Segunda, 13.
Não
sai dos cartazes a CGD e os seus comparsas. E todavia, os dados são simples e
claros: A lei obriga os gestores públicos a apresentar a folha dos seus bens.
Ponto final. Quem não se quer sujeitar, tem todo o direito em não aceitar
cargos que o direccionam nesse sentido. António Domingues quis o melhor dos
dois mundos e procurou passar por cima da lei impondo ao Ministro das Finanças
as suas condições, isto é, a indispensabilidade de se submeter à lei. Mário
Centeno prometeu pensar no assunto e por fim consentiu nesta coisa extraordinária:
fazer uma lei que assentasse na grandeza e importância de Domingues. Entretanto,
outros actores entram em cena como o Presidente da República, o Tribunal
Constitucional, a oposição e os cidadãos que baralham completamente o acordo. Confusão,
ditos e não ditos, gritaria na Assembleia, tempos suspensos da desconfiança,
baralhação do Governo, paralisação da Caixa Geral de Depósitos, avisos de
Bruxelas, enfim, o espectáculo habitual da classe política. De tudo isto não me
surpreendo. Somos o que somos, temos a classe política que merecemos. Todavia,
o que mais me surpreendeu, foi o facto de a lei que iria alterar a obrigação
dos gestores públicos a dizerem que bens possuem, tivesse sido minutada por uma
central de advogados! Eu pensava que as leis eram feitas no Parlamento e pelos
nossos representantes. Nada disso. Quem nos governa, são aqueles que defendem
os criminosos, se agrupam para defender os ladrões. A democracia é mais uma vez
uma fraude. Ela pode ser manipulada pelos poderosos, escrita pelos amigalhaços,
trabalhada em conformidade com os interesses e as frustrações de uns e outros.
Tanto assim é que também José Sócrates fez leis como aquela que deu aos
corruptos a facilidade de transferirem os milhões que tinham escondidos nos
paraísos fiscais isentando-os de impostos e condenações. Lembram-se?
- Ontem fui com o Simão ver O Pai
a peça do francês Florian Zeller cujo texto não me pareceu substancial porque
montado em estereótipos e clichés gastos sobre o tema da velhice. A dada
altura, pus-me a imaginar o que seria o texto representado por um dos muitos,
espécie de arrastão que varre o panorama teatral português, actores. O génio de
João Perry, confere uma tal garra à peça que ficamos suspensos duas horas da interpretação,
fascinados pela criação da personagem que passa pelos íntimos sopros de André,
o velho demente, cuja respiração vem dos confins dos tempos sobrepostos no
homem confrangedoramente frágil e dominante que enche o proscénio. Sem o seu
talento, decididamente o melhor actor vivo, assim como a belíssima e
contemporânea encenação de João Lourenço, a peça de Zeller não passaria de um
rosário de palavras assustadoras que faria tremer a plateia maioritariamente de
velhos de manteiga. Uma palavra para a actriz Ana Guiomar que tem um papel
seguro e completamente oposto ao que conhecia dela em outros trabalhos.
- Tenho tanto para aprender que só
peço a Deus me dê mais uns trinta anos de vida, de modo a adquirir a bagagem
indispensável à minha partida. Porque gostava de deixar este mundo sólido de
todos os conhecimentos: espirituais, culturais, científicos, musicais e
agrícolas. A vida é tão apaixonante, tão fascinante! Por vezes tomo-me de nostalgia
como se já estivesse noutro universo com saudades imensas deste.