quarta-feira, abril 10, 2019

Quarta, 10.
Há livros que nos obrigam à retardança da despedida. Como um amigo que à soleira da porta detemos em cavaqueira íntima, de forma a retê-lo para mais dois dedos de conversa, em comunhão com a amizade que tarda enquanto tarda a despedida. É o caso da obra-prima de Johann Wolfgang von Goethe As Afinidades Electivas. É na realidade um livro muito bem construído, articulado, com diálogos e teoremas sem mácula. O jogo entre casais, na sociedade do séc. XIX que poderia ser transportada para os nossos dias sem perder o mínimo apontamento ou detalhe, é impressionantemente controlado pelo autor, que manobra as personagens com a maestria de um director de consciência. Goethe está inteiro na obra através das suas obsessões naturalistas e da impressão dos românticos, a que no seu caso se junta a proposta dos vasos comunicantes.

         - Acordei numa excitação inopinada, próxima da que me varreu as noites e madrugadas durante anos a fio. O que se seguiu, não é para aqui chamado, embora traduza à mon âge um salutar resultado.

          - Tempo maluco este. Continua a nevar no Norte, há chuvas diluvianas no Brasil com mortes, em Moçambique não estando no montante de óbitos estimado pelo Presidente, para lá se aproxima com o surto de cólera e outras desvairadas doenças. Aqui em casa, tenho a lareira acesa.


         - Apesar disso, esta tarde, terminei de podar as amendoeiras. A madeira é tão rija que me curvo todo para a cortar. O pior é que tive de me empoleirar nas árvores que ainda são umas quantas. A poda foi radical de forma a conseguir salvá-las.