quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Quinta, 25.

Ainda a propósito da Carta Aberta às televisões generalistas nacionais anteontem aqui citada, não quero deixar de alertar os meus leitores para a sua indispensável leitura no Público de terça-feira, 23 de Fevereiro e cujo parágrafo mais elucidativo subscrevo:  “(...) Mas mesmo sabendo tudo isto, assinalamos a excessiva duração dos telejornais, contraproducente em termos informativos. Não aceitamos o tom agressivo, quase inquisitorial, usado em algumas entrevistas, condicionando o pensamento e a respostas dos entrevistados. Não aceitamos a obsessão opinativa, destinada a condicionar a receção da notícia, em detrimento de uma saudável preocupação pedagógica de informar. E não podemos admitir o estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes, cientistas e até o infatigável pessoal de saúde por, alegadamente, não terem sabido prever o imprevisível – doenças desconhecidas, mutações virais – nem antever medidas definitivas, soluções que nos permitissem, a nós, felizes desconhecedores das agruras do método científico, sair à rua sem máscara e sem medo, perspetivar o futuro.” A resposta da RTP1 é do tipo dona de casa apanhada a roubar e ante a descoberta atira para cima dos patrões a responsabilidade de não a terem protegido da tentação. 

         - A ver vamos no que vai dar o envio da lei da eutanásia de Marcelo Rebelo de Sousa para o TC. Do que leio, a sua nota contém argumentação para todos os gostos, embora eu me incline para o que diz Isabel Moreira quando exalta a ideia de que “as pessoas não se querem comprometer, só querem é ficar bem na fotografia”. Referindo-se a forma como Marcelo elaborou o pedido de fiscalização: “O pedido é manhoso.” Não me surpreende. 

         - Noite quase em branco. Acordei pouco depois de ter adormecido com um barulho que parecia idêntico ao do motor de tratamento da água da piscina no Verão. Da janela do quarto, pareceu-me ver a agitação da água e ruído que vinha da casa das máquinas. Levantei-me, enfiei as pantufas, vesti o anoraque, desci. Mal abri a porta do salão, surgiram, como sempre e a qualquer hora esfomeados, os gatos. Enxotei-os e avancei para desligar o motor. Foi quando dei que chovia e as pantufas não eram apropriadas para o trajecto. De regresso ao vale dos lençóis, o ruído persistia não me deixando retomar o sono. Só muito mais tarde perante, talvez, a segunda insónia em toda a vida, conclui que aquele rumor persistente, era a chuva que caía na quieta e escura e plangente noite. 

         - As amendoeiras estão em flor – este acontecimento por si só devia encher-me de alegria. Contudo, o dia de ontem não existiu, um vazio enorme arrastou-me de hora em hora, num infindável calvário de pensamentos aziagos. Nem a leitura veio em meu auxílio. Tudo o que eu julgava morto e enterrado, ressuscitou com uma força difícil de conter. O taipal caiu deixando-me exposto. Porquê?