Domingo,
7.
Há
pelo menos um mês que não trabalho no romance nem em nenhuma espécie de criação
literária à parte, claro, estas linhas que vou traçando ao correr dos dias.
Depois de duas semanas entre Madrid e Lisboa com os meus amigos, ainda não
assentei, embora me pese na memória as minhas personagens e o desejo
inconfessado de tornar à escrita. Todavia, este pousio forçado, foi-me fecundo
porque me afastou das preocupações patológicas que me trazem em constante
desassossego. Pude saborear cada minuto fazendo o sacrossanto vazio que carrega
e suspende o tempo. A calma que me habita é a riqueza que nenhum banco aceita.
- Os gilets jaunes apareceram pela 21 semana consecutiva. Em menor
número é verdade (6 mil em toda a França), mas dispostos a correr com Chou Chou
que é para eles a imagem do desastre e do concluiu com a grande finança. Honra
lhe seja feita.
- A relação dos políticos portugueses
com as agências de rating é curiosa e
hipócrita. Não tem muito tempo que jogavam à cara dos senhores que as dirigem
raios e coriscos, afirmavam que não lhes interessava os seus pareceres e
cotações, o país não devia estar de joelhos ante eles, eram centrais ao serviço
da América e outros mimos do género. Mas de súbito, quando elas tiraram
Portugal do esterco em que o colocaram, é vê-los orgulhosos, salmodiando
cumprimentos, garbosos e felizes, satisfeitos com o seu parecer e o nosso coquete
Ministro das Finanças, embora fale em nome de Portugal, está subjacente que os
louros vão inteiros para ele.
- Tendo ligado a televisão por caso e
a uma hora que não é comum, deparei com uma entrevista ao Dr. Almeida Nunes. Tudo
o que posso dizer é que se em Portugal houvesse meia dúzia de homens como ele, o
país e o mundo seria um lugar que teríamos saudade em deixar na hora da morte. O
Tó (para os amigos e Dr. António Nunes para os doentes), sendo mais novo, é um
exemplar com o mesmo nobre ideal de médico e por isso um ser humano excepcional
também.
- Não adies o presente, não desvies o
olhar do horizonte cinza, permanece quedo absorvendo o instante e sê na
redenção de cada minuto aquele que isenta o passado e o futuro. Voluptas in tranquilittate.