quarta-feira, setembro 22, 2021

Quarta, 22.

“Se vamos formar os Estados Unidos da Europa, devemos começar já”, dizia Churchill em 1946, citado por Ana Sá Lopes há dias no Público. Vejamos. Paul Morand, embora tivesse alinhado pelo lado errado da História, achava o ilustre homem um enganador e um amador em tudo. Quem melhor do que ele para o compreender depois de ter exercido funções ao mais alto nível em Londres, entre 1939-1940. Através da embaixada francesa no Reino Unido, cruzou-se não só com ele, como com um vastíssimo mundo político-económico, atravessou o mar várias vezes, foi ao encontro deste e daquele, lutou para evitar a II Grande Guerra e tudo fez também para deixar de lado a França no terrível conflito, ao ponto de ter apoiado Pétain e Pierre Laval em Vichy. A ideia de uma Europa unida, estava a hibernar muito antes de o velho primeiro-ministro britânico se arvorar em arauto da causa. No concerto das nações civilizadas do Ocidente, durante a guerra, quase todos os intelectuais e homens políticos ligados a De Gaulle (e não só) urdiam nisso. No seu Journal de guerre é frequente lermos os seus nomes e, entre eles, o fundador da União Europeia tal como hoje a temos: Jean Monnet e, também, Robert Schuman. Talvez no fundo, Winston Churchill quisesse qualquer coisa próxima da Commonwealth, ou melhor meter todos os países no mesmo saco. O homem nunca foi verdadeiramente claro, optando pela sua habitual ambiguidade que o tinha arrastado na mesma enxurrada da tragédia de Oscar Wilde sem se comprometer e se importar com o sofrimento do autor de A Balada do Cárcere de Reading de 1898. São dele estas palavras: “A Grã-Bretanha é fundadora e centro de um império e da Commonwealth. Nunca faremos nada para enfraquecer os laços de sangue, de sentimento, de tradição e interesse comum que nos unem aos outros membros da família britânica de nações.” Seguiu-se um período em que o ex-primeiro-ministro se desdobra em viagens, discursos, proclamações de irmandade e assim. A ambiguidade e o duplo (na vida política, intelectual e até sexual) que existia nele, é registada por Morand, em Junho de 1940: “Le discours de Churchill, três pâteux et long, hier, contenait une menace à l´égard de l´Allemagne et une à l´égard de la France: `Nous ne pouvons vous délier de votre promesse de ne pas signer de paix séparée` e conclui Paul Morand: “Ce qui est contradiction avec son autre frase: “Quoi qu´il arrive. Notre victoire sera la victoire de la France.”  O que se seguiu foi que o cultíssimo e sólido primeiro-ministro Edward Heath, em 1973, depois de um referendo à população, deu entrada do Reino Unido na então Comunidade Económica Europeia nas condições que todos conhecemos, isto é, não totalmente dentro da União Europeia. 

Já agora, se me permitem, relembrarei que os portugueses nunca foram tidos nem achados na escolha que outros países verdadeiramente democráticos tiveram. Assim como direi – e é sintomático – que tenha sido com governos socialistas que fomos desprezados e nem nos inquiriram se queríamos entrar em tal sociedade. Primeiro com Mário Soares, com a entrada na então CEE; depois com aquele que meteu a mão nos bolsos do Estado, José Sócrates, com o chamado “Tratado de Lisboa” e por fim com António Costa que agora apenas se serve dos dinheiros da UE para ambições pessoais mais largas. 

         - Justamente, António Costa. O homem não tem vergonha nenhuma. O que ele se comove com o destino dos trabalhadores da Galp de Matosinhos! Apenas razões de ambição e poder lhe soltam suspiros que não o abalam quando se trata de milhares de trabalhadores postos em situação dificílima com perda de emprego devido à Covid-19; ou as centenas que o seu homem de esquerda pôs na rua da TAP. Provavelmente, uns para ele, são trabalhadores de primeira e outros de segunda. Uns têm barriga de mosca, outros estômago de orangotango. Costa não merece a estima dos portugueses e espero que eles saibam distinguir o mandato autárquico socialista e do país, remetendo-os para canto na Assembleia por largos anos. Penso que é isso que irão fazer os comunistas a nível legislativo. Estão a ser demasiado enxovalhados para voltar a acreditar num homem que desonra o socialismo que proclama.