quarta-feira, setembro 30, 2020

Quarta, 30.
Numa altura em que a Europa confina, Portugal está frágil e mais exposto ao coronavírus, o Governo permite que os campos de futebol ensaiam os primeiros jogos com espectadores. Esta absurda ideia, só é possível por um lado porque a cumplicidade em todos os aspectos entre política e futebol é total e porque a força desta trina na conveniência daquela a unidade e os diversos interesses. 

         - Esta madrugada, nos EUA, houve o primeiro debate entre Trump e Biden. Do pouco que vi, retiro um parecer: ao estado a que chegou a política não é de admirar que a humanidade esteja ao nível da sarjeta. O mundo em que vivemos não se recomenda a ninguém e se houvesse possibilidade de prevenir os que nos sucedem de aguentarem um pouco mais, seria de grande sagesse. O que lhes preparamos é nojo. “Raspem com a unha o gentleman sentado à mesa verde de plenipotenciário e encontram a fera.” Diz Aquilino Ribeiro em Volfrâmio. 

         - Salva-se para nosso alento, estes dias sublimes de sol que não queima e deixa na atmosfera um arrepio de júbilo. Na cidade este encanto não passa; é no campo que estas finas areias do deserto sereno e admirável nos chegam em sopro de amplitude. Apetece abraçar o astro-rei, acariciar-lhe os cabelos longos dourados, afagar-lhe o rosto sorridente de onde parte a confiança em dias melhores. Corre uma franzina aragem, enrola-se no ar um friso de melodia que sacode os ramos das árvores. Estou que não posso enrolado nesta cascata de luz e sombras. Para onde vou, não sei.