sábado, fevereiro 03, 2018

Sábado, 3.
O menino Miguel diz que Mário Centeno foi julgado nas páginas do Correio da Manhã antes de ser acusado pelo Ministério Público, no negócio estapafúrdio dos bilhetes para ver o Benfica do camarote da presidência do clube. O nosso comentador acrescenta que a Operação Lex, com a sua enxurrada de arguidos (são 13!) em processos sinistros que envolvem o futebol, foi posto na praça pública para encobrir ou disfarçar o caso infeliz do Ministro das Finanças. Estou de acordo com ele no tocante à vergonha do que se disse e pretendeu fazer (o Parlamento Europeu, por exemplo) contra Centeno. Acho, contudo, que o político se pôs a jeito. É ridículo que ele tenha ido pedir ao pacóvio dirigente do Benfica, uma entrada para o filho. O futebol dá cabo da dignidade e da honorabilidade de toda a gente, transformando as pessoas em boçais e em alucinadas criaturas.

         - Esta manhã, depois do café no espaço lindíssimo e agradável aberto recentemente na Luísa Todi chamado Café da Casa, fui deambular pela feira dos brocantes. Sentia-me extraordinariamente calmo, sem pressas, disposto a fruir não só do sol quente do inverno, mas de tudo o que viesse no anzol do acaso. Assim, percorri cada bancada, folheando livros, conversando com este e com aquele, entregue à animação do espaço onde se encontra toda a sorte de gente e artigos. Comprei um exemplar aqui (Sonetos de Antero de Quental prefaciados por António Sérgio), outro além (ABC dos Sabores Portugueses e Mais Alguns) escrito pelo meu saudoso colega do jornal que tanto me ensinou, Roby Amorim. O álbum é uma obra de arte, as fotografias de Jean-Marie del Moral são de uma delicadeza interpretativa fabulosa e o texto do jornalista muito bem escrito e saboroso. A foto dele, remeteu-me para o período em que entrei para o jornalismo e o conheci e com ele privei, um tempo definitivamente enterrado, mas com as memórias de fora a correr tentaculares na textura obsidiante dos meus dias.

         - Por todo o lado, fala-se em violência sexual. De repente, toneladas de mulheres acusam este e aquele de as ter violado: no mundo do cinema, da televisão, do desporto, da Igreja, das empresas, etc. A informação encontrou mais um tema excitante para se estender em laudas incandescentes de moralidade e estudo da psicopatologia do voyeurismo, de histórias de alcova onde a humilhação confere o picante que incendeia a libido de multidões de amorfos sexuais. Eu condeno - como os meus leitores tantas vezes constataram ao longo dos anos que leva este Diário - toda e qualquer forma de violência, actividade sexual não consentida por ambas as partes, e, sobretudo, com crianças indefesas. Dito isto, também não entro na histeria actual. Quantas mulheres feitas, rapazes, digamos, machos, se deitaram de cócoras para conseguirem os seus intentos, realizar os seus sonhos patetas? Quantas delas e deles não tiveram até pelo meio uma noite de prazer inusitado? Todos sabemos que certas actividades e meios ligados ao mundo do cinema, da música, da televisão, são uma caixa de surpresas que destrona muitas vezes a rapariga mais casta e o rapaz mais possante. Mas sobre isto, bico calado.


         - Sobra de uma semana atípica como esta que hoje termina, a novela espanhola. O Constitucional recusou o recurso do Governo contra a posse de Puigdemont que continua na Bélgica e se recusa a regressar a Espanha enquanto não tiver garantia de não ir parar à prisão. Mas foi ele que ganhou a eleições, quero dizer, é ele que tem a maioria no Parlamento Catalão. Portanto...