domingo, junho 05, 2022

Domingo, 5.

Os nossos jornalistas decerto empurrados pela consciência ou movidos pelo movimento, estão a enaltecer o papel do Reino Unido na pessoa do seu primeiro-ministro no concerne à ajuda e à visão da guerra na Ucrânia. Até já dizem que Boris Johnson fez, só, aquilo que a União Europeia não fez enquanto comunidade – tudo o que eu venho afirmando nestas páginas. Bem sei que não foi bonito a história ou histórias das festas durante a pandemia, mas essas escapadelas às suas próprias decisões colectivas, não passam de faltas simples de personalidade e não são de modo nenhum o pecado capital que o afaste do poder. A nossa esquerda pensa que à distância pode influenciar as decisões do povo britânico – tire daí o sentido.  

         - E temos Tiananmen que ela proíbe que se fale. Xi Xiping ping ping carrega forte em todos quantos a recordem, seja na China, Macau e, sobretudo, Hong Kong. Aquilo é o comunismo puro e duro, onde a ideologia de uma clique passa à frente do povo e onde tal como na Rússia, o ditador legislou que quer ficar no poder até à morte. A Europa e Portugal à frente, ama os investimentos chineses, a Rota da Seda já foi aprovada pelos nossos governantes, e montes de negócios foram selados que nos vão tramar quando chegar a hora de a China nos pôr a pata em cima. Mas isso os governantes de hoje, sem visão estratégia, obcecados pelos negócios, vendem o seu próprio povo por reis mel coados.  

         - É muito curiosa e enriquecedora a liberdade que Jean d´Ormesson toma para si no livro que estou a ler com muito interesse. Ele não se priva de falar de nada, mesmo quando o tema é as primeiras vivências sexuais, nomeadamente, a abordagem da homossexualidade. Que diferença entre os nossos eternamente candidatos ao Nobel! A literatura portuguesa é pequenina, rasteirinha como o país, vive sob estereótipos, pequenos segredos, personagens sem dimensão nem força, construídas a partir de nada, porque os seus criadores nada sabem da vida ou a viveram protegidos pelo faz-de-conta, para poderem construir um romance com dimensão humana. Por isso, a literatura dos últimos anos é para atrasados mentais, com as suas histórias de embalar, seus temas ligeiros que não ferem nem abalam ninguém. Eu já abordei o assunto em dois romances que as editoras me devolveram dizendo que o tema não lhes interessa ou, mais hipocritamente, não cabe em nenhuma colecção. Num deles (a história do médico Peter de Santa Clara) o assunto é estudado em profundamente; no outro apenas abordado no contexto difícil da personalidade de uma das personagens central da história.     

         - Há pelo menos um ano que não lavava o carro. Outro dia, no estacionamento da estação, um engraçadinho deixou um papel com estas palavras: “Não laves o carro que não precisa.” Aconteceu hoje, resolvido o trabalho na piscina com a ajuda do robot, a preparação de um prato para arquivo, ida ao super, regas e outros pequenos-grandes nadas. Não foi bem a limpeza que ele precisava, antes uma mangueirada para enganar a polícia e evitar acidentes. Apanhei um cabaz de alperces. A quantidade este ano é tanta, que vou ter de fazer vários frascos de compota. No oposto estão os pêssegos – apenas um exemplar! Felizmente as figueiras anunciam quantidades de fruto. Assim como o marmeleiro não pode de carga. Já o diospireiro não mostra ainda ao que vem depois da overdose do ano passado. Com esta enumeração minuciosa, pareço o Orwell a registar diariamente o número de ovos das suas galinhas... Qual o que! É assim um verdadeiro diário!