quarta-feira, junho 29, 2022

Quarta, 29.

Não me conformo com a invasão da Ucrânia. E muito menos com a razia das cidades e vilas, escolas e creches, zonas residenciais, supermercados e centros comerciais. Mas sobretudo com o falecimento de milhares de pessoas surpreendidas pela morte no meio dos seus quotidianos. Dá que pensar. Quando a Europa e o mundo julgavam estar definitivamente afastadas das guerras bárbaras como a primeira e a segunda do século passado, eis que um homem só, pode declarar a morte e a destruição de um país soberano, de um povo cordato, orgulhoso e sábio, de continente, de metade do mundo. A Europa e os Estados Unidos, fizeram confiança em Putin e, rendidos aos negócios, ao progresso, à globalização industrial e comercial, ao livre trânsito de empresas e trabalhadores, mostraram ser ingénuos ou gananciosos e lançaram no desespero milhões de seres humanos que neles votaram e confiaram. Eu sempre aqui defendi que os regimes democráticos não deviam entabular trocas comerciais e outras com ditadores, regimes de um homem iluminado, hediondas criaturas que governam escravizando, moldando, reduzindo a nada os cidadãos sob a seu domínio. A resposta aí está e provar como andámos à deriva, sem planos geoestratégicos, sem visão, conduzidos por gente mediana, que governa sempre sob o imediato, o que dá votos, sem planos a longo prazo, sem personalidade nem carácter de líder com visão de futuro. A nossa desgraça em suma. 

         - A Finlândia e a Suécia tiveram a bênção de Recep Tayyip Erdogan o homem forte da Turquia. Daí que na cimeira da OTAN/NATO a decorrer em Madrid, logo o teor da entrada dos dois países para a Aliança ficou formalizada. Um murro em cheio nas ventas de Putin que não queria a NATO por perto e vai tê-la agora por todo o lado.  

         - Uma leitora, a propósito do que disse sobre a LBGT, lembra-me que não incluo os bissexuais. Por uma simples razão, não acredito na bissexualidade: é uma taralhoquice, um disfarce, um transtorno (no sentido em que Freud falava). 

         - Pelo menos cinquenta migrantes foram encontrados mortos dentro de um furgão, no Texas. Eram imigrantes e foram vítimas de redes de tráfico humano. O calor insuportável, a falta de refrigeração do carro, o abandono a que foram sujeitos, foi a causa de tamanha barbaridade. O sonho de uma vida melhor, terminou ali. 

         - Para grande gáudio do nosso Presidente da República que se desmultiplica em oratória por todo o lado, está a decorrer em Lisboa uma reunião internacional sobre os Oceanos. Eu leio, escuto, penso. Penso? Sim, na menina Greta Thunberg: blá, blá, blá.  

         - Pensando em Green cujo terceiro volume do Diário ainda não foi arrumado, acrescento: a beleza, feminina ou masculina, não há abstinência que lhe resista. 

         - Vou experimentar mergulhar coisa que não faço há uma semana. Nadar no Outono é para mim uma originalidade. Sobretudo quando os sábios nos disseram que iríamos ter um Verão tórrido.  


segunda-feira, junho 27, 2022

Segunda, 27.

Por todo o mundo prosseguem as marchas LGBT. Liberdade bizarra para a grande maioria de pessoas que as vêem pelo olho da moralidade social e princípios religiosos. Eu devo ser dos poucos que leu o Antigo e o Novo Testamento, página a página, e não me lembro de nenhuma nota condenatória explicitamente da homossexualidade. Mesmo quando é referida Sodoma e Gomorra, não há nenhuma linha que mencione a relação entre pessoas do mesmo sexo. Portanto, todas as manifestações ocorridas na Noruega e Turquia não passam de atentados e arregimentações que a sociedade tanto preza como forma de controlo. Tudo o que saia da norma estabelecida deve ser punida. A sociedade não sabe como lidar com o mistério que é a homossexualidade e pouco lhe importa o sofrimento de muitos homens e mulheres, que nasceram sob o domínio que o corpo não dispensa e a moral não consente. Este antagonismo, não vejo em que magoa, altera, penetra e desarranja essa respeitável sociedade. Num país livre, harmonioso e realizado, devem caber todas as formas de vivência desde que consentidas por ambas as partes. Atrevo-me mesmo a afirmar que há mais realização, intensidade, beleza e sensibilidade na sensualidade entre dois seres do mesmo sexo, que na selvajaria heterossexual que os factos e as estatísticas demonstram, como se estivesse ainda na Antiguidade onde a mulher só existia enquanto objecto de satisfação do macho. As falsas interpretações do Novo Testamento e a obsessão de São Paul, como espécie de trauma que o acompanhou em tudo o que diz respeito ao sexo, foram e são causa e consequência do isolamento de homens e mulheres. Muitos conheceram a morte, como em Oslo onde faleceram dois manifestantes e na Turquia onde muitos foram agredidos. Há muita impostura por detrás disto tudo. 

         - Naquele dia, eu disse a Alice que fôssemos tomar café ao centro da cidade e depois passear e fazer compras no mercado principal. Eis senão quando entra no café a Lurdes Féria. Olhou-me, mas não me reconheceu, talvez por estar de máscara. Fui eu que tive de me apresentar e logo ela: “Ah, do Lisboa!” Abancou na nossa mesa a convite da minha amiga. A partir daí recordou-se de mim e de uma infinidade de colegas e amigos comuns. Na Brasileira que antes frequentava, não era muito bem vista por tertulianos e malta dos jornais que ali ia. Os artigos que ela publicava no Diário de Lisboa, assustavam meio mundo político e literário, porque a língua comprida exposta em laudas de maldizer não olhava a nomes nem a relevâncias. Antes como hoje, como naquela manhã, ninguém escapa à sua fúria tempestuosa reduzidos a mediocridade e falsidade literária. Dizia-se de esquerda (repetiu naquele dia), com uma nuance: passou a interessar-se apenas por geopolítica. Nesse sentido, tem escrito muito. Detesta os comunistas e quando lhe disse que o meu primeiro sensor foi o Saramago, logo disparou citando cenas de revolta na redação do Lisboa contra o nosso Nobel. A Alice vendo-nos tão embrenhados no passado, com a catadupa de factos e nomes despejados no tampo da mesa sem cerimónia, convidou-a para o almoço. Disse logo que sim, que ia. Comprou-se o necessário para a cozinha e num ápice estávamos sentados no salão magnífico inundado de sol. Aí prosseguiram as flechas à direita e à esquerda, mas no fundo, olhando-a do lado kairótico, apercebo-me do confronto com Cronos e digo que o contrapeso pode paralisá-la um dia. A realidade é esta: Lurdes não escolheu a solidão, foi a solidão que a escolheu a ela. Por isso, a invocação repetida do casamento, do tempo luminoso de Lisboa, da azáfama dos dias quando o jornalismo a levantava da monotonia que penso ser a sua hoje, numa cidade pequena, vivida dentro de um banal apartamento, só, sem gente culturalmente interessante por perto, os dias em linha recta, sem nenhuma espécie de deslumbramento, a velhice a inundar-lhe o corpo, a mente activa e talvez por isso atenta à decadência que a pouco e pouco se aproxima. Eu sempre gostei dela, porque tenho tendência a ligar-me a inconformistas, revoltados, demónios que vagueiam pelos sítios bem-pensantes e fazem a razia que só eles podem e conseguem fazer. Está uma tira de carne e osso, os nervos obstam a uma sã aparência. Mas há, todavia, qualquer coisa que brilha nos seus olhos pequenos, uma inquietação, uma lalação permanente que a distancia dos outros – qualquer aproximação queima. 

A seguir ao almoço, fomos dar uma volta pelos quatro hectares do jardim: estupefacção, deslumbre, beleza viva. Alice construiu uma excelente obra de arte, fê-lo sozinha, oito horas por dia debruçada a plantar, podar, regar, desenhar os contornos de um espaço fabuloso que abriga milhares de espécies, com gosto e sabedoria. É como uma viagem ao interior de um ser vivo que se nos oferece em harmonia e bom gosto, em sensibilidade e força. Tanto eu como a Lurdes tivemos direito a conhecer espécies para mim desconhecidas, trouxemos pés para replantar e saímos daquele local soltos, felizes, perfumados e apreciando a natureza como Dom Quixote  tomados de encantamento. 

Alice também têm a paixão pelas hortênsias 





domingo, junho 26, 2022

Domingo, 26.

Nestes últimos dias muito ocorreu – bom e mau – à Ucrânia. Desde logo a aceitação de país candidato à União Europeia juntamente com a Moldova e a Geórgia; a perda para a Rússia de Severodonetsk; novos ataques a Kiev. Putin é um carrasco sem humanidade, apoiado por militares corruptos e dividiu todo um território para reinar. O seu Exército de efebos drogados para matar, torturar, violar mulheres, homens, jovens e crianças leva tudo barbaramente na dianteira, deixando para trás cidades, vilas e aldeias reduzidas a escombros onde a morte passeia orgulhosa no vazio levantado dos desertos de dor e sofrimento, desalento e assombração. Se a moda da recuperação de impérios pega, temos a Espanha a invadir Portugal, a Áustria a restaurar o Império Austro-Húngaro, a Turquia o Império Otomano e por aí fora. Não sei que vantagens imediatas tira a Ucrânia deste gesto para além das políticas. Estou com António Costa que melhor seria apoiar Zelensky com armamento e outras necessidades. E espero não dar razão ao primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, quando diz que este é um mero acto simbólico.  

         - A esquerda com aquelas tontas meninas do BE à frente, detesta a vida. A ideologia deve passar por cima dos mortos e espezinhá-los até se transformarem em pó. Sem metas concretas que levem o país para rumos dignos e progressivos, ajustados às realidades palpáveis dos cidadãos, antes ou depois do “direito” ao aborto, o povo vai também ter “direito” à morte assistida. É isto que se discute agora no Parlamento. Um projecto das madamas, nos princípios igual ao do PS e PAN, com a feliz recusa do PCP e de outros partidos, as combativas guerreiras da morte, têm pela frente a Ordem dos Médicos na pessoa equilibrada do seu bastonário, Miguel Guimarães. Diz o ilustre médico: “matar o doente a seu pedido, por administração de uma injecção facultando um fármaco com a intenção de matar, são práticas que não se enquadram no exercício da medicina”. E prossegue na extensa carta do Concelho Nacional da OM: “O código deontológico dos médicos que estipula que ao médico é vedada a ajuda ao suicídio, a eutanásia e a distanásia.” Depois invoca a Constituição: “todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias.” A este parecer, juntou-se o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e a Ordem dos Psicólogos. Haja alguém que ponha na ordem um rebanho de meninas e meninos que o povo reduziu a uns escassos cinco cangalheiros.  

         - A força dos sindicatos em Portugal é tal, que se permitem afrontar o poder legalmente instituído pelo voto popular e quando não obtêm o que sonham ou impõem, ameaçam os governantes com o tribunal. É o que faz o SEF que depois de matar, ferir e humilhar os migrantes que se acolhem no nosso país, afrontam o sólido e enfim capaz ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, por ter elaborado um esquema funcional para o aeroporto de Lisboa, onde os visitantes têm sido tratados por aqueles senhores como gado.  “Uma falha mais no SEF levará à substituição imediata do responsável” avisou há uma semana o corajoso governante. 

         - Tenho languescido todos estes dias. Uma espécie de entrave à alegria, ao impulso criador, às noites dormidas sem interrupção, ao prazer de ser quem sou com defeitos e qualidades, detém-me à porta do desespero. De certo a guerra, o falecimento da minha irmã, talvez a velhice que se instala a pouco e pouco, o muito trabalho que aqui não finda nunca, ligado à inquietação existencial, que lassa tudo e reduz os dias a apatia soturna.


sábado, junho 25, 2022

Sábado, 25.

Quinta-feira fui encontrar-me com os do costume à Brasileira e dali, na companhia do João, subimos ao Príncipe Real para almoçarmos no Tascardoso, velho restaurante do tempo em que ali vivi, aberto sobre o jardim, no início da Rua do Século, que o João gosta de frequentar. Hoje é um lugar caro, cheio de turistas, que cedi a ir porque o meu amigo teve um acidente e queria levantar-lhe o moral. Dali fizemos, uma a uma, as tendas dos livros em pleno “centro do mundo” como me dizia o filósofo Agostinho da Silva, meu vizinho. Como não podia deixar de ser, lá deixei uns quantos euros em obras de Jean Cau e Stefan Zweig. Um pouco mais adiante, deixando para trás a Faculdade de Ciências, mesmo em frente à igreja de S. Mamede que eu frequentei aos domingos durante toda a minha juventude, entrámos na Galeria São Mamede para ver a exposição de escultura do artista espanhol Jesús Curiá. Que não me apaixonou por aí além, dando-me a sensação do dèjá vu, embora a história que o escultor conta através de uma série de pequenas e grandes peças, me interessasse particularmente, sobretudo, a aplicação da cor sobre ferro referenciando a dor e o sofrimento, a escravidão e o abandono, seguindo o ciclo antropológico cujo início se situa em África. Contudo, espero que estas reservas pessoais, não sejam obstáculo a uma visita.  

         - Na galeria, como é habitual nestas circunstâncias, só estávamos nós. Nós e a bonita funcionária que assiste a quem entra, fornecendo conhecimentos de compreensão da exposição. Logo ali se instalou uma discussão sobre política (onde está o meu amigo, está a verruga da política). Não sei a que propósito, falou-se da descontinuação do “direito constitucional ao aborto” nos EUA. Eu insurgi-me dizendo que, embora não concorde com a sua penalização implementada a partir de agora em diversos Estados, acho que a esquerda normalmente orgulhosa deste tipo de “direitos”, devia ser mais prudente e contida quando se trata de vidas humanas. Porque a banalização do sexo, sem responsabilidade nem desejo, obedecendo ao que há de mais animal em nós, é prejudicial à mulher que pratica com frequência o aborto e transforma a vida humana num jogo de direitos que não tem em conta o feto, a mãe e a sociedade. O aborto, só devia ser exercido em condições especiais e não quando o sexo puro e duro o impõe. Sabemos que a foule sem cultura, sem conhecimentos, básica na utilização do desejo e do corpo, embarca facilmente na retórica do “direito ao meu corpo” que as feministas tanto apregoam. Infelizmente, por falta de conhecimentos do seu corpo, essa faixa social, nem prazer tem, constituindo-se um elemento de propaganda dos valores da esquerda. No relatório Alfred Kincey, feito nos EUA na primeira década do século passado, está lá tudo o que as meninas do BE deviam saber – mas não lhes interessa. E sabem por quê? Porque tanto os comunistas como as donzelas tatibitates, não são as pessoas que lhes interessam, são os tratados, as leis, os acordos, as ideologias. Eu nunca ouvi falar de pessoas a nenhum dos meus amigos das esquerdas. A rapariga que nos recebeu, estudante de Belas Artes, esteve sempre do meu lado, combativa, assertiva e dando-me razão no confronto com o João Corregedor. 


sexta-feira, junho 24, 2022

Sexta, 24. 

Numa breve resenha dos acontecimentos recentes, retendo por revoltante a decisão de uma juíza do Reino Unido de vir a entregar Assange aos americanos. Pessoas como ele e o nosso Rui Pinto, deviam ser louvadas porque sem elas muita podridão dos Estados e dos governantes, nunca veriam a luz do dia e da justiça. Olhe-se o caso do Benfica, que devíamos agradecer de joelhos ao jovem Pinto por ter trazido para a ribalta com o denominado Wikileaks. 

         - Macron, o pobre individualista convencido, levou uma lição dos franceses. Contou, claro, a abstenção que ficou em 53 por cento, mas sobretudo o facto de ser ele o primeiro Presidente a não conseguir confirmar nas legislativas o score das presidenciais. Sendo arrogante e uma espécie de monarca absoluto, pergunta-se como vai ser o seu segundo mandato numa Assembleia esfarrapada por diversos partidos, e onde o povo não lhe deu a gloria de ser o maior. Muitos dos seus ministros, nomeados pouco antes das eleições, foram corridos pelo voto popular (até Jean Castex!). Mas ficou o todo torto, coitadinho, Damien Abad, ministro dos deficientes, que tem aos ombros a acusação de várias mulheres que dizem ter sido violadas pelo homem. É de estrondo! A provar que pode-se ser coxinho, coitadinho, não ter braços nem pernas, e ter apesar de tudo o mulherio que acode ao facto de no essencial, isto é, no centro do corpo não haver estragos que impeçam a surpresa e, porque não dizer, o delírio! (O Kennedy, que tinha uma perna mais curta que a outra, dizem que gozava que nem um perdido, chutando para o lado a calço da perna pequena que descaía no momento do êxtase...) Seja como for Macron está bloqueado entre dois extremos: os farrapitos da esquerda e os farrapões da direita. Porque se algum ganhador houve, foi Marine Le Pen. 

         - Para cima de mil mortos e centenas de feridos num sismo ocorrido no Afeganistão. Ao país não faltava mais nada, que este tremendo revés depois do abandono desumano dos Estados Unidos, da ditadura dos novos donos e da fome e miséria e humilhação e escravidão do povo afegão. 

         - Outro dia, abrindo o guarda-sol, dou com uma mancha negra no interior que parecia um ratinho de campo. Sacudi-o e como ele não se tivesse mexido, tomei-o pelos dedos e quando lhe peguei duas grandes asas abriram-se, majestosas. Era um bebé morcego lindíssimo. Para que o Black não o apanhasse, coloquei-o debaixo das hortênsias à fresca. Espero que tenha sobrevivido.  


quarta-feira, junho 22, 2022

Quarta, 22. 

Assim que entrei em casa vindo de Caldas da Rainha, fui mergulhar para fazer 150 metros. A água arrefeceu muito, mas eu gosto da chicotada que sinto quando entro nela. À parte isso que dizer senão que foi um prazer estar com a minha amiga de longa data, passear no seu jardim sem fim, percorrer o mercado diário no centro da cidade, conversar no salão horas a perder de vista, as refeições alongadas pelo impulso e atropelo das discussões (veremos mais tarde). Somente a leitura do livro de Jean d´Ormesson me ocupou o tempo. Um belo fresco sobre uma vida, uma época, os seus personagens, nascidos e criados com o autor, num tempo entre as duas Grandes Guerras e após a segunda numa Europa empobrecida, a refazer-se, com o cruzamento de ideologias, a tentativa de imposição marxista-leninista, a vitória de de Gaulle e por fim uns quantos anos de paz, de labor, de aperfeiçoamento da democracia até aos nossos dias, onde tudo parece estar a voltar para trás para de novo se reconstruir com sofrimento, alienação, enriquecimento de alguns, morte de milhões, e vidas exangue... 

         - Mas o mundo não pára e está agora a reconhecer os erros da globalização que nos impuseram com o propósito do equilíbrio, do bem-estar, da riqueza equitativamente distribuída a par do pleno emprego para todas as nações e continentes. Mais uma das monumentais mentiras que os lobbys paulatinamente foram alimentando os fracos e gananciosos e aéreos políticos da segunda metade do século XX aos nossos dias. Quem visivelmente lucrou, foram as multinacionais, com elas os muito ricos triplicaram, os muitos pobres quintuplicaram. Onde há riqueza excessiva, há pobreza desumana. Nunca a desigualdade foi tão acentuada, nunca o cidadão comum tão abandonado à sua sorte. Primeiro, a nossa querida União Europeia pagava para acabar com sementeiras, vitiviniculturas, etc. confiava nas boas intenções dos países da antiga Cortina de Ferro; hoje a aposta de suas excelências aí está para dar razão aqueles que pediam cautela, menos ambição, e não confiavam em países dominados por um homem só com os costados protegidos por umas quantas aberrações graduadas do Exército ou Armada. 

         - Soube-me bem ficar estes dias sem abrir o computador. O meu cérebro precisava de descansar, ter ideias todos os dias é esgotante, pensar no enredo romanesco é trabalho que não dá um minuto de sossego. Assim oxigenei os miolos e o desajuste entre mim e o tempo que me coube viver, parece que se atenuou e até já olho António Costa e a menina do BE com outro olhar. Bem sei que o primeiro labora para a sua promoção pessoal, pisca o olho aos parceiros influentes - Macron e Scholz – e o que se passa no seu país, é apenas rampa de lançamento pacóvio e provinciano para voos mais altos. Está tudo a rebentar pelas costuras, mas Costa que vive nos cumes da ambição, segue no seu delírio e quer ver-se livre de um país onde todos berram e ninguém tem razão.  


sábado, junho 18, 2022

Sábado, 18.

O mundo de hoje é governado com blá blá blá. Tomam-nos por idiotas e falam-nos umas vezes ao coração, outras ao ouvido, algumas vezes com palavras acompanhadas de lágrimas hipócritas, outras mafiosas, mas sempre convencidos que têm o dom da oratória e da persuasão. Como a overdose de discursos e locuções é uma praga que ninguém suporta, jogam no entorpecimento para disfarçar o engano, a mentira e o cinismo – armas com que dirigem hoje os povos. Consomem rios de horas, dias, meses e anos em reuniões, viagens, jantaradas, hotéis de cinco estrelas, numa vida giratória de jactância, competindo entre si a ver quem sai favorecido com a melhor frase, anedota, sorriso ou fato de ver a Deus. Tudo isto em nome do seu povo que, evidentemente, os alcunha de tudo e mais alguma coisa, farto de ser aldrabado, humilhado, empobrecido, extorquido. 

Vem este preâmbulo a propósito da visita que os quatro reis magos fizeram esta semana a Kiev. Foram para serem vistos e não para cumprirem o prometido que os milhares de horas gastas em falatório não ousaram clarificar e muito menos conceder: armamento, definição concreta da entrada na UE, instrução militar, protecção nas vias marítimas e terrestres para a exportação de cereais, novos planos de travagem da guerra, sanções suplementares à Rússia etc. etc.. A Europa acordou tarde e a más horas e ainda hoje é uma máquina pesada, parlatório a rodos, mas acções ronceiras, acompanhadas de muitos cafés, grandes jantares, noites idênticas As Mil e Uma Noites de que nos fala Xeherazade a espertalhona sultana que também vivia de história. 

A chegada dos reis magos 

         - Praticamente, todos os dias, colho uma tijela de morangos. Têm um sabor, perfume e doçura que não se encontra nos industriais. Tenho alguns canteiros com vários anos, que se renovam sem que eu faça grande coisa por isso. Estão a chegar as ameixas com as árvores plenas. Antigamente a Piedade ia ao mercado vender uma parte desta produção, mas agora mais velhota, como-a eu, dou-a, e faço compota.

 

         - O caramanchão de hortênsias e espigas de alfazema atingiu uma tal imponência., que cobriu completamente o tanque que existe atrás desta beleza que entontece os sentidos. É o meu oásis terrestre, o meu sítio íntimo onde nos fins de tarde me encosto para meditar e admirar estes seres frágeis e pujantes de vida e onde alinho estas linhas. Vou dar um salto a Caldas da Rainha ter com a Alice a quem prometo há meses deslocar-me até à sua quinta em verdade um vasto jardim de quatro hectares. 

(toque com o rato nas fotos) 



sexta-feira, junho 17, 2022

Sexta, 17.

O fiel de Costa, agora nas Finanças, saiu-se com esta: o problema do SNS e dos médicos que faltam por todo o lado, não é uma questão de dinheiro é uma questão de reestruturação. Será, sem dúvida. Todavia, do que eu ouço falar é de salários baixos, horas suplementares pagas ao preço das empregadas domésticas e assim. Houve dinheiro para aumentar os juízes em 700 euros/mês com o pretexto de acautelar a dignidade dos mesmos e evitar a corrupção. Puro engano. Depois desse escandaloso aumento, a Justiça não melhorou, alguns juízes continuaram a ordenar sentenças pagas por debaixo da mesa, corrupção de ordem vária, prisões e interdição de actividade. 

         - De resto, acho que é todo funcionalismo público que devia ser reestruturado. Pertencer ao Estado, é fazer parte de uma espécie de aristocracia de pobres indígenas, que cresceu à sombra da pandemia, fechou portas ao cidadão e abandonou-o aos decretos de lei que o afrontam com coimas, penhoras e prisão. Estes nobres ganham bem, têm um sistema de saúde próprio, não podem ser despedidos, trabalham pouco (35 horas por semana enquanto o privados laboram 40), respondem deselegantemente aos utentes, para quem o cidadão é sempre ladrão, por ludibriar o Estado, fugir aos impostos, etc.. A virtude está do lado deles, mangas de alpaca que estacionaram no Estado Novo e daí não descolaram. 

E percebe-se porquê – a sua força é a dos sindicatos. Este pobres seres, nem se dão conta que são manipulados - sem administração pública aqueles não existiriam e não expandiriam as suas ideologias bufadas pelos partidos. É todo um esquema onde todos ganham menos o cidadão. É da gestão dos sindicatos reclamar mais funcionários, apregoar a sua falta, exercer pressão sobre o governo para aumentar o seu número, impulsionar greves. Que nesta altura já vai em 741.288 trabalhadores, isto é, cerca de 15% da população empregada! As pensões de velhice são óptimas com o valor médio de 1341,94 euros mensais por comparação com a Segurança Social onde a pensão média é de 415,30 euros/mês. Olarilas! Sempre foi uma bênção do céu pertencer aos quadros do Estado, não só como deputado, ministro ou gestor público, como amanuense. 

         - Talvez generalize demais. O facto porém, é que em tantas vezes que me dirigi a uma repartição pública (só as frequento desde que pedi a reforma antecipada, antes tinha quem se ocupasse dos meus affaires), só duas vezes tropecei em funcionários competentes e amáveis. Duas únicas vezes! A derradeira, há três semanas, deparei com a secção fechada e uma funcionária à porta respondeu-me: “Agora só recebemos por marcação. Ou então venha às 5 da manhã tomar lugar na bicha como as pessoas fazem!!!”

         - A Rússia diz que umas centenas de mercenários portugueses combatem na Ucrânia e eliminou pelo menos 19 dos nossos concidadãos. Nada disto é para levar a sério, atendendo ao mentiroso e sinistro homem que iniciou em Fevereiro uma guerra idiota contra aquele país. 

         - Regressei há pouco do Chiado depois de ter passado no C.I. às moscas para comprar o jantar. Mal cheguei, atirei-me a fazer 150 metros de natação. A água está mais fria, mas é assim que eu gosto. 


quarta-feira, junho 15, 2022

Quarta, 15.

A verdade é esta: o que nos opõe à dialética de Karl Marx, foi o seu aproveitamento desde o séc. XIX aos nossos dias.  

         - Que l´univers n´est qu´un défaut / Dans la pureté du non-être... diz Valéry. Parménides opõe-se ao Néant: L´être est, le Non-Être n´est pas. – portanto, o Ser para ele é a substância. Ponto final. 

         - Neurasténico. Não saí de casa, abri o romance e depositei 18 linhas. De tarde dormi a sesta, li umas vinte páginas, fiz um bolo de laranja – eis como um dia que não chegou a acontecer termina. E como tudo nele foi inesperado - a chuva tocada a vento forte acomodou-se para a noite.


terça-feira, junho 14, 2022

Terça, 14.

Ontem quando cheguei a Lisboa, vi-me de súbito na capital da minha adolescência: pouca gente nas ruas, metro quase vazio, ninguém a correr, cafés e restaurantes com clientela nativa, um certo ar civilizado que os turistas destruíram. Ainda por cima, o Fertagus com poucos passageiros, carruagens com bancos sem ninguém, ar condicionado a fazer as honras àqueles que nelas iam. No Corte Inglês não havia as habituais moscas brejeiras, espaços livres sem vivalma. Saboreei, por isso, o pequeno bistrot do primeiro andar, onde me demorei a pensar, perdido na sombra imensa das recordações, arquitectando o desastre que foi para Ana a morte inopinada do marido, como Proust diante da chávena de café. Estava-se ali bem, interior refrescado, a ver o tempo deslizar na teia da memória, o murmúrio das vozes e das escadas rolantes tangendo ao longe uma melodia que não feria antes adormecia. Todo este salvíssimo milagre, deveu-se a Santo António que na véspera lançara nas ruas toda a brejeirice refinada de rufias. 

         - Na primeira volta das eleições legislativas francesas a abstenção foi a mais votada. Macron e Mélenchon ficaram fit-fit. Quero acreditar – como de resto a socialista Annie ontem ao telefone – apesar de eu detestar o actual rei de França, espero que os franceses não entrem na aventura daquela famigerada união de esquerda. Os franceses como os portugueses, os alemães ou ingleses, estão fartos desta elite política que os governa. É tudo de uma grande mediocridade, incapaz, sem nível nem capacidade moral e pessoal. Não conseguem combater o flagelo da corrupção, porque são afilhados, camaradas, comadres ou sabem qual das duas mãos é a melhor para rapar o tacho. 

         - É minha convicção que o SNS ou leva uma grande volta ou vai agonizar na falência total. Está tudo errado nele, só o pessoal médico, enfermeiros e assistentes, são de puro quilate. Eu sei do que falo. Embora só uma vez na vida tivesse usado uma unidade  hospitalar, vou de quando em vez a consultas e fico sempre humildemente agradecido a todos aqueles funcionários cheios de paciência e humanidade, horas a fio de uma dureza incrível, com uma palavra, um afago, um sorriso de estímulo à cura. Quando tantos os desafiam a começar pelos míseros 1800 euros líquidos, as horas de quase escravatura de turno, a deixar o público onde os privados os esperam, não para serem clínicos, mas empresas em nome individual, com tudo o que isso tem de precário e frustrante, eles resistem porque sabem que a carreira que escolheram descende da entrega total aos seus doentes. Se ninguém fizer nada pelo SNS ele vai rebentar tarde ou cedo, mais cedo que tarde. Dizem-me que eu tenho muitos leitores nestas classes profissionais, médicos e enfermeiros, sobretudo à noite quando as horas esgotantes são difíceis de passar. Se assim for, aqui deixo o meu agradecimento. 


segunda-feira, junho 13, 2022

Segunda, 13.

Pelo lado dos grandes ditadores – Xi Xiping ping ping, Vladimyr Putin e Kim Jong-un – parece existir uma vontade férrea de iniciar a guerra contra os EUA e por contágio à Europa. Os três entendem-se muito bem, adormecidos à sombra das bandeiras que exibem a foice e o martelo, mas que hoje se traduzem em ideologias capitalistas mil vezes piores que a dos Estados Unidos. O boneco de borracha, acabou de elogiar Putin no dia da Federação Russa, o da china fá-lo à socapa e todos articulam entre si formas de o momento chegado disparem à queima roupa. O ping ping este fim-de-semana até ousou desafiar Biden a propósito de Hong Kong. Piano, pianíssimo a guerra vai-se arquitectando e quando uma manhã acordarmos, temo-la em pleno sobre as nossas cabeças.

         - Seriam seis da manhã, e já eu andava a regar. De seguida, fui cortar grossos troncos de um damasqueiro que estavam secos. Trabalho difícil, a exigir não só força como contenção de pernas e braços. Nada que um duche não curasse. Assim limpo, barbeado, deixando os trapos que tanto gosto e com eles vou a todo o lado, e sou olhado como pedinte, sentei-me à mesa de trabalho e avancei no romance (sempre os melhores e inolvidáveis momentos do dia, da vida). Depois do almoço, vou dar um salto a Lisboa. Dia cheio de Sol, do Sol de que fala Paul Valéry:

Soleil, soleil!... Faute éclatante!

Toi qui masques la mort, soleil...

Tu garde le coeur de connaître 

Que l´univers n´est qu´un défaut

Dans la pureté du non-être...

Toujours ce mensonge m´a plu

 Que tu répands sur l´absolu,

Ó roi des ombres fait de flamme! 


domingo, junho 12, 2022

Domingo, 12.

Marcelo Rebelo de Sousa prossegue a sua viagem real. De Londres foi dar uma volta por Malta, e antes de deixar a capital londrina, visitou, imagine-se, um hospital que tem uma grande percentagem de enfermeiros portugueses ao seu serviço, isto ainda dentro do Dia de Portugal (e de mais não sei o quê). Diante de uma plateia de meninas embasbacadas, elogiou o seu trabalho, disse que o Reino Unido lhes estava grato pelo seu excelente profissionalismo, aprendido em Portugal. Sua excelência tem lata para tudo e espalhafato para muito mais. Eu esperava que alguém da assistência lhe perguntasse se sabia a razão pela qual largaram família e amigos, a sua terra e os doentes, para ir exercer num país que nada as cativa à parte o salário e as condições profissionais e estarem fartas de serem maltratadas e desprezadas pelo Estado. Ao invés, vi-as de telemóveis a tirar fotos e a fazer filmes, do presidente que vai ficar na história como sendo o das selfis. E não só: também como porta-voz do primeiro-ministro. 

         - Às seis da manhã já regava árvores e jardim, punha o robot em andamento, cumpria o programa culinário, e às nove caí, esgotado, para o lado. Dizia-me outro dia uma leitora que a descrição dos meus dias a cansam e se tivesse o meu número de telefone me pedia que parasse, suspendesse a rotina dos afazeres. É com toda a certeza uma citadina, esta minha generosa leitora. De contrário, sabia que a natureza não está dependente de arrufos existenciais, apetites ou fadigas. E já agora cara amiga, prefiro esta forma de vida, que aquela de milhares de seres circunscritos a casa, aos centros comerciais, o dia-a-dia madraço que os puxa para a morte antecipada. Mesmo a quatro patas, temos de continuar porque só assim renovamos energias e somos por inteiro abençoados pela vida. A propósito, vou fazer 300 metros de natação. Não sou o andarilho de sua excelência o Presidente da República, mas lá haverei de chegar. 

Talvez por ser domingo, Black associou-se numa prece.

         - 18 horas e dezoito minutos. Não, não consegui passar dos 220 metros. Tinha o cérebro demasiado inquieto para ler os artigos de Fr. Bento Domingues e Teresa de Sousa e ainda ouvir Brahms e Bach que com Beethoven formam o trio de compositores divinos no concerto de domingo da ARTE. Rendo-me às duas pernas do nadador que habita o Palácio de Belém (espero se tenha atirado ao Tamisa), embora magrinhas e iguais (pobrezito) não se comparam às minhas de cada nação. 

         - Espero que Chou Chou ganhe a maioria contra o pequeno ditador e falso democrata, Mélenchon. O homem é um cata-vento, um ganancioso de poder, uma personalidade extremista à boa maneira dos bolcheviques. 


sábado, junho 11, 2022

Sábado, 11.

O povo português, melhor dizendo, “a arraia miúda”, foi elevada à categoria do melhor do mundo por Marcelo em dia de Portugal (e mais não sei o quê). O discurso pomposo, começou em Braga e terminou em Londres. O Presidente da República, faz-me lembrar aqueles pais que educam os filhos convencendo-os que são os maiores, e vai-se a ver, à primeira contrariedade, logo caiem no desânimo, na apatia e na recusa em enfrentar a realidade que nada tem a ver com o mito construído em casa. Enfim, sua excelência, não é para se levar a sério. Na verdade os portugueses são até o oposto daquilo que ele vangloria. Portanto, como diz a outra, blá blá blá. Pobre do ministro dos Negócios Estrangeiros que tem de gramar aquilo com cara de quem suplica: “Tirem-me desta feira de enganos!” Eu que tinha pouca simpatia por ele, passei a estimá-lo do fundo do coração... 

         - Parece que os americanos só agora interiorizaram que o assalto ao Capitólio foi uma tentativa de golpe de estado. Trump vai candidatar-se de novo em 2024, mas há outro comediante que é pior do que ele na fila de ataque: Jimmy Fallon. O problema é que Biden é fraco, pouco credível, está gasto. 

         - Como este ano me adiantei à passarada, pude colher uma considerável porção de damascos que hoje comecei a transformar em compota. Mas há mais alegria da alegria! Tendo esta manhã começado a puxar a mangueira de 50 metros para longe, onde as árvores necessitam de um pouco de água, encontrei uma velha pereira que, desde que a plantei há 30 anos, só uma vez me deu o direito de saborear os seus preciosos frutos. Hoje deparei-a plena, a abarrotar de pêras, e ajoelhei-me em acção de graças, prometendo aos pássaros não lhes deixar um só exemplar. Mas o dia foi duro, como são sempre os fins-de-semana. Mais a mais com os termómetros a bater nos 35 graus. Felizmente que o aquário está divino e ontem estive mais de uma hora na nadação (Madame Juju andas sempre no meu pensamento). Entre hoje e amanhã, conto fazer uma tarte de legumes, bacalhau com natas, gaspacho e uns quantos frascos de compota de damasco – tudo para arquivo.  

Quem levar um chefe assim, tem com que se entreter... 


sexta-feira, junho 10, 2022

Sexta, 10.

Há uma notícia aterradora: a condenação à morte de três homens por ajudarem a Ucrânia na guerra contra Putin. Dois britânicos e um marroquino foram acusados de terrorismo por combaterem ao lado do exército ucraniano, em Mariupol. Moscovo que pratica uma guerra terrorista em toda a acepção da palavra! Cada vez mais sinto que nos aproximamos da guerra global. 

         - Porque os efeitos colaterais sobre os povos no mundo, começam a apertar e a dor com a fome já presente em vários continentes, nomeadamente, o africano. Nós por cá – e quando falo nós, digo a Europa – começa a ficar impaciente e não aceita as restrições e sacrifícios por que temos de passar para não termos a Terceira Guerra Mundial que, essa, destruiria as nossas vidas irremediavelmente. É preciso consciencializarmos isso e começarmos a reduzir os excessos que as sociedades industriais e consumistas, nos oferecem com o seu habitual egoísmo e arrogância. 

         - Esta manhã pelas nove horas, fui ao supermercado. Assim que entrei, deparei-me com três mafiosos de t-shirt à cava, barbudos, corpos luzidios do bafo das noites de orgia, vozes potentes audíveis em toda a superfície comercial, dizendo com insistência um para o outro: “O meu namorado não há meio de chegar, começo a ficar preocupado.” Serena-o o companheiro: “Não te preocupes, ele ama-te.” Quando nos encontrámos no caixa, eles insistiram em pagar-me a conta, agradeci e recusei. Nesse entretanto, o que estava junto a mim começou uma conversa doidivanas com a empregada, que deu não sei quantas, etc.. Volto-me eu e digo para a rapariga: “Não ligue, porque lhe ouvi falar do namorado - acrescentando: Não é que isso me incomode.” Foi quando o girafa me respondeu: I ´m English.” No tapete rolante, duas caixas de cerveja e pouco mais. Gente moderna.     

         - Já aumentei os ciclos de natação. Ontem e hoje 200 metros sob céu de um azul acolhedor que vela por mim e por todos os terrestres. Duas horas estendido ao sol, apenas com o anel do século XVII que comprei há muitos anos quando fui ao Louvre no início de centenas de viagens a Paris, folheando livros ou lendo artigos de jornais atrasados. 


quinta-feira, junho 09, 2022

Quinta, 9.

É completamente inverosímil ver a esquerda minoritária teimar nos valores que, ao contrário do que ela diz, não são apologias da dignidade humana antes da morte. Quer a eutanásia quer o suicídio assistido, mais não são que o bilhete para embarcar desta para melhor (como se costuma dizer). Há tanta coisa para melhorar na nossa sociedade, milhares de pobres que é urgente acudir, milhares que aguardam por uma cirurgia ou simples consulta, o custo de vida que cresce e assusta os portugueses, o SNS com os médicos esgotados, os serviços a derrapar, o sofrimento a aumentar, as empresas a cair, a comunidade dos pobres e velhos assustada, e vêm eles, como se vivessem numa outra qualquer galáxia, falar de um assunto que não tem nenhuma urgência, senão o apetite de cumprir programas partidários, impor-se aos que o povo deu a maioria dos votos, em vez de desenvolver serviços paliativos que permitem aos doentes morrer com dignidade e sem sofrimento quando Deus os chamar. Depois admiram-se que os projectos do Chega sejam os que apontam no caminho certo como o referendo que o partido defende. E muito bem. Ela, esta esquerda provinciana, quer impor na Assembleia da República as suas ideologias, os  seus programas esfarrapados, a sua arrogância que nas urnas foi castigada. Digo daqui, desta página que não se cala, que A VIDA É SAGRADA.   

         - Ao fim da tarde desce a cortina suave da sombra sobre a casa virada nascente. Foi minha preocupação adornar o espaço dos odores e das cores do Verão, dos roxos da alfazema, dos rosas das hortênsias, dos brancos das flores da laranjeira. É à roda da mesa larga, que descanso do dia de múltiplos e alguns difíceis afazeres. Às vezes faço o computo das horas aí, sob o guarda-sol, o olhar no computador outro no panorama florido onde mergulho em pensamentos. Serenidade, paz, prazer da vida traduzida nas coisas simples que os meus contemporâneos, preocupados em enriquecer, em “vencer na vida”, em agitarem o porta-moedas como feirantes entregues ao desafio pelintra que os reduz à banalidade da existência, não sabem que existe e é o triunfo do futuro. 




quarta-feira, junho 08, 2022

Quarta, 8.

“A forma como está montada a fiscalidade no sistema de transportes e dos próprios combustíveis faz com que seja mais barato trazer produtos agrícolas da Argentina para Lisboa do que da Beira Interior”, acusa o professor Álvaro Costa da Faculdade de Engenharia do Porto. Está nesta radiografia, o Portugal que nenhuma propaganda pode rebater. 

         - Com os tempos desencontrados que a pandemia nos impôs, quando ontem desabafava que havia dois anos que não nadava, a que o meu cérebro se queria referir era à incapacidade de no Outono e Inverno poder ir à piscina municipal fechada ou condicionada pelo vírus maluco que nos paralisou. De resto, como poderia eu esquecer os meses inolvidáveis do Verão passado, quando o robot entrou para me aliviar o esforço semanal de limpar, escovar, aspirar um tanque a céu aberto, apenas coberto pelo azul da abóboda celeste! Lembro-me bem das tardes maravilhosas, das braçadas epopeicas, das horas estendido ao sol a ver livros de arte, a tisnar, a pensar... 

         - Não, não gosto da opção de Zelensky embora a perceba de suprimir dos currículos escolares e da toponímia das cidades referências ao passado histórico, à Rússia, aos autores russos e assim. É o que fizeram os comunistas quando voltaram do exílio e se apoderaram do MFA. Como se a História se comovesse com esses actos radicais que pretendem substituir o mal por outro ainda pior, quando o que deviam era informar, esclarecer, comparar e formar os seus compatriotas para a diversidade de ideias, de pontos de vista políticos, de discussão aberta. O excesso de nacionalismo nunca o apreciei - dá para tudo e, sobretudo, para a opressão. Na razia até o pobre Tchaikovsky tão mal amado na ex-URSS e escritores universais russos estão condenados ao silêncio. Se este é o caminho, não auguro nada de bom para a futura Ucrânia. 

         - Faleceu Paula Rego. É uma grande perda, uma mulher sem complexos, uma artista original, uma pintora que soube trazer para a tela as histórias que roubava a realidade e aos escritores. 




terça-feira, junho 07, 2022

Terça, 7. 

Costa, mesmo com maioria, continua o propagandista de serviço. Agora saiu-se com esta: até ao fim da legislatura os ordenados têm de aumentar 20%. Em paralelo só reconforta os funcionários públicos com menos de 0,9% mês este ano. Du chinois.   

         - Boris Johnson mantém-se em Downing Street contra a vontade de certa imprensa portuguesa e sem surpresa para mim. A moção que os jogos políticos levaram ao Parlamento, saiu derrotada por 211 votos contra 148. O inteligente e arrojado primeiro-ministro, vai pois prosseguir a sua política a bem do Reino Unido, da Ucrânia e União da Europeia. 

         - A este propósito, cito Teresa de Sousa na sua página de domingo no Púbico. “Ironia das ironias, tem cabido ao Reino Unido o papel liderante no apoio europeu aos ucranianos. (...) São o país (Reino Unido) europeu que mais armas e ajuda financeira fornece a Kiev, nomeadamente, as armas pesadas de que eles precisam agora, mais do que nunca. Johnson foi o primeiro líder a visitar Zelensky em Kiev. Negociou com a Suécia e a Finlândia um acordo de defesa, que lhes dá garantias de apoio militar durante os meses que ainda não são membros da NATO e, portanto, não estão ao abrigo do Artigo 5º. São os serviços de informação britânicos quem fornece uma parte substancial da informação de que as tropas ucranianas precisam para antecipar os movimentos das tropas russas.” E remata: “ Se era precisa uma prova de que, do ponto de vista britânico, o “Brexit” foi um monumental disparate, cá está ela. Se era precisa outra prova de que a União “não ficou muito melhor sem o Reino Unido” como se dizia em Bruxelas, ela também aqui está. Bastou uma guerra.”   

         - Dia Glorioso! Não tendo deixado este convento, cedo comecei a capinar ao longo do muro de silvas que o homem outro dia cortou e eu tive de remover para um monte de forma a queimá-las no Inverno. De seguida regas. Duas horas e meia mergulhado na narrativa da morte de Leonardo que – talvez - vá desenvolver um pouco mais o período que antecede o seu falecimento. Almoço. Dez minutos de soninho. Duas horas de leitura e pelas cinco, enfim, ao cabo de dois anos, mergulhei e fiz 200 metros de natação. Quero começar piano, pianíssimo, e gozar as horas no cerco incomensurável de beleza que levei trinta anos a criar.  

O azul imaculado do céu, as sombras e o silêncio compõem a beleza serena da paisagem.   



domingo, junho 05, 2022

Domingo, 5.

Os nossos jornalistas decerto empurrados pela consciência ou movidos pelo movimento, estão a enaltecer o papel do Reino Unido na pessoa do seu primeiro-ministro no concerne à ajuda e à visão da guerra na Ucrânia. Até já dizem que Boris Johnson fez, só, aquilo que a União Europeia não fez enquanto comunidade – tudo o que eu venho afirmando nestas páginas. Bem sei que não foi bonito a história ou histórias das festas durante a pandemia, mas essas escapadelas às suas próprias decisões colectivas, não passam de faltas simples de personalidade e não são de modo nenhum o pecado capital que o afaste do poder. A nossa esquerda pensa que à distância pode influenciar as decisões do povo britânico – tire daí o sentido.  

         - E temos Tiananmen que ela proíbe que se fale. Xi Xiping ping ping carrega forte em todos quantos a recordem, seja na China, Macau e, sobretudo, Hong Kong. Aquilo é o comunismo puro e duro, onde a ideologia de uma clique passa à frente do povo e onde tal como na Rússia, o ditador legislou que quer ficar no poder até à morte. A Europa e Portugal à frente, ama os investimentos chineses, a Rota da Seda já foi aprovada pelos nossos governantes, e montes de negócios foram selados que nos vão tramar quando chegar a hora de a China nos pôr a pata em cima. Mas isso os governantes de hoje, sem visão estratégia, obcecados pelos negócios, vendem o seu próprio povo por reis mel coados.  

         - É muito curiosa e enriquecedora a liberdade que Jean d´Ormesson toma para si no livro que estou a ler com muito interesse. Ele não se priva de falar de nada, mesmo quando o tema é as primeiras vivências sexuais, nomeadamente, a abordagem da homossexualidade. Que diferença entre os nossos eternamente candidatos ao Nobel! A literatura portuguesa é pequenina, rasteirinha como o país, vive sob estereótipos, pequenos segredos, personagens sem dimensão nem força, construídas a partir de nada, porque os seus criadores nada sabem da vida ou a viveram protegidos pelo faz-de-conta, para poderem construir um romance com dimensão humana. Por isso, a literatura dos últimos anos é para atrasados mentais, com as suas histórias de embalar, seus temas ligeiros que não ferem nem abalam ninguém. Eu já abordei o assunto em dois romances que as editoras me devolveram dizendo que o tema não lhes interessa ou, mais hipocritamente, não cabe em nenhuma colecção. Num deles (a história do médico Peter de Santa Clara) o assunto é estudado em profundamente; no outro apenas abordado no contexto difícil da personalidade de uma das personagens central da história.     

         - Há pelo menos um ano que não lavava o carro. Outro dia, no estacionamento da estação, um engraçadinho deixou um papel com estas palavras: “Não laves o carro que não precisa.” Aconteceu hoje, resolvido o trabalho na piscina com a ajuda do robot, a preparação de um prato para arquivo, ida ao super, regas e outros pequenos-grandes nadas. Não foi bem a limpeza que ele precisava, antes uma mangueirada para enganar a polícia e evitar acidentes. Apanhei um cabaz de alperces. A quantidade este ano é tanta, que vou ter de fazer vários frascos de compota. No oposto estão os pêssegos – apenas um exemplar! Felizmente as figueiras anunciam quantidades de fruto. Assim como o marmeleiro não pode de carga. Já o diospireiro não mostra ainda ao que vem depois da overdose do ano passado. Com esta enumeração minuciosa, pareço o Orwell a registar diariamente o número de ovos das suas galinhas... Qual o que! É assim um verdadeiro diário! 


sábado, junho 04, 2022

Sábado, 4.

Sua alteza a Rainha Isabel II, ontem assim que acordou, perguntou ansiosa ao filho, futuro rei de Inglaterra: “The sweet president of North Korea hasn´t congratulated me yet, do you think it´s going to happen?” O príncipe Carlos franziu o sobrolho e não deu resposta. Pois não é que à tarde, o pimpolho ditador lhe enviou felicitações! Ao que o mundo chegou! 

         - Justamente. Quando depois do almoço me sentei lá fora a ler calmo e confortavelmente o livro de Jean d´Ormesson, pensei nos ucranianos que à mesma hora sofriam horrores com os bombardeamentos, as mortes, a destruição, o futuro adiado, a vida suspensa. Senti-me, como direi, culpado, espectador de ver a guerra através da televisão, como filme que não nos toca e entretém. A guerra, esta guerra, perturbou-me e não deixo de pensar nela e ao pensar atiro injúrias a Putin e a quem o apoia. Porque não há razoabilidade nisto, em nada o que com ela se relacione. Gosto de ouvir diariamente o José Milhazes porque ele viveu o logro da ideologia servida quente, e quando se exprime fá-lo com conhecimento de causa e não suportado por sonhos de igualdade e ditaduras do proletariado. A propósito, se porventura ele tropeçar nestas páginas, aconselho-o a pedir protecção policial – Putin já matou vários adversários no estrangeiro. 


sexta-feira, junho 03, 2022

Sexta, 3. 

Os crimes com armas de fogo, são uma espécie de marca d´água da América. Um novo atirador entrou num hospital do Oklahoma e matou pelo menos quatro pessoas dando-se de seguida a morte. O tresloucado quis atingir o médico ortopedista que o tinha operado deixando-o pior. Ontem outro atentado num cemitério. O que explica esta série de atentados? Ninguém sabe. É a sociedade num todo que está doente, embora os lobys das armas digam que são os que as utilizam para matar que padecem de males psíquicos.  

         - Todo o mundo fala do artigo do guru de economia publicado no Observador, senhor Aníbal Cavaco Silva. O homem não se conforma em ficar calado e, de quando em vez, dispara tiros em todas as direcções, não tanto para enriquecer o discurso político, mas para se vangloriar. A direita liberal rejubilou. Mas sua excelência senhor doutor, economista, professor, Presidente da República e coleccionador de presépios e cidadão pobre com mais de 10 mil de aposentação, não obstante o tanto que sua excelência fez no domínio das reformas (alteração da Constituição, Bases do Ensino, privatização dos meios de comunicação social, reforma fiscal (IRS e IRC), ufa fiquei cansado!, Portugal não deixou os dois últimos lugares na cauda da Europa. Sim, porque sua excelência, prometeu tantas vezes que o país voaria para os primeiros da UE, mas apesar de este afã reformista, quando deixou o cargo (já me ia a esquecer) de primeiro-ministro, Portugal estava exangue, com empresas a fechar em catadupa, corrupção em alta, pobreza a crescer, e ele a propagandear que “Portugal é um sucesso, está na moda.” No papel A/4, sua excelência atira-se a António Costa. Ora, como se sabe, sei quais são os defeitos do actual primeiro-ministro, conheço a sua governação ronha, deixa andar, sempre nos píncaros da propaganda, mas sei que o outro, com os meios que vieram da entrada na UE, fez muito pouco e não fez o principal: um país moderno, com a Ciência respeitada, pobreza residual, saúde para todos. Por isso, onde ele está “certo de que”, nós estamos “certos de que” não estamos com ele. Quanto a Costa, estou a ver em que param as coisas. Ele também tem uns mil milhões para reformar o país... 

         - Que raio de ideia festejar 100 dias de guerra na Ucrânia! Isto é subverter a dignidade humana, fazer dela o espectáculo que faz viver a máquina diabólica das televisões, da imprensa, da rádio e assim. “Qual é que vai ser o limite do apoio” militar americano (este português não é meu!), pergunta uma investigadora do IPRI (Instituto Português de Relações Internacionais)? Espero que continue a ser o suficiente para correr com o ditador das portas da Europa Ocidental. Estas duas semanas aproximaram a Ucrânia da tragédia, com 20% de território (número do seu Presidente) conquistado pelos russos. Avoluma-se a descrença, o pânico, a hecatombe. A UE acordou tarde e agora parece andar a passo de caracol. O Reino Unido, curiosamente, tem puxado pela sua velha aliada e os Estados Unidos querem vencer todas as batalhas. A pacatez europeia com Bruxelas à frente, vai ter que bulir ou então liquida-se. 

         - É assustador! Mais um caso da minha entourage atacado por covid-19: o escultor, desenhador e estudioso homem de arte dos século XVI ao XIX, Carlos Soares. Através dele o filho, o neto e suponho a mulher. Eu tinha esse pressentimento, porque quando o vi não gostei do que vi. Acontece que ele, a Teresa e o João estiveram a almoçar sexta-feira passada (eu não pude ir). João apareceu doente no sábado, a Teresa não sei. Entretanto, por economia, a Ministra da Saúde não disponibiliza PCRs gratuitos e não impõe máscara. Os hospitais agradecem, os doentes com doenças difíceis de suportar, também. O país olé olé com o Presidente da República à cabeça, vai entrar num período de festança. Onde já está o Reino Unido a comemorar os 70 anos de reinado de Isabel II, que o João mesmo doente se revoltava “com o dinheiro que o país gasta com o aniversário, e que eu respondi: “Incomoda-me mais os milhões que a Rússia gasta a invadir a Ucrânia e os mortos daí resultantes”. Calou-se. 


quarta-feira, junho 01, 2022

Quarta, 1 de Junho (!).

À minha volta, muitos amigos que escaparam às primeiras vagas de covid e foram vacinados com duas doses, encontram-se hoje contagiados pelo terrível vírus: João, Marília, Filomena e passo. Como o Governo subestima o uso de máscara, o resultado está aí: 25 mil infectados por dia! 

         - Fui à Avenida de Roma almoçar com Fr. Hélcio. Há muito que ele vinha insistindo neste encontro e à mesa do Vita Roma demorámo-nos duas horas à conversa. Como sempre acontece quando dois amigos se vêem raramente, os temas voam sem que nenhum de nós conseguisse mantê-los na linha da coerência. O atropelo era constante, a vagabundagem da incerteza dos tempos, aterradora. Ele continua a viajar muito, indiferente aos riscos, amarrado ao seu país de origem - Cabo verde. Os mais pobres, os desprezados da sorte, são o seu mundo sobre o qual exerce um trabalho dedicado apesar de ter deixado o sacerdócio. Contei ao Fr. Hélcio que uma noite destas, atormentado com a guerra imunda da Ucrânia, e nas ameaças de Putin em utilizar armas nucleares, acordei a pedir-lhe abrigo na Praia, resposta pronta: “Tens sempre a casa aberta, com ou sem guerra.” Falámos demais.   

         - A impressão que tenho é que vou rasgar a página e meia de trabalho de esta manhã. Foi isso que me ocupou o cérebro durante os quarenta minutos de viagem no Fertargus ao encontro do meu amigo.