Sábado,
26.
Como
convidado da Maria José e do Seminário de Almada, estive na inauguração do
busto de D. Manuel Martins. A obra da minha amiga é notável e ficou sobre um pedestal
de pedra em frente à lindíssima igreja de S. Paulo. O bispo de Setúbal está
vivo através da arte escultórica da Maria José e assim ficará através dos
tempos e no coração de quantos o conheceram. Chamavam-lhe o bispo vermelho,
porque ele nos anos negros de Cavaco Silva, soube estar ao lado daqueles que
passavam fome e frio e miséria. Na cidade sadina, não há quem se esqueça dele.
- Ao meu redor muita gente, sobretudo
mulheres. A cerimónia arrastou-se até ao sol pôr quando a iluminação pública se
acendeu e um foco sobre a escultura avivou os traços que a artista tão bem
soube imortalizar. Muitos sacerdotes, seminaristas, o bispo de Setúbal.
Palavras à direita, à esquerda tudo decerto abençoado por Deus que não sei se
está de acordo comigo quando, ao admirar aqueles padres vestidos de negro,
impecáveis, alguns barbudos, à moda, mais pareciam cópias dos tecnocratas
corruptos de Bruxelas que servos do Senhor.
- Há acções que me redimem da
desconfiança que tenho no ser humano enquanto chusma colectiva. Volta que não
volta, do fundo da intranquilidade e do egoísmo, acontecem actos de caridade e
de humanismo que me deixam no limite da esperança. Foi o caso do menino que
caiu a um poço com setenta metros de profundidade, em Málaga, e obrigou a toda
uma complexa técnica para o salvar. Durante vários dias, sem descanso, dezenas
de bombeiros, técnicos especializados, desbravaram um buraco com máquinas
especiais, para chegar à criança que lá se encontrava há 13. Os esforços foram
vãos: as equipas de regaste encontraram a criança de dois anos já morta. Fica
acção a enaltecer o espírito e a dizer-nos que não devemos olhar a meios para
salvar uma vida, uma que seja. A humanidade como um todo, saiu gloriosa.
- Ontem grande galhofada à mesa do
Príncipe com o Carlos e o actor Alexandre. Muito nos rimos com o Alexandre que
entra em telenovelas e o Carlos dizia que o vira morrer a semana passada no
ecrã de sua casa. Carlos Soares que pelos vistos segue os episódios, falou de
um casal homo nessa mesma novela. Mas Alexandre, com luvas, informa-nos que os
dois actores não são gays e que tivéssemos em conta que eles não se beijam nem
ultrapassam certos limites. Ufa, respirei de alivio...
- O autocarro que tomei no centro de
Almada para a estação do Pragal, custa a módica quantia de 2.40 euros! Como
fazem os almadenses para comprar carne e peixe e viverem com o mínimo de
dignidade? Mistério.
- Hoje apareceu aí Fr. Hélcio com um
amigo. Fomos depois de larga conversa aqui em casa, a Setúbal ao Café da Casa
tomar um chá. Longa discussão sobre a UE que o amigo do meu amigo representa em
Portugal, no mesmo edifício da mulher do Paulo. Pessoa calma, cordata, pausada
de voz, esgrimiu comigo sem contudo me contradizer totalmente.