Segunda,
6.
Os
romenos. Não contentes com a abolição do decreto-lei que ajudava os corruptos
no poder, querem agora – e muito bem – a demissão do primeiro-ministro que
formou governo não tem duas semanas, e para isso voltaram a encher praças e
avenidas. Esta consciência cívica, gostava eu de ver no meu país. Se assim
fosse, pouco me importava que o povo gostasse de futebol até cair para o lado, desde
que pusesse a mesma paixão para obrigar os governantes que o assassinam com
palmadas e risinhos, a serem íntegros e honestos e a cumprirem o sagrado dever
de governar em vez de se governarem.
- Tempo luminoso, cheio de sol, a
injectar saúde e prazer de viver em tudo o que à face de terra possui vida.
Aproveitei a tarde para atacar a poda dos cedros desde aqui de casa até lá
abaixo ao portão. Este trabalho surgiu em alternativa, uma vez que não consegui
pôr a roçadora a trabalhar. Definitivamente as máquinas não querem nada comigo.
- Antes, lá fora ao sol, leitura do
livro de Gunter Grass Descascando a
Cebola. Já tinha lido coisas avulso dele e há muito que esperava a
oportunidade de o ler em profundidade. É o primeiro volume da autobiografia que
deu muita celeuma quando saiu. Descubro um escritor fenomenal, articulando o
humor e o sério, os planos narrativos e históricos, as sequências memorialistas
com a fleuma de alguém sem preconceitos nem arriére-pensée,
senhor absoluto do seu destino, capaz de se despir com a naturalidade dos
inocentes e a consciência histórica do retardamento na compreensão de uma época
(o nazismo) que, todavia, tanto o marcou e constitui uma boa parte da matéria
que enche os seus livros.