Quinta, 18.
Trago
ainda suspenso da memória a visita ao labiríntico Thyssen de Madrid. Isto
porque me impressionou e tocou uma tela de Anton van Dyck (1627), Cristo na Cruz. Está escondida numa das
últimas salas, depois de atravessarmos arrastando os pés de chumbo todo o
museu, em frente da qual chegamos exaustos. Detive-me um tempo esquecido a
olhar aquele corpo perfeito, a cabeça pendente para a esquerda, o olhar onde a
dor e o mistério, o desconhecido da morte, no instante na Ressurreição, fixa o
céu lá longe, num lugar desconhecido cujo acesso só conheceremos chegada a
nossa hora, apelando ao Pai ajuda. Este quadro magnífico, não vem no catálogo
geral do museu, dois volumes com mais de 800 páginas cada, impressas a cores, na
terceira edição de 1994, com todo o património do museu que adquiri numa das
vezes que fui à capital espanhola de carro. Também a foto que tirei não diz da
luminosidade do olhar, da expressão e de toda a envolvência que o trabalho de
van Dyck consagra.
- Acordei com estas palavras: “Je pense donc j´existe.” O conceito catersiano
não é propriamente este, mas sim: Cogito
ergo sum (Je pense donc je suis). Mas
a que propósito soletro eu Descartes ao abrir os olhos? Mistério.
- Os motoristas de mercadorias
perigosas, instalaram na sociedade um ulá-lá de inquietação ao atacarem o
carrinhos de brinquedos dos portugueses. O que eles foram fazer! Como se
atreveram! O país inteiro parou, os condutores particulares fizeram filas
incríveis por horas para encher os depósitos, injúrias e ameaças invadiram as
estradas. Ainda por cima em semana de Páscoa, quando as famílias exibem
galhardamente o automóvel lustroso em passeios veraneais! Crime de lesa
majestade! A nenhuma destas criaturas ocorreu que os profissionais do ramo
ganham 600 euros para um trabalho muito violento e também eles têm direito a
férias de Páscoa “em família”.
- O pássaro não se decide a descer da
chaminé ao rés-do-chão. O Fortuna diz que tem um método eficaz: pôr um rato
morto no lugar da lenha. Diz que é tiro e queda.