terça-feira, janeiro 29, 2019

Terça, 29.
Ainda a propósito da nossa maior interprete de Chopin. Eu dou-me muito bem e somos muito amigos de um alto funcionário da União Europeia, um dos poucos sérios e honestos, encarregado de negociar com a artista suponho que dois milhões de euros de ajuda ao projecto de Belgais. Ele esteve vários dias lá a tentar obter documentos que justificassem a ajuda sem os quais, naturalmente, seria impossível a escola de M.J.P. dispor da verba. Os dias passaram e a proprietária, desentendida com tanta burocracia, acabou por quase correr com ele, amaldiçoando as instituições, os políticos e assim. Lembro-me de ter explicado ao meu amigo que a artista como a maior dos aristas, detesta a consumação da papelada e registos, contas e contabilidade. Mas é uma pessoa séria, interessada em trabalhar para a comunidade, senhora de um património artístico que coloca Portugal lá no cimo e de uma forma mais consistente e digna que um qualquer Ronaldo a chutar na bola. Por outro lado, é uma mulher de causas, de força, de trabalho árduo. Com o seu prestígio, se fosse jogadora de futebol ou empresária portuguesa, estava-se nas tintas para os outros. Assim como maravilhosamente é, partilha com os outros o seu saber, a sua riqueza e dá consistência à sua existência dando oportunidade aos que gostam de trabalhar pela causa da Arte. Porque por aquilo que sei, a Belgais chegam músicos, mas também escritores, escultores, pintores formando uma comunidade de interpenetração artística.

         - Outro dia tive a infeliz ideia de dizer ao Carlos o que Galileu Galilei dizia sobre o vinho, a saber: “O vinho é uma mistura de luz e alegria.” Depois arrependi-me – tarde demais. Até porque o astrónomo não explicou o que pensava do seu reverso.

         - No Xintoísmo a ideia da Natureza impera; enquanto no Budismo é o tempo que prevalece. No Japão onde estas duas religiões coabitam harmoniosamente, fez do país um espaço de pulcritude e diálogo.

         - Quando eu pensava que conhecia tudo de Julien Green, eis que encontro numa livraria do Quartier Latin um livro póstumo com o título L´inconnu que comecei a ler com interesse. Trata-se de uma série de novelas algumas escritas na juventude, a que dá o título ao livro pouco antes de falecer, em 1998, publicadas dez anos após a sua morte, em 2008. Momentos paisibles como são todos os que passo com os livros.

         - Não saí daqui em todo o dia, ocupado com infinitas coisas que uma quinta tem sempre para acudir. Comecei e terminei de podar as hortências, alinhei um muro de lenha, preparei duas das minhas abóboras para fazer compota, entre outros afazeres. Apesar de pardacento e a ameaçar chuva, a manhã e a tarde contiveram-se e foi possível gozar em plenitude o campo. Um silêncio perfeito, claro e nítido pairou sobre este manto de verdura, árvores nuas e chilreios prosaicos de pássaros desnorteados.

         - O PS num gesto demagógico e de conquista de votos, acelerou a construção de uma bomba ao retardador: a autonomia em variadíssimos campos das autarquias. Sabendo nós como os autarcas (salvo raríssimas excepções), são manobrados e corruptos, os cidadãos vão ficar abandonados a um bando de incultos, sugadores do erário público e incompetentes e as cidades e vilas sujeitas às saloiices arquitecturais dos pacóvios armados em senhores absolutos. Triste país este.


         - Temos para fechar o dia, o resultado de uma OGE que coloca Portugal entre os países mais corruptos perto dos africanos. Em 180 países, nós ocupamos o lugar 30 ou seja 64 pontos do ranking. Mas há mais: somos um povo de alcoólicos que já ultrapassou os russos do vodka. Mas se perguntarem ao Mágico o que pensa desta miséria, ele vai responder que isto são invenções a que não devemos dar importância. Ainda que neste momento um chorrilho de políticos estejam sentados nos tribunais, a começar por aquele que era bancário e ascendeu num ápice a ministro e banqueiro da CGD, a procissão de criminosos, provavelmente, vai ser transformada numa romaria de anjos com asas cintilantes de pureza. Para isso várias centrais de advogados trabalham noite e dia.