domingo, fevereiro 28, 2021

Domingo, 28.

A Papa Francisco tem agendada uma viagem apostólica ao Iraque no próximo mês de Março. Julgo que é a primeira vez que um Papa visita aquele país de maioria muçulmana. Os cristãos andarão pelos 400 mil. No tempo de Saddam Hussein que o alcoólico Presidente americano invadiu, matando-o em condições abjectas, o Iraque era um país, sempre foi, tolerante onde todas as religiões coexistiam sem problemas de maior. Foi com a mentira do armamento bélico que o bêbado Bush, legitimou a ocupação de Bagdad. Depois graças a ele, veio a Al-Qaeda, outros grupos extremistas, até aos jihadistas do denominado Estado Islâmico. O mundo nunca mais teve sossego. 

         - Eu queria falar com o rapaz que pastoreia as ovelhas de um meu vizinho e chamei-o. Ele vinha na minha direcção e eu ao seu encontro quando, já perto, de súbito, vejo-o a baixar as calças e agachar-se na terra. A princípio não percebi e como ele me dirigia a palavra fui andando. A uns metros, dou conta que ele deve ter sido acometido de uma tremenda diarreia, porque observo as feições do rosto avermelhadas. Recuo aguardando que o pastor acabe o que ninguém pode fazer por ele. Do bolso tira um bocado de papel branco, limpa-se  e ergue-se: “Então o que é que vossemecê me quer?” Como se nada de extraordinário se tivesse passado, explico-lhe que pode trazer o rebanho para dentro do meu portão onde a erva é excelente. Rapa do telemóvel e anota o meu número, como qualquer homem de negócios espreitando a mina d´oiro. Pela minha parte, não deixei de pensar na Blacka e no Botas mais asseados do que ele, quando tapam com as patas aquilo que lhes perece desagradável ficar à vista. 

Os gatos aguardando educadamente autorização para entrarem na cozinha.


         - O Sol abriu de um espesso nevoeiro e o dia cresceu luminoso invadindo a esperança. Admirar o campo que vai acordando ao passo seguro da Primavera, na sequela de longas chuvas que inundaram o espaço terrestre e definharam a coragem física e mental dos homens, é reconstruir a graça de haver nascido para desafiar o acrisolado futuro. 


sábado, fevereiro 27, 2021

Sexta, 27.

“(...) e o que está em causa é muito mais importante. Juntam-se finalmente as esquerdas democráticas e as não democratas? Separam-se de vez? A esquerda democrática consegue atrair e digerir as esquerdas não democráticas? Ou estas últimas obtêm a vitória histórica de mudar e dominar os socialistas democráticos?” António Barreto hoje no Público. A verdade é que esta é a nossa sina: vivermos como eternos recrutas: direita esquerda, esquerda direita volver. Para mim esta dicotomia continua ser um mistério que só tem razão de existir com o subdesenvolvimento do país. Em nenhum outro da Europa desenvolvida se dá importância a este confronto que entretém a nossa medíocre classe política; assim como em nenhum país civilizado se sobrepõe dois partidos residuais à grossa maioria do tecido social. Bem sei que a hegemonia do PCP e do BE ocupou todo o espaço político com crendices da lana-caprina, o contrapondo político deixou-se abater pela descrença. Uma desgraça para a democracia e para o país. Sobretudo quando é nítido que as exigências do BE correspondem à entrada no Governo e as do PCP aspiram a tomar o poder um dia – a democracia como trampolim. 

         - A grande sabedoria, a que nos ilumina a vida, está resumida neste período do livro de Manuel Vilas (pág. 150): “Também eu sou pobre. Não tenho onde cair morto. E isso pode ser uma libertação. Oxalá os jovens procurem a vida errante, o caos, a instabilidade laboral e a liberdade. E a pobreza desenrascada, a pobreza moralmente desactivada, ou seja, a pobreza em sociedade. É uma boa solução: a pobreza como fundamento colectivo, o não-ter conjunto. O problema é que a pobreza acaba por ser transformar em miséria, e a miséria é um estado moral.” 

         - Fui de manhã ao mercado dos pequenos agricultores onde me encontrei com a Glória e o Raul. De regresso à quinta, comecei a acabei (merci, Monsieur Baker) de cortar os bambus em volta do tanque dos nenúfares, acartei-os depois para queimar. Benditas horas ao sol a ler. Falei com a Alice, António e Lurdes que por pouco não me esparralhou no Facebook tal os seus encorajamentos e proveitos a favor do meu “talento de escritor”. Lembrei-me logo do António que vive grudado naquele servidor social e eu costumo recordar-lhe que se mantenha se quer ser alguém...  


sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Sexta, 26.

“É normal sentir compaixão pelos casais, especialmente pelos casais que começam a acumular anos de vínculo conjugal, porque todos sabemos que o casamento é a mais terrível das instituições humanas, pois requer sacrifício, requer renúncia, requer negação do instinto, requer mentira atrás de mentira, proporcionando em troca a paz social e a prosperidade económica.” Manuel Vilas, Ordesa, pp. 40-41, Ed. Alfaguara. 


quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Quinta, 25.

Ainda a propósito da Carta Aberta às televisões generalistas nacionais anteontem aqui citada, não quero deixar de alertar os meus leitores para a sua indispensável leitura no Público de terça-feira, 23 de Fevereiro e cujo parágrafo mais elucidativo subscrevo:  “(...) Mas mesmo sabendo tudo isto, assinalamos a excessiva duração dos telejornais, contraproducente em termos informativos. Não aceitamos o tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e a respostas dos entrevistados. Não aceitamos a obsessão opinativa, destinada a condicionar a receção da notícia, em detrimento de uma saudável preocupação pedagógica de informar. E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde por, alegadamente, não terem sabido prever o imprevisível – doenças desconhecidas, mutações virais – nem antever medidas definitivas, soluções que nos permitissem, a nós, felizes desconhecedores das agruras do método científico, sair à rua sem máscara e sem medo, perspetivar o futuro.” A resposta da RTP1 é do tipo dona de casa apanhada a roubar e ante a descoberta atira para cima dos patrões a responsabilidade de não a terem protegido da tentação. 

         - A ver vamos no que vai dar o envio da lei da eutanásia de Marcelo Rebelo de Sousa para o TC. Do que leio, a sua nota contém argumentação para todos os gostos, embora eu me incline para o que diz Isabel Moreira quando exalta a ideia de que “as pessoas não se querem comprometer, só querem é ficar bem na fotografia”. Referindo-se a forma como Marcelo elaborou o pedido de fiscalização: “O pedido é manhoso.” Não me surpreende. 

         - Noite quase em branco. Acordei pouco depois de ter adormecido com um barulho que parecia idêntico ao do motor de tratamento da água da piscina no Verão. Da janela do quarto, pareceu-me ver a agitação da água e ruído que vinha da casa das máquinas. Levantei-me, enfiei as pantufas, vesti o anoraque, desci. Mal abri a porta do salão, surgiram, como sempre e a qualquer hora esfomeados, os gatos. Enxotei-os e avancei para desligar o motor. Foi quando dei que chovia e as pantufas não eram apropriadas para o trajecto. De regresso ao vale dos lençóis, o ruído persistia não me deixando retomar o sono. Só muito mais tarde perante, talvez, a segunda insónia em toda a vida, conclui que aquele rumor persistente, era a chuva que caía na quieta e escura e plangente noite. 

         - As amendoeiras estão em flor – este acontecimento por si só devia encher-me de alegria. Contudo, o dia de ontem não existiu, um vazio enorme arrastou-me de hora em hora, num infindável calvário de pensamentos aziagos. Nem a leitura veio em meu auxílio. Tudo o que eu julgava morto e enterrado, ressuscitou com uma força difícil de conter. O taipal caiu deixando-me exposto. Porquê?  


terça-feira, fevereiro 23, 2021

Terça, 23.

De que se fala agora neste maravilhoso país à beira mar plantado? De“desconfinamento”. Bastou uma ligeira melhoria nos números adstritos à Covid-19, para logo uma plêiade de médicos, cientistas, professores, políticos, advogados, enfermeiros, virologistas, gente dizem qualificada aparecer ou retornar com vaidade e importância aos ecrãs de televisão a impor o de confinamento. Ouvi até um senhor doutor, por conseguinte formado numa universidade, a dizer que os portugueses deviam “ ser aderentes” o mais possível às normas impostas pela DGS. Marcelo que, enfim, está um homem equilibrado, recatado, aparecendo o necessário, espero não altere aquilo que afirmou há duas semanas a saber: continuação das normas vigentes até hoje. A tónica vai para a abertura das aulas ao 1º e 2º ano. Esquecem-se que com a criançada, alça para a rua centenas e centenas de pais, avós e auxiliares de educação e, de repente, temos o vírus a esfregar as antenas  de contentamento. 

Há neste universo todo um mundo de interesses, pragas, lágrimas e bênçãos fazendo jus às nossas raízes dúbias, santificadas por mais de um século de regras e doutrinas religiosas que, no limite, apenas desresponsabilizaram a massa amorfa da nação. À conta dos meninos, coitadinhos, que não devem parar a sua formação porque o país precisa deles e eles “são o futuro” deste povo eternamente lamechas, que trata as crianças e os velhos como se fossem mentecaptos. Diz-se até por aí, que os velhos são crianças, embora não se atrevam (ainda) a afirmar que as crianças são idosos retardados na infância. Evidentemente, para mim, não vai mal ao mundo nem aos mais pequenos em atrasar por um ano aquela massa de informação que as creches e as escolas entornam para o cérebro dos petizes. A questão é outra. Um mundo de gente ganha a vida com organizações que mais não são que lugares onde as crianças ficam enquanto os pais vão ganhar a vida e a actividade industrial e comercial pontua para os impostos e o “progresso” da nação. A toda esta amálgama de gente, pouco interessa se o coronavírus mata, fere ou condiciona a vida futura de todos. O importante é que as estruturas pessoais e públicas, não sejam beliscadas e cada um possa prosseguir a sua vidinha na senda cadenciada do quotidiano familiar e pequenino. Outra história que alimenta a fantasmagoria dos nossos educadores, é o padrão psicológico, o desarrumo dos meninos, o que irá acontecer nos seus cérebros frágeis, que futuro terão eles. Este é o universo dos psicólogos. Existem tantos e com tanta sabedoria, que devia ser impossível aos homens e mulheres de amanhã, serem afectados por uns meses distantes daqueles pilares sólidos que são a educação, a protecção à infância, os traumas e as carências afectivas que a pandemia veio trazer. Falam como se os culpados do SARS-CoV2 fossem os governantes e deles exigem tudo o que eles não querem perder, pouco preocupados com o destino dos seres que têm a cargo e num sentido mais lato a população em geral, a família de cada um e as outras que compõem o mapa português. A tagarelice é tanta, o coro de entendidos despe a capa dos conhecimentos na praça pública, que diria serem os agoureiros da feira de Pedrógão Grande. As duas meninas mandonas do BE, ao lado desta turba, passam por aprendizes de feiticeira. 

         - O Público traz uma carta aberta assinada por 42 pessoas dos muitos ramos profissionais e classes sociais. Insurgem-se os assinantes contra aquilo a que eu venho pregando há anos nestas páginas: o jornalismo espectáculo, desumano, atentatório da dignidade pessoal. Eu que fui um deles, nunca de forma alguma o meu chefe de redacção me permitiria exercer a actividade do modo como hoje vejo praticar a meninas e meninos idiotas, que estão ali não para informar, mas para debitar conceitos pessoais de natureza partidária, política, moral e sexual. É o jornalismo barato, pago à hora, bichanado pelas centrais dos partidos, onde o mais dramático e o que entra na fragilidade humana e se expõe à avidez mórbida do espectador, é o que deve ser serviço ás manjedouras dos auditórios caseiros. 

         - Todos os serões de lareira acesa. Hoje o dia abriu as suas asas de luz e os raios de sol jorraram sobre o campo coberto de um tapete verde intenso. Saí de manhã para algumas compras. Não falei com ninguém, salvo as pessoas que fui encontrando no caminho do super. 17 horas e trinta e três minutos. 


segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Segunda, 22.

Já que toda a gente fala do senhor Caupers, também eu vou botar discurso. No ano em que ao Código Civil foi feita a alteração (2010), de forma a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o actual Presidente do Tribunal Constitucional, escreveu uns quantos artigos que hoje considera “tolos”. Acontece. E só não acontece a quem não tem ideias ou tendo-as é covarde. Dizia o distinto articulista: “Enquanto membro da maioria heterossexual, não estou disposto, nem disponível, para ser tolerado por eles.” Acontece que o arrogante senhor, nem se deu ao trabalho de indagar se os homossexuais estariam dispostos a reconhecer-lhe o estatuto de superioridade de que a frase está impregnada. É verdade que também nem se deram a esse trabalho, porque têm no Bloco de Esquerda a sua guarda pretoriana de defesa. Como o dito senhor está muito bem informado quanto ao número de homens que gostam de homens, afirmou que eles são menos que os vegetarianos, como quem diz, reduzam-se à vossa insignificância. Ora, “aqui chegados” eu aconselharia o senhor conselheiro e ler o que disse a doutora Laura Aires sobre o assunto quando a sida apareceu e ela se entregou humana e generosamente aos seus doentes. Terá um susto ao verificar que está rodeado de homens que são felizes nos braços de outros homens e, do meu ponto de vista, só pecam por quererem fazer a vida monótona e ronceira, hipócrita e destruidora, dos casados. Mas o nosso homem vai mais longe e torna-se moralista fundamentalista quando apregoa: “A gestação de substituição, em si mesma, enquanto conceito e enquanto técnica de procriação medicamente assistida, tenho-a por violadora da dignidade da pessoa humana.” É um ser retrógrado e, só por isso, não devia estar à frente do Tribunal Constitucional. Há mais esta (como se vê o ilustre papa do Direito tem ideias): “Diga o Direito o que disser, a concepção de uma criança sem pai é tão absurda como a de uma criança sem mãe.” Há milhares de seres humanos que nunca conheceram os pais, ou só um deles esteve no seu desenvolvimento, e nem por isso deixaram de ser pessoas válidas e reconhecidas pela sociedade onde viveram. Estou a lembrar-me dos filhos de pais incógnitos, ou daqueles que foram entregues a instituições públicas e fizeram-se cidadãos ilustres. Podia citar alguns, mas lembro o chanceler Willy Brandt. Todavia, estas afirmações são repudiantes por outro ângulo – fazem pender o ser humano apenas da carcaça familiar. Qualquer que ela seja. Daí tantos indivíduos que a pobreza, as má-formações, os divórcios dos seus progenitores, as vicissitudes da vida deixaram perdidos nesse oceano perigoso que é a vida. E quantos milhões, correspondendo à teoria do senhor Presidente, derraparam, fizeram-se criminosos, assassinos, alguns chegaram a governar o mundo, e foram tão atrozes que nos apetece dizer que o seu terror foi construindo-se no seio de uma família organizada e controlada pela sociedade bem pensante, a Igreja Católica Apostólica Romana. Os nossos pais, senhor João Pedro Caupers, são quem nos ama, os nossos amigos verdadeiros, às vezes as sombras protectoras, Deus que nunca renuncia a ocupar os espaços que a solidão pretende inundar com ou sem família. E por sobre tudo isto, é mais redentor abraçar a liberdade, que ficar cativo de um casulo oco, criado pela sociedade que sabe como controlar os seus cidadãos e cedo percebeu que quem constitui família perde definitivamente a liberdade. Uma família cheia de certezas, é um deboche antropomórfico. A PIDE sabia disso. O KGB também. As polícias copiam-se umas às outras para dominar o indivíduo e fazê-lo escravo das suas loucuras e ambições. Proponho ao insensível senhor Caupers, leia Epicuro, Nistzsche ou Cioran. “Tout ce qu´ils touchent prend couleur d´être.” 


domingo, fevereiro 21, 2021

Domingo, 21.

A semana passada saldou-se com mais uma chegada a Marte, desta vez americanos em colaboração com europeus. Contudo, dos marcianos que povoaram a minha infância, o planeta disse niente

         - A TAP é a chou chou do Partido Socialista. Que se lixe a pandemia, o SNS, a pobreza franciscana do país, as pequenas e médias empresas a falir, o desemprego galopante, os salários miseráveis, o fim dos idosos à beira da estrada, que importa tudo isso desde que a transportadora nacional continue a ser o símbolo de Portugal, o seu orgulho. Uma honra para a esquerda e pouco importa que a dívida nacional esteja em 745,8 milhões de euros!!  

         - Tomei chá em casa da Glória. Momentos divertidos, sonoras gargalhadas. O casal é uma espécie de duo em estado bruto, natural, sem nenhum género de artifício, em fausto puro. Ele mais reservado, ela impositiva e exuberante. Generosos, são capazes de despir o casaco para o dar a quem precisa – pródigos à maneira minhota que uma vida passada em Paris não conseguiu alterar. Vim de lá com uma dúzia de ovos que somados à meia dúzia dos de Alain, tenho reserva para um mês.  

          - A tempestade Karim (enquanto a estes fenómenos climatéricos se atribuem nomes; aos seres humanos imputam-se números) instalou-se por três dias entre nós, causando imensos estragos e obrigando os agentes de segurança a socorrer centenas de pessoas.    


sábado, fevereiro 20, 2021

Sábado , 20.

A Espanha dirigida por um incapacitado, como os ineptos que por cá se multiplicam em todo o lado, para quem as leis são para ser aplicadas sem justiça, está a braços com um tremendo tumulto nas ruas em favor do rapper Pablo Hasél ou seja Pablo Rivadulla Duró. Este rapaz, de 32 anos, é cá dos meus, porque não escolhe as palavras quando se trata de as transformar em pedras que ferem. Eis alguns exemplos. “Quantos milhões e milhões saquearam e gastaram durante tantos anos tantos membros da família real? E logo os psicopatas que nos governam dizem que não há dinheiro para direitos de primeira necessidade. Mas têm os anos contados. A república popular está próxima.” “Juan Carlos já mostrava vocação quando matou o irmão Alfonsito`. Acreditam que foi um acidente?” “Ouve, tirano (refere-se a Filipe VI), não há apenas para o teu pai. Que o grito republicano fure o teu tímpano. Que a tua família coma do contentor.” Estes são alguns dos versos que povoam as canções do artista e o levaram à prisão onde se encontra. Bem prega frei Pablo! O facto é que o rei emérito goza tranquilamente os dinheiros da corrupção que de há muito está envolvido nos sumptuosos Emirados Árabes Unidos. José Sócrates desfruta dos milhões rapinados do erário público na modesta praia de Ericeira. Cada um à sua dimensão, não é verdade. Vou citar outro desbocado de quem gosto muito, Francisco Teixeira da Mota: “Os tribunais não existem para fazer justiça, mas tão-somente para aplicar as leis |lá está|. Se a isto acrescentarmos as possibilidades que têm os transgressores, pertencentes às elites sociais, de `torcer` o sistema social a seu favor, fácil é concluir que nada tem de surpreendente o rapper ir para a prisão e o rei (sem mérito) para Abu Dhabi.” 

         - António Costa, com o ar mais inocente deste mundo, dizia há dias que a pandemia veio destapar necessidades existentes na sociedade portuguesa. Que desplante! Então sua excelência, cujo partido foi o que mais tempo até hoje governou o país, desconhecia a situação da pobreza, da humilhação dos idosos, do analfabetismo coberto por uma capa de instrução reduzida e feérica apenas para as estatísticas! Então o seu partido e a esquerda que o apoia não são os principais responsáveis! 

         - De manhã fui ao mercado dos pequenos agricultores. De seguida passei para um café entre portas em casa do Alain. Aqui chegado ataquei o almoço, seguido de pequena sesta embalada pela chuva a bater nas janelas que se estendeu em salmo o resto do dia e me reteve em casa. Leitura de Green (pág. 920) e do romance de Manuel Vilas, Em tudo havia beleza. Falei com Annie (que projecta vir em Outubro de carro e levar-me consigo para Paris. Bela ideia se a assanhada covid permitir!) Corregedor, António, Carlos Soares, Virgílio. Abraça-me vida que estou perdidamente apaixonado por ti. 


sexta-feira, fevereiro 19, 2021

Sexta, 19.

Fez muito bem o Presidente da República ter enviado para o Tribunal Constitucional a lei sobre a eutanásia. Do que eu li, aquilo é uma manta de retalhos mal amanhada, cheia de buracos que permitem todas as interpretações, feita à pressa, sem discussão pública, com o selo de uma esquerda que não passa dos 10 por cento e com esta percentagem periférica quer impor à maioria dos portugueses as suas ideologias, há muito mortas e enterradas por terem sido monstruosos fiascos e embustes sinistros contra a humanidade.  

         - Eu só encontro refúgio nos filósofos. Com Cioran comungo de tanta coisa que tenho o seu ensaio La tentation d´existir solidamente anotado e sublinhado. Esta análise dissertei-a eu aqui inúmeras vezes embora com outras palavras: “La solitude est une mission: s´y élever et l´assumer c´est renoncer a l´appoint de cette bassesse qui garantit la réussite de toute entreprise quelle qu´elle soit, religieuse ou autre.” (Pág. 176).  

         - Ontem fui a Lisboa num colete de satisfação com a cabeça de fora a tecer laudas à vida. Cheguei num instante sem viaturas excessivas a estorvar o caminho. O laboratório onde fui espreitar o senhor Baker, fica na Rua Dona Estefânia, mesmo em frente ao Centro Universitário onde, pelo menos durante quatro anos, entrei diariamente. Um vendaval de recordações! Passei depois o prédio onde viveu o João, que continua um buraco a desafiar a especulação imobiliária, e mais adiante a Tarantela onde terminadas as gravações ficávamos em reinação. Às vezes aparecia o António Calvário que nesse tempo era a vedeta mais vedeta que o Portugal do antigo regime tinha. Aos domingos de manhã, quem me queria encontrar, era num espaço na Casal Ribeiro a caminho do Saldanha a jogar bowling com os meus camaradas. Aquela artéria não sofreu muitas transformações, e os poucos mamarrachos que outros chamam modernos, almejam instalar-se. Mas de tudo isto já aqui falei e a repetição serve para confrontar a verdade do que ficou registado. Dali fui ao Corte Inglês comprar um suplemento, o jantar, o último livro de Frederico Lourenço, Latim do Zero que me vai recordar o que esqueci, incluindo as declinações. 

         - A funcionária que me atendeu ao guiché blindado contra o corona, ao fim de alguns minutos dispara: “Gosto de si, tem algo especial que nos atrai. Devia ficar aqui connosco.” 

         - Voltei a acender a lareira. Tempo moussade, vento forte entrando no salão pelas frinchas das janelas. Também por essa Europa fora, fortes quedas de neve, e nos EUA as tempestades polares fizeram 39 mortos. Falei com o Carlos Soares, António e Carlos Nieto. 


quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Quarta, 17.

Francamente não gostava de ser tão derrotista. Todavia, quando observo as acções do Governo de António Costa, o que me assalta à mente é revolta, incerteza, a sensação que me estão a enganar deliberadamente. Às vezes vejo coisas bem pensadas, mas logo recuo porque sei que somos mestres a fazer leis para nunca serem postas em prática; são leis televisivas, leis de propaganda, anunciadas como qualquer produto de consumo aos ecrãs das televisões. A partir dos quais somos governados. Esta equipa governamental, devia deixar os seus sumptuosos gabinetes para enfermarias covid; uma vez que os seus lugares ministeriais são os plateau da TV. É uma sarna, uma urticária, uma canseira que nos ataca todos os dias, a qualquer hora. A realidade cruel em que vivemos suplanta a fantasia que é a sua, não suporta o desaforo de vedetas fanfarronas. Não há planos, não há organização, não há cérebros que pensem - há funcionários medíocres preocupados em manter os postos de trabalho. Vivemos a esmolar, não conseguimos viver sem empréstimos, somos os eternos “gastadores do Sul”. Agora, com a chegada (quando?) da Bazuca, já se vêem perfilados os habituais sanguessugas do dinheiro público. Juntam-se à noite nas sedes dos partidos, congeminam, tanto para ti, tanto para mim, e como milhares não lhes interessam, batem-se por milhões. Dizem que são as empresas que dão trabalho, que fazem mais-valias, que criam riqueza e a distribuem em postos de produção. Todos, absolutamente todos, e eu converso com alguns, nunca os ouvi falar dos 2 milhões e meio de pobres, da gente quase analfabeta, dos outros que vivem dos envelopes contados tanto para o pão, carne e peixe quando dá. Que agora devem estar em três milhões, sem falar dessa miséria humana e criminosa que é a vida vegetativa e de suplícios – a existência dos velhos neste país indecente, neste país de covas abertas para os expulsar deste mundo desumano onde terminaram em sofrimento e humilhação os seus dias. Que a terra lhes seja leve e o Céu imenso os abrace num amplexo de felicidade. 

         - Eu começo a achar que isto já lá não vai com vacinas. Penso que a aposta devia ser num medicamento que pudesse ser distribuído na farmácia a exemplo dos antivirais. Talvez as vacinas enriqueçam mais depressa, mas são menos eficazes. 

         - Deixou-nos Carmen Dolores. Não éramos íntimos, mas quando nos víamos conversávamos fraternalmente. O encenador Alexandre Ribeirinho apresentou-nos e sempre que estava com ela, sentia uma grande atracção, porque toda ela era luz, bondade, magia. Tínhamos na poesia um enlaço comum. Grande actriz multifacetada e exigente. Repousa em paz, terna amiga que acreditavas na eternidade. 

         - Tempo grisalho, quaresmal. Pequenos trabalhos no campo, escolhidos e exercidos de acordo com o Baker. Falei com o Carlos Soares, Maria José, Gi (sobrinha), Maria Luísa encantada por ter sido vacinada. Amanhã vou a Lisboa fazer a radiografia ao joelho da perna que os rapazes param e sussurram coisas que me fazem sorrir e dizer “já vens tarde” e nos melhores dias “vai para a bicha”... 


segunda-feira, fevereiro 15, 2021

Segunda, 15.

Concerto de domingo no ARTE. Talvez por ser dia dos namorados (enfim, tanta patetice junta), os excertos de óperas estiveram no programa. Primeiro Romeu e Julieta directamente de Verona, composta por Charles Gounod. Vimos os ensaios e depois a representação. Os intérpretes davam vontade de rir. Elas, matronas de meia idade, espécie de gatas borralheiras, de grandes peitos generosos (para utilizar o estilo do séc. XIX) a espreitar dos vestidos de tafetá; eles galifões de bairro periférico, pavoneando-se em palco como se estivessem numa rua das traseiras de Piccadilly Street. Estes amorosos de Verona, na sua vida pessoal, são desmedidos apaixonados e uma das sopranos (a das grandes mamas arfantes) chegou a dizer que para ela o amor tinha de ser sempre a 200 por cento!   

Na segunda parte apareceu Plácido Domingo a dirigir o mesmo corpo de cantores, desta feita com áreas da Boémia. Um pouco melhor, embora o clima que vinha de trás se mantivesse em ligeireza e teatralidade bufa, sem crédito, amador. Depois, até o tempo estava irritado com aquele espectáculo e do céu caiu uma abada de água e vento, levando cadeiras, alcatifas e material de cena. No final ali tudo parecia falso, soaram palmas covid no teatro romano vazio. Maestro, músicos, tenores e sopranos agradeceram ao anfiteatro de pedra e cimento. 

         - Linguagem de jogador de futebol. Pergunto-me se ainda há quem acredite: “Temos que ser intensos, rigorosos e humildes.” Também podia ser o palavreado dos políticos: aqueles aprendem com estes – e vice-versa. 

         - Imensas dificuldades no romance. Mesmo assim fechei a jornada de trabalho com página e meia. Não era suposto que a personalidade de Volodymyr avolumasse tanto. (*) De todo o modo, dia em que não somo duas linhas, é um dia perdido, inútil, infeliz. Frio e vento gélido voltaram. Escrevo de frente para o campo inundado de sol, o calorífero aceso. Apanhei um cesto de laranjas caídas das árvores. Falei com a Alice, Carmo Pólvora longa conversa sobre arte sem falarmos propriamente da sua pintura. Sorri pobre solitário que te abasteces dos murmúrios dos tempos. 

(*) “Pour produire une oeuvre “parfaite”, il faut savoir attendre, vivre à l´intérieur de cette oeuvre jusqu´à qu´elle supplante l´univers. Loin d´être le produit d´une tension, elle est le fruit de la passivité, le résultat d´énergies accumulées pendant longtemps.” Cioran, dixit, pág. 129.   


domingo, fevereiro 14, 2021

Domingo, 14.

Digamos assim: por agora Trump ganhou. O Senado votou e isentou o ex-Presidente das acusações de ter incentivado o assalto ao Capitólio. Mas há mais. O especulador imobiliário, vai ter que se sentar no banco dos réus por uma série de irregularidades no exercício especulativo e ainda outros casos relacionados com a sua presença na Casa Branca, não de caráter políticos que disso o homem sabia nada, mas dos interesses financeiros e abuso do cargo. A seguir com interesse. 

         - Esta manhã sabendo da transmissão da missa num canal de TV, disfarcei, envolvi-me com pequenas coisas, olhava as horas imaginando que o ofício litúrgico já tinha acabado e com isso sentia algum alívio. Quis fugir daqueles momentos longos, repetitivos, onde quase sempre estou mergulhado num mundo outro, mas a realidade é esta: não consegui deixar de pensar em Deus e Ele à sua maneira esteve comigo. 

         - Maravilhosa tarde lá fora ao sol a ler. Tempo primaveril a temperar as horas solitárias a que todos estamos condenados. Mas há no ar uma tal força, uma tal vibração, uma tal confiança no amanhã,que é impossível derramarmos solidão sobre os axiomas das sobretardes futuras. Falei com a Maria José e Gi. Alinho estas linhas diante da janela baixa do salão, o enquadramento das árvores em primeiro plano o horizonte do céu lá longe. Depois quis refazer o bolo de laranja que na semana passada nasceu anão e desta vez apesar do corte nos químicos e no açúcar, ficou bem melhor. São 17 horas e trinta e seis minutos. 




sábado, fevereiro 13, 2021

Sábado, 13.

Uma série de médicos responsáveis por unidades hospitalares, vieram a terreiro dizer que o brouhaha é mais que muito e isso provoca a salgalhada e esta a desconfiança. Forma de dizer aos políticos que cessem a propaganda, reduzam-se à sua insignificância e deixem o terreno livre para os cientistas e clínicos. Estes comungam da minha opinião (ou eu da deles) que a DGS devia ser a única voz autorizada a falar sobre a Covid-19 e seus programas de vacinação e não o senhor Costa, a senhora Temido e agora mais confinado Presidente da República, para não falar da tonelada de médicos, virologistas, cientistas, directores disto e daquilo que, como vedetas de um mundo soturno, têm nos ecrãs da TV a sua fama e mais tarde o seu funeral com direito a dois dias de luto nacional. Ufa! Estou farto daquelas caras hipócritas, daquelas vozes convencidas, daqueles ares pacóvios, daquele saber rasteiro! 

         - Esta frase de E. M. Cioran absolutamente justa a propósito do judeu como de qualquer ser humano: Un être qui a souffert, vous avez beau détailler, classer, expliquer ses épreuves: ce qu´il est, sa souffrance réelle, vous dépasse. Plus vous l´approcherez, plus il vous semblera inacessible. La tentation d´exister, ed. Gallimard, pag. 93. 

         - A Piedade diz que os Blacks são dois machos. Se assim é, devem ser “rabitchos” (para utilizar a linguagem de Madame Juju), porque andam sempre aos beijos, rebolam-se um sobre o outro, dormem agarrados e onde está um está o outro. Eu que sou discreto, ainda não me meti a espreitar o que cada um tem entre as patas. 

         - De volta do Auchan onde cheguei às 8,10, ataquei a criação de vários pratos: massada de peixe, coelho no forno, bacalhau à minha maneira, tudo para arquivo de modo a ficar solto a semana que vem. Falei com o Carlos Soares e António, li ao sol, abri e fechei O Matricida naquela de espreitar a ver se pega – não pegou. Está uma tarde sublime e quente. Tenho todas as portas e janelas abertas (em baixo e em cima) e andei com um abanico a enxotar o corona de todas as divisões. 


sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Sexta, 12.

Não nos faltava já o corona e ainda nos atingem os gatunos virtuais. Um mail que abri inadvertidamente e li apenas a primeira linha de um longo texto e logo apaguei sem perceber muito bem de que se tratava, teve mais tarde dois outros que já não abri, mas vi pelo assunto (“aguardo pagamento”), seguido de dois sms em nome da cgd, um depois de outro, com intervalo de dez minutos, que estava sob alçada de um vigarista. Telefonei ao Carlos Nieto e é ele que me diz estando milhares de pessoas confinadas e agarradas aos computadores, apareceu aí uma praga de vígaros a compor histórias comprometedoras que fazem publicar na Internet se os incautos não lhes passarem para as mãos os montantes que exigem. Eu sempre me estive nas tintas para o que dizem de mim e não é por aí que eles vão enriquecer. Contudo, segundo o meu amigo, se eu estive em sexo virtual, eles gravaram tudo e depois montam o filme. E falou-me da câmara que o computador tem que nunca me interessou e nem sei como se abre, e quanto a sexo já desci o taipal há uns anos, chega, caramba, parto fartinho! “Eles activam-na à distância e como estás diante do computador fotografam-te e fazem o resto”, aconselhando-me a tapar o olho da câmara foi o que fiz. Hoje telefonei ao banco e fui serenado, o salteador não atingiu o objectivo.

         - As mulheres de Zuckerberg voltaram em força. É um bando a barbear as videiras e não deve largar este espaço tão de pressa. Vão ter tempo para pôr a calhandrice em dia dados os seus vários hectares de vinhedo. O Facebook salta no meio delas todo o santo dia.

         - Estamos em confinamento redobrado. Desta vez não escapos dele antes do final de Março. Embora tantos são os que não acreditam na malignidade do bicho. Nem os milhares de mortos, nem os cento e tal mil infectados e as aflições nos hospitais, são motivo para aceitarem o inevitável.  

         - Todavia, a este propósito, vou dar a palavra do médico Jorge Torgal: “(...) acresce que a morte com alguém com mais de 80 anos é desconsiderada, como se passar além da esperança média de vida fosse supérfluo. 

         A consideração social pelos mais frágeis é escassa entre nós. 

         Corporações que têm na sua missão proteger a vida, salvar vidas, ao invés do que se esperaria, lutam para se protegerem do risco, aliás mínimo, de morrer com a covid-19, publicamente chamando um direito, o privilégio, de os seus membros serem prioritários na vacinação. Desprezo pelos mais velhos? Ou apenas egoísmo primário?”  

         - E depois, na minha pequena e modesta vida quotidiana, o deslumbre de blotti au coin du feu, dans un canapé profond, bien au chaud dans la maison, voici des meilleurs moments de la journée.  

 

         - A Piedade, generosa, vendo que o meu cisto de Blaker me impede de podar as hortênsias, andou aí esta tarde e começou e acabou o trabalho. Falei com o Filipe, António, Alice, Nieto, Carmo Pólvora, João. 


quarta-feira, fevereiro 10, 2021

Quarta, 10.

O Senado dos EUA começou a julgar Donald Trump pela invasão do Capitólio na véspera de deixar a presidência. Durante o motim, morreram cinco pessoas e uma vasta zona do interior foi destruída. O ex-Presidente recusou comparecer delegando, decerto, na equipa de advogados a sua defesa.  

         - Os militares birmaneses instalaram-se no poder e prenderam a Presidente Aung San Suu Ski que havia vencido as recentes eleições com maioria. Estas foram contestadas, nomeadamente, pelo general Min Hlaing, e daí o golpe militar. Eu não nutro muita simpatia pela Presidente deposta, mas também não gosto de militares a tomar o poder numa democracia. Ali há imensos jogos de interesse que a nós europeus nos escapam. A seguir. 

         - Neste infeliz país que sempre viveu de esmolas, os partidos que nunca chegarão ao poder, exigem do Governo tudo e mais alguma coisa. Agora a moda é um computador por habitante. É quase uma vingança: já que andaste a mendigar lá fora, esmolamos-te nós cá dentro. Muitos dos “pobres” que dizem não ter nada e viver em cabanas, têm vistosos BMW e Mercedes à porta. Sem aquelas marcas dos novos-ricos, eles seriam com certeza modestos pobres. 

         - Ontem fiquei até tarde a ver no ARTE o documentário sobre a invasão nazi de Leningrado (hoje São Petersburgo), em Outubro de 1941. Simultaneamente, a feitura da Sinfonia nº 7 ou Sinfonia de Leningrado, escrita por Dmitri Shostakovich sob pressão do exército que queria transformar a música numa forma de guerra psicológica e foi transmitida pela rádio e escutada pelo exército alemão. O que houve de interesse no trabalho, foi o facto de ele ter sido rubricado com as palavras dos que sobreviveram e puderam dar-nos uma imagem da terrível guerra e do imenso sofrimento dos soldados russos e das mortes em número superior às alemãs. 

         - O tempo cinéreo com chuva e frio não nos larga. O confinamento também não está para breve, aumentando as doenças mentais e depressões de que padecem já alguns queridos amigos. Não tarda chegaremos aos 20 mi mortos - uma catástrofe e uma enorme tristeza. Falei com a Annie e o Robert que continuam a reclamar a minha presença, Príncipe e António. Escrevo com a perna que os homens languidescem ao admirá-la estendida por mor do cisto de Baker. Feliz com o avanço de O Matricida. 


terça-feira, fevereiro 09, 2021

Terça, 9. 

A nossa querida União Europeia, não perdoa ao povo britânico tê-la abandonado. Vai daí tudo serve para o denegrir. Veja-se o caso das vacinas. Eles não olharam a meios para atingir os fins; enquanto a União perdeu tempo em pedinchices, convencida que era no economizar que estava o ganho. Ressabiada, entende que nada de bom virá do Reino Unido. Que ele se lixe mais o seu Brexit. Por isso, os ingleses têm já 90 por cento de cidadãos maiores de 75 anos vacinados, enquanto na União as vacinas escasseiam, vêm a conta-gotas e a percentagem de imunizados é ridícula. 

         - Fui ao SAMS sob temporal consultar um ortopedista. Tento arriscar o mínimo possível sem pôr em risco a minha saúde que não se esgota todavia no coronavírus. Embora a verdade seja dita: a vida é um risco com ou sem Covid-19. Bom. Fui, olé olá, de carro e parece que já não quero outro meio de transporte. Cheguei com tempo ao Corte Inglês onde já não entrava muito antes do Natal, não querendo contribuir naquele antro para “achatar a curva”. Quase vazio. Fiz compras no super, na livraria, na padaria e fui a penaste dali para a clínica, parando na Nespresso para me abastecer de café. Em vão. Quem me cá dera os médicos de antigamente! Os de hoje não fazem nem sabem nada sem radiografias, exames disto e daquilo e depois passa para cá uma pipa de massa e retorna com as análises e outro tanto para a consulta. Conclusão: vou ter que me desenrascar de outro modo. Dali fui ao Vitta Roma levantar a papinha e ops! que se faz tarde de regresso ao meu presbitério. 

         - Mantendo-me neste registo, não quero deixar de contar como se passou a consulta. Após os cumprimentos, perguntei ao doutor se podia queixar-me de mais do que uma maleita. O homem ficou a olhar para mim com espanto e eu adiantei: “Sabe, no estado em que se encontra a medicina em Portugal, o doente tem que ter mil cuidados. Outro dia fui ao hospital da Luz e o médico que me atendeu disse-me que só tratava um caso de cada vez; quanto ao outro que marcasse nova consulta. Escusado será dizer que me pus a andar: quem tudo quer tudo perde.” Hoje, pude queixar-me do joelho direito e do calcanhar esquerdo. É por esta e por muitas outras que o SNS nos é indispensável.  

         - O romance avança. Quanto mais ele me escraviza, mais eu me ligo a ele. Falei com o António e Fortuna. Um rasgo de sol recebeu-me à entrada em Lisboa e outro mais sereno e brilhante quando franqueei o portão. Fora isso, chuva, frio e vento. 5 horas e 21 minutos. 


segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Segunda, 8.

Maravilhosos instantes de graça ao serão de ontem. Antes de me deitar, fiquei por uma hora no salão a ler vinte páginas de Green, banhado do silêncio puro que só o ruído da lenha a arder na lareira e a chuva batendo nas janelas, abalava. Uma espécie de mistério que as horas guardam no segredo que as impregna, disseminava-se em meu redor, aconchegando-me num fraterno abraço inenarrável por palavras. Não estava só. Comigo, silencioso, achava-se também um mundo de presenças protectoras vindas de horizontes longínquos espreitar por cima do meu ombro que espécie de literatura era aquela que tanto me absorvia. Aparentemente, pareciam tão interessadas como eu.


domingo, fevereiro 07, 2021

Domingo, 7.

A vendeira de verduras no mercado dos pequenos produtores do Pinhal Novo, disse-me que o covid está por todo o lado na vila e terras envolvente e já morreu muita gente. Eu sabia. O João Corregedor havia-me prevenido quinta-feira. Contudo, bastou ver o que se passa no hospital São Bernardo, em Setúbal, para nos apercebermos da dimensão do contágio. Palmela que durante meses tinha um escasso número de casos contados pelos dedos das mãos! Perto de mim, a um quilómetro, um casal de ingleses que comprou uma moradia para residir aqui em permanência, foi contaminado pela filha, actriz com presença em filmes e peças de teatro inglesas, a consequência todos sabemos.  

         - É difícil não estarmos de acordo com João Miguel Tavares. Isto porque o injuntivo critico é sempre bem fundamentado com números e a dança partidária que faz deste nosso país um paraíso para muitos afortunados das ideologias que tanto acomodam a vidinha de cada um.  

         - “A vida humana é inviolável e o artigo da Constituição (24 nº 1) que o afirma é peremptório, não contempla excepções. Quem acompanhou os trabalhos da Constituinte percebe que é assim.” Palavras do catedrático Jorge Miranda ao Público. Forma de remeter as suas preocupações jurídicas para Marcelo Rebelo de Sousa que esteve com ele na Constituinte e em breve terá a lei para decidir. O constitucionalista vai mais longe e felizmente ao encontro do que eu aqui tenho dito há anos: “O dever do Estado é proteger a vida em qualquer circunstância, desenvolvendo um sistema de cuidados paliativos e apetrechando o Serviço Nacional de Saúde para atender a todos as doenças.” Sofia Costa Guedes e Graça Varão, fundadoras do movimento Stop Eutanásia, agradecem e nós igualmente. A esquerda pensa que tem o direito e o poder sobre a vida de todos e de cada um, quer ficar na história como a que deu aos portugueses “a morte com dignidade”, quando, o que acontece é que malbarata a vida, entregando-a ao sofrimento e à humilhação. Qualquer doente, se lhe derem as condições de terminar a existência sem dor nem abandono, é para mim evidente que gostará de partir o mais tarde possível. E em paz.   

         - Pus de parte a minha presença aqui, para me consagrar ao romance. Três páginas juntaram-se à primeira parte do livro. Falei com a Alice, João, Virgílio, Conceição. Frio, humidade, dias rumorejantes. Tenho a lareira do salão a acesa. Fiz um bolo de laranja que saiu anão. 15 horas e 50 minutos. Silêncio de chumbo.  


quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Quinta, 4.

Há alguma indignação em certos meios com a chegada de médicos, enfermeiros e maquinaria germânica aos nossos hospitais devido à aflição em que eles se encontram. A mim isso não me desconcerta e acho até meritório por parte da UE a ajuda de modo a colmatar o desprezo que a União sempre teve por nós. Por outro lado, o país democrático, sempre esteve vulnerável, pedinchão e pobre não conseguindo sobreviver com sua dimensão e trabalho. Temos uma classe política sem fôlego, medíocre, muito assente na plataforma partidária, num país onde não faltam doutores, engenheiros e advogados, que juntos tudo têm feito para que a confraria continue e seja o pilar de toda a sociedade. Vivemos felizes de futebol, concursos, telenovelas, e idas a Fátima duas vezes por ano. Mas isto só dá de comer a uns quantos, o resto do rebanho contenta-se com migadas e de quando em vez revolta-se, brandamente. Aí os nossos espertos políticos mendigam ajuda financeira a este e àquele, numa espécie de exercício do empurra os problemas com a barriga anafada que todos têm. No íntimo, querem que Portugal continue pobre, analfabeto e humilde. Com um povo assim amestrado, é mais fácil manter a nomenclatura oligárquica.  

         - De modo que a ida ao Hospital dos Capuchos. Grosso modo, vi que as disposições de defesa contra a Covid-19, estavam bem pensadas. Mas antes temos que enfrentar aquela fila de senhoras, todas parecidas umas com as outras, com o mesmo tom e sotaque de voz, os mesmos óculos, os mesmos peitos, o mesmo semblante carregado de frustração, com instruções para se restringirem ao ecrã do computador que mal sabem usar. São quem nos atende. Para não falar no hospital que parece saído dos escombros da Primeira Grande Guerra: desconfortável, frio, pardacento, labiríntico, de pedra comida por ácaros e vírus, ódios e mortes, ranchos de fantasmas. A dama que me atendeu, começou por me dizer que tinha de voltar no dia seguinte porque a consulta fora marcada para quinta-feira, hoje portanto. Insisti que essa não fora a data que a voz espanhola me forneceu. A criatura não se demovia, eu persistia que não voltaria no dia seguinte, os tempos não estavam para passeios aos hospitais. Surge então a chefe já com o discurso treinado e num tom conciliador, diz-me que vou ser recebido para exame sem demora, adiantando, contudo, que o dia combinado era o 4 e não o 3. “Tem a conversa que tive com a voz espanhola gravada? Não tenho, mas falei com a funcionária. Pois devia ter, assim veria quem tem razão.” Desço um piso térreo e entro num espaço diminuto onde estão duas pessoas a aguardar. Como tudo aquilo era claustrofóbico, saí para o terreiro onde havia cadeiras para nos sentarmos. Aí fiquei por largos minutos. Até que ouvi o meu nome e me dirigi à saleta de uns 6 metros quadrados onde estão dois técnicos de optometria. Sento-me numa e noutra máquina, fazem-me várias perguntas de carácter geral sobre a minha saúde, anotam tudo no computador e depois mandam-me tornar à mesma funcionária para marcar a data da consulta com o Dr. Deslandes. Lá a vejo com o seu ar sorumbático, que me atira:

         - Segunda-feira, às oito da manhã.

         - Não sou nenhum magala e não vou acordar de véspera para me meter no trânsito.     Não tem outra data?

         Ela pesquisa de beicinho entortado.

          - Sexta, dia 10, às nove horas.

         - Não há um horário mais normal? – pergunto, seguro.

         - Não. Só temos este – diz num tom autoritário.

         - Nesse caso veja para daqui a um ano e até dois porque quem esperou ano e meio pode esperar outro tanto. E saiba que a mim ninguém me dá ordens – sugere apenas.

         Danada, dispara:

         - Para o próximo mês, às 10 horas num domingo – diz pensando que me castigava.

         - Perfeito. Adoro a calma dos domingos.

Esta questão tem, todavia, uma outra: antes, em tempo normal, o oftalmologista fazia o exame de uma vez só, passava a receita e a nós cumpria-nos adquirir os óculos. Agora em tempos de pandemia, temos de ir ao hospital duas vezes. A isto chamam eles uma nova organização. Dizem-me que este processo pretende despistar várias patologias como a diabetes. Estamos conversados. 

         - Dali, fui ao Vitta Roma comprar o jantar. Atravessei a cidade com à-vontade, embora a sua teia de ruas e praças, com sentidos agora proibidos ou de traçado único,  me obrigasse a ter mais atenção. Como deixei de ter prática em conduzir naquele inferno inumano; bastou, contudo, duas idas de carro para logo retomar o meu ADN de alfacinha. Alfacinha que lá vai colher o que ela tem de melhor e logo voa em corrida maluca para o sossego do campo. A cidade assim torna-se mais apetitosa e todos os seus inconvenientes desaparecem com a leve recordação que estamos ali de passagem, percorremos ruas e avenidas, como quem viaja na forma de turista aconchegado ao regozijo da partida. 

         - O sarrabulho com as vacinas, não pára. O funcionário do PS, senhor Francisco Ramos, chamado para dirigir a task force  da vacinação (como somos ingleses é assim que os provincianos se exprimem) demitiu-se na sequência da aldrabice, compadrio partidário, corrupção e abuso de poder que tem deixado o país atónito. O Governo vendeu-nos uma imagem do dito senhor, nos píncaros da competência e seriedade, e no final o que a realidade nos oferece, posta de lado a propaganda, é um homem sem qualidade e cheio de alçapões por onde se imiscui a sua adoração à esquerda quando, o que se pretendia para o cargo, era alguém independente. Aconselho a leitura do artigo de José Miguel Tavares no Público de hoje. 


quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Quarta, 3.

Domingo passado toca o portátil, hesito em atender sendo número desconhecido para mim. Acabo por o fazer e de súbito tenho uma senhora com sotaque espanhol dizendo-me que fosse ao hospital dos Capuchos para uma consulta oftalmológica. Surpresa tendo em conta que este exame foi pedido há pelo menos ano e meio. Lá fui, hoje, portanto. De carro mais uma vez que os tempos não vão de feição ao convívio colectivo de que tanto gosto sendo solitário. Amanhã acrescentarei mais qualquer coisa. 

         - Haverá alguém em seu perfeito juízo e conhecimento do país que somos, acredita que esta aldrabice e corrupção e laxismo da vacinação terá responsáveis condenados! Assim como, no começo do julgamento dos assassinos de Ihgor Homenyuk, o seu final terá sentenciados! Como assim se os inspectores nunca existiram! O pobre imigrante apareceu morto e cheio de contorções e violência, mas isso foi obra sua.   

         - O opositor de Putin, Alexei Navalny, foi condenado a três anos de prisão. Nas ruas não param os protestos e mais uns quantos milhares foram detidos. O ditador cede aos factos e diz que não possui nenhum palácio de Versalhes nas suas terras. Os nossos comunistas a isto dizem nada (para utilizar a semântica de Valter Hugo Mãe).  

         - Não posso estar muito tempo afastado da filosofia. Sentindo a sua falta, entreguei-me a Cioran e ao seu La tentation d´exister. O filósofo já falecido, foi grande amigo de Gabriel Matzneff; que diria ele da desgraça que se abateu sobre o autor de progenitura russa? 

         - Uns pingos de sol. Está tudo pardo, das nossas vidas ao tempo. Noite mal dormida, a bochechos, enervante. Acabei de entrar de Lisboa e conheci na Ponte Vasco da Gama um monumental engarrafamento devido a acidente com dois camiões de carga. Meu saudoso trânsito dos tempos em que ia e vinha todos os dias à capital! Falei com a Alice, Nieto, Carlos Soares, Fortuna. 


terça-feira, fevereiro 02, 2021

Terça, 2.

Ouvi com imenso agradado a entrevista de Rui Veloso na RTP1. Que geração! Que gente extremamente interessante e talentosa foi a nossa! Estamos em todas com garra, personalidade, carácter, talento e desinteresse. Rui não se coibiu de afirmar que estamos atulhados de música e os festivais não passam de momentos para selfis, como quem diz a música e os músicos pouco interessam. Ele não participa nesses espectáculos onde as pessoas vão para serem vistas e a arte não é para ali chamada. Embora a entrevistadora esteja melhor naquele registo que no Prós e Prós, ainda não perdeu a mania de cortar o raciocínio como aconteceu em momentos, por exemplo, quando o artista ia a falar do silêncio e da sua capacidade em viver só. Grande Rui Veloso, és o maior de todos os pontos de vista: artístico, pessoal, carácter, humano. E a dona Campos Ferreira, espero que aprenda que o silêncio dos entrevistados é tão importante ou mais que a velocidade com que muitos nos bombardeiam com merdelhices. 

         - Fui levar o carro à oficina. Como atravessamos o período sinistro que todos conhecemos, pedi uma cadeira e sentei-me na rua no grande largo da garagem, por uma hora e meia enquanto os mecânicos mudavam o óleo e toda a parafernália concludente. O curioso é que à minha volta não deixaram de circular carros e eu via-os passar pelos cantos dos olhos e ouvia a surpresa dos condutores por me verem ali absorto na leitura. Bendito tempo! Não gosto de gastar as horas na ociosidade banal de quem não tem consciência que tanto há para aprender. Os cafés em volta estavam fechados, dentro da oficina era proibido estar, o que ficava de fora de tanta interdição, era ainda os espaços públicos varridos pelo frio da manhã e o vento húmido do dia pardacento que hoje inundou uma vez mais o campo e eu puxei uma ponta para me cobrir. 

         - A nossa classe política é do mais rasca que se pode imaginar! 

         - Algum trabalho no O Matricida. Enquanto isso, os jornais falam em falência de editoras e fecho de livrarias. Parece um paradoxo, mas a realidade é que sempre tive a noção que o importante é escrever, editar mera consequência. Portanto, prossigamos como se nada obstasse.     


segunda-feira, fevereiro 01, 2021

Segunda, 1 de Fevereiro. 

É impressionante o número de pequenos vídeos que transitam na Internet. Ao meu computador e iphone chegam por semana uma dúzia, muitos idiotas outros com interesse e divertidos.  As campeãs deste prodígio? Maria José e Carmo Pólvora esta última a bater a primeira. A maioria guardo, o resto vai para o ecoponto que não sei onde fica. 

         - Dos canais franceses, restam o France 24 e o Arte. Daniil Trifonov, fabuloso pianista, ofereceu-nos ontem uma excepcional interpretação do Concerto nº 2 de Chopin. Não voei, fechei-me no interior de mim mesmo e interiorizei cada nota como se fosse uma fuga. 

         - Na Rússia não abrandam os protestos contra a prisão de Alexei Navalny. Talvez sejam as mais corajosas e ousadas manifestações com cobertura em todo o país, desde que Putin se entronizou até 2036! 5.000 detidos, violência exagerada da parte da Polícia. 

         - A técnica é atirar para cima dos outros aos nossos erros. Foi o que aconteceu com a União Europeia relativamente à falta de vacinas contra o coronavírus. A verdade, segundo o Financial Times citado por Teresa de Sousa (cruzes tantos Sousas!), é esta: A União pechinchou o preço, não quis gastar, e o resultado foi que os EUA, o Reino Unido e Israel, adiantaram somas astronómicas e têm direito a estar na primeira linha de vacinação. Os mortos e doentes da UE agradecem aos políticos poupadinhos e sem horizontes. Deste modo, mais fica para os corruptos.  

         - A propósito, esta citação de Fr. Bento Domingues no Público de ontem: “A atenção especial de Jesus, de certo modo o seu primeiro olhar, não se dirigiu ao pecado dos outros, mas ao sofrimento (de) que eles padeciam.” E mais adiante: “Isto nada tem que ver com uma atitude dolorista (sic), com um desagrado culto do sofrimento. A paixão de Jesus por Deus está ligada à mística pelos que sofrem. Esta é a raiz do cristianismo.” 

         - Dia cinzentão. Vivo ao ritmo tatibitates do tempo presente. Trancado num espaço aberto de quase um hectare, o meu cérebro inventa formas de sofrimento e reclusão incompatíveis com a vida tout court.  Falei com Robert, tia Júlia, Maria José, António, Nieto. Terminei o livro de Valter Hugo Mãe, eblouie. Arranjei mais um autor para amigo. E, claro, recomendo-o aos meus leitores. Descobri-o naquela série dos afilhados de Saramago; não tanto, enfim, pelo programa, mas pelo que o escritor tinha de original a comunicar-nos. Da sua boca não nos chegaram bagatelas, nem houve nele a ideia de vedetismo. Se dermos crédito ao iphone,  fiz 1,4 km. sem sair da quinta, correspondentes a 2.647 passos. Bref.