segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Segunda, 6.
Os romenos. Não contentes com a abolição do decreto-lei que ajudava os corruptos no poder, querem agora – e muito bem – a demissão do primeiro-ministro que formou governo não tem duas semanas, e para isso voltaram a encher praças e avenidas. Esta consciência cívica, gostava eu de ver no meu país. Se assim fosse, pouco me importava que o povo gostasse de futebol até cair para o lado, desde que pusesse a mesma paixão para obrigar os governantes que o assassinam com palmadas e risinhos, a serem íntegros e honestos e a cumprirem o sagrado dever de governar em vez de se governarem.

         - Tempo luminoso, cheio de sol, a injectar saúde e prazer de viver em tudo o que à face de terra possui vida. Aproveitei a tarde para atacar a poda dos cedros desde aqui de casa até lá abaixo ao portão. Este trabalho surgiu em alternativa, uma vez que não consegui pôr a roçadora a trabalhar. Definitivamente as máquinas não querem nada comigo.


         - Antes, lá fora ao sol, leitura do livro de Gunter Grass Descascando a Cebola. Já tinha lido coisas avulso dele e há muito que esperava a oportunidade de o ler em profundidade. É o primeiro volume da autobiografia que deu muita celeuma quando saiu. Descubro um escritor fenomenal, articulando o humor e o sério, os planos narrativos e históricos, as sequências memorialistas com a fleuma de alguém sem preconceitos nem arriére-pensée, senhor absoluto do seu destino, capaz de se despir com a naturalidade dos inocentes e a consciência histórica do retardamento na compreensão de uma época (o nazismo) que, todavia, tanto o marcou e constitui uma boa parte da matéria que enche os seus livros.