sábado, setembro 18, 2021

Sábado, 18.

Por estes dias diversas obrigações obrigaram-me a correrias malucas em Lisboa. Quando de súbito, estando eu a descer as escadas rolantes do Corte Inglês vindo do restaurante, amparei-me ao corrimão e deixei que o sistema me levasse e com ele o meu pensamento por instantes voou na direcção de ? Quando cheguei ao patamar, as duas senhoras que desciam comigo, abordaram-me: “O senhor precisa de ajuda?” Pensei tratar-se do meu caminhar andarilho e original mas depois, percebi que não seria por isso dado que elas não me haviam visto andar. “Não. Obrigado” respondi. Então uma delas disse: “É que o senhor tinha uma cara tão triste que metia dó. Parecia que não estava cá.” Sosseguei-as e fui à minha vida. Mais tarde reflectindo sobre o assunto, lembro-me de ter deixado por algum tempo este mundo, mas não sei explicar que outro planeta era esse e, sobretudo, porque quando para lá deslizei me tornara tão infeliz para atrair a misericórdia das duas simpáticas criaturas. Também não me recordo como era essa região para a qual me ausentei; sei que estive em algures, mas não sou capaz de dar qualquer pormenor. Mistério.   

         - O jornal Le Monde mandou-me um questionário sobre a obra e a escritora Virginia Woolf. Extenso, grosso modo, em inglês que fui respondendo como sabia e me recordava, com espaço para a minha opinião pessoal sobre alguns dos seus livros e do grupo Bloomsbury e Hogarth Press. No dia seguinte, mandaram-se o resultado: 80% de aprovação. Nada mau, tendo em conta que há muito não leio a autora de Orlando. Penso que não me deram os 100% porque não consegui ter opinião sobre uma obra que nem sabia da sua existência e infelizmente nem anotei o título. 

         - Vou continuar como se nada fosse. Pelo menos até ao fim do mês, irei tratar a água e nadar quando o tempo o permitir. Hoje de manhã, até frio fazia no jardim dos Legros onde estive à conversa e a tomar café. Agora, 16,28, corre um vento desalmado - que ao menos ele sirva para enxotar as moscas democráticas que nos oferecem um pote de coisa nenhuma.