terça-feira, fevereiro 28, 2017

Terça, 28.
Este oásis que o Mágico teima a impingir-nos, sofre de um mal-estar que vegeta fundo nas estruturas sócio-quotidianas e dilata a membrana da desconfiança. Exemplos não faltam, a começar pelo hospital da Covilhã onde uma parturiente não foi acudida a tempo perdendo assim o seu bebé. Quando as autoridades quiseram apurar a culpa, desapareceram os processos e as imagens de vigilância como por magia. De igual modo, o que se passa com os dez mil milhões de euros postos ao fresco em offshores, quando da gestão de Passos Coelho e do seu secretário dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio. Aqui também voaram elementos de identificação dos faltosos. A Mãe-de-todas-as-mães, veio louvá-lo porque transportou às costas a culpa, embora só depois de ser denunciado pelo seu antigo director-geral das Finanças, Azevedo Pereira. Para não falar nas cinquentas armas furtadas que estavam à guarda da PSP. Culparam os dois guardas que vigiavam diariamente o depósito, deixando de fora os seus superiores. Ou ainda aqueles presos fugidos da cadeia de Castelo Branco serrando as grades e dois deles em dois dias terem sido encontrados a salvo em Espanha. Isto é Portugal no seu melhor. Ou antes o paraíso apetecido por todos os mafiosos, reis depostos por roubo, empresários corruptos e políticos reformados com saborosas somas do Estado.


         - No domingo dei uma volta pelo mercado da Moita. Duas mulheres, conversavam: “Os homens têm a mania que sabem tudo e vai-se a ver não sabem nada.” A surda luta de sexos continua.  

sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Sexta, 24.
A nossa querida União Europeia não tardou a dar o dito pelo não dito para baixar a temperatura partidária em Portugal que ia galopante. Agora como, de resto, noutras alturas, veio avisar que há riscos para o sucesso da recuperação económica, no défice, na dívida pública, no cozinhado da nacionalização da TAP, na banca, no aumento do salário mínimo nacional, no crescente endividamento privado, no crédito mal parado, na falta de reformas que a nossa esposa afectuosa pretende que façamos. Tudo isto seria calamitoso de aceitar, se não estivéssemos a falar de lixo – a classificação que tem a economia nacional no contexto internacional. Logo, senhores governantes, humildade. Interiorizem que não somos ninguém na Europa, nem de um verbo de encher podemos reivindicar paridade. Portanto, chiu! (sendo a palavra onomatopeia, vai ao jeito do que se passa no Parlamento...)


          - As mimosas em flor estão por todo o lado. Olhá-las é afastar o olhar da lama que nos cerca dia-a-dia. Vivemos rodeados de imundice e muitos de nós nem damos conta disso. Falo dos dejectos verborreicos, da mentira repetida, do cinismo institucionalizado, da pobreza que repugna, da arrogância que flagela, da igualdade mentirosa da República, do “somos todos iguais na diferença”, nas leis totalitárias que aferem da justiça ao toque da tecla do computador, da massificação de olhos nos olhos expelindo raiva e ódio e pior que tudo no salve-se quem puder posto que Deus nos salva a todos.

quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Quarta, 22.
O catamarã que me deixou no Cais das Colunas, trazia fogo nos costados. O baile foi tão grande e tão rodopiado, que os passageiros desataram num alvoroço. Logo me veio à lembrança a viagem de avião entre Viena e Madrid no início deste ano. A turbulência foi tal e tão demorada, que os viajantes pensaram que era chegada a sua hora, as mulheres gritavam, os homens abraçavam-se a elas, o ululo anunciava o fim de tudo. Curiosamente, nesse dia, como segunda-feira, mantive-me absolutamente sereno. A maior tormenta, foi no ar e não vos digo o respeito que a coisa provoca. Mas eu, não sei porquê, interiorizo imediatamente que a minha hora chegou e, portanto, tenho de aceitar o facto como inevitável. Depois – medito tantas vezes! – a morte é apenas um instante, um sopro de nada, para nos transformarmos em outra coisa ou ser, vida ou renascimento.

         - Falava eu ontem demoradamente ao telefone com o Robert, sobre o que vem acontecendo de bárbaro na zona de Bobigny que eu bem conheço por lá ir almoçar a casa dos Legros. A semana passada, outro adolescente foi violado com a matraca de um polícia, tal como aconteceu ao pobre africano que ao princípio se dizia ter sido com o cabo de uma vassoura. Seja como for, um juiz achou desta vez que a selvajaria configura um crime, nada que eu não tivesse dito quando Théo, a primeira vítima, foi agredida. Este provocou durante semanas gigantescas manifestações e distúrbios. O povo tem todo o direito de agir em conformidade – é tudo o que tenho a dizer.

         - Outro dia, o grande Virgílio fez 85 jubilosos anos. Reunimo-nos na Brasileira para festejarmos com um almoço a data. Eu contei ao Guilherme que na véspera tinha tido um sonho esquisito segundo o qual havíamos organizado uma viagem com Virgílio, o Irmão e a Marilda sua mulher a Madrid, à Feira de Arte Contemporânea. Quando nos acomodámos no carro, o Guilherme tinha nos joelhos um gato amarelo que saltou sobre nós e nos arranhou deixando-nos ensanguentados. Logo o Irmão, sentenciou: “É por isso que eu estou a pensar em lá ir mas... de avião!” Diz-me, Virgílio, entre dentes: “Ele anda sempre a queixar-se que não tem dinheiro, que não lhe pagam as obras que faz. – Dinheiro terá – digo eu – porque gasta todos os dias no Príncipe 15 euros para almoçar.” Medita Virgílio um instante para concluir: “Pois.”

         - O Mágico e seus acólitos sem esquecer o sacristão, andam ufanos com os 2.1 por cento do PIB alcançado pelo Ministro das Finanças. O que eles não dizem é como foi possível esse feito. Eu digo. É simples: fechou o investimento do Estado, cortou nas despesas de saúde e escolas, aumentou os impostos e a gasolina, o IMI e outras mais coisas por aqui e por ali, deu aumentos de 2 euros aos reformados e deixou abandonados os funcionários públicos com a ilusória reposição do que o anterior governo havia cortado. Não é por acaso que a UE rejubilou. Mas isto vai ter as suas consequências, não tenham dúvidas. A propaganda socialista ao nível da Europa, é patética e boçal. A dívida aumentou e o investimento é nulo. Entretanto, têm a sorte de não haver oposição credível. Os que integram a Geringonça, engolem todos os dias sapos vivos. Todavia, basta perguntar a qualquer das meninas das caixas dos supermercados, para sabermos o que por aí vai – elas sabem mais de economia e finanças que toda a equipa governativa.


         - Há um jornal Holandês citado por Rentes de Carvalho no seu blogue que chama pateta a António Guterres. A mim custa-me que o Secretário-Geral das Nações Unidas esteja sujeito a estes epítetos. Mas o facto é que o nosso amigo pôs-se a jeito, quando defendeu a Arábia Saudita (um dos principais países que financiam a ONU) como um país de mudança e luta pelo progresso. Acontece que a Arábia Saudita é um coito de repressão, onde a censura impera, dá ajuda o Daesh e propaga por todo o lado as suas convicções retrogradas, nomeadamente, contra as mulheres. De Guterres espera-se que faça diferente e não entre naquela ronceirice universal que deixa andar as coisas com o mínimo de ondas. Quero dizer estagnadas.

terça-feira, fevereiro 21, 2017

Terça, 21.
Mais um episódio de violência no futebol. Foi entre o Benfica e o Braga, vários feridos, montanhas de polícia chamada e paga pelo contribuinte para pôr cobro às acções dos selvagens. Quando o desporto era amador, portanto, antes da chegada dos tubarões que à sua conta contabilizam milhões, exercido pela saúde e bem-estar, não só era mais barato para toda a gente, como juntava multidões em alegria. Agora que passou a indústria obriga os que não gostam da sua arrogância e supremacia, a entrar com os seus impostos para sustentar um mundo onde a cor da bandeira são os milhões ganhos n´importe comment e o ódio divide os portugueses amantes de futebol.  


         - Domingo, querendo ver o último filme da série consagrada a Virginia Woolf e ao grupo Bloomsbury que a 2 apresentou sob o título Vidas Boémias, estando um pouco cansado, até fazer hora, entrei no canal 1. Decorria o Festival da Canção. O júri presente, o xó-xó Malato com o seu sorriso de dona de casa e um panorama vindo dos confins de um mundo obscuro habitado por duendes tristes, compunham o cenário. Todos tinham uma palavra a dizer: apresentadores, júri (um por um), participantes, público. A sintonia logo aos primeiros acordes remontava, saudosa, aos tempos em que o festival “fazia parar o trânsito”. A RTP anunciara um espectáculo de “grande qualidade”, com canções de “alto nível”, susceptíveis de ombrear com o que de melhor se faz lá fora. Fiquei nestas condições de atalaia. Por pouco tempo. As melodias fizeram-me um sono irritante que quase me levavam à cama passando por cima da série que queria ab-so-lu-ta-men-te ver. Vozes frouxas soletravam poemas a puxar à sustância, artistas vestidos à maneira dos tipos saloios e convencidos, que vêm dessa província mergulhada na ambição do dinheiro ganho depressa e da celebridade de bairro, todos em uníssono que aquilo era de facto um festival como nunca se vira, a RTP estava de parabéns, desta é que vamos ter um vencedor. Palavreado, palavreado e mais palavreado. O júri parecia comprado. Os meninos todos possuíam uma “voz sensual”, “aveludada”, “muito talento”, etc, etc. Às tantas desliguei. Estava farto de adjectivação para algo que aos meus olhos e ouvidos, não passava de um espectáculo lamentável, medíocre, pobre e em tudo parecido com aqueles que as colectividades de recreio oferecem aos da terra, tipo “serão para trabalhadores”. Que pobreza franciscana! Uma pergunta sem ofensa: porque é que não se esquecem as canções de há vinte, trinta anos e até os apresentadores desse tempo, não muitos, estão ainda presentes no nosso espírito?

domingo, fevereiro 19, 2017

Domingo, 19.
Não estou só embora por escolha goste de estar só e não me importe de pensar pela minha cabeça, equidistante dos emplastros colectivos ou partidários. O facto é que, desossando o tema que tanta tinta tem gasto, encontrei alguém que pensa como eu e não só pensa como o diz publicamente. Respigo do Público de hoje: (...) “que um gabinete de advogados tenha redigido um decreto-lei (leia-se o que escrevi sexta-feira, 13) para isentar a então administração da CGD de entregar a declaração de património e rendimentos ao Tribunal Constitucional constitui uma enormidade típica de uma república das bananas ou uma Administração trumpista”. Quem assim fala é Vicente Jorge Silva. Eu limito-me a dar-lhe o braço para juntos meditarmos sobre esta Pátria entregue a gente esquisita, sem ideias nem ética.

         - Ontem andei a jardinar pela Avenida Luísa Todi. O tempo esteve apetitoso, um charco de sol seguia-nos para todo o lado, o corpo quase não assentava no chão. Tinha lugar uma daqueles feiras de brocantes que misturam tudo e mais alguma coisa e onde encontro invariavelmente a Luísa e o António. Devido à contenção de despesas em que me encontro por causa da prepotência da Câmara que acha que a água lhe pertence por direito divino, não tinha outra intenção que passear e desfrutar do dia. Mas os livros são mais irresistíveis que a lotaria nacional ou o euromilhões. Vai daí, regressei a casa com Une jeunesse de Patrick Modiano, Ô vous, frères humains de Albert Cohen e Méditations métaphysiques de Descartes.  

         - Quem não se lembra das celebradas, durante semanas e semanas, escutas telefónicas ao Palácio de Belém atribuídas a José Sócrates ou ao seu governo. Pois agora o “menino d´ouro”, investindo sobre o ex-professor, ex-gestor, ex-economista, ex-presidente da República e não sei se ex-excelência chama-lhes um facto histórico.


         - Não quero deixar o Público. Não quero e não quero, “prontos”! Na página 10 vem uma fotografia de três crianças trajadas como as três videntes de Fátima, tirada em Londres, transportando a do meio a coroa que coroou ontem, na Catedral de Westminster, a Virgem de Fátima neste ano do centenário das aparições. A peça é em ouro e prata, elaborada pelo meu amigo Jorge Leitão (já aqui falei inúmeras vezes dele), em Lisboa. Embora ela tenha sido encomendada pelo Apostolado Mundial, Jorge Leitão decidiu oferecê-la como já antes o pai ou o tio havia doado a primeira imagem da Virgem que se encontra na Capelinha das Aparições. Espero que a generosidade da casa Leitão e Irmão, ao Bairro Alto, sirva para ajudar os mais necessitados. A Mãe de Jesus não tem nenhuma precisão de joias e já se tem prestado demasiado às loucuras dos homens de barrete vermelho e dos políticos descrentes ou agnósticos.