segunda-feira, janeiro 28, 2019

Segunda, 28.
Compreendemos agora a razão pela qual o homem dos afectos se deslocou ao Panamá: ele sabia que o Papa iria fazer o anúncio das próximas jornadas do espectáculo religioso em Lisboa. Quando uma religião se presta a esta política do efémero e faz da fé um acto como qualquer outro, a decadência não anda longe. A Igreja deixou de acreditar na palavra do Senhor quando diz “muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos” (Mat. 22-14). Quantos destes jovens leram o Novo Testamento? Quantos assistem a uma missa por ano? Quantos praticam a contenção, a ajuda aos outros, a solidariedade? Quantos vivem próximo do Criador? Basta contá-los nas igrejas, sentir o seu viver abastecido do consumo desenfreado, para encontrarmos a resposta.

         - Os gilets jaunes ou pelo menos uma parte, querem constituir-se em partido. Nada pior. Perdem as suas origens de base, alinham no desastre partidário que tanto mal tem feito à democracia, e entram no forrobodó do conluio, da corrupção e dos interesses obscuros em cadeia. Tenhamos confiança na outra parte que quer continuar apolítica.

         - Ontem passei o serão a comprar uma viagem de avião. Forma de falar. Em verdade passei a noite a fugir das aldrabices das companhias de aviação. A atenção, o tempo que é necessário para se conseguir não só o bilhete como encontrar um site claro, conciso, limpo. Fugi da minha querida Rayanair e das outras companhias de preços “baratos”. Acabei escolhendo a TAP que de todas era a mais barata e a que menos xupava às pinguinhas os tostões do cliente.

         - Subiu para 58 o número de mortos na barragem de Brumadinho, centenas de pessoas continuam desaparecidas. Uma tal catástrofe que teve réplicas noutras alturas, devia ter servido de aviso. Mas a loucura do lucro suplanta todas as formas de racionalidade e bom-senso. As formigas não são gente.

         - A Maria João Pires com quem eu conversava muitas vezes na Brasileira, e já nessa altura era um ser humano singular, diz em entrevista ao Público de ontem que “os concursos são a morte da arte, da música, de tudo”. Nada mais certo. Os meus amigos e alguns leitores deste blogue, insistem para que concorra a esses prémios literários que só cumprem em termos de prestígio e propaganda das instituições que os outorgam. Sempre me recusei. Se tiver que trabalhar para a posteridade ou para o caixote do lixo, é-me indiferente. Mas entrar nesses esquemas que conheço muito bem e são, de facto, a morte da cultura, não. Como repetidas vezes afirmo, não me interessa publicar por publicar. A mim o que me é indispensável é escrever, é estar mergulhado nesse mundo de fantasia e rigor criativo que é a construção de um romance. Repito: essas horas esquecido de quem sou, são as mais felizes da minha vida. Vivo verdadeira e intensamente através das personagens que invento ou vêm ter comigo.


         - Por exemplo. Há coisa de mês e meio uma editora que não escondo gostaria de fazer parte do seu catálogo, mandou-me um e-mail felicitando-me pela entrada no número dos seus autores. Pediu-me, todavia, um mês para que duas outras pequenas casas de edição a ela associadas se pronunciassem. Estamos com mês e meio e nada. Contudo, o meu estado de espírito é sempre o mesmo: continuar, não me divorciar do essencial que é a escrita. O que tiver que acontecer, acontecerá. Pois se já sou tão feliz consagrando exclusivamente os meus dias à escrita e à leitura!