Segunda,
28.
Compreendemos
agora a razão pela qual o homem dos afectos se deslocou ao Panamá: ele sabia
que o Papa iria fazer o anúncio das próximas jornadas do espectáculo religioso
em Lisboa. Quando uma religião se presta a esta política do efémero e faz da fé
um acto como qualquer outro, a decadência não anda longe. A Igreja deixou de
acreditar na palavra do Senhor quando diz “muitos são os chamados, mas poucos
os escolhidos” (Mat. 22-14). Quantos destes jovens leram o Novo Testamento?
Quantos assistem a uma missa por ano? Quantos praticam a contenção, a ajuda aos
outros, a solidariedade? Quantos vivem próximo do Criador? Basta contá-los nas
igrejas, sentir o seu viver abastecido do consumo desenfreado, para
encontrarmos a resposta.
- Os gilets jaunes ou pelo menos uma parte, querem constituir-se em partido.
Nada pior. Perdem as suas origens de base, alinham no desastre partidário que
tanto mal tem feito à democracia, e entram no forrobodó do conluio, da
corrupção e dos interesses obscuros em cadeia. Tenhamos confiança na outra
parte que quer continuar apolítica.
- Ontem passei o serão a comprar uma
viagem de avião. Forma de falar. Em verdade passei a noite a fugir das
aldrabices das companhias de aviação. A atenção, o tempo que é necessário para
se conseguir não só o bilhete como encontrar um site claro, conciso, limpo.
Fugi da minha querida Rayanair e das outras companhias de preços “baratos”. Acabei
escolhendo a TAP que de todas era a mais barata e a que menos xupava às
pinguinhas os tostões do cliente.
- Subiu para 58 o número de mortos na
barragem de Brumadinho, centenas de pessoas continuam desaparecidas. Uma tal
catástrofe que teve réplicas noutras alturas, devia ter servido de aviso. Mas a
loucura do lucro suplanta todas as formas de racionalidade e bom-senso. As
formigas não são gente.
- A Maria João Pires com quem eu
conversava muitas vezes na Brasileira, e já nessa altura era um ser humano
singular, diz em entrevista ao Público de ontem que “os concursos são a morte
da arte, da música, de tudo”. Nada mais certo. Os meus amigos e alguns leitores
deste blogue, insistem para que concorra a esses prémios literários que só
cumprem em termos de prestígio e propaganda das instituições que os outorgam. Sempre
me recusei. Se tiver que trabalhar para a posteridade ou para o caixote do
lixo, é-me indiferente. Mas entrar nesses esquemas que conheço muito bem e são,
de facto, a morte da cultura, não. Como repetidas vezes afirmo, não me
interessa publicar por publicar. A mim o que me é indispensável é escrever, é
estar mergulhado nesse mundo de fantasia e rigor criativo que é a construção de
um romance. Repito: essas horas esquecido de quem sou, são as mais felizes da
minha vida. Vivo verdadeira e intensamente através das personagens que invento
ou vêm ter comigo.
- Por exemplo. Há coisa de mês e meio
uma editora que não escondo gostaria de fazer parte do seu catálogo, mandou-me
um e-mail felicitando-me pela entrada no número dos seus autores. Pediu-me,
todavia, um mês para que duas outras pequenas casas de edição a ela associadas
se pronunciassem. Estamos com mês e meio e nada. Contudo, o meu estado de
espírito é sempre o mesmo: continuar, não me divorciar do essencial que é a
escrita. O que tiver que acontecer, acontecerá. Pois se já sou tão feliz
consagrando exclusivamente os meus dias à escrita e à leitura!