quarta-feira, setembro 29, 2021

Quarta, 29. 

Há dois factos que são cíclicos quando de eleições: todos se arvoram vencedores e, ante a abstenção, querem transformar o voto, que é um direito e um dever, em obrigatório. Nem lhes ocorre que a partir da imposição ficam expostos à certeza de que o eleitor exprime por revolta votando em branco ou com manifestações concretas de ordinarices no boletim. A culpa é sempre dos portugueses faltosos às urnas, nunca das políticas e deles políticos corruptos e mal preparados para governar. Eu sou dos que acham que a não ida às urnas, é uma manifestação política tão válida como qualquer outra. E se fosse político e, sobretudo, democrata nunca imporia tal obrigação contrária à democracia, na medida em que esta tem como expressão máxima a liberdade. 

         - Dito isto, o que se passou nas autárquicas, foi uma vergonha. O Partido Socialista ganhou em maioria de câmaras, mas perdeu as mais simbólicas e importantes: Lisboa, Coimbra e Porto. Por culpa de António Costa que foi a todas impondo o saco dos milhões da esmola que a UE nos deu uma vez mais, em vez de ser honesto e propor desenvolvimento, projectos, trabalho e tenacidade. Foi primeiro-ministro, falou a partir de S. Bento, baralhou funções na avidez do poder, maltratou os seus adversários, foi sectário, impositivo, senhor disto tudo em vez de secretário do seu partido. Os munícipes deram-lhe a resposta à altura. O melhor, o mais saboroso, foi ver Medina apeado. Os lisboetas estavam fartos de propaganda barata e elegeram Carlos Moedas que surgiu silencioso, do fundo de uma lembrança desagradável, para lhe arrebatar o posto. Quem viesse depois do bebé Nestlé, faria (fará) sempre melhor. É isso que eu espero do actual presidente da Câmara de Lisboa. Todavia, a grande vergonha e preocupação, foi ver que 46,32% de portugueses recusaram por desinteresse, desconfiança, descrédito e saturação de um regime formado por barões e baronesas, sem a mínima formação e convicção democrática, em 50 anos de democracia não conseguiram mudar Portugal para melhor, votar neles. Mais: que agradável foi ver as meninas do BE reduzidas mais uma vez à sua insignificância! Assim como aquele cometa de pequenos partidos oportunistas, compostos por intelectuais de esquerda, que debitam postas de pescada em jornais e parlatórios públicos, mas nada percebem da acção e do saber prático da política.  

         - Já agora, porque tudo anda relacionado e as sinapses económico-politicas são um facto, quero referir a fuga do banqueiro arrogante e visivelmente cúmplice de vários crimes para o estrangeiro, o novo-rico João Rendeiro. O ex-presidente do Banco Privado Português, foi condenado a seis meses de prisão efectiva por crime de burla qualificada, entre outros que aguardam decisão do tribunal. Está algures fora da Europa e como se mandasse num país pequeno e nos seus minúsculos governantes que deve conhecer como ninguém, via internet, informa que o seu estatuto moral e próspero, não pode ser enxovalhado por uma ou um qualquer juiz sem nível para o julgar. Assim, sem mais. Toma e embrulha.  

         - Anteontem o Filipe apareceu e almoçámos lá fora no terraço. Depois do almoço de arroz de pata no forno regado com um excelente Marquês de Borba que ele trouxe, rematámos o repasto com os primeiros dióspiros que o encheram de satisfação e eu lhe ofereci meia dúzia para levar aos filhos. Seguiu-se a serração dos taralhoucos e aí tanto ele como eu foi manifesto que não nascemos para aquilo. Desde saber como funcionava a serra (desde o ano passado que não a utilizava e havia esquecido completamente o seu manuseamento) ao términos do trabalho sem que eu conseguisse parar a máquina, tudo nos aconteceu. Felizmente o Filipe é homem das novas tecnologias e vai daí, sacando de telemóvel, logo me deu a ver o seu funcionamento e a recordar o que tinha olvidado. Do que se conversou, não é para aqui chamado.     

         - Ontem almocei com a Teresa e João na Benard. Agradáveis e opíparos momentos, onde a política foi posta de lado, por quem, imaginem, João Corregedor! No Chiado não corria vento e a tarde ficou saborosa convidando ao remanso que se estendeu por umas três horas de cavaqueira salteada. Teresa Magalhães ofereceu-nos o catálogo da sua última exposição, A Invenção da Vida, ocorrida em Julho deste ano, no recentemente inaugurado Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves; falou-nos do trabalho que tem em mãos que pretende explorar o subconsciente. Curioso, quis logo saber como se traduz na tela uma tal dimensão humana e pedi-lhe que fotografasse um ou outro quadro para eu ver. Estava brilhante, com voz clara, discurso lesto. Quando lhe disse que pensava que ela já não conversava, respondeu que só conversa quando há conteúdo para isso, querendo dizer que o que se passa na esplanada mais acima não a atrai “de maneira nenhuma”.    

         - Acabei de chegar do dentista. Comboio bondé. Amanhã e depois não cedo a nenhuma tentação por mais excitante e roliça que seja – daqui não arredarei pé!