sábado, janeiro 26, 2019

Sábado, 26.
Como convidado da Maria José e do Seminário de Almada, estive na inauguração do busto de D. Manuel Martins. A obra da minha amiga é notável e ficou sobre um pedestal de pedra em frente à lindíssima igreja de S. Paulo. O bispo de Setúbal está vivo através da arte escultórica da Maria José e assim ficará através dos tempos e no coração de quantos o conheceram. Chamavam-lhe o bispo vermelho, porque ele nos anos negros de Cavaco Silva, soube estar ao lado daqueles que passavam fome e frio e miséria. Na cidade sadina, não há quem se esqueça dele.

         - Ao meu redor muita gente, sobretudo mulheres. A cerimónia arrastou-se até ao sol pôr quando a iluminação pública se acendeu e um foco sobre a escultura avivou os traços que a artista tão bem soube imortalizar. Muitos sacerdotes, seminaristas, o bispo de Setúbal. Palavras à direita, à esquerda tudo decerto abençoado por Deus que não sei se está de acordo comigo quando, ao admirar aqueles padres vestidos de negro, impecáveis, alguns barbudos, à moda, mais pareciam cópias dos tecnocratas corruptos de Bruxelas que servos do Senhor.

         - Há acções que me redimem da desconfiança que tenho no ser humano enquanto chusma colectiva. Volta que não volta, do fundo da intranquilidade e do egoísmo, acontecem actos de caridade e de humanismo que me deixam no limite da esperança. Foi o caso do menino que caiu a um poço com setenta metros de profundidade, em Málaga, e obrigou a toda uma complexa técnica para o salvar. Durante vários dias, sem descanso, dezenas de bombeiros, técnicos especializados, desbravaram um buraco com máquinas especiais, para chegar à criança que lá se encontrava há 13. Os esforços foram vãos: as equipas de regaste encontraram a criança de dois anos já morta. Fica acção a enaltecer o espírito e a dizer-nos que não devemos olhar a meios para salvar uma vida, uma que seja. A humanidade como um todo, saiu gloriosa.

         - Ontem grande galhofada à mesa do Príncipe com o Carlos e o actor Alexandre. Muito nos rimos com o Alexandre que entra em telenovelas e o Carlos dizia que o vira morrer a semana passada no ecrã de sua casa. Carlos Soares que pelos vistos segue os episódios, falou de um casal homo nessa mesma novela. Mas Alexandre, com luvas, informa-nos que os dois actores não são gays e que tivéssemos em conta que eles não se beijam nem ultrapassam certos limites. Ufa, respirei de alivio...

         - O autocarro que tomei no centro de Almada para a estação do Pragal, custa a módica quantia de 2.40 euros! Como fazem os almadenses para comprar carne e peixe e viverem com o mínimo de dignidade? Mistério.


         - Hoje apareceu aí Fr. Hélcio com um amigo. Fomos depois de larga conversa aqui em casa, a Setúbal ao Café da Casa tomar um chá. Longa discussão sobre a UE que o amigo do meu amigo representa em Portugal, no mesmo edifício da mulher do Paulo. Pessoa calma, cordata, pausada de voz, esgrimiu comigo sem contudo me contradizer totalmente.