Sábado,
4.
Para
meu próprio equilíbrio, era urgente começar a trabalhar em qualquer coisa de
fundo vincadamente criativo. Estou há vários meses sem escrever e comecei a
sentir os traços da nevrose tão minha conhecida. Em todo este tempo, à parte a
estada em Paris e Viena, foi o desespero que aliena os dias e transforma a vida
num vazio incomensurável. Por
outro lado, eu sei de saber adquirido desde o primeiro livro, que um romance é
uma prisão, uma impregnação da mente, dos sentidos, dos segundos, é uma labuta
permanente em qualquer parte e em todos os momentos, uma disponibilidade que se
assemelha a escravidão. Passamos a viver a dois tempos, na dicotomia entre o real e ficcional, num
equilíbrio instável por vezes difícil também de suportar. De qualquer modo, a
partir desta manhã, o futuro em que creio pouco, passou a ficar suspenso no
horizonte do términos deste trabalho e a partir do momento em que escrevi o
primeiro parágrafo uma incógnita nasceu.
“Naquela
manhã o sol abriu um buraco por entre as espessas nuvens e despejou um
grandioso raio de luz sobre a terra.”
Que
terá o matricida a dizer-nos?