quinta-feira, setembro 30, 2021

Quinta, 30. 

Quando saí do dentista, atravessei a Conde Valmor pédibus cum jambis. Por todo o lado, precisamente nos passeios cruzados constantemente por muita gente, a inteligência iluminada de Medina, ou antes aquela governação na onda de tudo quanto é moda que desmoda como dizia Jean Cocteau, criou corredores para bicicletas. Aquilo são decursos de pavor, onde com facilidade somos atropelados por ciclistas que parecem treinar para a próxima maratona. Não lembraria ao tinhoso construir pistas nos passeios públicos! Pois bem, esta foi a obra que o bebé Nestlé deixou de herança à capital. Suponho que foram as meninas do BE, Deus as abençoe, disseram que só em Lisboa naquelas autênticas pistas olímpicas, morreram já 28 idosos. Espero que Carlos Moedas destrua aquelas faixas que desafiam a vida a quem nelas passa ou, pelo menos, as desça para a estrada.  

         - Os taxistas são uma instituição de conhecimento e má-língua em todo o lado. Ontem entrei num táxi. Ao aproximarmo-nos da zona do Arco do Cego, o condutor diz-me:

         “- Estamos na zona do Costa. 

         - Costa?

         - Sim, o António Costa. Ele morava aqui. 

         - Pensava que era na Avenida da Liberdade. 

         - Sim. Parece que comprou lá um andar, mas agora foi viver para Benfica porque esta está em obras. O dinheiro deles dá para tudo. 

         - Julgava que a residência da Avenida da Liberdade era alugada – disse eu quase a medo.

         - Talvez. Mas diga-me lá quem é que pode viver nessa avenida ao preço que estão as casas. Só o Ronaldo e o Costa.” 

         - Vamos ver se percebo mais esta nova jogada do nosso magnetizador António Costa. Independentemente do bom trabalho que sua excelência o senhor vice-almirante Gouveia e Melo fez na organização da vacinação a nível nacional (pese, embora, o início autoritário que emendou rápido), o primeiro-ministro, num estratagema bem urdido, sobretudo desde que uma revista americana, digo bem, americana elogiou o trabalho do oficial da Armada Portuguesa, apressou-se a dispensar o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante António Mendes Calado para dar o seu posto ao vice-almirante Melo. Por uma razão fundamental: Calado tinha-se manifestado contrário a Lei Orgânica de Defesa Nacional proposta pelo PS no Parlamento e, julgo, também assinou a Carta dos 28 com Ramalho Eanes à cabeça. Costa tinha de apressar a vingança pois, como o mandato do actual chefe militar tem ainda a duração de dois anos e Gouveia e Melo, em 2003, já teria passado à reserva por limite de idade no posto que ocupa hoje, urgia aproveitar a situação e afastar aquele que se opõe ao Governo. Mas Costa, na fúria de planear “quem se mete com o PS, leva”, esqueceu-se que quem exonera um oficial da craveira de Mendes Calado, é o Presidente da República enquanto Chefe Supremo das Forças Armadas. Daí as reuniões hoje em Belém. Marcelo não deve ter gostado da manobra. Todavia, quem tenho a certeza que não a apreciou, foi o ex-CEMA, Almirante Melo Gomes, ao afirmar a propósito:  “A demissão de Mendes Calado parece a reedição do PREC de 1975, em que há saneamentos políticos", acrescentando: "Uma pessoa que não está de acordo, exprime as suas ideias no local próprio, no Parlamento, diz que cumpre a Lei e depois é demitida. Se isto não é saneamento político é o quê?" Bem entendido, penso que Gouveia e Melo não foi tido nem achado para esta vergonha. É até para ele uma desonra o modo como tudo foi programado pelo ministro da Defesa e o primeiro-ministro. O tom é ditatorial e antidemocrático, o gesto salazarista.