Quarta, 22.
O
catamarã que me deixou no Cais das Colunas, trazia fogo nos costados. O baile
foi tão grande e tão rodopiado, que os passageiros desataram num alvoroço. Logo
me veio à lembrança a viagem de avião entre Viena e Madrid no início deste ano.
A turbulência foi tal e tão demorada, que os viajantes pensaram que era chegada
a sua hora, as mulheres gritavam, os homens abraçavam-se a elas, o ululo
anunciava o fim de tudo. Curiosamente, nesse dia, como segunda-feira, mantive-me
absolutamente sereno. A maior tormenta, foi no ar e não vos digo o respeito que
a coisa provoca. Mas eu, não sei porquê, interiorizo imediatamente que a minha
hora chegou e, portanto, tenho de aceitar o facto como inevitável. Depois –
medito tantas vezes! – a morte é apenas um instante, um sopro de nada, para nos
transformarmos em outra coisa ou ser, vida ou renascimento.
- Falava eu ontem demoradamente ao
telefone com o Robert, sobre o que vem acontecendo de bárbaro na zona de
Bobigny que eu bem conheço por lá ir almoçar a casa dos Legros. A semana
passada, outro adolescente foi violado com a matraca de um polícia, tal como
aconteceu ao pobre africano que ao princípio se dizia ter sido com o cabo de
uma vassoura. Seja como for, um juiz achou desta vez que a selvajaria configura
um crime, nada que eu não tivesse dito quando Théo, a primeira vítima, foi
agredida. Este provocou durante semanas gigantescas manifestações e distúrbios.
O povo tem todo o direito de agir em conformidade – é tudo o que tenho a dizer.
- Outro dia, o grande Virgílio fez 85
jubilosos anos. Reunimo-nos na Brasileira para festejarmos com um almoço a
data. Eu contei ao Guilherme que na véspera tinha tido um sonho esquisito segundo
o qual havíamos organizado uma viagem com Virgílio, o Irmão e a Marilda sua
mulher a Madrid, à Feira de Arte Contemporânea. Quando nos acomodámos no carro,
o Guilherme tinha nos joelhos um gato amarelo que saltou sobre nós e nos
arranhou deixando-nos ensanguentados. Logo o Irmão, sentenciou: “É por isso que
eu estou a pensar em lá ir mas... de avião!” Diz-me, Virgílio, entre dentes:
“Ele anda sempre a queixar-se que não tem dinheiro, que não lhe pagam as obras
que faz. – Dinheiro terá – digo eu – porque gasta todos os dias no Príncipe 15
euros para almoçar.” Medita Virgílio um instante para concluir: “Pois.”
- O Mágico e seus acólitos sem
esquecer o sacristão, andam ufanos com os 2.1 por cento do PIB alcançado pelo
Ministro das Finanças. O que eles não dizem é como foi possível esse feito. Eu
digo. É simples: fechou o investimento do Estado, cortou nas despesas de saúde
e escolas, aumentou os impostos e a gasolina, o IMI e outras mais coisas por
aqui e por ali, deu aumentos de 2 euros aos reformados e deixou abandonados os
funcionários públicos com a ilusória reposição do que o anterior governo havia cortado.
Não é por acaso que a UE rejubilou. Mas isto vai ter as suas consequências, não
tenham dúvidas. A propaganda socialista ao nível da Europa, é patética e boçal.
A dívida aumentou e o investimento é nulo. Entretanto, têm a sorte de não haver
oposição credível. Os que integram a Geringonça, engolem todos os dias sapos
vivos. Todavia, basta perguntar a qualquer das meninas das caixas dos
supermercados, para sabermos o que por aí vai – elas sabem mais de economia e
finanças que toda a equipa governativa.
- Há um jornal Holandês citado por
Rentes de Carvalho no seu blogue que chama pateta a António Guterres. A mim
custa-me que o Secretário-Geral das Nações Unidas esteja sujeito a estes epítetos.
Mas o facto é que o nosso amigo pôs-se a jeito, quando defendeu a Arábia Saudita (um
dos principais países que financiam a ONU) como um país de mudança e luta pelo
progresso. Acontece que a Arábia Saudita é um coito de repressão, onde a censura
impera, dá ajuda o Daesh e propaga por todo o lado as suas convicções
retrogradas, nomeadamente, contra as mulheres. De Guterres espera-se que faça
diferente e não entre naquela ronceirice universal que deixa andar as coisas
com o mínimo de ondas. Quero dizer estagnadas.