terça-feira, setembro 21, 2021

Terça, 21.

Chamam-lhe Cumbre Vieja ao vulcão que anteontem entrou em erupção na ilha de Palma, nas Canárias. Desde há duas semanas que ameaçava com epicentros a mais de 20 quilómetros de profundidade que por estes últimos dias vieram à superfície. O que as imagens hoje nos mostram, é a sua força bela e destruidora, que expele magma a distâncias imensas, reduzindo vegetação e mais de 100 casas a cinza e deixando na paisagem uma tal transformação que diríamos ter-se ali consumado todos os versículos da Bíblia, até se lançar no mar. 

        - São uma derrota para a autoridade déspota de Putin os atentados numa escola russa, em Kazan. Morreram pelo menos sete estudantes e uma professora, várias dezenas de outras foram feridas. O ataque foi obra de um ex-aluno, de 19 anos, e os motivos parecem ter sido a raiva e a revolta. Estes fenómenos que se julgava só terem lugar nos EUA, também podem ocorrer em regimes ditatoriais. Nada é perfeito, senhor Vladimir Putin. Nem o KGB ou FSB ou SVR. 

         - Fui ao Centro de Saúde mostrar os resultados da série de exames anuais e aproveitar para falar sobre o cisto de Backer que retornou há dois dias durante o sono. Chegou violento, mas com o medicamento do Tó abrandou, impõe-se em tamanho, mas não em dor. Em vésperas de partir para Paris, não vinha nada a calhar ter por companheiro um chato desta natureza. Bom. Diz-me a médica que não me apoquente e trocou-me a droga do meu amigo (salvo seja) por outra que é menos invasiva, disse. Quanto ao mais, porque chegou há dois meses, mostrou-se surpreendida pelo óptimo resultado de todos os exames e quis saber o que como, como vivo e assim, mas isso fica para outro dia. Avanço que ainda não foi desta que fiquei condenado a tomar porcarias “para o resto da vida”. 

         - Que mais? Parece que vamos ter chuva. Adiantei-me e guardei a lenha debaixo do telheiro embora tivessem ficado de fora os taralhoucos maiores que vou pedir ao Filipe mos cerre como digestivo do almoço que conto oferecer-lhe segunda-feira. À parte isso, colhi quase todos os marmelos e rezo para que os muitos, muitíssimos, dióspiros amadureçam antes de deixar este mosteiro. Os medronhos é certo e sabido que irão estragar-se porque só agora estão a começar a exibir a sua bela cor avermelhada-laranja. Ah, os figos! Sim ainda ontem lá fui apanhar mais uns quantos. Estes que receberam a bênção das primeiras chuvas, vêm rechonchudos e saborosos. Narrar estes factos caseiros, é reinventar uma vida de antanho, é trazer para o presente a renovação da felicidade que ficou nos interstícios dos dias idos, quando tudo era humano, tinha nomes próprios e fazia da existência um longuíssimo poema que nenhum poeta armazenou talento para o escrever. Estou que não posso de encantamento. Arrisco até perder a cabeça nestas linhas lançadas ao acaso sobre a folha do computador, nesta hora alvíssima, quando o sol espreita a pedir licença por entre os ramos das árvores, no fio das sombras que vai de um lado ao outro da quinta e eu avisto do lugar onde a escrita se exerce contra todos os ditadores, os democratas de caviar, os usurpadores da verdade, e toda essa fila de grisalhos danados que espreitam vez de tomar o poder aos rafeiros que se reformam, de olhos cansados, pendentes dos rostos onde morreu a avidez e a verdade restituiu a humildade e a sabedoria de quem só lhe resta farejar a morte...