Sábado, 5.
Ontem
grande discussão que começou na Brasileira e terminou no Príncipe com momentos
por vezes exaltados. João perguntou-me o que achava do convite da direita (para
ele CDS e PSD) ao juiz Carlos Alexandre para que integrasse o grupos
parlamentares dos seus partidos. Respondi-lhe que tenho o juiz em boa conta e
espero que ele recuse. “Mas não é essa a pergunta que te faço. O que eu quero
saber é se achas bem que eles o tenho feito. – A mim não me interessa decifrar
por que motivo o fizeram, importa-me confiar que o Juiz terá a honorabilidade
de não aceitar. – Então, ponho-te a questão de outro modo. E se fosse a
esquerda (entenda-se o PCP) a convidá-lo, o que achavas. – O mesmo que penso
estar no pensamento do CDS-PSD – oportunismo. É o mesmo jogo de interesses.
Porque, meu caro João, o sujeito da acção e já agora da oração, é Carlos
Alexandre. É nele que tenho os olhos, é nele que confio e por uma questão
deontológica e pelo seu percurso pessoal sei que não entrará nos jogos de
poder.” João Corregedor que passou quarenta anos de vida a esgrimir interesses públicos e partidários no Parlamento, não percebe o logro em que a acção
política hoje navega. A Assembleia da República é uma espécie de ringue de boxe
onde se contendem em primeiro lugar as conveniências partidárias, depois os
proveitos pessoais e por fim, no fundo da Constituição, a colectividade amorfa
que vive dos restos deixados pelos tubarões. Aquela Casa perdeu o respeito
dos cidadãos, aqueles representantes não representam se não as corporações
profissionais de onde provêm. Quando o meu amigo João não me consegue vencer,
lança a consagrada frase: “Tu que és um tipo inteligente e culto, como podes
pensar desse modo!” Eu não lhe dei a resposta, mas cogito para mim que é porque
penso pela minha cabeça e não estou sujeito a nenhuma disciplina partidária.
- De contrário, veja-se este exemplo
vindo de uma cavalheira alter-ego da “ilustre figura”, Inês de Medeiros. A
sujeita levanta a voz no sentido de os ex-deputados terem direito a fundo de
desemprego. Esta desfaçatez surpreende pelo que traz agarrado de sobranceria, de
arrogância, de imposição. Então não há ninguém que explique à linda menina que
o exercício de deputado não é profissão. De resto, são eles que dizem (embora hipocritamente,
sabemos bem), que escolhem ir para o Parlamento por serviço à nação e voz dos
mais fracos. Essa abnegação cívica, permite-lhes ganhar um bom salário, ter
deslocações pagas, nalguns casos casa à borla, seguro de vida-saúde e ainda
lhes dá direito a reforma vitalícia. Assim, nas próximas eleições, vou
candidatar-me à Assembleia da República com os votos dos meus leitores.