terça-feira, abril 23, 2019

Terça, 23.
Vários ataques horrendos reivindicados pelo Daesh em igrejas e hotéis no Sri Lanka, resultaram em mais de três centenas de mortos e quase quinhentos feridos. Isto no Domingo de Páscoa por certo o dia escolhido não só para assumir os bárbaros crimes, como para dizer aos católicos que o Islão quer-se substituir custe que custe (a religião maioritária do país é o Budismo). O incrível desta monstruosidade, é que o Governo tinha sido avisado do que se preparava e nada fez para a prevenir. E talvez porque Abu al-Baghdadi queira dizer ao mundo que continua vivo e a sua assassina organização não acabou nos combates na Síria. Em nenhum lado estamos livres de ataques extremistas. O mundo é um lugar sinistro.

         - Os gilets jaunes, mesmo em tempo de quaresma, não largaram as ruas. Também eles por força das circunstâncias, parecem tombar para os extremismos. Ouvi-os em Paris incitar os polícias ao suicídio. Uma bestialidade intolerável, sobretudo porque na classe dos agentes em França, nos últimos tempos, têm ocorrido bastantes suicídios. Quando às reais reivindicações se entrepõe o ódio, estamos conversados.  

         - Domingo de Páscoa, assisti à missa transmitida do Vaticano. Impressionante aquele extenso silêncio a seguir à Comunhão. Na grande praça repleta de fiéis, não se ouvia um ruído. Jovens e não jovens recolhidos respiraram o silêncio enquanto substância de comunicação com o divino.


         - Eu tinha razão para dizer que o Domingo de Páscoa era um dia de festa. Evidentemente que pensava na Ressurreição de Jesus Cristo, mas acabou também por ser metaforicamente falando, o regresso à vida do pequeno melro prisioneiro na chaminé há pelo menos duas semanas. Mostrou-se no vidro e agitou as asas como quem exclama: “Estou aqui, solta-me.” Foi o que fiz, agarrando-o com imenso cuidado, observando o seu corpo pequeno vestido de cores ternas em tons azulados e escuros, o bico amarelo, assustado. Assim que o pus sobre a pedra lá fora, parecia apatetado e só daí a uns minutos levantou voo para se ir enfiar pela nesga da porta da casa das máquinas. Fui lá daí a meia hora e abri a porta toda para que ele saísse quando lhe aprouvesse, mas não o vi. Uma carga pesada aligeirou-me de atormentações: destruía-me ouvi-lo lutar pela vida todos os serões.