Terça,
29.
Ainda
a propósito da nossa maior interprete de Chopin. Eu dou-me muito bem e somos
muito amigos de um alto funcionário da União Europeia, um dos poucos sérios e
honestos, encarregado de negociar com a artista suponho que dois milhões de
euros de ajuda ao projecto de Belgais. Ele esteve vários dias lá a tentar obter
documentos que justificassem a ajuda sem os quais, naturalmente, seria impossível
a escola de M.J.P. dispor da verba. Os dias passaram e a proprietária,
desentendida com tanta burocracia, acabou por quase correr com ele,
amaldiçoando as instituições, os políticos e assim. Lembro-me de ter explicado
ao meu amigo que a artista como a maior dos aristas, detesta a consumação da
papelada e registos, contas e contabilidade. Mas é uma pessoa séria,
interessada em trabalhar para a comunidade, senhora de um património artístico
que coloca Portugal lá no cimo e de uma forma mais consistente e digna que um
qualquer Ronaldo a chutar na bola. Por outro lado, é uma mulher de causas, de
força, de trabalho árduo. Com o seu prestígio, se fosse jogadora de futebol ou
empresária portuguesa, estava-se nas tintas para os outros. Assim como
maravilhosamente é, partilha com os outros o seu saber, a sua riqueza e dá
consistência à sua existência dando oportunidade aos que gostam de trabalhar
pela causa da Arte. Porque por aquilo que sei, a Belgais chegam músicos, mas
também escritores, escultores, pintores formando uma comunidade de
interpenetração artística.
- Outro dia tive a infeliz ideia de dizer ao Carlos o que Galileu Galilei
dizia sobre o vinho, a saber: “O vinho é uma mistura de luz e alegria.” Depois
arrependi-me – tarde demais. Até porque o astrónomo não explicou o que pensava
do seu reverso.
- No Xintoísmo a ideia da Natureza
impera; enquanto no Budismo é o tempo que prevalece. No Japão onde estas duas
religiões coabitam harmoniosamente, fez do país um espaço de pulcritude e
diálogo.
- Quando eu pensava que conhecia tudo de
Julien Green, eis que encontro numa livraria do Quartier Latin um livro póstumo
com o título L´inconnu que comecei a
ler com interesse. Trata-se de uma série de novelas algumas escritas na juventude,
a que dá o título ao livro pouco antes de falecer, em 1998, publicadas dez anos
após a sua morte, em 2008. Momentos paisibles
como são todos os que passo com os livros.
- Não saí daqui em todo o dia, ocupado
com infinitas coisas que uma quinta tem sempre para acudir. Comecei e terminei
de podar as hortências, alinhei um muro de lenha, preparei duas das minhas
abóboras para fazer compota, entre outros afazeres. Apesar de pardacento e a
ameaçar chuva, a manhã e a tarde contiveram-se e foi possível gozar em
plenitude o campo. Um silêncio perfeito, claro e nítido pairou sobre este manto
de verdura, árvores nuas e chilreios prosaicos de pássaros desnorteados.
- O PS num gesto demagógico e de
conquista de votos, acelerou a construção de uma bomba ao retardador: a
autonomia em variadíssimos campos das autarquias. Sabendo nós como os autarcas (salvo
raríssimas excepções), são manobrados e corruptos, os cidadãos vão ficar
abandonados a um bando de incultos, sugadores do erário público e incompetentes
e as cidades e vilas sujeitas às saloiices arquitecturais dos pacóvios armados
em senhores absolutos. Triste país este.
- Temos para fechar o dia, o resultado
de uma OGE que coloca Portugal entre os países mais corruptos perto dos
africanos. Em 180 países, nós ocupamos o lugar 30 ou seja 64 pontos do ranking. Mas há mais: somos um povo de
alcoólicos que já ultrapassou os russos do vodka. Mas se perguntarem ao Mágico
o que pensa desta miséria, ele vai responder que isto são invenções a que não
devemos dar importância. Ainda que neste momento um chorrilho de políticos
estejam sentados nos tribunais, a começar por aquele que era bancário e
ascendeu num ápice a ministro e banqueiro da CGD, a procissão de criminosos,
provavelmente, vai ser transformada numa romaria de anjos com asas cintilantes
de pureza. Para isso várias centrais de advogados trabalham noite e dia.