quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Quarta, 17.

Francamente não gostava de ser tão derrotista. Todavia, quando observo as acções do Governo de António Costa, o que me assalta à mente é revolta, incerteza, a sensação que me estão a enganar deliberadamente. Às vezes vejo coisas bem pensadas, mas logo recuo porque sei que somos mestres a fazer leis para nunca serem postas em prática; são leis televisivas, leis de propaganda, anunciadas como qualquer produto de consumo aos ecrãs das televisões. A partir dos quais somos governados. Esta equipa governamental, devia deixar os seus sumptuosos gabinetes para enfermarias covid; uma vez que os seus lugares ministeriais são os plateau da TV. É uma sarna, uma urticária, uma canseira que nos ataca todos os dias, a qualquer hora. A realidade cruel em que vivemos suplanta a fantasia que é a sua, não suporta o desaforo de vedetas fanfarronas. Não há planos, não há organização, não há cérebros que pensem - há funcionários medíocres preocupados em manter os postos de trabalho. Vivemos a esmolar, não conseguimos viver sem empréstimos, somos os eternos “gastadores do Sul”. Agora, com a chegada (quando?) da Bazuca, já se vêem perfilados os habituais sanguessugas do dinheiro público. Juntam-se à noite nas sedes dos partidos, congeminam, tanto para ti, tanto para mim, e como milhares não lhes interessam, batem-se por milhões. Dizem que são as empresas que dão trabalho, que fazem mais-valias, que criam riqueza e a distribuem em postos de produção. Todos, absolutamente todos, e eu converso com alguns, nunca os ouvi falar dos 2 milhões e meio de pobres, da gente quase analfabeta, dos outros que vivem dos envelopes contados tanto para o pão, carne e peixe quando dá. Que agora devem estar em três milhões, sem falar dessa miséria humana e criminosa que é a vida vegetativa e de suplícios – a existência dos velhos neste país indecente, neste país de covas abertas para os expulsar deste mundo desumano onde terminaram em sofrimento e humilhação os seus dias. Que a terra lhes seja leve e o Céu imenso os abrace num amplexo de felicidade. 

         - Eu começo a achar que isto já lá não vai com vacinas. Penso que a aposta devia ser num medicamento que pudesse ser distribuído na farmácia a exemplo dos antivirais. Talvez as vacinas enriqueçam mais depressa, mas são menos eficazes. 

         - Deixou-nos Carmen Dolores. Não éramos íntimos, mas quando nos víamos conversávamos fraternalmente. O encenador Alexandre Ribeirinho apresentou-nos e sempre que estava com ela, sentia uma grande atracção, porque toda ela era luz, bondade, magia. Tínhamos na poesia um enlaço comum. Grande actriz multifacetada e exigente. Repousa em paz, terna amiga que acreditavas na eternidade. 

         - Tempo grisalho, quaresmal. Pequenos trabalhos no campo, escolhidos e exercidos de acordo com o Baker. Falei com o Carlos Soares, Maria José, Gi (sobrinha), Maria Luísa encantada por ter sido vacinada. Amanhã vou a Lisboa fazer a radiografia ao joelho da perna que os rapazes param e sussurram coisas que me fazem sorrir e dizer “já vens tarde” e nos melhores dias “vai para a bicha”...