sábado, junho 25, 2022

Sábado, 25.

Quinta-feira fui encontrar-me com os do costume à Brasileira e dali, na companhia do João, subimos ao Príncipe Real para almoçarmos no Tascardoso, velho restaurante do tempo em que ali vivi, aberto sobre o jardim, no início da Rua do Século, que o João gosta de frequentar. Hoje é um lugar caro, cheio de turistas, que cedi a ir porque o meu amigo teve um acidente e queria levantar-lhe o moral. Dali fizemos, uma a uma, as tendas dos livros em pleno “centro do mundo” como me dizia o filósofo Agostinho da Silva, meu vizinho. Como não podia deixar de ser, lá deixei uns quantos euros em obras de Jean Cau e Stefan Zweig. Um pouco mais adiante, deixando para trás a Faculdade de Ciências, mesmo em frente à igreja de S. Mamede que eu frequentei aos domingos durante toda a minha juventude, entrámos na Galeria São Mamede para ver a exposição de escultura do artista espanhol Jesús Curiá. Que não me apaixonou por aí além, dando-me a sensação do dèjá vu, embora a história que o escultor conta através de uma série de pequenas e grandes peças, me interessasse particularmente, sobretudo, a aplicação da cor sobre ferro referenciando a dor e o sofrimento, a escravidão e o abandono, seguindo o ciclo antropológico cujo início se situa em África. Contudo, espero que estas reservas pessoais, não sejam obstáculo a uma visita.  

         - Na galeria, como é habitual nestas circunstâncias, só estávamos nós. Nós e a bonita funcionária que assiste a quem entra, fornecendo conhecimentos de compreensão da exposição. Logo ali se instalou uma discussão sobre política (onde está o meu amigo, está a verruga da política). Não sei a que propósito, falou-se da descontinuação do “direito constitucional ao aborto” nos EUA. Eu insurgi-me dizendo que, embora não concorde com a sua penalização implementada a partir de agora em diversos Estados, acho que a esquerda normalmente orgulhosa deste tipo de “direitos”, devia ser mais prudente e contida quando se trata de vidas humanas. Porque a banalização do sexo, sem responsabilidade nem desejo, obedecendo ao que há de mais animal em nós, é prejudicial à mulher que pratica com frequência o aborto e transforma a vida humana num jogo de direitos que não tem em conta o feto, a mãe e a sociedade. O aborto, só devia ser exercido em condições especiais e não quando o sexo puro e duro o impõe. Sabemos que a foule sem cultura, sem conhecimentos, básica na utilização do desejo e do corpo, embarca facilmente na retórica do “direito ao meu corpo” que as feministas tanto apregoam. Infelizmente, por falta de conhecimentos do seu corpo, essa faixa social, nem prazer tem, constituindo-se um elemento de propaganda dos valores da esquerda. No relatório Alfred Kincey, feito nos EUA na primeira década do século passado, está lá tudo o que as meninas do BE deviam saber – mas não lhes interessa. E sabem por quê? Porque tanto os comunistas como as donzelas tatibitates, não são as pessoas que lhes interessam, são os tratados, as leis, os acordos, as ideologias. Eu nunca ouvi falar de pessoas a nenhum dos meus amigos das esquerdas. A rapariga que nos recebeu, estudante de Belas Artes, esteve sempre do meu lado, combativa, assertiva e dando-me razão no confronto com o João Corregedor.