Quarta,
10.
Há
livros que nos obrigam à retardança da despedida. Como um amigo que à soleira
da porta detemos em cavaqueira íntima, de forma a retê-lo para mais dois dedos
de conversa, em comunhão com a amizade que tarda enquanto tarda a despedida. É
o caso da obra-prima de Johann Wolfgang von Goethe As Afinidades Electivas. É na realidade um livro muito bem
construído, articulado, com diálogos e teoremas sem mácula. O jogo entre
casais, na sociedade do séc. XIX que poderia ser transportada para os nossos
dias sem perder o mínimo apontamento ou detalhe, é impressionantemente
controlado pelo autor, que manobra as personagens com a maestria de um director
de consciência. Goethe está inteiro na obra através das suas obsessões naturalistas
e da impressão dos românticos, a que
no seu caso se junta a proposta dos vasos comunicantes.
- Acordei numa excitação inopinada,
próxima da que me varreu as noites e madrugadas durante anos a fio. O que se
seguiu, não é para aqui chamado, embora traduza à mon âge um salutar resultado.
- Tempo maluco este. Continua a nevar
no Norte, há chuvas diluvianas no Brasil com mortes, em Moçambique não estando
no montante de óbitos estimado pelo Presidente, para lá se aproxima com o surto
de cólera e outras desvairadas doenças. Aqui em casa, tenho a lareira acesa.
- Apesar disso, esta tarde, terminei
de podar as amendoeiras. A madeira é tão rija que me curvo todo para a cortar.
O pior é que tive de me empoleirar nas árvores que ainda são umas quantas. A
poda foi radical de forma a conseguir salvá-las.