sábado, fevereiro 04, 2017

Sábado, 4.
Para meu próprio equilíbrio, era urgente começar a trabalhar em qualquer coisa de fundo vincadamente criativo. Estou há vários meses sem escrever e comecei a sentir os traços da nevrose tão minha conhecida. Em todo este tempo, à parte a estada em Paris e Viena, foi o desespero que aliena os dias e transforma a vida num vazio incomensurável. Por outro lado, eu sei de saber adquirido desde o primeiro livro, que um romance é uma prisão, uma impregnação da mente, dos sentidos, dos segundos, é uma labuta permanente em qualquer parte e em todos os momentos, uma disponibilidade que se assemelha a escravidão. Passamos a viver a dois tempos, na dicotomia entre o real e ficcional, num equilíbrio instável por vezes difícil também de suportar. De qualquer modo, a partir desta manhã, o futuro em que creio pouco, passou a ficar suspenso no horizonte do términos deste trabalho e a partir do momento em que escrevi o primeiro parágrafo uma incógnita nasceu.

“Naquela manhã o sol abriu um buraco por entre as espessas nuvens e despejou um grandioso raio de luz sobre a terra.”  

Que terá o matricida a dizer-nos?