Terça, 21.
Mais
um episódio de violência no futebol. Foi entre o Benfica e o Braga, vários
feridos, montanhas de polícia chamada e paga pelo contribuinte para pôr cobro
às acções dos selvagens. Quando o desporto era amador, portanto, antes da
chegada dos tubarões que à sua conta contabilizam milhões, exercido pela saúde
e bem-estar, não só era mais barato para toda a gente, como juntava multidões
em alegria. Agora que passou a indústria obriga os que não gostam da sua
arrogância e supremacia, a entrar com os seus impostos para sustentar um mundo
onde a cor da bandeira são os milhões ganhos n´importe comment e o ódio divide os portugueses amantes de
futebol.
- Domingo, querendo ver o último filme
da série consagrada a Virginia Woolf e ao grupo Bloomsbury que a 2 apresentou
sob o título Vidas Boémias, estando
um pouco cansado, até fazer hora, entrei no canal 1. Decorria o Festival da
Canção. O júri presente, o xó-xó Malato com o seu sorriso de dona de casa e um
panorama vindo dos confins de um mundo obscuro habitado por duendes tristes,
compunham o cenário. Todos tinham uma palavra a dizer: apresentadores, júri (um
por um), participantes, público. A sintonia logo aos primeiros acordes
remontava, saudosa, aos tempos em que o festival “fazia parar o trânsito”. A RTP
anunciara um espectáculo de “grande qualidade”, com canções de “alto nível”,
susceptíveis de ombrear com o que de melhor se faz lá fora. Fiquei nestas
condições de atalaia. Por pouco tempo. As melodias fizeram-me um sono irritante
que quase me levavam à cama passando por cima da série que queria ab-so-lu-ta-men-te
ver. Vozes frouxas soletravam poemas a puxar à sustância, artistas vestidos à
maneira dos tipos saloios e convencidos, que vêm dessa província mergulhada na
ambição do dinheiro ganho depressa e da celebridade de bairro, todos em
uníssono que aquilo era de facto um festival como nunca se vira, a RTP estava
de parabéns, desta é que vamos ter um vencedor. Palavreado, palavreado e mais
palavreado. O júri parecia comprado. Os meninos todos possuíam uma “voz
sensual”, “aveludada”, “muito talento”, etc, etc. Às tantas desliguei. Estava
farto de adjectivação para algo que aos meus olhos e ouvidos, não passava de um
espectáculo lamentável, medíocre, pobre e em tudo parecido com aqueles que as
colectividades de recreio oferecem aos da terra, tipo “serão para
trabalhadores”. Que pobreza franciscana! Uma pergunta sem ofensa: porque é que
não se esquecem as canções de há vinte, trinta anos e até os apresentadores
desse tempo, não muitos, estão ainda presentes no nosso espírito?