensão há uma semana que não descola dos 13,2 - 7.6. Para somar ao dia fulgurante, adquiri bilhete para Charles de Gaulle e não deixei este mosteiro onde fui apanhando o resto dos figos, envasando a antúrio de um vermelho intenso que os Corregedor da Fonseca além do lauto almoço que me ofereceram (todo de marisco do princípio ao fim) adicionaram como prenda de aniversário. Nos intervalos, fui começando a arrumar livros e papéis, objectos dispersos, de modo a deixar a casa mais aligeirada de maneira que a Piedade leve o trabalho penoso das ditas limpezas de verão menos árduo. 


terça-feira, setembro 14, 2021

Terça, 14.

Somos um país de crianças mimadas. Não importa a categoria – deputado, ministro, polícia, militar, bombeiro, autarca, operário, gestor – desde que saia da rotina devido a uma qualquer circunstância pública inerente ao cargo, para logo receber palmadinhas nas costas dos seus superiores elogiando-o e apareça na TV, quando a acção praticada se circunscreve tão só ao dever e responsabilidade que lhe compete no exercício que lhe foi confiado. Só falta provocar-lhe o arroto televisivo, para que a criança emita um sorriso feliz e se transforme em herói nacional. Ninguém tem a coragem de dizer simplesmente: esse é o seu dever, é para isso que lhe pagam.  

         - Esta vem no Público de hoje e não é novidade para ninguém: “40% dos governantes têm ligações ao sector privado.” É também por esta que o país não passa da miséria. A propósito: 45 por cento dos portugueses, por serem pobres, não paga uma série de taxas e impostos. Não digas isso! Chiu, somos ricos. 

         - Já que toda a gente bota discurso e emite pareceres, aqui vai o meu: Não creio que seja boa a ideia “deixar os miúdos em paz e vacinar quem precisa”, porque as crianças, sem o saberem e sem culpa, transmitem aos adultos o vírus que apanham com frequência e a elas não faz grande mossa.  

         - Voltei ontem a almoçar com a Marília e o João no meu velho restaurante do Largo do Rato, 1800. O que nos reuniu foi uma gentileza minha para a solução de um problema que os preocupava. Dali fui ao Corte Inglês fazer duas compras e regressei a casa sob ameaça de chuva forte. Que só veio a cair muito mais tarde para benfeitoria minha e das árvores, dióspiros, figos, uvas e tudo o que tumesce com a natureza no seu estado puro. Quando subi para dormir, pelas 11 horas e trinta minutos, já do céu vinha um murmúrio contínuo que me embalou até de manhã. Não será o Inverno que se antecipou, mas sente-se já no ar os aromas do Outono. 


domingo, setembro 12, 2021

Domingo, 12.

Talvez porque o falecido tenha deixado indicação para que as cerimónias do adeus fossem discretas, o facto é que o espectáculo dantesco de Mário Soares não se repetiu – apesar do andarilho Marcelo – com Jorge Sampaio. É certo que à funerária não faltou ninguém ou quase, mas o que se ouviu foi, tirado a papel químico, o que se escutou com anteriores desaparecidos, parecendo cumprir-se o evidente: a morte não reconhece doutores ou chefes de Estados, príncipes ou governantes, ricos ou pobres – na morte somos uma e a mesma pessoa, aligeirada da saloiice dos títulos e da pretensão provinciana de termos sido alguém. A morte reduz-nos à nossa transcendente insignificância. E ainda bem. 

         - Ouve três dias de silêncio pelo desaparecimento do ex-chefe de Estado. Não valia a pena – pelo que vejo, desta vez, ninguém lhes liga peva. Ou me engano muito, ou estas serão as eleições da maior abstenção. Do barulho que inundou televisões, rádios e jornais nada passa para a opinião pública. Conta mais a nova contratação de Cristiano Ronaldo para o Manchester que toda a vida política nacional. Eles dizem que se ganha pouco no trabalho autárquico ou legislativo, mas são cada vez mais os que se sacrificam pelo bem comum e o fazem sem o olho no cofre do Estado... ou pelo menos é isso que reclamam. Alguns nem sabem dos milhares de milhões que têm à sua disposição nos próximos três anos! Apetece murmurar: “morde aqui a ver se deixo...”  

         - Ontem de manhã voltei ao Parque Eduardo VII. Muita gente a comprar, as laterais cheias de público a subir e a descer. Fui lá por Paul Bowles, e acabei trazendo O Homem do Casaco Vermelho de Julian Barnes e Um Céu Demasiado Azul do nosso Francisco José Viegas e do seu inspector Jaime Ramos (a minha grande descoberta o ano passado). Assim sendo, ao serão, pus-me a pensar: “rapaz, tens com que te entreter para um ano. Se à pilha que aguarda leitura lá em cima, juntares os dois volumes do Diário de Julien Green, por alto, terás muito perto de 10 mil páginas para ler! É obra, caramba!  

         - O Verão parece querer deixar-nos. Mesmo assim, daqui a nada, irei fazer meia hora de natação e manterei o nível de limpeza da água até ao fim do mês. Até ao lavar dos cestos há vindima. Portanto, se me for possível, será mesmo às vésperas de deixar o país a caminho de Paris. 


sábado, setembro 11, 2021

Sábado, 11.

Faleceu Jorge Sampaio. Conheci-o ainda nos tempos da velha senhora, uma ou outra vez estivemos juntos porque ele fazia parte do grupo do Sarajara, Cétinha, Pedro Vasconcelos e assim. Era um homem honesto, sensível, culto e solidário. Foi um excelente Presidente, um político de causas, para muitos de nós o melhor Presidente da República. Descansa em paz aliviado das dores deste mundo. O que por aqui se ouve e dizer de ti, sabes que são coisas de circunstância, sem interesse absolutamente nenhum, paleio de uma sociedade medíocre, onde impera a ignorância servida por aqueles que querem montar sobre a tua sepultura.  


sexta-feira, setembro 10, 2021

Sexta, 10. 

No chorrilho de mensagens e telefonemas de ontem, sobrou o acordo com a Annie para que eu chegue no mês que vem a Paris sem marcação de regresso. Vou ter pois de entrar na algazarra electrónica para encontrar uma companhia de aviação honesta que me deposite em Charles de Gaulle. Em dois anos, imagino haver tanto livro que me escapou e já me vejo horas e dias fechado nas livrarias. Só este mês já devo ter gastado uns 200 euros em esse alimento miraculoso. 

         - Nem a propósito, estamos de parabéns. Tinham-nos asseverado um Verão sufocante, com fogos, faltas de ar, aflições cardíacas e o que tivemos foi um tempo ameno, quente q.b., braçadas na piscina e no mar em abundância. Nestes dias, voltámos àquele Verão que me recebeu nesta casa abençoada nos inícios dos anos oitenta, a pressa que nós tivemos, João e eu, em a pintar por dentro e por fora com medo do inverno e dois dias depois, a nove de Setembro desse ano, a abada de chuva que só parou na Primavera, já nós nos recolhíamos sob este tecto humilde e acolhedor. Não é que o sol seja um inimigo, pelo contrário; segundo um provérbio chinês: “Quando o sol aparece, o médico desaparece.” Felizmente, antes da bicha madrugadora me ter assaltado, já eu havia recolhido toda a lenha necessária a um aconchegado inverno. 

         - O mundo das embaixadas dá e sobra para tudo como demonstrou Roger Peyrephite... No caso Morand, que nelas viveu no tempo da Segunda Grande Guerra – Londres – Berne, Roménia (estas duas sob o governo de Pétain), o clima de festa, conforto e luxo passava completamente ao lado do resto do mundo e seus ocupantes. Paul Morand, no seu Journal de Guerre, tanto ele como a mulher Hèléne uma aristocrata de origem romena, nunca conheceram a mínima privação. Os dias eram de jantares e almoços galantes, equitação, viagens, bons hotéis, visitas a museus e antiquários, aquisição de belos objectos e até casas. Dentro dos muros das embaixadas e nos almoços de espionagem económica e política, de inveja e bajulação, vénias e facadas nas costas, o clima era de diz-se-que-disse, falatório sobre a homossexualidade deste e daquele, dentadas no matrimónio e assim. O Dário que não passa de epistolografia com a mulher e desta, bera, para ele, é um longo historial não de factos da guerra, mas das relações e tratados da mesma. Paul Morand, tendo sido posto de parte por De Gaulle, só vem a ser reabilitado por volta de 1953. Mas é dele esta máxima: “La politique est la vérole de la littératura.”  Justo. 

         - Fui fazer um electrocardiograma e à enfermeira perguntei: “É uma obra de arte? Diz bem” respondeu com um grande sorriso. E logo eu a pensar: “Então de que vais morrer, rapaz? Da maluquice que te enche o cérebro? Pensar demasiado e constantemente mata? A ver vamos, quero dizer, verão. 

         - Fontes da Eurostat. Os gastos em cultura são o pilar para se perceber o interesse dos governos na qualidade de vida dos cidadãos. Assim: em primeiro está a França com 16. 816 milhões de euros, seguida da Alemanha 13.870 e Reino Unido 5560, 7. Depois, nos países com menos interesse no conhecimento, Portugal vem em 20º lugar dos 31 que compõem a dita cuja com 553,3 euros. A Espanha vem na quarta posição com 5.535. A Hungria que a esquerda diz raios e coriscos, investe 1.655, 4. Se somarmos ao que o país faz em esquemas sociais, temos o paraíso que não interessa aos portugueses segundo as meninas BE. 

         - Acabei de entrar do segundo almoço aniversariante que o João Corregedor quis organizar em minha honra. Teve lugar na Trindade, defronte do rio, num dia luminoso, aberto, cheio do esplendor dos dias de então quando a juventude imperava por sobre os avisos da idade e na indiferença dos anos a provir. Que bem se esteve com vista para as águas mansas, os reflexos do sol sobre o tapete líquido que parecia dançar em nossa glória, o vasto espaço bem decorado, pouca gente e uma atmosfera de festa e serenidade de onde não apetecia levantar amarras. Muita gargalhada entre nós, o tempo suspenso a aguardar que a inocência imperasse sobre os primeiros acordes da senectude, ainda não visíveis, insinuados numa excitação, numa dúvida, num lapso de memória, numa escusa de algo que ficara suspenso entre o passado e a chamada ao presente. Marília surpreendente, sem idade, igual à mulher maravilhosa que sempre conheci, original, desimpedida de preconceitos, amiga do seu amigo. 

         - Da chusma de mensagens, telefonemas, mails, três horas a atender esta inusitada lembrança do solitário amigo, surpreendeu-me e agradeço. Dispensaria, contudo, os “amigos” que, como no poema de Pessoa, só se lembram de nós uma vez pelo nosso nascimento e outra pela nossa morte. Verdadeiramente não se conta com eles para nada, são piscadelas de olho que ofendem pela sua inutilidade e insignificância. São amigos que fora da data de nascimento esquecem a vida, a partilha, a presença, o desabafo, a troca de ideias, a mão que afaga, o sorriso que nos ilumina o coração... Chegam do fundo do abismo que nos separa e não nos junta no hosana dos dias tristes e felizes. São na sua maioria casados, egoístas, portanto, infelizes. 


terça-feira, setembro 07, 2021

Terça, 7.

Cedo, sentindo-me seráfico relativamente a ontem (já lá vou), fui passear no campo de lés a lés, admirando as árvores depois da chuva que caiu ao romper do dia. As macieiras exibiam frutos rosados que os pingos d´água atraíam; as uvas (brancas) tinham engrossado mostrando cachos plenos que amanhã colherei; os dióspiros, amparados por duas estacas, pendem em grande quantidade a tocar quase o chão; os marmelos, também grandes e bastantes, oferecem um fruto imaculado, uma cor saudável, solicitando a sua apanha; mais além os figos incharam a pedir a colheita, pena que tenha já compota para dar e vender; e aqui junto a casa colhi os primeiros medronhos que comi avidamente. Deixei para trás a ala de amoras que se inclinam, grossas, à minha passagem e vão da entrada ao limite da quinta, mas que eu, farto de ser picado, me abstenho de colher. Este jornadear matutino, hipnotizado pela natureza agradecida à chuva que tombou do céu como uma bênção a curar os rigores maléficos do verão, contribuiu à minha tranquilidade, a curar o dia de ontem onde estive imobilizado de medo... 

         - O que se passou ontem, foi uma réplica do que havia acontecido há anos quando acordei às quatro da manhã numa excitação que não me deixava sossegado um minuto e me levou aos bombeiros daqui e de seguida eles ao hospital de Setúbal. Só que desta vez, identificando a bicha, consegui debelar o problema embora, quando medi a tensão me tivesse assustado um tanto: 17 contra os meus habituais 13 e qualquer coisa. Tomei o pequeno-almoço, enfiei dois calmantes e continuei pelo dia fora a beber uma infusão de folhas de oliveira. Descendo um pouco, a pressão sistólica nunca veio para valores confortáveis. Quando me fui deitar, não olhando às contra-indicações do medicamento para dormir que a minha nova médica de família me recomendou, tomei meia dose e hoje, ao acordar senti que tudo voltou, digamos, ao normal: já não tinha tonturas, o instigo era favorável, as energias idem. Mas não consegui trabalhar, a construção de uma oração ou alinhamento de duas palavras, prostravam-me. Vegetei todo o santo dia sobre a chaise longue, lendo 20 páginas de Paul Maurand, atendendo duas longas chamadas telefónicas e assim. Dia 21 volto ao Centro de Saúde com a bateria de análises e então discutirei com a simpática doutora. 

         - Para ser franco, não morro de amores por Paulo Rangel. O político, hei, hei! Quanto ao homem que sendo político reconhece publicamente a sua homossexualidade, chapeau. Não vi o programa onde ele fez a revelação, mas olhei nas notícias da SIC o facto de uma grande dignidade e categoria. Na sua classe, faltam muitos para saírem do armário. Contudo, eu acho que não são obrigados a fazê-lo. Cada um saberá quando o pode fazer, sendo que a felicidade não espera e quanto mais tempo se esconderem, mais os que estão sob a sua alçada padecem. Um frustrado nunca foi um bom governador nem bom homem (ou mulher já agora).  

         - Fui depois do almoço visitar a parte esquerda de quem sobe da Feira do Livro. Comprei alguns livros e conversei com muitos livreiros e assistentes de editores. O que ouvi não me surpreendeu. Felizmente, contudo, uma nova geração toma posição pouco a pouco e estima a velha e chega a dizer que a actual, muitos dela não lhes interessa a cultura e a arte – só o negócio os fascina, daí a qualidade de livros que se produzem, os “escritores” a trabalharem um e dois livros por ano, que não passam, evidentemente, de “lixo”. Mas isso não interessa nem a uns, nem a outros. 


domingo, setembro 05, 2021

Domingo, 5.

Falemos das fantasias habituais em tempo de campanha. Aqui em Palmela, a poluição de toda a ordem está ao rubro. Dizem eles que é a democracia a funcionar. Bom. Mas dizem mais: é a pré-campanha em marcha. Só que, andando eu por aqui e por ali, vejo cartazes por todo o lado e o número de candidatos à câmara é tanto que espanta para uma pequena vila. Como se o país não andasse sempre em campanha, vendendo o que tem e o que não possui, prometendo o que pode e o que não pode dar. Acontece que um dos cartazes apresenta dois anafados senhores, de fato e gravata, uma postura que não lembra ao gatuno, que eu francamente não sei quem são. Mas sabem os de cá. E vai daí, mesmo antes de eles se aproximarem do tacho, já foram barrados com uma enorme cruz a preto. O curioso é que os indignados – admitindo que não são os adversários – apontam a sua repugnância aos dois ilustres desconhecidos não deixando um só poster sem a marca da sua ira. 

         - Outro dia encontrei-me com o Carlos Soares na fnac. Antes de deixar o estabelecimento, fui à livraria encomendar os dois volumes do Diário de Green que serão postos à venda dia dezasseis. A rapariga que me atendeu, a dada altura, diz-me que leu Moira e o encantamento foi tal que nunca mais esqueceu a história. O contacto com o autor deu-se na universidade. A professora não aconselhou a sua leitura devido ao conteúdo sem especificar de que se tratava e foi por isso que ela se atirou a lê-lo em inglês. A partir daqui cresceu um diálogo transbordante de entusiasmo, aconselhando eu outros romances e, sobretudo, o primeiro volume do Journal intégral que ela não conhecia. Disse-lhe em determinado momento: “A vida de Julien Green e toda a sua obra é uma consistente e dramática busca de Deus.” A minha interlocutora surpreende-se com esta afirmação e diz que foi essa a impressão com que ficou quando terminou o romance. O Carlos que destas coisas nada percebe, estava de olhos abertos a ver-nos falar, numa roda-viva de coisas comuns como raramente surge neste país onde o futebol é apaixonadamente o único tema de discussão. Eu não lhe disse que Moira e todas as outras personagens femininas são travestis que o escritor criou e que lhe competia a ela substituir por um nome masculino. Mas como ela me disse que eu havia falado tão vivamente da obra de Julien Green, que iria ler o primeiro volume do diário póstumo. Se o fizer descobrirá a tristeza que o diarista deixou plasmada nas páginas de não haver tido coragem de chamar os bois pelos nomes. 

         - Ontem de manhã encontrei-me com o João Corregedor e fomos juntos à Basílica da Estrela despedirmo-nos da Isabel da Nóbrega. Morreu com a bonita idade de 96 anos e, segundo me disse o neto, sem uma doença, lúcida, divertida, serena – partiu de velhice, sem sofrimento, como raramente advém ao comum dos mortais e eu gostaria que assim Deus me chamasse. A capela que a acolheu, estava fresca, florida, ondeando, diáfana. Àquela hora só nós e os familiares. Depois de uma prece junto ao caixão fechado com uma fotografia a preto e branco da defunta quando era menina e moça, linda e fina de traços, sorri recordando-me como ela detestava a senectude e como os seus parentes tinham cumprido neste particular os seus desejos. Logo à entrada uma enorme coroa de flores de Marcelo Rebelo de Sousa. Bom. Quando deixei a capela, juntei-me com o João ao filho, filha, neta e neto que aguardavam os visitantes no claustro da basílica. Com o neto que eu conhecera in illo tempore, quando éramos jovens, ele mais novo que eu, ambos tão diferentes que não nos reconhecemos ali. Na longa conversa sobre a avó, a empatia entre nós foi imediata, as recordações remando, os sentimentos aflorando, e a dada altura tive de parar porque senti que ia irromper num pranto. João afaga-me o braço e eu consegui disfarçar o que sentia num instante. Ufa! O neto pediu-me o número de telefone para breve nos voltarmos a encontrar. 

         - Passava do meio-dia. Aquela artéria da cidade tinha muito movimento, o jardim em frente regurgitava de visitantes, estrangeiros e nacionais. Por sugestão do João que conhece como ninguém os transportes públicos, tomámos um eléctrico apinhado ali mesmo que nos deixou no Chiado. Percorremos depois a Rua Anchieta em busca dos nossos queridos amigos (eu comprei o ensaio de François Mauriac sobre Pascal e Cartas sem Moral Nenhuma de M. Teixeira Gomes). Descemos até ao Rossio para abancar no restaurante favorito do meu amigo, uns quarteirões para o lado do Tejo. Aí nos demorámos em animada conversa sobre tudo e nada, eu a tentar fugir da política, o João com incursões nela. De todo o modo, foram duas horas agradáveis, sob um dia quente q.b., num país e num lugar que a Isabel amou. Só não foi pleno porque o João estava apoquentado com a filha que depois de ano e meio de ter contraído o coronavírus e três meses em coma, para o hospital retornou há três dias num estado lastimável.  Dezanove comprimidos por dia não são suficientes para a aproximar do que fora. 


sexta-feira, setembro 03, 2021

Sexta, 3. 

Num país como o nosso, governado por gente competente e honesta, instituições sólidas, que administram com critérios de rigor e atentos aos contribuintes que pagam cada vez mais impostos, diluídos por um sem-número de taxas e taxinhas, o que vou anotar, como direi, é coisa de somenos importância que nem deveria passar por estas páginas ilustres. Acontece porém, que vivo revoltado com tudo o que se passa e para acalmar nada melhor que pedir ajuda à escrita como tantas e tantas vezes me sucede. Falo da embarcação Bojador, recentemente adquirida por 8,5 milhões de euros e que sem explicação, a danada, foi encalhar junto à praia de Carcavelos. A lancha de alto coturno, com tecnologia de ponta que lhe pertence, foi oferecia não à Marinha, mas à GNR e servia para patrulhar a costa portuguesa! O célebre ministro do Interior, em Maio deste ano, teceu loas ao acontecimento. Acabou três meses depois adormecida decerto de cansaço no areal. O epitáfio, naturalmente e como hábito neste nosso infeliz país, vai ser escrito depois do apuramento das causas e circunstâncias da situação em sigiloso inquérito. Quando? Não sei, lá para as calendas do ano... 

         - Inundações monumentais em Nova Iorque, Pensilvânia, Nova Jérsia e outras grandes cidades dos EUA. Morreram várias pessoas, mais de 200 mil ficaram às escuras. Em Espanha aconteceu o mesmo e um pouco por todo o mundo ocorrem fenómenos climáticos destes com mais frequência. E logo surge o lamento do aquecimento global, mas ninguém move um passo para dar a volta que se impõe. 

         - Ontem almocei com o Carlos no Corte Inglês. Tendo chegado a Lisboa antes das oito, fui daqui pela noite de breu tendo-me levantado às cinco e meia. O motivo foi conhecer o meu novo médico de família e com ele, no caso ela, fazer o exame geral da minha saúde. Depois de demorada conversa, deixei o gabinete com o habitual check up que todos os anos realizo. 

          - João Corregedor telefonou a dar-me a má notícia: “morreu a Isabel da Nóbrega”. Senti um bate no coração. A Isabel, há pelo menos vinte anos, que andava alheada das lides literárias, tendo-se refugiado em Cascais em casa (julgo) do filho. Deve ser por isso que, num mundo onde quem não aparece na TV não existe, quase ninguém fala do seu desaparecimento e muito menos da sua obra. Fui buscar à estante todos os livros que possuo dedicados e lidos, para os ter perto de mim por uns dias: Viver com os outros, Camões Diário, Solo para gravador, Quatrim-1, Os Anjos e os Homens (a capa é de Martins Correia, o exemplar é numerado com o número 3) e, ainda, Viagem a Portugal de José Saramago dedicado e assinado pelos dois “viajantes”. Se sinto a sua ausência, é porque uma parte substancial da minha vida foi vivida ao lado dela e de José Saramago. Guardo noites e tardes inteiras passadas juntos ou a sós com a Isabel em conversa que nunca tinha fim na Rua de S. Marçal, no Varina, na sua casa ou aqui na quinta. Era uma mulher admirável, uma intelectual livre, que exprimia o que lhe ia na alma sem pudor embora velado pela educação esmerada que fora a sua. Abriu-se muito comigo, contou-me coisas da sua vida íntima com João Gaspar Simões, com Saramago, com esta e aquele, obrigando-me a jurar que “nunca contaria a ninguém, nem deixaria escrito”. Querida Amiga, o que prometi cumpri e cumprirei até ao fim da vida. Não me esqueço de nada e porque partiu deixando-me atónito e só, vou fazer o seu luto e o meu porque em verdade uma parte de mim morreu também. Faço por esquecer o que nos dividiu, sobretudo durante aquela viagem que fizemos juntos a Marrocos que sempre me entristeceu. Descanse em paz. Agora já conhece o rosto de Deus cujo tema falávamos com frequência. Que os anjos e os arcanjos a tenham recebido em festa e no repouso eterno possa guardar-me um estreito espaço para mim. Tudo à minha volta é negro até o silêncio. 


quarta-feira, setembro 01, 2021

Quarta, 1 de Setembro.

Temos mais esta que revela em que mãos estamos entregues. O Parlamento fez um diploma que o TC declarou por unanimidade inconstitucional, e mais uma vez na sequência do pedido de fiscalização por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, que previa ao abrigo da Lei do Cibercrime, o acesso a e-mails sem ordem de um juiz. A votação parlamentar contou com os votos a favor do PS, BE, PSD, PAN, PEV, Chega e contra do PCP (enfim!), CDS e IL. Se a este diploma acrescentarmos a outra lei do PS que julga arbitrariamente quem cria notícias ditas falsas, temos o quadro do socialismo à portuguesa, isto é, o país de novo “amordaçado”.   

         - Os EUA retiraram de vez (?) do Afeganistão. Perderam a guerra e deixaram para trás um campo minado de injustiças sociais, fome, direitos Humanos espezinhados, material militar, milhares de mortos, seus e outros, ao seu jeito, lembro-me de Indochina, Cuba, Iraque, etc.. Bem tinha razão De Gaulle que nunca lhes aparou a arrogância e supremacia sobre todos os outros povos, correu com a OTAN de França e sempre os pôs em sentido.  

         - Longa conversa de mais de uma hora com Francis ao telefone. Tudo o que toca a homossexualidade o arrebata como, de resto, acontecia com Julien Green ou Paul Morand embora por razões diferentes. Soube por ele que Jean Moulin era homo, casado com uma lésbica, como na altura devia ser para se evitar a condenação pública. A venda do seu espólio, em Londres, vindo do amigo, desvendou. Como ainda hoje, apesar da abertura da sociedade, ocorre. Conheço vários homens que não têm coragem de sair do armário (para utilizar a linguagem codificada), exibindo os filhos e a mulher, mas condenados à frustração, à mentira, à infelicidade. A dada altura disse que aprecio a política de Macron no concerne ao Afeganistão. “Que queres, meia Paris é propriedade do Qatar.” São os árabes que não devem beber álcool que se enfrascam todas as noites no Ritz (donos do hotel) com drinks a 25 euros e almoços a 300 euros!  

         - Ontem à noite, pelas dez horas, telefonei à Maria José. Ouvindo o tilintar de qualquer coisa que parecia pérolas, perguntei o que estava a fazer: “Estou a trabalhar no relógio solar que viu sábado. A esta hora ainda no atelier! Enquanto não acabar este trabalho, fico até por volta da meia-noite.” Quantos artista fariam tantas horas de labor por uma causa social?

         - Acabei de entrar vindo da Feira do Livro. Tempo quente no Parque Eduardo VII. Não me carreguei, preferindo lá voltar noutro dia. Mais um ano que procurei o último livro de Frederico Pedreira... em vão. Por todo o lado, filas incríveis de pessoas para guichets e às portas de departamentos públicos.