domingo, setembro 12, 2021

Domingo, 12.

Talvez porque o falecido tenha deixado indicação para que as cerimónias do adeus fossem discretas, o facto é que o espectáculo dantesco de Mário Soares não se repetiu – apesar do andarilho Marcelo – com Jorge Sampaio. É certo que à funerária não faltou ninguém ou quase, mas o que se ouviu foi, tirado a papel químico, o que se escutou com anteriores desaparecidos, parecendo cumprir-se o evidente: a morte não reconhece doutores ou chefes de Estados, príncipes ou governantes, ricos ou pobres – na morte somos uma e a mesma pessoa, aligeirada da saloiice dos títulos e da pretensão provinciana de termos sido alguém. A morte reduz-nos à nossa transcendente insignificância. E ainda bem. 

         - Ouve três dias de silêncio pelo desaparecimento do ex-chefe de Estado. Não valia a pena – pelo que vejo, desta vez, ninguém lhes liga peva. Ou me engano muito, ou estas serão as eleições da maior abstenção. Do barulho que inundou televisões, rádios e jornais nada passa para a opinião pública. Conta mais a nova contratação de Cristiano Ronaldo para o Manchester que toda a vida política nacional. Eles dizem que se ganha pouco no trabalho autárquico ou legislativo, mas são cada vez mais os que se sacrificam pelo bem comum e o fazem sem o olho no cofre do Estado... ou pelo menos é isso que reclamam. Alguns nem sabem dos milhares de milhões que têm à sua disposição nos próximos três anos! Apetece murmurar: “morde aqui a ver se deixo...”  

         - Ontem de manhã voltei ao Parque Eduardo VII. Muita gente a comprar, as laterais cheias de público a subir e a descer. Fui lá por Paul Bowles, e acabei trazendo O Homem do Casaco Vermelho de Julian Barnes e Um Céu Demasiado Azul do nosso Francisco José Viegas e do seu inspector Jaime Ramos (a minha grande descoberta o ano passado). Assim sendo, ao serão, pus-me a pensar: “rapaz, tens com que te entreter para um ano. Se à pilha que aguarda leitura lá em cima, juntares os dois volumes do Diário de Julien Green, por alto, terás muito perto de 10 mil páginas para ler! É obra, caramba!  

         - O Verão parece querer deixar-nos. Mesmo assim, daqui a nada, irei fazer meia hora de natação e manterei o nível de limpeza da água até ao fim do mês. Até ao lavar dos cestos há vindima. Portanto, se me for possível, será mesmo às vésperas de deixar o país a caminho de Paris.