sábado, setembro 25, 2021

Sábado, 25.

Angela Merkel está de saída ao fim de dezasseis anos de poder. Marcou um estilo de governadora, onde impera a simplicidade, um certo jeito pessoal que não se apropria do cargo, uma forma de se apresentar internacionalmente sem temer nem se deixar subjugar pelos seus parceiros, um toque humano na maneira como decidiu, defendeu ideias e ideais, como manteve a Alemanha a principal força da Europa com assento nas decisões do mundo, com sensibilidade bastante para reconhecer os dramas humanos e compreender a dimensão do cargo que ocupou. Talvez se venha a falar no futuro de merkelismo, porque a sua acção deixou um traço forte em vários momentos da História recente, destacando eu a crise dos migrantes que acolheu de braços abertos contra a sociedade xenófila alemã, a interlocutora avisada quando da crise na Ucrânia, o diálogo com a França e o sentido supremo da liberdade na direcção da União Europeia, o embate com Donald Trump e alguns outros déspotas. Nem tudo foram rosas? Decerto. Ainda assim ninguém lhe tira a referência de uma das grandes chanceleres que a Alemanha teve, ao lado de Adenauer, Willy Brandt e Kohl. Que a Europa tivesse dirigentes do seu quilate e seria hoje um espaço de liberdade, progresso e humanidade.    

         - Ontem fui ao encontro da Carmo para um almoço no Vitta Roma. Ficámos até tarde à conversa e, curiosamente, sem que se falasse mal de ninguém... Conversámos sobre arte e artistas, a galeria que expõe os seus trabalhos em Paris, muito perto do Museu Picasso, em pleno Marais. Eu não sabia que ela havia trabalhado em azulejos, arte que aprendeu na Bélgica. A seguir demos um passeio pela avenida do mesmo nome e certificámo-nos – sobretudo ela – que muita coisa tinha desaparecido, sendo aquela artéria um lugar de passagem sem o interesse e o chique pindérico de outros tempos.