Quarta, 28.
O
mundo não vai nada bem, agigantam-se sem cerimónia os ditadores, os que o tomam
como sua coutada. É o caso do mandão da China que alterou a Constituição de
forma manter-se no poder eternamente. Como Putin, de resto, que optou pela
dança das cadeiras. A isto chamam eles democracia. Os povos vão tê-los omnipotentes,
omnipresentes, deuses da flatulência pestilenta. No Egipto, onde o Islão
prevalece, pode-se ir para a prisão pelo simples facto de se ser ateu ou não professar
qualquer religião. Na Síria as tréguas decretadas pelas Nações Unidas não foram
respeitadas. Este caldeirão onde ferve em lume brando o ódio e a intolerância,
não tarda transbordará. Assim vai o mundo. Mas para aonde vai ele?
- Sexta-feira passada, dia 23, fez um
ano que, depois de algumas hesitações, comecei o romance, O Juiz Apostolatos. Não sei quando o terminarei, porque tudo está
dependente das personagens. São elas que orientam o exercício da escrita,
apelam ao narrador, guiam-no através das suas vidas. Estas são-lhes reveladas com
o mesmo improviso dos dias palpitando em cada um de nós. Nesta altura conto 162
páginas.
- “Icónico” – a palavra eloquente dos incultos que assomam
às televisões. Antes tudo era “fantástico”. A vulgaridade é o padrão da
monotonia instalada.
- Carlos veio cá almoçar, mas a bebedeira
foi de temas todos curiosos e interessantes. Falando dos capitéis gregos
decorados a folha de acanto, Irmão diz-me que há excepção de alguns, a maioria
não tem nada a ver com a planta que toda a gente crê decorar os templos gregos,
mas sim de uma folha desvirtuada, mal concebida e sem rigor. Quem melhor tratou essas colunas, foram os árabes. Árabes ao serviço dos
judeus que estiveram por todo o lado na Antiguidade Clássica. Quando a noite se
instalou, fui levá-lo ao comboio. De regresso a casa, um silêncio incomodativo entrou comigo ocupando todos os espaços do salão.
- Imagens impressionantes da Europa
submersa na neve espessa. Em Roma, os padres brincaram na Praça do Vaticano, atirando
bolas de neve uns aos outros. Nas praias francesas e espanholas, os habitantes esquiaram.
Nota trágica: mais de uma dezena de pessoas morreram ao frio glacial. Por cá, chuva
forte e vento a condizer – uma bênção do céu.