segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Segunda, 13.
Não sai dos cartazes a CGD e os seus comparsas. E todavia, os dados são simples e claros: A lei obriga os gestores públicos a apresentar a folha dos seus bens. Ponto final. Quem não se quer sujeitar, tem todo o direito em não aceitar cargos que o direccionam nesse sentido. António Domingues quis o melhor dos dois mundos e procurou passar por cima da lei impondo ao Ministro das Finanças as suas condições, isto é, a indispensabilidade de se submeter à lei. Mário Centeno prometeu pensar no assunto e por fim consentiu nesta coisa extraordinária: fazer uma lei que assentasse na grandeza e importância de Domingues. Entretanto, outros actores entram em cena como o Presidente da República, o Tribunal Constitucional, a oposição e os cidadãos que baralham completamente o acordo. Confusão, ditos e não ditos, gritaria na Assembleia, tempos suspensos da desconfiança, baralhação do Governo, paralisação da Caixa Geral de Depósitos, avisos de Bruxelas, enfim, o espectáculo habitual da classe política. De tudo isto não me surpreendo. Somos o que somos, temos a classe política que merecemos. Todavia, o que mais me surpreendeu, foi o facto de a lei que iria alterar a obrigação dos gestores públicos a dizerem que bens possuem, tivesse sido minutada por uma central de advogados! Eu pensava que as leis eram feitas no Parlamento e pelos nossos representantes. Nada disso. Quem nos governa, são aqueles que defendem os criminosos, se agrupam para defender os ladrões. A democracia é mais uma vez uma fraude. Ela pode ser manipulada pelos poderosos, escrita pelos amigalhaços, trabalhada em conformidade com os interesses e as frustrações de uns e outros. Tanto assim é que também José Sócrates fez leis como aquela que deu aos corruptos a facilidade de transferirem os milhões que tinham escondidos nos paraísos fiscais isentando-os de impostos e condenações. Lembram-se?

         - Ontem fui com o Simão ver O Pai a peça do francês Florian Zeller cujo texto não me pareceu substancial porque montado em estereótipos e clichés gastos sobre o tema da velhice. A dada altura, pus-me a imaginar o que seria o texto representado por um dos muitos, espécie de arrastão que varre o panorama teatral português, actores. O génio de João Perry, confere uma tal garra à peça que ficamos suspensos duas horas da interpretação, fascinados pela criação da personagem que passa pelos íntimos sopros de André, o velho demente, cuja respiração vem dos confins dos tempos sobrepostos no homem confrangedoramente frágil e dominante que enche o proscénio. Sem o seu talento, decididamente o melhor actor vivo, assim como a belíssima e contemporânea encenação de João Lourenço, a peça de Zeller não passaria de um rosário de palavras assustadoras que faria tremer a plateia maioritariamente de velhos de manteiga. Uma palavra para a actriz Ana Guiomar que tem um papel seguro e completamente oposto ao que conhecia dela em outros trabalhos.  


         - Tenho tanto para aprender que só peço a Deus me dê mais uns trinta anos de vida, de modo a adquirir a bagagem indispensável à minha partida. Porque gostava de deixar este mundo sólido de todos os conhecimentos: espirituais, culturais, científicos, musicais e agrícolas. A vida é tão apaixonante, tão fascinante! Por vezes tomo-me de nostalgia como se já estivesse noutro universo com saudades imensas deste.