Quarta, 7.
Correm
nas redes sociais uma série de fotomontagens que são não só uma delícia, como
denunciam à evidência o homem dos afectos. Desta quem sai comprometido não é
decerto Munch.
- Ontem o mundo da especulação entrou
em pânico. A começar nos EUA e a acabar na Europa, as Bolsas tremeram e
encolheram mais de 2 por cento. Foi um pequeno crash que serviu para prevenir e denunciar quanto a economia é hoje
uma fantasia que cava consecutivamente a insegurança e a pobreza. Somos
governados por loucos a soldo de 1% de milionários que só pensam neles e fazem
dos milhões de seres que para eles trabalham, escravos e pedintes. Os governos
a quem cabe zelar pelo conjunto, após os desastres monstruosos da banca, nada
fizeram de consistente para que eles não voltem a acontecer. Ninguém foi preso,
as técnicas desses tempos voltaram, os cidadãos também parecem ter esquecido os
anos difíceis, a vida é uma festa que merece ser vivida no gume do delírio.
Mesmo
entre nós, com os socialistas a prosseguirem na sua campanha de lavagem ao
cérebro, repetindo à exaustão que estamos ricos, que multiplicamos razões para
nos sentirmos orgulhosos, que nunca houve tanto dinheiro e empresas tão
sólidas, que “Portugal é um sucesso” na litania de Cavaco Silva, que vencemos o
PIB embora a dívida se mantenha nos 131 por cento e dois milhões de pobres
sejam uma realidade vergonhosa. A verdade porém, fala mais alto. Eu noto que as
pessoas andam muito contidas, têm menos dinheiro para fazer face à vida, os
impostos comem os salários e sobretudo as reformas, os supermercados vão com
menos clientes, só um estrato social – políticos, empresários, agentes públicos
– usufruem de um estatuto equidistante da maioria dos portugueses, para atender
às exigências de Bruxelas os hospitais observam menos e pior os doentes, as
escolas estão a cair de podres, a corrupção é um cancro... Há uma tragédia no
ar que não tarda a destronar todas as utopias.
- Paris e toda a França está
paralisada. Muitos franceses que vêm trabalhar à capital, tiveram de procurar
dormida perto dos locais de trabalho e os parisienses ficaram em casa devido à
neve que se acumula em quantidades impressionantes. O caos está instalado, carros
sinistrados, outros imobilizados, enfim, o quotidiano voltado do avesso.
- O Paulo Santos estava ontem muito
desolado devido ao exame que teve de fazer para subir no topo hierárquico dos
melhores guias turísticos. Na prova foi-lhe perguntado quem foram os quatro
principais doutores da Igreja. Ele, nervoso, não conseguiu pronunciá-los e daí achar-se abatido. Quando me pôs a questão, fui
puxando pela memória e disse de pronto Santo Gerónimo, Santo Agostinho, julgo
ainda Santo Ambrósio, mas não me veio à lembrança Santo Gregório. Todavia,
fiquei satisfeito em saber que Portugal exige aos seus representantes junto de
quem nos visita, um conhecimento aprofundado da nossa história. Eu que digo mal
de tanta coisa, eis que me vergo ante esta exigência.
- Apesar do frio, depois do combate
duro com as palavras que se recusaram a dar-me o bom-dia, fui nadar meia hora.
Não estava, claro, quase ninguém na piscina, eu e outro jovem apenas, naquele
tanque imenso vazio da clientela habitual.