quinta-feira, abril 25, 2019

Quarta, 24.
Na nova Bíblia da responsabilidade da Conferência Episcopal Portuguesa, Deus passa a ser tratado por “tu”. Suas reverências não têm mais em que ocupar o seu santo tempo, senão trazer para a linguagem vernácula a vulgaridade de tratamento que hoje empanturra os meios de comunicação com especial relevo para a televisão. De repente, somos todos primos, camaradas de instrução primária, vizinhos e crescemos juntos no mesmo bairro dos subúrbios da grande cidade. O argumento é este: a aproximação às origens bíblicas e o paralelismo com a vida presente onde os filhos tratam os pais por tu, para além da sedutora intimidade com Deus. Por outro lado, a tradução que nos é proposta, é manhosa e do ponto de vista da beleza da língua deixa muito a desejar, com aquele fim “livra-nos do Maligno”. A Igreja francesa, em 2017, também fez alterações ao Pai Nosso (ver o que aqui escrevi no dia 17 de Novembro daquele ano) com as quais estive em desacordo. Em ambas as situações, quer-me parecer, que o fundamento reside no entendimento que os cristãos fazem dos textos e, sobretudo, das formas reverenciais. A Igreja portuguesa não ignora a iliteracia reinante, o desconhecimento dos verbos, o péssimo português falado, a trivialidade das relações humanas, o pendor para o chinelo que se instalou nos canais de comunicação. Mais uma vez ela vai atrás dos cristãos, cedendo à futilidade, ao nivelamento por baixo, à ignorância e, como então se dizia, ao obscurantismo. Em vez de educar o povo, transmitindo-lhe os Mandamentos do Senhor, a Igreja prega os bons costumes, fala de sexo, de interdições monstruosas, de opções políticas... Um povo ignorante, é mais fácil de domar, de fazer aceitar as suas obsessões que se traduzem na célebre frase: “Faz o que te digo e não o que eu faço.” É neste impasse que se encontra a Igreja. Quer dizer ao Sr. Aníbal e quejandos, sob a democracia, tratam-no de “excelência” e os deputados entre si por “vossa excelência”. A Deus vamos dirigir-nos tu cá tu lá. Não sei o que diz o Vaticano destas foleiras alterações, o que sei e falo por mim, é que continuarei a dirigir-me ao Senhor com o profundo e grato respeito que Ele me merece. Pai Nosso que estais nos céus, acudi a vossa Igreja. 

         - Na minha terceira releitura do livro de Green L´Expatrié, deparo com esta citação: “Le socialisme s´accompagne d´une soif de pouvoir et s´accommode parfaitement avec de grand luxe.” Pág. 127, Éditions du Seuil. Assino de cruz sem hesitar. A hipocrisia da  middle class no seu melhor.


         - Dia de uma tristeza infinda. Ainda por cima, cedendo à insistência do Carlos em vir cá a casa almoçar recebi-o, mas comemos na Terceira Geração. O vinho chegou à mesa e tudo se alterou. Acabado o repasto de uma simplicidade humilde, levei-o à estação de regresso a casa. O vento, a chuva, o céu tenebroso compuseram o bouquet de melancolia. Acresce que me falta a escrita. Há já dois meses que não escrevo uma linha, salvo estas tristezas de um desinteresse sem igual.