quarta-feira, janeiro 30, 2019

Quarta, 30.
Aumentaram para 65 os mortos arrastados pela fúria das águas da barragem de Brumadinho. Três  engenheiros foram presos por responsáveis pela tragédia. Assim é que é fazer justiça, responsabilizando as empresas que só têm em vista o lucro, os accionistas e a especulação que tudo isso comporta. Se fosse em Portugal, nomeava-se uma comissão que, no final e com o arrastar do tempo, apenas serviria para deixar cair a memória dos falecidos e dos feridos.

         - Os Estados Unidos são o que são, ponto final. Eu não entendo muita coisa da organização política e social daqueles Estados e muito menos do chamado shutdown.   Trump, obcecado pelas suas ideias reacionárias e inconsequentes, deixou mais de 800 mil funcionários sem trabalho, sem dinheiro, aflitos com o período de inacção que a coisa provocou, as contas caírem-lhes em cima todos os dias. Obama também o utilizou, mas por menos tempo. O poder está inteiro nas mãos do Presidente, embora os congressistas sejam quem aprova ou recusa as propostas da Presidência. Tudo porque Donald Trump quer por todos os meios continuar o muro de forma a impedir que os infelizes passem a fronteira com o México que o seu antecessor começou. Só que, feitas as contas – e aqui reside as incongruências da política -, o shutdown custou muito mais que a verba que o Presidente pede para acabar a barreira do ódio e da xenofobia.


         - Os políticos, grosso modo, são uma cambada de incompetentes e ignorantes. Começa porque não sabem pensar, segue-se que governam em cima das urgências, das catástrofes, da revolta popular. Planear não é com eles - não sabem pura e simplesmente. O poder a todo o custo é o que os enlouquece, arregimentados nos partidos que, sendo indispensáveis à democracia, são hoje a arma que a irá liquidar. Um tal Matos Fernandes, Ministro do Ambiente, homem forte da disciplina partidária, veio dizer que os carros a gasóleo têm os dias contados. E disse mais: que não tivéssemos desgosto por isso, até “porque um carro tem uma vida de 3, 4 anos” e daqui a quatro são os automóveis a energia que estão implementados. Em que universo vive sua excelência? Estas afirmações disparatadas dizem muito da distância que vai entre os dirigentes e o povo. Eu que não sou técnico de coisa nenhuma, mas tenho o hábito de pensar, teci umas quantas considerações sobre o assunto e aconselho os meus leitores a ler o que escrevi em Sábado, 15 de Dezembro de 2018.

terça-feira, janeiro 29, 2019

Terça, 29.
Ainda a propósito da nossa maior interprete de Chopin. Eu dou-me muito bem e somos muito amigos de um alto funcionário da União Europeia, um dos poucos sérios e honestos, encarregado de negociar com a artista suponho que dois milhões de euros de ajuda ao projecto de Belgais. Ele esteve vários dias lá a tentar obter documentos que justificassem a ajuda sem os quais, naturalmente, seria impossível a escola de M.J.P. dispor da verba. Os dias passaram e a proprietária, desentendida com tanta burocracia, acabou por quase correr com ele, amaldiçoando as instituições, os políticos e assim. Lembro-me de ter explicado ao meu amigo que a artista como a maior dos aristas, detesta a consumação da papelada e registos, contas e contabilidade. Mas é uma pessoa séria, interessada em trabalhar para a comunidade, senhora de um património artístico que coloca Portugal lá no cimo e de uma forma mais consistente e digna que um qualquer Ronaldo a chutar na bola. Por outro lado, é uma mulher de causas, de força, de trabalho árduo. Com o seu prestígio, se fosse jogadora de futebol ou empresária portuguesa, estava-se nas tintas para os outros. Assim como maravilhosamente é, partilha com os outros o seu saber, a sua riqueza e dá consistência à sua existência dando oportunidade aos que gostam de trabalhar pela causa da Arte. Porque por aquilo que sei, a Belgais chegam músicos, mas também escritores, escultores, pintores formando uma comunidade de interpenetração artística.

         - Outro dia tive a infeliz ideia de dizer ao Carlos o que Galileu Galilei dizia sobre o vinho, a saber: “O vinho é uma mistura de luz e alegria.” Depois arrependi-me – tarde demais. Até porque o astrónomo não explicou o que pensava do seu reverso.

         - No Xintoísmo a ideia da Natureza impera; enquanto no Budismo é o tempo que prevalece. No Japão onde estas duas religiões coabitam harmoniosamente, fez do país um espaço de pulcritude e diálogo.

         - Quando eu pensava que conhecia tudo de Julien Green, eis que encontro numa livraria do Quartier Latin um livro póstumo com o título L´inconnu que comecei a ler com interesse. Trata-se de uma série de novelas algumas escritas na juventude, a que dá o título ao livro pouco antes de falecer, em 1998, publicadas dez anos após a sua morte, em 2008. Momentos paisibles como são todos os que passo com os livros.

         - Não saí daqui em todo o dia, ocupado com infinitas coisas que uma quinta tem sempre para acudir. Comecei e terminei de podar as hortências, alinhei um muro de lenha, preparei duas das minhas abóboras para fazer compota, entre outros afazeres. Apesar de pardacento e a ameaçar chuva, a manhã e a tarde contiveram-se e foi possível gozar em plenitude o campo. Um silêncio perfeito, claro e nítido pairou sobre este manto de verdura, árvores nuas e chilreios prosaicos de pássaros desnorteados.

         - O PS num gesto demagógico e de conquista de votos, acelerou a construção de uma bomba ao retardador: a autonomia em variadíssimos campos das autarquias. Sabendo nós como os autarcas (salvo raríssimas excepções), são manobrados e corruptos, os cidadãos vão ficar abandonados a um bando de incultos, sugadores do erário público e incompetentes e as cidades e vilas sujeitas às saloiices arquitecturais dos pacóvios armados em senhores absolutos. Triste país este.


         - Temos para fechar o dia, o resultado de uma OGE que coloca Portugal entre os países mais corruptos perto dos africanos. Em 180 países, nós ocupamos o lugar 30 ou seja 64 pontos do ranking. Mas há mais: somos um povo de alcoólicos que já ultrapassou os russos do vodka. Mas se perguntarem ao Mágico o que pensa desta miséria, ele vai responder que isto são invenções a que não devemos dar importância. Ainda que neste momento um chorrilho de políticos estejam sentados nos tribunais, a começar por aquele que era bancário e ascendeu num ápice a ministro e banqueiro da CGD, a procissão de criminosos, provavelmente, vai ser transformada numa romaria de anjos com asas cintilantes de pureza. Para isso várias centrais de advogados trabalham noite e dia.

segunda-feira, janeiro 28, 2019

Segunda, 28.
Compreendemos agora a razão pela qual o homem dos afectos se deslocou ao Panamá: ele sabia que o Papa iria fazer o anúncio das próximas jornadas do espectáculo religioso em Lisboa. Quando uma religião se presta a esta política do efémero e faz da fé um acto como qualquer outro, a decadência não anda longe. A Igreja deixou de acreditar na palavra do Senhor quando diz “muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos” (Mat. 22-14). Quantos destes jovens leram o Novo Testamento? Quantos assistem a uma missa por ano? Quantos praticam a contenção, a ajuda aos outros, a solidariedade? Quantos vivem próximo do Criador? Basta contá-los nas igrejas, sentir o seu viver abastecido do consumo desenfreado, para encontrarmos a resposta.

         - Os gilets jaunes ou pelo menos uma parte, querem constituir-se em partido. Nada pior. Perdem as suas origens de base, alinham no desastre partidário que tanto mal tem feito à democracia, e entram no forrobodó do conluio, da corrupção e dos interesses obscuros em cadeia. Tenhamos confiança na outra parte que quer continuar apolítica.

         - Ontem passei o serão a comprar uma viagem de avião. Forma de falar. Em verdade passei a noite a fugir das aldrabices das companhias de aviação. A atenção, o tempo que é necessário para se conseguir não só o bilhete como encontrar um site claro, conciso, limpo. Fugi da minha querida Rayanair e das outras companhias de preços “baratos”. Acabei escolhendo a TAP que de todas era a mais barata e a que menos xupava às pinguinhas os tostões do cliente.

         - Subiu para 58 o número de mortos na barragem de Brumadinho, centenas de pessoas continuam desaparecidas. Uma tal catástrofe que teve réplicas noutras alturas, devia ter servido de aviso. Mas a loucura do lucro suplanta todas as formas de racionalidade e bom-senso. As formigas não são gente.

         - A Maria João Pires com quem eu conversava muitas vezes na Brasileira, e já nessa altura era um ser humano singular, diz em entrevista ao Público de ontem que “os concursos são a morte da arte, da música, de tudo”. Nada mais certo. Os meus amigos e alguns leitores deste blogue, insistem para que concorra a esses prémios literários que só cumprem em termos de prestígio e propaganda das instituições que os outorgam. Sempre me recusei. Se tiver que trabalhar para a posteridade ou para o caixote do lixo, é-me indiferente. Mas entrar nesses esquemas que conheço muito bem e são, de facto, a morte da cultura, não. Como repetidas vezes afirmo, não me interessa publicar por publicar. A mim o que me é indispensável é escrever, é estar mergulhado nesse mundo de fantasia e rigor criativo que é a construção de um romance. Repito: essas horas esquecido de quem sou, são as mais felizes da minha vida. Vivo verdadeira e intensamente através das personagens que invento ou vêm ter comigo.


         - Por exemplo. Há coisa de mês e meio uma editora que não escondo gostaria de fazer parte do seu catálogo, mandou-me um e-mail felicitando-me pela entrada no número dos seus autores. Pediu-me, todavia, um mês para que duas outras pequenas casas de edição a ela associadas se pronunciassem. Estamos com mês e meio e nada. Contudo, o meu estado de espírito é sempre o mesmo: continuar, não me divorciar do essencial que é a escrita. O que tiver que acontecer, acontecerá. Pois se já sou tão feliz consagrando exclusivamente os meus dias à escrita e à leitura!

domingo, janeiro 27, 2019

Domingo, 27.
Há uma hossana de espírito quando nos deparamos com gente que veio até nós de mãos vazias e um simples smartphone onde trazem registados os trabalhos de uma vida. É o caso de um casal muito jovem, brasileiro, que eu espero o Fortuna saiba guiar e ajudar, dado que vi os notáveis trabalhos em talha dourada e pintada, figuras sacras de um rigor e beleza impressionantes.

         - Francamente não sei o que foi fazer o homem dos afectos ao Panamá, às Jornadas Mundiais da Juventude, presididas pelo Papa Francisco. Não compreendi se foi em representação de Portugal e portanto a expensas do país, ou por conta própria pagando do seu bolso a viagem. Se foi em representação de Portugal, acho mau. Enquanto Presidente da República, deve-se abster de misturar excessivamente a sua condição de católico com a função que exerce. Como cristão, são os seus actos que contam e não o número de genuflexões que faz diante de sua Santidade.

         - Há mais uma revelação das cabalas de José Sócrates, socialista de gema, e antigo primeiro-ministro a banhos na Ericeira. Foi a Caixa Geral de Depósitos que primeiro denunciou as entradas de milhares na sua conta pessoal e daí a Justiça abriu o processo dito Operação Marquês. Quando é que nós deixamos de ouvir falar de tão sinistra criatura?

         - Uma barragem colapsou no Brasil, em Brumadinho, Belo Horizonte. Até ao momento estão contabilizados dezenas de mortos soterrados no mar de lama e sedimentos  e pelo menos 300 pessoas acham-se desaparecidas. O negócio de minérios um pouco anárquico, parece estar na origem desta tragédia.


         - Os gilets jaunes não deixam a rua. Estão no terceiro mês de reivindicações. Lutam por eles e por todos nós, escravos do capital, de Bruxelas, da corrupção, da especulação, do cinismo dos políticos, do abandono a que foram votados jovens e velhos.

sábado, janeiro 26, 2019

Sábado, 26.
Como convidado da Maria José e do Seminário de Almada, estive na inauguração do busto de D. Manuel Martins. A obra da minha amiga é notável e ficou sobre um pedestal de pedra em frente à lindíssima igreja de S. Paulo. O bispo de Setúbal está vivo através da arte escultórica da Maria José e assim ficará através dos tempos e no coração de quantos o conheceram. Chamavam-lhe o bispo vermelho, porque ele nos anos negros de Cavaco Silva, soube estar ao lado daqueles que passavam fome e frio e miséria. Na cidade sadina, não há quem se esqueça dele.

         - Ao meu redor muita gente, sobretudo mulheres. A cerimónia arrastou-se até ao sol pôr quando a iluminação pública se acendeu e um foco sobre a escultura avivou os traços que a artista tão bem soube imortalizar. Muitos sacerdotes, seminaristas, o bispo de Setúbal. Palavras à direita, à esquerda tudo decerto abençoado por Deus que não sei se está de acordo comigo quando, ao admirar aqueles padres vestidos de negro, impecáveis, alguns barbudos, à moda, mais pareciam cópias dos tecnocratas corruptos de Bruxelas que servos do Senhor.

         - Há acções que me redimem da desconfiança que tenho no ser humano enquanto chusma colectiva. Volta que não volta, do fundo da intranquilidade e do egoísmo, acontecem actos de caridade e de humanismo que me deixam no limite da esperança. Foi o caso do menino que caiu a um poço com setenta metros de profundidade, em Málaga, e obrigou a toda uma complexa técnica para o salvar. Durante vários dias, sem descanso, dezenas de bombeiros, técnicos especializados, desbravaram um buraco com máquinas especiais, para chegar à criança que lá se encontrava há 13. Os esforços foram vãos: as equipas de regaste encontraram a criança de dois anos já morta. Fica acção a enaltecer o espírito e a dizer-nos que não devemos olhar a meios para salvar uma vida, uma que seja. A humanidade como um todo, saiu gloriosa.

         - Ontem grande galhofada à mesa do Príncipe com o Carlos e o actor Alexandre. Muito nos rimos com o Alexandre que entra em telenovelas e o Carlos dizia que o vira morrer a semana passada no ecrã de sua casa. Carlos Soares que pelos vistos segue os episódios, falou de um casal homo nessa mesma novela. Mas Alexandre, com luvas, informa-nos que os dois actores não são gays e que tivéssemos em conta que eles não se beijam nem ultrapassam certos limites. Ufa, respirei de alivio...

         - O autocarro que tomei no centro de Almada para a estação do Pragal, custa a módica quantia de 2.40 euros! Como fazem os almadenses para comprar carne e peixe e viverem com o mínimo de dignidade? Mistério.


         - Hoje apareceu aí Fr. Hélcio com um amigo. Fomos depois de larga conversa aqui em casa, a Setúbal ao Café da Casa tomar um chá. Longa discussão sobre a UE que o amigo do meu amigo representa em Portugal, no mesmo edifício da mulher do Paulo. Pessoa calma, cordata, pausada de voz, esgrimiu comigo sem contudo me contradizer totalmente.