terça-feira, fevereiro 21, 2017

Terça, 21.
Mais um episódio de violência no futebol. Foi entre o Benfica e o Braga, vários feridos, montanhas de polícia chamada e paga pelo contribuinte para pôr cobro às acções dos selvagens. Quando o desporto era amador, portanto, antes da chegada dos tubarões que à sua conta contabilizam milhões, exercido pela saúde e bem-estar, não só era mais barato para toda a gente, como juntava multidões em alegria. Agora que passou a indústria obriga os que não gostam da sua arrogância e supremacia, a entrar com os seus impostos para sustentar um mundo onde a cor da bandeira são os milhões ganhos n´importe comment e o ódio divide os portugueses amantes de futebol.  


         - Domingo, querendo ver o último filme da série consagrada a Virginia Woolf e ao grupo Bloomsbury que a 2 apresentou sob o título Vidas Boémias, estando um pouco cansado, até fazer hora, entrei no canal 1. Decorria o Festival da Canção. O júri presente, o xó-xó Malato com o seu sorriso de dona de casa e um panorama vindo dos confins de um mundo obscuro habitado por duendes tristes, compunham o cenário. Todos tinham uma palavra a dizer: apresentadores, júri (um por um), participantes, público. A sintonia logo aos primeiros acordes remontava, saudosa, aos tempos em que o festival “fazia parar o trânsito”. A RTP anunciara um espectáculo de “grande qualidade”, com canções de “alto nível”, susceptíveis de ombrear com o que de melhor se faz lá fora. Fiquei nestas condições de atalaia. Por pouco tempo. As melodias fizeram-me um sono irritante que quase me levavam à cama passando por cima da série que queria ab-so-lu-ta-men-te ver. Vozes frouxas soletravam poemas a puxar à sustância, artistas vestidos à maneira dos tipos saloios e convencidos, que vêm dessa província mergulhada na ambição do dinheiro ganho depressa e da celebridade de bairro, todos em uníssono que aquilo era de facto um festival como nunca se vira, a RTP estava de parabéns, desta é que vamos ter um vencedor. Palavreado, palavreado e mais palavreado. O júri parecia comprado. Os meninos todos possuíam uma “voz sensual”, “aveludada”, “muito talento”, etc, etc. Às tantas desliguei. Estava farto de adjectivação para algo que aos meus olhos e ouvidos, não passava de um espectáculo lamentável, medíocre, pobre e em tudo parecido com aqueles que as colectividades de recreio oferecem aos da terra, tipo “serão para trabalhadores”. Que pobreza franciscana! Uma pergunta sem ofensa: porque é que não se esquecem as canções de há vinte, trinta anos e até os apresentadores desse tempo, não muitos, estão ainda presentes no nosso espírito?