quarta-feira, setembro 30, 2020

Quarta, 30.
Numa altura em que a Europa confina, Portugal está frágil e mais exposto ao coronavírus, o Governo permite que os campos de futebol ensaiam os primeiros jogos com espectadores. Esta absurda ideia, só é possível por um lado porque a cumplicidade em todos os aspectos entre política e futebol é total e porque a força desta trina na conveniência daquela a unidade e os diversos interesses. 

         - Esta madrugada, nos EUA, houve o primeiro debate entre Trump e Biden. Do pouco que vi, retiro um parecer: ao estado a que chegou a política não é de admirar que a humanidade esteja ao nível da sarjeta. O mundo em que vivemos não se recomenda a ninguém e se houvesse possibilidade de prevenir os que nos sucedem de aguentarem um pouco mais, seria de grande sagesse. O que lhes preparamos é nojo. “Raspem com a unha o gentleman sentado à mesa verde de plenipotenciário e encontram a fera.” Diz Aquilino Ribeiro em Volfrâmio. 

         - Salva-se para nosso alento, estes dias sublimes de sol que não queima e deixa na atmosfera um arrepio de júbilo. Na cidade este encanto não passa; é no campo que estas finas areias do deserto sereno e admirável nos chegam em sopro de amplitude. Apetece abraçar o astro-rei, acariciar-lhe os cabelos longos dourados, afagar-lhe o rosto sorridente de onde parte a confiança em dias melhores. Corre uma franzina aragem, enrola-se no ar um friso de melodia que sacode os ramos das árvores. Estou que não posso enrolado nesta cascata de luz e sombras. Para onde vou, não sei. 

segunda-feira, setembro 28, 2020

Segunda, 28.

Tant bien que mal, eis-me de novo em contacto regular com os meus leitores. Esta ideia, partiu do facto de ter havido suspensão na publicação do Diário. Estão editados três volumes e desde o primeiro nunca mais deixei de trabalhar nesta forma literária pouco usual em Portugal. Contam-se pelos dedos duma mão, os escritores que mantêm regularmente o registo íntimo dos seus dias. Talvez isso se deva a muitos anos de ditadura e ao facto de não estarmos habituados a falar livremente. Somos muito sensíveis e prezamos estupidamente a nossa vida íntima, como se quem somos se purificasse recolhido em nós. Os franceses, ingleses e alemães são mais dados à descoberta de si e do mundo que os rodeia. É também uma questão cultural, de liberdade, de estar no mundo olhando-o ao espelho da nossa alma.  

          - Ontem na Brasileira, durante duas horas e meia de trabalho, escrevi página e meia no Matricida. À minha volta o ruído era muito, mas eu sentia-me como se estivesse numa ilha isolada. Com uma mesa de intervalo da minha, dois homens de uns trinta anos, falavam incansavelmente de “motas”. Mas o que eu percebi foi que o tema não passava de um engate velado que nenhum deles assumia. 

         - O mundo atingiu um milhão de mortos por coronavírus. Aterrador. 

         - O Ministério Público acusa os inspectores do SEF da morte do ucraniano Ihor Homenyuk, assassinado no aeroporto de Lisboa, no dia 12 e Março deste ano. Enfim, enfim! Eu indignei-me aqui na altura e é portanto com satisfação que vejo a condenação dos energúmenos: Luís Silva, Bruno Sousa e Duarte Laja. Os três exerceram sobre o imigrante pacífico, tortura que o levou à morte: amarram-no com fita cola e lençóis, nos pés e tornozelos, bateram-lhe com um bastão metálico, deram-lhe pontapés e Duarte Laja com um pé em cima da cabeça à moda americana (os assassinos costumam ver muitos filmes americanos), embateu-a com força deixando-o a urinar e foram descansados à sua vida. Voltaram no dia seguinte, entraram folgazães e ante a evidência do crime, disseram à segurança: “Os nossos nomes não é para constarem aí, nós não estamos cá.” O corpo é enviado ao Instituto de Medicina Legal com a informação de que havia sido encontrado na via pública. O médico legista porém, não teve dúvida – tratava-se de um homicídio. Um pormenor mais: Duarte Laja, depois de terem malhado na vítima indefesa, desabafou: “Isto hoje, já nem preciso de ir ao ginásio.” Espero que tenham 20 anos de prisão. 


domingo, setembro 27, 2020

Domingo, 27. 

Começo por agradecer aos leitores e amigos inquietos com a minha ausência aqui. Ela ficou a dever-se à Google que alterou o layout e me impediu de transpor o texto escrito fora do site para este. Assim, aqui fica o que não deixei de reflectir e registar. 

Sexta, 18.

Há um pormenor que diz tudo da cena caricata entre Benfica e António Costa e seus muchachos: não foram os políticos alienados do futebol que desistiram de ter o seu nome na mesa de honra do corrupto dirigente desportivo; mas o presidente do Benfica que correu com suas excelências. Ao que esta classe política se presta para manter o poder! 

         - Eu continuo a elogiar o trio formidável da DGS: Temido, Freitas e Sales. Apesar das pressões dos analfabetos do futebol para terem os campos cheios de pagode rasteiro, eles resistem e agora com voz firme. Os números de novos casos estão já ao nível de Abril quando a pandemia dizimou por todo o lado; não obstante, a culpa dela existir é para esta corja de fanáticos da Direcção-Geral de Saúde.  

         - Estive na Brasileira do lado de dentro devido à chuva que caiu paulatinamente toda a manhã. Foi a primeira vez depois do confinamento que tomei café sentado às mesas com história. O pior desta escolha, é a quantidade de espanhóis, franceses e outros que estão sem máscara, tossindo e espirrando quando calha. Ordenei (assim mesmo) a um grupo que pusesse a protecção e como eles não acataram a minha ordem, chamei um empregando recordando-lhe o que manda a lei e o bom senso. Este respondeu-me: “Tem toda a razão, mas nós só podemos obrigar a máscara os clientes que se apresentem ao balcão.” E esta? 

        - Um amigo contou-me que outro dia no metro entrou um grupo de negros (uns 10) e foram direitos a ele e obrigaram-no a levantar-se para se arrumarem juntos nos quatro bancos que estavam vagos. Como dois ficaram sem lugar, escorraçaram um rapaz branco no quinto banco e ficaram então todos juntos numa galhofa, sem máscara nem qualquer tipo de protecção. Que dirão as meninas e meninos do BE? Aqui racista é quem? Na carruagem ninguém estrugiu nem mugiu. 

         - Incrível! Quando deixei o Celeiro onde almocei, tomei o metro nos Restauradores para o Corte Inglês onde fui pagar a conta do mês passado, comprar o jantar e zarpar para casa. Então não é que na gare, como passageiro, só havia eu! 

Domingo, 20.

Nesta altura nós não nos mostramos aos médicos nem eles aos doentes. Assim, por e-mail, recebi a indicação que a bateria de exames é excelente e só o colesterol a 220 inquieta o clínico e absolutamente nada a mim, mais a mais porque os outros parâmetros estão belíssimos. O médico de família, passou (por telemóvel, claro) uma embalagem de 10 comprimidos de Sevastina. Acontece que não a aviei porque há muito a caixa de 10 desapareceu para dar entrada a uma mais de acordo com a sociedade de consumo de 20 drageias... Com 10, 20, 30 ou 50 não tenciono tomar nenhuma espécie de medicamento. Por enquanto convém dizer dado já que a natureza humana é muito frágil, e a qualquer momento vamos desta para melhor. Tomo, às vezes, suplementos vitamínicos, condrotina,  glucosamina e é tudo. Nada de químicos, portanto. 

Segunda, 21. 

O juiz desembargador Sr. Rui Rangel, foi acusado pelo MP de vários crimes de corrupção, ele e a ex-mulher. Mas há mais juízes envolvidos na Operação Lex, e também o homem forte e vendedor de pneus que dirige o Benfica. Este Rangel, como provavelmente os meus leitores devem estar recordados, nunca me enganou. Aliás o homem, espelho no aspecto, no carácter e nas palavras do país democrático de hoje, já apresentava há muito reflexos de tudo o que se adivinhava e o MP veio a confirmar. Ele e tantos outros novos-ricos nascidos com a UE, vivem fascinados pelo poder que o dinheiro e a boa vida oferece. Este homem, em festas, chegava a gastar 300 mil euros! Daí que hoje a esta nova classe política, a banqueiros e gestores, não interesse milhares, tem de ser milhões devido ao aumento do custo de vida a que a entrada de Portugal na União Europeia impulsionou. 

         - Duas horas a passar foi quanto levei para caiar a entrada. Talvez tivesse arriscado demais, montado no escadote periclitante, mil cuidados sobre pernas e braços. O resultado encheu-me de encantamento como se fosse o cavaleiro adjunto de D. Quixote. Ficou a faltar a barra azul e tenho agora de aguardar umas horas para ver o mundo da beleza trajando um manto alvo estendido ao deslumbre das manhãs outonais que vão chegando de mansinho. Depois hiper embalado, limpei a piscina, colhi alguns figos (sim, sim este ano é de empanturrar) e regressei a casa para me transportar nas páginas de O Matricida. 

Quarta, 23.

Ontem dei um salto ao Chiado. Na véspera tinha-me telefonado a Carmo e o Corregedor a desafiarem-me para um almoço. De caminho entrei na fnac para pedir a um empregado que me desobstruísse o computador da ganância de controlo do Google. Aparentemente ficou tudo regularizado e à noite, já em casa, o acesso aos novos parâmetros deixaram-me no vazio. Bom. Então o nosso encontro na Brasileira. Lá me deparei com o Carmo, Vergílio e a protectora, Castilho e Teresa. Grande discussão como é hábito com o João. Eu falava que a maioria dos presidentes de câmara e junta de freguesia são ignorantes, nada percebem de políticas culturais e dizia que são meros funcionários do partido referindo o daqui de Palmela do PCP; João insurge e cita o ex-presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, que afirmava que “a cultura não enche barriga”. Evidentemente esta afirmação é idiota, provinciana e patega. Mas o que eu constato nos nossos desacordos, é o facto de João continuar a viver o ambiente do Parlamento onde só contam as disputas entre direita e esquerda. O país, o povo, os factos concretos de corrupção, preferencialmente com gente do PSD, CDS e PS, não lhe interessam e quando pode foge deles. É por causa desta dicotomia, contudo, que o Portugal com meio século de democracia está atrasado, o jogo de interesses impera, o progresso não avança, a paralisia mental e estrutural espraia-se por todos os sectores,  os pobres são cada vez mais e o anquilosamento é uma patologia da democracia.   

Quinta, 24.

Terminei a caiação da entrada. Como nunca fiz este trabalho, e o que faço gosto de fazer o melhor possível, acho que estou de parabéns e tenho de agradecer ao simpático velhote de 93 anos que me passou uma parte da sua energia. 


         - A publicidade feita pelos ditos cómicos, é para atrasados mentais. Ela é o retrato de um país reduzido pelos operadores de programas televisivos e publicitários, a um punhado de bolônios. Não sei como ontem, no canal 3, pude ver um programa excepcional, com uma equipa de psicólogos, psiquiatras e registo interventivo de dois professores americanos, além da pintora Graça Morais, sobre o cérebro. Trabalho magnífico, conduzido por uma apresentadora sóbria, conhecedora e segura. Um tema que sempre me atraiu e tenho dispensado muito estudo. 

Sexta, 25.

É curioso o artigo de Rui Tavares no Público sobre corrupção. Parece uma mensagem assobiada aos seus ouvidos pelo arrastão gauchista que se acha o dono da democracia. Cita abundantemente os corruptos de direita e não tem uma palavra para os de esquerda que há muito, juntos com os outros, atravancam os tribunais portugueses. Muito mais honesto é o artigo sobre o tema de Francisco Teixeira da Mota no mesmo jornal. 

         - O ditador Xi Jinping ping ping, espécie de imperador da China e arredores, prossegue a sua política de controlo de milhões de seres prendendo, maltratando, silenciado e abafando as vozes pró-democracia de Hong Kong. O meu amigo Hugues que vive em Taipé há mais de vinte anos, foi obrigado a deixar Taiwan ao abrigo das medidas contra a Covid-19  e não sabe quando terá ordem de retornar. Parece haver muita limpeza ao abrigo do coronavírus, muitos direitos humanos subtraídos. 

Sábado, 26.

A capital espanhola está de novo metida num inferno. Os casos diários de coronavírus já ultrapassam os piores dias de Abril e Maio. A acrescentar ao desnorte do pobre e ambicioso Pedro Sánchez, surgiu agora a senhorita oportunista, uma tal Isabel Ayuno, que, juntando-se à direita, e aproveitando os desentendimentos do ministro da Saúde e das autonomias que de si já baralham a governação, recusa aceitar as indicações do Governo para o número de zonas a confinar. O SNS espanhol em breve estará a rebentar pelas costuras e o povo manobrado pelos partidos políticos, faz manifestações na rua contra a prisão domiciliária. Contudo, a frase lapidar de bom senso veio da dona de um bar no bairro pobre de Vallecas aos enviados do Público a Madrid: “Nós, os pobres, preferimos saúde ao dinheiro, que estamos habituados a não ter.” O chefe do governo, sendo socialista, não percebe esta afirmação. 

         - Já agora aqui vai mais uma frase de mestre, foi escrita por José Pacheco Pereira no artigo “Ai como eu gosto de ser seviciado...”sobre as praxes académicas que por aí proliferam: “Se aceitarem andar a pintar a cara, a arrastar-se pelo chão e a engolir as obscenidades duns tipos vestidos de padre, é porque não cresceram o suficiente para ter voto em qualquer matéria.” 

         - Continuando nas frases. Esta saiu da boca salomónica de Rui Rio: “Viver com 635 euros é pouco, mas viver com 400 ou 500 ou estar no desemprego é pior.” Portanto, contenta-te com o que tens que eu estou bem, graças a Deus. 

         - Estou absolutamente de acordo com o despacho do director nacional da PSP que proíbe que os agentes da autoridade andem de bigodes encaracolados, franjas abaixo das sobrancelhas, tatuagens racistas, piercings, brincos, pulseiras, anéis esquisitos e outros adornos na moda. Se são polícias têm que se comportar como tal. A um padre não se admite que ande a exibir as pernas peludas, calções justos, não é verdade...

         - Ontem novo ataque dos jihadistas em frente a antiga sede do Charlie Hebdo, em Paris. Dois jornalistas foram atingidos à facada, um deles está em estado grave. O criminoso foi um rapaz de 18 anos do Paquistão já referenciado por outros crimes, o outro de 33 de origem argelina, alguns mais andam a monte.

quarta-feira, setembro 16, 2020

Quarta, 16.
O maior escândalo social que desde sempre impera no nosso país, é a falta de respeito, de cuidados devidos aos anciãos, de agradecimento por uma vida de trabalho colaborando com os seus descontos para toda a colectividade. Este flagelo, não acontece com o governo dito socialista, vem desde o 25 de Abril. Os sucessivos executivos, preocuparam-se com a propaganda, com o imediato, com o que vai à televisão barafustar, inventaram um país de sucesso, aplaudiram o PIB, foram reconhecidos lá fora como sendo pessoas competentes, capazes de criar uma pátria equilibrada, onde toda a gente, velhos e novos, tivessem honra e dignidade – tudo uma grande e insultuosa mentira. O país continua como sempre foi: desigual, indiferente aos outros, montado na aparente riqueza que esconde a miséria que a Covid – 19 pôs a nu. Não bastam os dois milhões e meio de pobres, fora os milhares que vivem no limiar da dignidade, há também esta chaga que os governos (todos) pretendem chutar para debaixo da cama. Indignam-se com a Ordem dos Médicos que foi fiscalizar o lar de Reguengos! Pudera ela pôs a nu o que lá viu, seis meses depois do primeiro estrondo do coronavírus: residentes sem água, comida ou medicamentos, abandonados à sua sorte, ao calvário das doenças, da morte anunciada. Eu se fosse governante, não dormia descansado com o peso na consciência de ter concidadãos a morrer na indiferença da família e daqueles que deviam por lei e moral cuidar dos mais fracos e indefesos. Nunca apoiarei os planos de desenvolvimento que redundam no espectáculo e cagança de alguns, enquanto a maioria não tem o mínimo para viver decentemente e uma morte tranquila quando chegar a sua hora.

- A manhã acordou exalando um perfume outonal. O céu encoberto, ligeira aragem tépida, silêncio pesado mais rente à terra. Prossegui o trabalho ao portão sem que ninguém tivesse passado na hora que lá estive a escovar as bactérias que se agarram como lapas ao muro. O resultado da experiência com lixívia dirá o casal e direi eu, não foi brilhante. Seja como for, branqueou um pouco de modo a aceitar mais facilmente a cal. Tal como ontem, voltei a casa revigorado e sentei-me à mesa de trabalho com o croché que avançou página e meia. A técnica - se me é lícito falar assim -, consiste em escrever por ali fora, sem preocupações especiais, deixando para o final do capítulo a revelação, a limpeza ou o caixote do lixo. Escreva qualquer coisa, dizia Sartre a Beauvoir quando ela se lamentava de secura criativa.

terça-feira, setembro 15, 2020

Terça, 15.
Putin acabou de conceder um empréstimo de 1,5 milhões de dólares à Bielorrússia. Forma de ver as coisas. Em verdade este montante mais não é que uma ajuda a Aleksander Lukashenko que o povo quer ver pelas costas, e enquanto isso não acontece mantém a pressão nas ruas em protestos que duram já há quase dois meses.

- De súbito tudo fez sentido, o dia abriu suas asas protectoras e eu pude voar, enfim, por espaços há muito defendidos para mim. Tudo aconteceu quando pelas oito da manhã estava ao fundo da quinta, montado num escadote, a raspar com uma escova de aço as paredes musgosas da entrada. Passa um casal muito jovem que eu já havia lobrigado por aqui em passeios matinais, que me cumprimenta e se demora para dois dedos de conversa. Diz-me ele que na quinta que adquiriram aqui perto, passaram pelo mesmo trabalho, mas resolveram o assunto aplicando uma mistura de 50% de hipoclorito de sódio e água. “Ficaram as paredes tão brancas que já não tivemos necessidade de pintar. Mas isso não é afinal lixívia?” pergunta o pobre franciscano mais do lado da máxima conventual, Ore et Labora. “Pode experimentar”, diz-me o rapaz visivelmente interessado no meu trabalho. Eles seguiram a marcha e eu apliquei-me logo em cobrir uma das grandes paredes com lixívia. Amanhã verei o resultado e decerto eles também. Levado no efeito transcendente do dia, entrei em casa e apliquei-me onde, senhores onde? no Matricida!! Foram duas horas de jacto, o tempo parado, a terra imobilizada, nada à minha volta bulia “na quieta melancolia dos pinheiros do caminho”.

segunda-feira, setembro 14, 2020


Segunda, 14.
Num país que se percorre num dia, com 10 milhões de habitantes dos quais uns 70% em idade de votar, tem nada mais nada menos, que 10 até ao momento (Marcelo incluído) candidatos à Presidência da República, DEZ! Que anedota de país! Que ignorância crassa de um povo!

- Incêndios colossais na Califórnia. Há mais de um mês milhares de hectares são transformados em cinza, casas destruídas, milhares de pessoas desalojadas ou em fuga. Até parece que os americanos acham o desastre ecológico e humano natural ou pelo menos inevitável.

- Fui a Lisboa. Esperava grande confusão com apertos nos transportes, gares inundadas de gente, Chiado a abarrotar de estrangeiros e no final uma calma ordenada acompanhou-me por todo o lado. Na Brasileira levei com o sermão económico do Castilho, que praga! Somos tão obedientes que até chateia!

domingo, setembro 13, 2020

Domingo, 13.
O Mágico diz que não comenta a sua presença na lista de honra do mestre dos corruptos o presidente (em minúscula) do Benfica. Mas comentamos nós, os amantes da independência, da liberdade, da democracia e do contágio de gente envolvida em vários esquemas criminosos com a justiça. É por estas e por muitas outras, que as demoras judiciais favorecem os corruptos arrastando-se, atrasando-se, viajando de tribunal em tribunal de modo a dar tempo aos implicados que os processos caduquem ou os culpados faleçam. A dupla feliz e contente ou antes Romeu e Julieta está em todas.

- Eu já aqui mencionei por várias vezes a possibilidade de um conflito a nível europeu. Boris Johnson acaba de ameaçar a UE acusando-a “de destruir a integridade económica e territorial” do Reino Unido e, nessas condições, vocifera contra o acordo assinado com Bruxelas sobre a Irlanda do Norte. Se ele insistir em rasgar o documento, que pode a UE fazer: a guerra? bloquear Londres? juntar-se aos irlandeses e juntos avançar sobre Downing Street? Oh, que fantasia!

- O PCP apresentou o seu candidato a Belém: João Ferreira que eu aqui já honrei em muitas ocasiões. Foi uma óptima escolha. Assim como louvo a nobre coerência da deputada do PS, Isabel Moreira, ao declarar apoiar João Ferreira como sendo o candidato da esquerda, querendo com isto dizer que o seu partido não apresentou candidato próprio. Se houver segunda volta, estou convencido que a esquerda com aquela coisa chamada BE, voltar-se-á para Ana Gomes.

- Fiz um bolo de nozes. Há minha maneira pois perdi-me completamente na receita e às tantas deitei na massa tudo o que tinha à mão. Está na cloche (no forno eram mais uns euros para o PIB do ditador Xinping ping ping) a ver vamos o que dali sai. Nada de leituras à parte os jornais. Pela manhã regas, limpeza da piscina, algum tempo a cozinhar. Isto de ser dono de casa e de uma quinta, tem muito que se lhe diga... Eu devia ser como aqueles homens idiotas que se levantam e deitam dependentes das queridas criadas, que digo eu, esposas. (Ouvi o cronómetro do iphone tocar, mas queria acabar o raciocínio que estava a traçar no parágrafo; só quando me cheirou a esturro fui à cozinha e vi o bolo transformado num torresmo. A quem aproveitou o dito cujo? Ao chinês bem entendido!)

sábado, setembro 12, 2020

Sexta, 11.
Não me sai do coração a aflição dos 13 mil refugiados de Lesbos ao verem o campo-prisão a arder. Muitos milhares desapareceram, outros foram transferidos para o continente grego, muita criança em sofrimento não percebendo o que estava a acontecer. Esta triste imagem, é a cara da UE estampada dos destinos de milhões de deslocados, da sua indiferença face ao drama dos outros, seus ou não. Os que foram encontrados ou em fuga, estão armazenados em navios até que um novo centro seja construído. A desumanidade é o rosto de uma organização construída para que a máquina infernal de produzir riqueza seja glorificada em detrimento dos seres humanos que em primeiro devia proteger.

- A Maria Luísa telefonou a dar-me os parabéns pelo meu aniversário. Forma de falar, porque o que me disse foi “prepara-te porque isto já está por pouco” e para a filha: “Gi, arranja uma pistola e dá-me um tiro, já cá não ando a fazer nada”. Está choné a minha boa irmã.

- Portugal há dois dias teve mais de 600 novos casos de coronavírus – resultado do querido turismo. Entretanto, a partir de 15 deste mês, o país entra em “situação de contingência” com regras que praticamente não bulam com os negócios. Felizmente que Costa não cedeu às pressões dos corruptos do futebol e continuam os estádios fechados com os profissionais a jogarem como miúdos entre si. Mas a coisa está preta por todo o lado. A França somou mais 9 mil casos; Espanha mais 10 mil; Brasil 33 mil; EUA 37 mil tudo isto no dia de ontem.

- 18,04. Meia hora de vigorosas braçadas depois da tarde consagrada à leitura (São Paulo, jornais, outras mais). Interessa-me particularmente o século dezanove português por tudo quanto ancorou ao século XXI. Sobretudo a história dos dois irmãos D. Miguel I e Pedro IV. O primeiro belo, libertino, sensual; o segundo frágil, feio, mas temperamental. Ambos dependentes do sexo, com filharada dita ilegítima, os dois subordinados ao temperamento forte da mãe, Carlota Joaquina, irmã do rei D. Fernando VII de Espanha. Ela é pouco referida nos artigos que o Público tem vindo a publicar e, todavia, foi ela que manobrou D. Miguel nas suas loucuras contra o irmão, incentivando-o a restaurar o absolutismo, a Constituição e assim. D. João VI foi um rei fraco e não obstante os seus nove filhos, o casamento foi uma desordem. Eu gosto particularmente deste período, porque acho que foi a partir dele que elementos aparentemente desconexos, trabalharam para a restauração da República (pelo meio com aquele absurdo de duas Constituições: brasileira e portuguesa) e para que o país tivesse, por fim, a Constituição de 1822.

- Terminei A Lição do Sonâmbulo de Frederico Pedreira. Ou antes não quero ausentar-me tão depressa de uma obra extremamente bem construída que me arrebatou logo no primeiro capítulo. Ficarei por mais uns dias a reler certas passagens e a saborear a arte de bem escrever, completamente apartada da mediocridade de quase todos autores da nova geração (sobretudo no conteúdo, já agora). Disso me ocuparei quando rasgar (desde o início) um grande elogio ao último trabalho de Frederico Pedreira.

quinta-feira, setembro 10, 2020


Quinta, 10.
Afinal, aquilo que eu pensava ser uma nuvem de produtos químicos que o meu vizinho largava na vinha, era a máquina diabólica que podou em quatro dias estes hectares de vinhedo. Lá se foi o meu sonho de ver pela manhã cedo um rancho de moçoilas e moçoilos a vindimar, cantando velhas canções, lobrigando o horizonte como borboletas adejando um tempo que dentro de mim teima em não morrer.

- Enfim, esta tarde, tivemos a confirmação que Ana Gomes disputará a Presidência com Marcelo Rebelo de Sousa. É corajoso da sua parte, mas sobretudo um enorme contributo à democracia.

- O ciclo dos patetas em que se transformou esta geração, continuou com uma rapariga que por muito que a instrutora lhe explicasse as regras técnicas da instrução, não havia meio de compreender. Às tantas diz-lhe a monitora já sem paciência: “Mas será que eu não falo português!” Pelo que entendi, a aprendiz não percebia a diferença entre código e condução. Olhava para a instrutora de um modo bizarro, parecendo que escutava chinês língua que não pescava patavina. Ao cabo de muito palavreado, a rapariga partiu. Logo a funcionária voltando-se para mim: “Está a ver isto! Esta gente nem português sabe! E isto que o senhor assistiu, é a mínima parte do que eu passo com esta malta nova! São nhurros até à quinta casa, possa!”

- O João é conforme estão os seus olhos. Já me comparou de aspecto aos alemães e outro dia disse que eu era parecido com Emmanuel Macron. Cruzes!

quarta-feira, setembro 09, 2020

Quarta, 9.
Embora o dia devesse ser de serenidade, bom repasto, soneca e omissão total, coube-me andar atrás da renovação da Carta de Condução cujo prazo terminava hoje. Assim, como é habitual, fui à escola de condução onde tirei a respectiva licença há 400 anos, ao Rato, e deparei-me com uma fila de gente na rua. Não invoquei os meus direitos e só ao fim de mais de meia hora, pude entrar na loja para ser observado por uma médica muito jovem que se surpreendeu com o meu aspecto “sólido”. “Que toma? - Champanhe e como caviar.” – Falo de medicamentos. – Nada. – Nem para a tensão, colesterol... – Nada.” Olhou-me com surpresa e acrescentou: “De facto, o senhor tem aspecto bem saudável.” Não respondi ou antes disse para os meus botões: “Passa para cá a carta e deixa-te de salamaleques...”

         - O engraçado aconteceu com um rapaz que deveria começar as aulas de condução. A empregada pergunta-lhe os seus dados e a dada altura a morada. Ele gagueja, diz que não se lembra onde mora. “Então como quer que eu preencha a ficha se não sabe onde habita!” Concentra-se o jovem por sinal uma beauté, e ao cabo de minutos diz o nome da rua. “Tem a certeza?” Ele acena que sim com a cabeça. “Número da porta?” Atrapalha-se de novo e diz que não sabe, está visivelmente perturbado. “Então como posso eu enviar-lhe os documentos?” “Eu costumo entrar pelas traseiras”, diz com sinceridade. Segue-se um longo impasse, a funcionária insiste, espanta-se com a resposta, desconfia, por fim ele tira do bolso dos calções o telemóvel, pesquiza, pesquiza uns largos minutos no aparelho e soletra o número da porta. “Andar?” quando ela pensa que vai acontecer outro hiato, ele responde in petto: “Segundo, direito.” A rapariga abriu muito os olhos e sorriu.

         - No restaurante disse ao empregado que se ufanava em matar o coronavírus pulverizando as mesas com desinfectante: “Que trabalho o vírus chinês lhe dá! - Eu quando vejo um chinês só me apetece devorá-lo! Não diga isso – atalhei – os chineses não têm culpa. O ditador Xinping ping ping (dou mais uma) ping e o exército e o Comité Central do partido é que são os obreiros desta pandemia.”

         - Magnífico o número especial da Paris Match consagrado a De Gaulle. Quem me dera que os políticos actuais se aproximassem em honestidade, competência, dedicação à causa pública e verticalidade ao homem que lutou para libertar a França das patas nazis! Não há ninguém que se lhe compare, nem antes dele nem depois. Os franceses só há poucos anos é que deram conta disso.

         - Descobri a razão pela qual este ano, apesar do intenso calor, não haver quase moscas e mosquitos: os tratamentos (pelo menos uns quatro ou cinco desde o início do ano) à vinha do meu vizinho. Não têm cheiro e há uma certa distância daqui da casa; mesmo assim, sempre que vejo as máquinas, fecho portas e janelas.


         - Quando um empregado de café vos diz “o senhor é um amor” temos tendência a interpretar a lisonja como sendo um convite à dança; mas se esse empregado for africano e trouxer a todo o comprimento do braço tatuado o nome da filha, percebemos que se trata do reconhecimento que somos simpáticos e gentis para com ele.

segunda-feira, setembro 07, 2020

Segunda, 7.
São 10,53 e acabo de chegar da Indochina. Ou a mim me parece dado que saí pelas sete e meia e só agora retorno. Comecei por fazer o check-up anual, depois como tinha-me esquecido do frasquinho com a dita cuja, fui tomar o pequeno-almoço à Luísa Todi (croissant, meia de leite, um copo de água), e logo arranjei líquido suficiente para a análise; voltei ao laboratório, entreguei o tubo e fui ao Auchan fazer compras. De seguida, meti gasolina no carro e, num posto já perto da vila, estive que tempos à espera que um simpático casal de proveta idade acrescentasse ar aos pneus, lavasse os vidros, cobrisse o depósito do limpa vidros e, por fim, farto de esperar, arranquei rumo a este paraíso e a este silêncio sagrado de onde espero sair só amanhã para Lisboa.  

         - Dito isto, quer-me parecer que as análises obtidas por e-mail, traduzem o estado em que se encontram os Centros de Saúde. Há meses que parecem estar dedicados exclusivamente à Covid – 19, deixando para trás milhares de consultas presenciais, doenças a ferver em lume brando, angustias conformadas. A realidade encarrega-se de negar o Mágico para quem tudo decorre com normalidade, aproveitando a maré do coronavírus para fazer magia propagandística do SNS operacional e disponível para todos. Não desejo ao meu pior inimigo adoeça nesta altura. Já basta as doenças mentais que cresceram com o isolamento da pandemia, assim como a falta de assistência espiritual e psicológica que devia estar superactiva nesta altura. A estrutura de apoio dizem-nos que está operacional. Com efeito, existe um ministério, secretarias de Estado, uma Ordem dos Médicos, hospitais, médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar e estes milhares de operativos onde estão? “Notre monde civilisé n´est qu´une grande mascarade: On y rencontre des chevaliers, des moines, des soldats, des docteurs, des avocats, des philosophes, et que ne rencontre-t-on pas encore?” Schopenhauer, Douleurs du monde, pág. 203, Ed. Rivages.  

         - À funcionária da caixa no super, surpreendi-me eu dos poucos clientes e disse que passarei a considerar a segunda-feira para as minhas compras semanais, acrescentando: “Assim não tenho que aturar o mau humor e deselegância das pessoas por terem de dar passagem aos prioritários. - Isso foi culpa do Governo ao abolir as caixas prioritárias. – Porque pensa que os portugueses são civilizados, mas segundo um deputado de esquerda, não passa de uma raça má e egoísta. – Estou absolutamente de acordo, concluiu ela.” Bravo, João Corregedor! 

         - Com a canícula que não nos larga, voltaram em força os fogos ao centro de país. Vários incêndios decerto criminosos, dão muito trabalho aos bombeiros e dizimam hectares de floresta. Não nos faltava o crescente aumento de casos de coronavírus, ainda mais esta praga difícil de controlar.  


         - Vazio enorme sem a companhia da escrita que parece ter-me abandonado definitivamente. Apesar de considerar as 20 páginas de O Matricida como um bom trabalho, inopinadamente, o livro de Frederico Pedreira, mergulhando no mesmo universo da memória, mas infinitamente mais robusto e divertido, trouxe-me o confronto com a complexidade que eu imprimo à escrita quando com ela mergulho no mais fundo de mim ou da natureza humana que me rodeia. Perco-me nesses abismos sombrios para voltar à superfície mais submerso no destino que me coube recriar. Tudo é o que calhou ser e o seu contrário. Aqui reside a dificuldade que me absorve à exaustão.

domingo, setembro 06, 2020

Domingo, 6.
Devido à pandemia da Covid-19, perdi certos hábitos: ir à missa na igreja dos Navegantes, tomar a bica todos os dias no café, frequentar certos locais como o sumptuoso mercado do Livramento, Setúbal, voltas quinzenais pelos brocantes, etc. Talvez não seja por medo de me cruzar com o coronavírus, mas para não passar por certas cenas que traduzem aquilo que o João Corregedor me disse um dia: “O português tem mau carácter.”

         - Rui Pinto começou a ser julgado pelas boas acções que fez em prol da decência, da moral deste e de muitos outros países. Na verdade, quem está sentado no banco do tribunal, é o país que é Portugal e, sobretudo, os seus governantes, o sistema; a turba de dirigentes desportivos, de gestores públicos e privados, e de toda essa arraia miúda que se esconde atrás das leis feitas à medida das confrarias políticas. 

         - A Festa do Avante chega hoje ao fim. Jerónimo de Sousa, contrariamente ao que é tradicional no PCP, atacou forte e feio o Presidente da República. Este como milhares de portugueses não concorda com o acontecimento embora, diga-se em abono da verdade que me foi dado ver através da TV, as regras de higiene estivessem a ser cumpridas à risca. A disciplina revolucionaria ainda é o que era neste recanto à beira-mar plantado. Jerónimo, bem vistas as coisas, é o mais equilibrado de todo o Comité Central. Julgo que por ele não teria avançado o projecto.


         - Este século e particularmente este ano, vai ser identificado do ponto de vista visual, social e histórico pela máscara que todos os povos trazem por esse mundo fora para se protegerem do coronavírus chinês.

sábado, setembro 05, 2020

Sábado, 5.
Almocei com o João Corregedor num restaurante que não conhecia próximo da Praça do Comércio. João diz-me que está a pensar escrever um ensaio sobre o modo como hoje o jornalismo é exercido. Para isso quis ouvir-me. Assim dissertámos pelo menos duas boas à mesa, tendo ele estranhamente pouco desafiado as minhas convicções, mesmo quando estas resvalaram contra a China, Rússia. A dada altura perguntei-lhe, à parte a liberdade, que mais de visível nos trouxe meio século de democracia? Calou-se muito compenetrado, sem resposta. Eu prossegui: continuamos a ter dois milhões e meio de pobres; a vida do resto dos nossos compatriotas é limitada, pequenina, sem rasgos económicos ou culturais; tudo o que eu ouvi contar nos comícios do MDP/CDE como valores alienantes do povo a combater, está hoje realçado e avivado a um ponto que fez da maior parte dos portugueses seres alienados: futebol, Fátima, família; nunca o capitalismo esteve tão florescente, nunca houve tantas centrais de advogados a trabalhar para fazer de corruptos e criminosos homens honestos e tementes a Deus; todas as grandes directivas para abolir a escravidão dos trabalhadores, foram frustradas e quase todas as suas lutas abafadas ficando para a sobrevivência dos sindicados o anual aumento de uns patacos do salário; a saúde está como se vê; o apoio à dita terceira idade com os lares transfigurados em esconderijos e antecâmaras da morte; a indústria quase desapareceu; transformaram o país no bastião do turismo como salvação da pátria; não há planos, anda tudo à deriva sem controlo nem fiscalização; a educação não é um modo de se alcançar a sabedoria, mas o feitiço do ordenado chorudo; somos hoje um povo de patetas com a reformulação das nossas vidas a fazer-se nos espaços televisivos para atrasados mentais; a Justiça não funciona, o seu custo é inacessível à maior parte dos cidadãos; o tecido social e a relação das pessoas entre si, degradou-se imenso; o Estado, as câmaras, os organismos oficiais, gastam sem controlo o dinheiro dos nossos impostos de ano para ano mais elevados, levando cada um de nós a trabalhar em exclusivo para o Estado três meses no ano; somos cada vez mais analfabetos, mais coitadinhos e parece que nos exultamos com isso; a velha máxima, “pobrezinhos, mas honrados” virou “pobretes, mas alegretes”; há nestas sucessivas governações pós-25 de Abril uma enorme leviandade, aproveitamento partidário e pessoal, de costas voltadas aos ideais democráticos e à solidariedade, respeito pelos cidadãos, pela actividade política e governação da polis, no equilíbrio e na igualdade, no labor e no culto do bem comum, tudo substituído pelo baixo jogo manipulado segundo os interesses de uma classe política em défice democrático há muito, que esconde as falhas, o desvario, a incompetência, inclusive, somos maltratados pelo funcionário público que quer impor o seu poder sabendo de antemão que nada lhe acontece, não perde o salário nem é despedido...

         - Grande calor. Andei a limpar a piscina. Primeiro zonzo depois, pés na água, revigorado. Como as despesas não param, parece-me que o relógio automático das horas de tratamento da água está avariado, trabalhando a desoras para a eléctrica chinesa. A felicidade e a joie de vivre, apesar dos azares, reside na leitura de A Lição do Sonâmbulo de Frederico Pedreira e São Paulo de N. T. Wright.