Segunda, 29.
O
Corregedor quando me quer atacar, utiliza sempre os mesmos argumentos: “Tu que
és um tipo inteligente, culto, mas, desculpa dizer-te, pouco informado em leis.”
Eu não me chateio e como poderia eu fazê-lo se tenho imensa simpatia por ele!
Acontece, porém, que eu não sou legislador, nem tão pouco político ou advogado.
A mim o que me interessa é aquilo que me toca, aquilo que raspa com dor a minha
corda sensível: as injustiças, a falta de dignidade, a eterna posição do país
na cauda da Europa, a arrogância dos governantes achando-se superiores à
maioria, os possidónios que cresceram com a democracia, esta ditadura
disfarçada que vai marginalizando todos e cada um, a falta de respeitabilidade
dos funcionários face às pessoas, a impressão que ninguém pensa pela sua
cabeça, entregando-se às leis que são feitas nas centrais de advocacia não
eleitas pelo povo ou pelo Parlamento cativo dos partidos e assim. Somos
governados por uma série de galos que saltitam na capoeira onde as
galinhas sobrevivem enjauladas num
colete de regras, do fabrico da Bola de Berlim ao sol que nos ilumina. A vaidade e presunção é tal, que é vê-los pularem
do poder apeados pelo voto, para esse outro palanque de domínio que é a
televisão. Não preciso de conhecer as leis, basta-me sentir a vertigem e as
consequências delas trabalhadas para fazer triunfar os advogados nos tribunais
onde o pobre não tem entrada.
- Não está ainda inteiramente seguro o
Sri Lanka. O exército continua a procurar os culpados dos atentados às igrejas
e hotéis, em Colombo, Domingo de Páscoa. Assim há dois dias a polícia encontrou
15 cadáveres no cerco que fez a um casebre a Leste do país. Como uma quantidade
considerável de material bélico. Das oito explosões de Domingo da Ressurreição,
resultaram 253 mortos e 500 feridos. Entre os falecidos, está um português que
estava em viagem de núpcias.
- Nova fuzilada numa sinagoga nos
Estados Unidos. Três feridos, uma mulher que enfrentou o assassino, está no
hospital em estado grave.
- Os espanhóis foram sages e não deram a maioria absoluta ao
PSOE. O pobre do Pedro Sánchez vai ter que partilhar o poder! Em grande medida é
graças a ele, que o VOX entrou no Parlamento (a questão da Catalunha, o caso da
exumação de Franco, os imigrantes). Espero que os portugueses façam o mesmo e
não deem a maioria aos socialistas.
- A questão da água que a Câmara de
Palmela me cobrou indevidamente, ainda não está concluída. Nesse sentido,
enviei este e-mail à ERSAR:
Caros Senhores,
Agradeço o e-mail com data de 11 deste mês relativamente ao conflito que mantenho há dois anos com a Câmara Municipal de Palmela, respeitante ao consumo de água e consequente débito descabido.
Eu julgava que esse Organismo tivesse um
olhar e competência diferentes sobre o assunto exposto, mas enganei-me. Tenho,
portanto, de me render à evidência: sou um criminoso e como tal vou ter que
sofrer as consequências de um crime que não cometi, mas que os senhores e a
Procuradora da justiça a quem também me dirigi, reconhecem.
Todavia, o que há de dramático nesta
situação, é o facto de o cidadão, num regime democrático e republicano, estar
tão fragilizado face a factos evidentes, que passam a ridículos quando a lei se
interpõe. Sobretudo leis que não são da República, mas de uma Câmara minúscula
que faz leis decerto de braço no ar.
Mais: o Estado e as autarquias não confiam
nos cidadãos, tomam-nos a todos por corruptos, aproveitados, esbanjadores,
cometendo concussão deliberada à lei. Sérios e honestos, competentes e cívicos
só os políticos que são imaculados em Portugal não conhecendo nós nenhuma excelência
pervertida.
É certo que os senhores e a senhora
Procuradora me aconselham a seguir para a Justiça com o caso estando implícito
que compreendem a minha revolta. Hesito em o fazer. Sei que espécie de
funcionalismo existe no nosso país, e não quero pagar para ouvir aquilo que
milhares e milhares de funcionários dizem nas repartições públicas: “É da lei!”
Para isso, do meu modesto ponto de vista, não é preciso o exército de
empregados estatais – a lei aplica-se, como nos regimes ditatoriais, cega e arrogantemente.
Dito isto, não me surpreendem movimentos
como os dos gilets jaunes. Quando o cidadão é humilhado e ostracizado, a
democracia e o Estado de direito saem de rastos.
Com os piores cumprimentos.
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