domingo, fevereiro 07, 2021

Domingo, 7.

A vendeira de verduras no mercado dos pequenos produtores do Pinhal Novo, disse-me que o covid está por todo o lado na vila e terras envolvente e já morreu muita gente. Eu sabia. O João Corregedor havia-me prevenido quinta-feira. Contudo, bastou ver o que se passa no hospital São Bernardo, em Setúbal, para nos apercebermos da dimensão do contágio. Palmela que durante meses tinha um escasso número de casos contados pelos dedos das mãos! Perto de mim, a um quilómetro, um casal de ingleses que comprou uma moradia para residir aqui em permanência, foi contaminado pela filha, actriz com presença em filmes e peças de teatro inglesas, a consequência todos sabemos.  

         - É difícil não estarmos de acordo com João Miguel Tavares. Isto porque o injuntivo critico é sempre bem fundamentado com números e a dança partidária que faz deste nosso país um paraíso para muitos afortunados das ideologias que tanto acomodam a vidinha de cada um.  

         - “A vida humana é inviolável e o artigo da Constituição (24 nº 1) que o afirma é peremptório, não contempla excepções. Quem acompanhou os trabalhos da Constituinte percebe que é assim.” Palavras do catedrático Jorge Miranda ao Público. Forma de remeter as suas preocupações jurídicas para Marcelo Rebelo de Sousa que esteve com ele na Constituinte e em breve terá a lei para decidir. O constitucionalista vai mais longe e felizmente ao encontro do que eu aqui tenho dito há anos: “O dever do Estado é proteger a vida em qualquer circunstância, desenvolvendo um sistema de cuidados paliativos e apetrechando o Serviço Nacional de Saúde para atender a todos as doenças.” Sofia Costa Guedes e Graça Varão, fundadoras do movimento Stop Eutanásia, agradecem e nós igualmente. A esquerda pensa que tem o direito e o poder sobre a vida de todos e de cada um, quer ficar na história como a que deu aos portugueses “a morte com dignidade”, quando, o que acontece é que malbarata a vida, entregando-a ao sofrimento e à humilhação. Qualquer doente, se lhe derem as condições de terminar a existência sem dor nem abandono, é para mim evidente que gostará de partir o mais tarde possível. E em paz.   

         - Pus de parte a minha presença aqui, para me consagrar ao romance. Três páginas juntaram-se à primeira parte do livro. Falei com a Alice, João, Virgílio, Conceição. Frio, humidade, dias rumorejantes. Tenho a lareira do salão a acesa. Fiz um bolo de laranja que saiu anão. 15 horas e 50 minutos. Silêncio de chumbo.