domingo, fevereiro 04, 2018

Domingo, 4.

Reflectindo um pouco mais no que ontem escrevi. A questão das crianças maltratadas sexualmente por pedófilos, também tem muito que se lhe diga. A começar pela idade, pelos condicionalismos económico-sociais, pela cultura e pela vida moderna tal como ela se nos apresenta com a parafernália tecnológica que nos põe em contacto com tudo o que recusamos, mas nos é susceptível de atrair, sobretudo na fase de todas as descobertas. Excluo as aberrações daqueles que violentam crianças, as forçam a fazer o que elas ainda não identificam, as traficam para prisioneiras de monstros hediondos, ferindo o que há de mais sagrado na infância – a inocência. Suponho que seja para estes que Celso Leal, magistrado do Ministério Público, pediu a castração química. Com a qual eu não concordo, encostado ao psicólogo Rui Abrunhosa Gonçalves, que diz que “o problema dos agressores (sexuais) não está da cintura para baixo, mas da cintura para cima”. Esta frase, leva-me para aos cristãos ortodoxos. Por lá, os patriarcas e bispos, consideram pecado apenas o que nasce e se desenvolve da cintura para cima. Bom. Dito isto, aos mancebos adoptados por filósofos e artistas gregos, quase sempre passivos, era o melhor que lhes poderia acontecer. Porque tinham nessa adopção não só o amor e a protecção do mais velho sobre o mais novo, como uma vida de descobertas e ampliação da sua identidade. Não havia violência, quase sempre era só uma escolha que logo se transformava numa espécie de amor aconchegante que traduzia a reciprocidade de quem ama e é amado. Na sociedade de hoje, há uma grande fobia contra aqueles que vêem numa ou num adolescente a tradução de uma sensibilidade que se realiza ocupando o espaço da descoberta que o adolescente quer experienciar e o mais velho pode proporcionar. Há um interesse mútuo, uma troca de afectos, um caminho a desbravar juntos. Estes moralistas que campeiam nos ecrãs de televisão, nos jornais e nas comissões disto e daquilo, desconhecem totalmente o mundo de hoje ou promovem-se alardeando conceitos que estão plasmados em todo o lado, e fazem a unanimidade dos que não usam a sua própria cabeça. De contrário, bastava entrar de vez em quando na internet para se aperceberem da realidade nua e crua que, sob a assinatura de um nick, exprime as naturezas reclusas, fechadas sobre si, prontas a soltar o amor que a sociedade decidiu oprimir e as/os faz sofrer. Em O Pesadelo dos Dias Felizes este tema é largamente tratado. O Amor que une o médico Peter de Santa Clara a Matmatu nasce do anonimato insuportável, que esconde a natureza de cada um e o força a viver em tormento a sua singular condição. Que se exprime no interior de cada um e lhe foi ofertada por uma natureza que foge da uniformização dos sentimentos. Jesus amaldiçoa quem o amor penalizar.