domingo, abril 07, 2019

Domingo, 7.
Há pelo menos um mês que não trabalho no romance nem em nenhuma espécie de criação literária à parte, claro, estas linhas que vou traçando ao correr dos dias. Depois de duas semanas entre Madrid e Lisboa com os meus amigos, ainda não assentei, embora me pese na memória as minhas personagens e o desejo inconfessado de tornar à escrita. Todavia, este pousio forçado, foi-me fecundo porque me afastou das preocupações patológicas que me trazem em constante desassossego. Pude saborear cada minuto fazendo o sacrossanto vazio que carrega e suspende o tempo. A calma que me habita é a riqueza que nenhum banco aceita.

         - Os gilets jaunes apareceram pela 21 semana consecutiva. Em menor número é verdade (6 mil em toda a França), mas dispostos a correr com Chou Chou que é para eles a imagem do desastre e do concluiu com a grande finança. Honra lhe seja feita.

         - A relação dos políticos portugueses com as agências de rating é curiosa e hipócrita. Não tem muito tempo que jogavam à cara dos senhores que as dirigem raios e coriscos, afirmavam que não lhes interessava os seus pareceres e cotações, o país não devia estar de joelhos ante eles, eram centrais ao serviço da América e outros mimos do género. Mas de súbito, quando elas tiraram Portugal do esterco em que o colocaram, é vê-los orgulhosos, salmodiando cumprimentos, garbosos e felizes, satisfeitos com o seu parecer e o nosso coquete Ministro das Finanças, embora fale em nome de Portugal, está subjacente que os louros vão inteiros para ele.

         - Tendo ligado a televisão por caso e a uma hora que não é comum, deparei com uma entrevista ao Dr. Almeida Nunes. Tudo o que posso dizer é que se em Portugal houvesse meia dúzia de homens como ele, o país e o mundo seria um lugar que teríamos saudade em deixar na hora da morte. O Tó (para os amigos e Dr. António Nunes para os doentes), sendo mais novo, é um exemplar com o mesmo nobre ideal de médico e por isso um ser humano excepcional também.


         - Não adies o presente, não desvies o olhar do horizonte cinza, permanece quedo absorvendo o instante e sê na redenção de cada minuto aquele que isenta o passado e o futuro. Voluptas in tranquilittate.