sábado, fevereiro 27, 2021

Sexta, 27.

“(...) e o que está em causa é muito mais importante. Juntam-se finalmente as esquerdas democráticas e as não democratas? Separam-se de vez? A esquerda democrática consegue atrair e digerir as esquerdas não democráticas? Ou estas últimas obtêm a vitória histórica de mudar e dominar os socialistas democráticos?” António Barreto hoje no Público. A verdade é que esta é a nossa sina: vivermos como eternos recrutas: direita esquerda, esquerda direita volver. Para mim esta dicotomia continua ser um mistério que só tem razão de existir com o subdesenvolvimento do país. Em nenhum outro da Europa desenvolvida se dá importância a este confronto que entretém a nossa medíocre classe política; assim como em nenhum país civilizado se sobrepõe dois partidos residuais à grossa maioria do tecido social. Bem sei que a hegemonia do PCP e do BE ocupou todo o espaço político com crendices da lana-caprina, o contrapondo político deixou-se abater pela descrença. Uma desgraça para a democracia e para o país. Sobretudo quando é nítido que as exigências do BE correspondem à entrada no Governo e as do PCP aspiram a tomar o poder um dia – a democracia como trampolim. 

         - A grande sabedoria, a que nos ilumina a vida, está resumida neste período do livro de Manuel Vilas (pág. 150): “Também eu sou pobre. Não tenho onde cair morto. E isso pode ser uma libertação. Oxalá os jovens procurem a vida errante, o caos, a instabilidade laboral e a liberdade. E a pobreza desenrascada, a pobreza moralmente desactivada, ou seja, a pobreza em sociedade. É uma boa solução: a pobreza como fundamento colectivo, o não-ter conjunto. O problema é que a pobreza acaba por ser transformar em miséria, e a miséria é um estado moral.” 

         - Fui de manhã ao mercado dos pequenos agricultores onde me encontrei com a Glória e o Raul. De regresso à quinta, comecei a acabei (merci, Monsieur Baker) de cortar os bambus em volta do tanque dos nenúfares, acartei-os depois para queimar. Benditas horas ao sol a ler. Falei com a Alice, António e Lurdes que por pouco não me esparralhou no Facebook tal os seus encorajamentos e proveitos a favor do meu “talento de escritor”. Lembrei-me logo do António que vive grudado naquele servidor social e eu costumo recordar-lhe que se mantenha se quer ser alguém...