sábado, abril 29, 2023

Sábado, 29.

Quanto mais tempo o PS se conservar no poder, mais o Chega cresce. Um partido sem uma ideia, um programa, que avança na estratégia da terra queimada como faz o BE. A choldra, a apropriação do país pelos socialistas, o desvario de uns e outros, a incapacidade para governar, a corrupção como pandemia que alastra por todos os ministérios, a sensação que o barco tocou o fundo, é por demais  evidente, como notórios são os culpados: Marcelo e Costa. 

         - O Papa está na Hungria em visita de três dias. Esperava-se que Francisco apontasse o dedo a Putin e à invasão da Ucrânia, mas o discurso saiu-lhe brando, coloquial, de bem com todos e com ninguém: “É essencial redescobrir a alma europeia: o entusiasmo e o sonho dos pais fundadores, estadistas que souberam olhar para além do seu tempo, para além das fronteiras nacionais e das necessidades imediatas.” Banalidades. Sua Santidade não percebeu que o ditador russo, só conhece a linguagem da guerra. 


sexta-feira, abril 28, 2023

Sexta, 28.

Não temos governo há muitos meses. Se não estivéssemos sob o domínio do professor de António Costa, o Executivo já tinha há muito tempo ido à vida. Não me lembro de nada semelhante, todos – ministros, secretários, sub-secretários, directores disto e daquilo, incluindo primeiro-ministro e presidente da Assembleia – de uma mediocridade, jactância e soberba confrangedoras. Convenceram-se que a maioria que o povo lhes deu e já se arrependeu, permite-lhes a pouca vergonha da TAP, a corrupção como nata subterrânea que unta todas as acções de uma viscosidade tenebrosa, a indiferença ao povo, penso nos professores que estão em greve há mais de meio ano, aos médicos e enfermeiros, a todos aqueles que trabalhando não ganham para ter uma casa, nos reformados que foram transformados em pelintras sem dignidade nenhuma, em todo o tecido social que se degradou a olhos vistos. E vem agora o ministro das Infra-Estruturas, todo pimpão, ele que é dos mais incompetentes e vassalo do partido, orgulhar-se de ter  exonerado o seu adjunto “por comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades inerentes ao exercício das suas funções num gabinete ministerial”. Quando se sabe que houve, de facto, reunião na véspera da audição parlamentar entre o PS, os assessores do Governo e a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener. Era o Governo em bloco que devia ser exonerado. 

         - Fui à Brasileira, mas não devia. Discussão entre o António e o João que nada tinha de política, mas que o Corregedor logo deu a volta e, sem deixar espaço à contra-argumentação, foi por ali fora sem que ninguém o interrompesse. Eu entrei porque me irrito com aquele volte-face típico nele, misturando tudo, de modo a que fique a cantar de galo, cheio de importância, rotulando os outros de ignorantes, saudoso dos debates sem interesse absolutamente nenhum da Assembleia da República. A dada altura, atira: “Meu caro, tudo é política”. Ante uma frase feita, não há inteligência que resista. Vou acautelar-me: se o António ao desafiar-me para aparecer falar também a ele, não compareço. Dou-me bem com ele, mas estamos politicamente a léguas de distância.  

         - Preciso deste silêncio, dos dias compridos, do vazio cheio que surge de cada minuto, onde me estatelo para me reencontrar e renascer íntegro para a vida. Non sum qualis eram. Oh, caro Horácio! 


quinta-feira, abril 27, 2023

Quinta, 27.

Tenho ternura por Mariana Mortágua. Não estou de acordo com a sua ideologia, mas aprecio a inteligência e a frontalidade como encara a política. Há muitos anos que sei das suas opções sexuais, embora nunca aqui as tivesse revelado por achar que isso não é assunto que valha a pena mencionar e só a ela dizem respeito. Louvo, todavia, a sua coragem que devia ser seguida por outros políticos, pela simples razão que o ar é aberto, as ruas plenas, os jardins recônditos e as tentações amigas da libido insatisfeita... 

         - Triste figura a do presidente da Assembleia da República, ao lado o senhor Silva, a gesticular contra a fúria do Chega pela utilização do 25 de Abril na Casa que é de todos os portugueses. Por essa razão, Augusto Santos Silva, excluiu o partido das delegações que o acompanham nas visitas oficiais ao estrangeiro. André Ventura fala em vingança; eu falo em prepotência, desprezo democrático e ditadura. Noutros tempos, partidos de esquerda, fizeram coisas semelhantes no Parlamento e nenhum presidente utilizou a força. O Chega deve agradecer ao bizarro socialista que, vindo de estratos partidários mais à esquerda do PS, aplicou os mandamentos coercivos que neles aprendeu. É graças a ele que o partido Ventura irá posicionar-se como a segunda maior força do país. Pode-se contestar a forma, mas não o conteúdo. Doze deputados representam muitos milhares de portugueses, goste-se ou não. 

         - Prometem-nos para hoje o dia mais quente desta Primavera em flor. Trabalho no salão, as janelas abertas, o computador nos joelhos e o perfume deste jardim natural a entrar vadio inundando todos os recantos. A Piedade trabalha na cozinha, ouço os seus movimentos, e a casa inteira cede ao encanto que se desprende das estantes abarrotar de livros, da quietude que se instala, do rumor do passado quando aqui aportavam a família e os amigos e a festa entrava e assentava arrais de amizade e cumplicidade. Cedo estive a regar. Depois fui avançar um pouco mais no desmate das silvas sob o loureiro. Tenho para um certo tempo, de modo a não sofrer arranhões que já exibo nos braços. Estes são a fase para aqueles instantes de reflexão e leituras que espero encher nas horas tardias ou nos alvores alvos das futuras recordações.   

         - Eu dizia à Annie que se prepara para cá vir, que lhe dou a minha riqueza e a minha pobreza. 


terça-feira, abril 25, 2023

Terça, 25.

Comecemos pelo dia “25 de Abril Sempre”. Não assisti a nenhum bocado das encantadoras cerimónias que antecederam a estada de Lula da Silva no Parlamento, nem às celebrações que tiveram lugar depois do anafado presidente do Brasil sair, não estou por isso em condições de emitir comentário nem isso me interessa, até porque estive a trabalhar e no duro. Todavia, não deixei de dar uma olhada aos jornais que destacavam o que disse o presidente da Assembleia da República o garboso senhor Santos Silva. O esbraseado senhor, dirigindo-se ao Chega, atirou: "Chega de insultos, chega de envergonhar o nome de Portugal." Não sou apoiante do partido, mas sou ferrenho defensor da democracia. E neste particular, acho que Ventura tem razão em se manifestar e não se deve submeter às imposições partidárias do presidente da Casa do Povo.          

         - Até porque a Democracia não é abrigo da realeza. O que se passa com a maioria que o PS tomou como autoridade suprema, há muitos anos que foi subvertida pelos sucessivos governos socialistas e social-democratas e por aquela coisa chamada “gerigonça”. Reside na cabeça pouco dilatada desta gente, que a ditadura é coisa do passado e, se alguém intentar pô-la em acção, logo o Exército da UE virá em nosso auxílio, ainda que todos saibam que tal ajuda não existe e mesmo existindo não arriscará. Porque os festejos dos 49 anos de Abril entre os políticos, escondem a realidade nua e crua do país real: 3 milhões de pobres (na recente esmola dada por Costa, foi, justamente, esse o número de famílias beneficiadas), o estado da saúde, da habitação, do ensino onde ainda ontem se ouviu gritar “estamos em ditadura”, a indiferença do PS face às pessoas, o dizer hoje uma coisa para a desdizer no dia seguinte, sem vergonha nem pejo, a fossa entre ricos e pobres, o abandono dos jovens à sua sorte, o péssimo trabalho na utilização de fundos da UE, muitos deles perdidos por incompetência dos técnicos e do Governo, etc., etc., etc..  

         - Medvedev, que andou anos a dançar o vira das cadeiras do poder com Putin, disse que “estamos na iminência de uma nova guerra mundial”. O homem é pródigo em asneiras e ameaças. A prova de que a guerra faz bem a tipos como ele, está no facto de os oligarcas russos terem enriquecido muito mais nestes dois últimos anos de guerra. 

         - Já agora, cito as declarações do embaixador da China em França, referindo-se à “operação especial”: “Não há nenhum acordo internacional que materialize o seu estatuto de países soberanos", referia-se à Ucrânia e à Crimeia, acrescentando: "Depende da forma como se olha para este problema. Há uma história. A Crimeia foi da Rússia no início. Foi Khrushchev que deu a Crimeia à Ucrânia na época da União Soviética". Isto foi uma bofetada nas aspirações de líder Macron, que andou em bicos de pés a convencer Putin e, recentemente, na China a pregar em nome pessoal, mas com as costas quentes de Bruxelas. Felizmente, a extraordinária senhora Ursula von der Leyen, estava a seu lado para o pôr na ordem. A ambição do pequeno homem, é maior do que a sua estatura política. 

         - Ontem, depois da natação (gratuita por ser véspera do 25 de Abril!), fui ver a Teresa Magalhães ao Curry Cabral. Ela arranjou uma pneumonia (pelo menos é assim que os médicos definem), sendo que em realidade ela obrou para dentro em vez de o fazer para fora como é natural. Esta operação fez com que os pulmões tivessem sido atingidos e desordem física e mental se degradasse ainda mais. O lar leva-a para o Santa Maria e dali para o hospital onde estes problemas são tratados com eficiência. Encontrámo-la – João e eu – numa enfermaria cordata, na companhia de mais três doentes, num ambiente que me agradou, sereno e cuidado, entubada, a soro fisiológico, sedada e calma. Não sei se nos conheceu, sei que a vi com melhor cara, e, naturalmente, mais calma e sem berros. No entanto, o enfermeiro com muito bom ar e bonito, moderno, com uma enorme tatuagem no braço direito colorida, disse-me que de noite ela fica muito agitada, clamando pela avó. Expliquei-lhe o que isso significava, pois eu próprio a primeira vez que a ouvi gritar pela avó, me impressionei. Intui mais tarde que a “avó” era a senha que permitia a cada uma dos acamados, chamar pela funcionária. A residência chama-se Lar da Minha Avó. Daí que seja mais fácil chamar deste modo, que fixar o nome de cada funcionária. O enfermeiro disse que ia reportar a questão ao médico. 

         - Retenho ainda o magnífico recital de Pavarotti no Central Park, retransmitido pela ARTE domingo passado. Puro acto religioso.  


domingo, abril 23, 2023

Domingo, 23.

O senhor Silva de braço dado com o senhor Costa, tem andado por aí a desdizer o que a UE e os EUA não gostaram que ele tivesse dito, acentua a sua fezada na paz ligado com aqueles que sempre disseram querê-la, desde que à Ucrânia soberana seja surripiada a Crimeia e o Donbass. Este troca-tintas, tem tido o apoio velado do BE, e total do PCP e do PS. Eu se tivesse de enfrentar qualquer um destes partidos, escolheria os comunistas porque expõem às claras o que lhe vai no coração, enquanto os outros são oportunistas que rapam tudo o que podem e surfam a melhor onda. 

         - Ontem, como é hábito, fui aos pequenos agricultores do Pinhal Novo. Passando por cima do imprevisto que foi ter ficado, de súbito, sem carro para regressar a casa e a ajuda perfeita do ACP, tudo o mais desfraldou a manhã de luzência e hilaridade. Quando estava a comprar legumes à minha vendedeira do costume, entrei num diálogo com ela que surpreendeu uma cliente que se encontrava ao meu lado. A senhora (janota), olhou-me de cima a baixo e quando deixei cair uma moeda, ela baixou-se para a apanhar. Disse-lhe: “Não se incomode, são dez tostões.” Ela riu-se e eu continuei a conversa com a camponesa. Mas a cliente não tirava os olhos de mim. Pensei: “Mais uma namorada?” A dada altura pergunto-lhe : “Que tenho eu para me olhar tanto? - Estou a pensar que não é quem aparenta ser pelo modo como fala. Há qualquer coisa que não bate certo.” Ri-me sem me desmanchar e retorqui: “Sabe adoro andar roto e sujo. (Na realidade tinha um buraco na frente da camisola feito por uma traça esfomeada e as calças sujas dos trabalhos de campo.) A Piedade que me conhece há trinta e tal anos, costuma dizer: “O senhor pode andar como quer porque tem bom ar.” Brrrrrrrrrr! E o Francisco, africano, quando por aqui vinha, concluía: “Um branco pode andar sujo e roto, um preto chamam a polícia porque é ladrão.” 


sábado, abril 22, 2023

Sábado, 22.

E lembrar-me eu o que Costa disse de Passos Coelho! Afinal todos os estudos, cálculos e estatísticas afirmam que Portugal está na lista dos países que mais aumentaram os impostos. Somos ricos, podemos encher os cofres do Estado, que retém o dinheiro para fazer figura de bom aluno na UE e de passagem convidar as luminárias nacionais a integrar os altos cargos da organização. 

         - A procissão que por aí vai com o guru brasileiro na frente! Mas esta gente não se olha ao espelho, não vê o ridículo que fazem, em tudo parecido com o que se via no tempo do Estado Novo. Quem pretendem eles iludir naquele modo tão aperaltado, onde todos se misturam e são afinal uma e a mesma pessoa? 

         - Ontem de manhã estive de passagem na Brasileira com o João e o António. O tempo tinha mudado e até choveu ao fim da tarde. Contudo, os velhotes tinham frio, temiam pela pneumonia, criam debandar para o interior do café, mas os turistas eram enxames de abelhas zunindo por todo o lado. Que fizeram as criaturas sensíveis? Pediram uma manta e enroscaram-se nela, ante o olhar admirativo dos que trazem a riqueza ao desvario socialista, naturalmente a sufocarem de calor por comparação com os seus climas. Depois de eles entregarem os aconchegos, desci o Chiado com o Corregedor e fomos abancar na Nacional onde almoçámos e conversámos calmamente sem bico de política. Mas aquela de os velhotes se abrigarem do frio e do vento, conheci-a eu em Colmar, Alsácia, num dia de neve copiosa e frio em consequência. Na realidade, enquanto tomava um chocolate quente, pus a manta que estava em todas as cadeiras sobre os joelhos. 

         - A propósito do António Carmo. Disseram-me que anda por aí a circular a foto tirada aqui com ele e o Virgílio (quinta-feira, 9 de Fevereiro). Quem me informou, foi a Gi que, curiosa, queria saber quem “é a senhora do meio” (o António). Rimo-nos. Eu disse-lhe: “Aquela é o pintor António Carmo que não me consta tenha mudado de sexo, ainda que na sua juventude tivesse sido bailarino do Verde Gaio...” Nova gargalhada.        


quinta-feira, abril 20, 2023

Quinta, 20.

A guerra prossegue contra os que se posicionam de cada um dos lados gritando pela paz. Esta foto, que ganhou o primeiro prémio da Associated Press, da autoria de Evgeniy Maloletka, foi registada durante o bombardeamento russo à maternidade de Mariupol. A mãe perdeu a filha e acabou por morrer também devido aos bombardeamentos. Que alguém leve esta foto aos senhores Xi Jinping e Lua da Silva. 

        - Ontem tive aqui um trabalho que me obrigou a estar de pé, em movimento constante, durante mais de quatro horas. Contratei um homem para me vir cortar o enorme loureiro cujos ramos já batiam na casa. Cortar, não abater, porque a minha intenção é fazer daquele espaço um lugar de estudo e serenidade para os dias de intenso calor. O corte aconteceu nos tentáculos mais altos, de forma a deixar ampliar os outros de modo a gerar uma sombra abrangente, onde sob a folhagem irei instalar uma mesa e cadeiras. Escusado será falar do espanto que a operação me causou, do imenso prazer de ter aguentado o labor duro, logo seguido do jantar ligeiro pelas nove da noite, e quase de imediato a subida para um sono que só espreguiçou às sete e meia. Ainda tenho muita tarefa, sobretudo a erradicar centenas de braços de silvas-machas, gordas, que inundaram completamente a árvore. 

         - No Sudão eclodiu mais uma guerra civil que, por enquanto, opõe os dois principais oficiais do Exército. Suas excelências não hesitam a fazer centenas de mortos civis e a arrasar cidades e vilas. Ambos lutam pelo poder... simplesmente. 

         - A Tunísia que eu conheço de perto, é uma nação de heróis e mártires. Os homens imolam-se pelo fogo para fazer vingar a democracia e os direitos humanos. Desta vez um conhecido jogador de futebol (atenção não se trata de Ronaldo, o pobre só imolará por dinheiro), de nome Nizar Issaoui, pai de quatro filhos, morreu em protesto contra “o Estado policial”. Durante a cerimónia do enterro, a multidão gritou: “Com o nosso sangue e a nossa alma vamos sacrificar-nos por ti, Nizar.” É impressionante! Curvo-me ante gente desta qualidade que não só dignifica a democracia, como é exemplo mais nobre dos sentimentos árabes. 

         - Termino o meu registo, com as palavras da nossa cara Che Guevara, Ana Benavente. Ela deu uma longa entrevista ao Público um dia destes,  onde explana a sua passagem pelo Governo de Guterres, a militância comunista, depois socialista, de deputada e mais outros cargos que a vida lhe ofereceu. Falando da Assembleia da República, diz: “as campanhas eleitorais, quando eu entrava numa sala, eles calavam-se, estavam sempre a tratar de negócios em que eu não entrava”. (...) “Vivia-se muito para o espectáculo, os “bons deputados” eram aqueles que faziam aquelas risotas, aqueles discursos gongóricos – e eu não sou nada desse estilo – e não os que trabalhavam.” Mais adiante, continuou a falar da Casa do Povo: “Não gostei. Tinha a imagem de um trabalho mais estruturado; de uma prestação de contas aos eleitores mais próxima. E não foi isso que eu vi.” Perguntam-lhe sobre a guerra na Ucrânia, eis a resposta: “Eu detesto tanto a actual Rússia como os Estados Unidos. A Ucrânia foi invadida? Foi. Por um imperialista. Não tenho simpatia nenhuma por Zelensky, por razões anteriores, pelo tipo de política que ele fazia. E porque acho que está a sacrificar o povo dele, que é quem mais sofre.” Dito isto, não apresenta nenhuma alternativa, não como se pode fazer a paz., acrescenta: “Mas mais vale uma paz que não é perfeita que a guerra”, as mesmas ideias dos seus antigos camaradas comunistas. Abandonou os socialistas no tempo de José Sócrates “e ainda bem que saí do PS, porque teria vergonha”. Arruma a entrevista falando de regressão, deste modo: “Como se a política estivesse divorciada dos cidadãos. Isso começou muito cedo e tem vindo a concretizar-se.” 


terça-feira, abril 18, 2023

Terça, 18.

Há algum tempo que usufruíamos do silêncio de António Costa em viagem pelo estrangeiro. Silêncio largo, esplendoroso, de uma pureza sem igual, que nos reconfortou embora os seus acólitos tivessem continuado a encher o ar de bactérias imundas. Mas ontem ei-lo de retorno às televisões a fazer aquilo que melhor sabe fazer: propaganda, propaganda, propaganda. Promete descontos neste e naquele produto, oferece esmolas na forma de aumentos de pensões, bónus, ajudas para isto e para aquilo, e nada de substancial e muito menos estruturante que dê dignidade às pessoas e crie riqueza para que todos vivam de uma forma equilibrada e feliz. 

         - Ontem não resisti à simpatia do António e lá fui juntar-me aos amigos tertulianos na Brasileira. Foi uma manhã bem passada a ouvir histórias do Gordilho no hospital quando foi operado a um cancro nos intestinos. Chorei a rir porque o artista é daqueles que não dá confiança às doenças e enfrenta-as com o seu humor habitual – facto que elas detestam. A Baixa era uma brasa, calor de súbito bravo, a lembrar Agosto. Por isso, no Fertagus e nas ruas, muitos rapazes de calções, pernas e coxas a lembrar Julien Green que se as visse não pararia de tremer de excitação. Esta passagem do terceiro volume do diário póstumo, fala por si. “Dans la rue les mêmes tentations. Pourquoi les garçons sont-ils si beaux? Pourquoi montrent-ils leurs jambes nues? Il y a des visages, des corps si monstrueusement attirants que j´en demeure quelquefois saisi, immobile.” Estas linhas foram escritas em Novembro de ´48, na sequência de um longo período de jejum sexual de cinco anos, oferecido à Virgem Santíssima e vigiado pelo padre Couturier, seu orientador espiritual. Depois, bem depois, após terrível sacrifício que ele impôs à sua natureza, não resistiu às tentações e foi procurar Mario, um prostituto profissional que trabalhava numa casa da rue Duret, a quem chegava a pagar 500 francos. Assim, (p. 565): “Hier matin, j´ai très longuement caressé le derrière de Mario, écartant ces fesses dorées pour y plonger mon visage. Il ma dit que les clientes lui faisaient souvent cette caresse et s´est offert à me baiser, mais je lui ai dit que sa queue était trop grosse. “En effet, dit-il vaniteusement, elle est sévère.” Green é um homem apaixonante, mais religioso que muitos religiosos de vocação, que toda a vida lutou contra as suas inquietações que não o largavam um minuto. Resistiu, resistiu, sofreu, combateu o seu instinto, tudo em nome de Deus que não queria ferir de maneira nenhuma, mas acabava por sucumbir a tanto sacrifício. Mario, o profissional do sexo, aos 48 anos e já muito premiado, acabava por ser o “instrumento” mais fácil de satisfazer o cavalo que recusava dormir dentro de si. Uns dias depois, ele não sai da sua cabeça doente:: “Repris par le désir de Mario. Il suce très bien, quand il veut. Je me souviens de sa joli tête fine et cruelle sur mon sexe, la belle chevelure où dansaient des reflets à chaque plongée en avant. Me retient d´aller le voir ce qu´il ma dit des indiscrétions policières. (p.577).” Ele devia saber o que dizia S. Tomás: os pecados da natureza, são os menos graves dos pecados mortais. 

         - Andei a limpar o pequeno tanque com bambus em volta, cortei os rebentos que se expandiram demasiado, e de seguida podei o diospireiro, forma de falar porque esta árvore lindíssima deixa-se aparar com ternura. Logo depois, reguei as hortências, os acantos, as flores que junto à casa são o bouquet que ofereço ao visitante; li dez páginas de Green, fui à piscina, acartei os ramos de bambu para a queima, alinhei meia dúzia de linhas no romance e passo porque outros afazeres não menos importantes vieram juntar-se àqueles. No final fortes dores de rins. A quem pensa que o campo é sossego, tire o cavalo da chuva. Para que tal acontecesse, precisava de um/uma cozinheira, um homem a tratar da quinta, um motorista e chega.


domingo, abril 16, 2023

Domingo, 16.

Sexta-feira almocei no C.I. com os Coutos, pai e filho. Fiquei, por assim dizer, emparedado entre dois socialistas. Temia o que daí viesse, tendo em conta o estado actual do país gerido pelos do partido de ambos e ainda o facto de não estarmos juntos há algum tempo. Mas, não. Tudo correu como nos velhos tempos, a amizade e até uma certa familiaridade, a trazer para o momento os bons e saudáveis tempos de sempre. De política quase não se falou, Couto um pouco alheado; André com resquícios do cargo público que teve conquistado por voto autárquico. Falou-se do aumento de impostos, e logo ele reagiu corrigindo (tentando) a minha opinião onde senti o mesmo ímpeto do Corregedor e que eu conheço tão bem. Na despedida, não pude deixar de desabafar: “Isto não é governo nenhum, é uma desbunda.” E ele, lesto: “É exactamente isso.” Shake hands, André. 

         - A importância que o PCP e BE estão a dar à vinda de Lula da Silva, devemos agradecer à taralhoquice de Marcelo quando lhe dá para arrancar sem pensar com propósitos inconcebíveis que enchem o bazar político de animação. As teorias do pobre homem sobre a guerra na Ucrânia e outras quejandos, são coincidentes com as dos comunistas: a Crimeia pertence à Rússia, ainda que esteja em terra ucraniana que, por sua vez, todo o território é domínio russo. Se assim for, Lula da Silva e Paulo Raimundo, festejarão na embaixada da Rússia o fim da guerra com vinho de champanhe.

         - Fui à missa à igreja do Bonfim. Felizmente plena, com fiéis que pensam pela sua cabeça e não se deixam arrastar na massificação da tristeza pedofilia. Eles não confundem uns quantos sacerdotes que maltrataram crianças com o todo. Pena que o celebrante não leia o seu colega Bento Domingues, que aconselha (e bem) que a homilia não passe do quarto da hora. Quando assim é, como hoje, as repetições são mais que muitas, ficando a impressão que o padre gosta de se ouvir. Quanto a mim, estive aéreo durante toda a cerimónia. Infelizmente. 

         - Há uma semana que comecei com as regas. Mais um detalhe a acrescentar aos afazeres quotidianos que aqui nunca faltam. Tempo magnífico, tudo renasce, tudo se levanta do chão do Inverno, tudo suplica a nossa atenção e o nosso amor. Apetece gritar: hossana! 


sábado, abril 15, 2023

Sábado, 15.

A Hungria está mais uma vez em confronto com a UE e com os blocos ditos de esquerda que assumiram para si a causa da ”igualdade de género”, não por convicção como, de resto, se viu no passado recente e em toda a história do marxismo-leninismo, mas por perda de ideologias e moda. Do que leio, mais uma vez, constato que Viktor Mihály Orbán quer defender os menores de 18 anos da cada vez mais forte influência, leia-se quase imposição, da sua escolha sexual. Devia ficar-se por aí, e não exercer repressão contra a comunidade LGBTQ (e o resto), ao ponto de qualquer cidadão poder agora alertar as autoridades, ainda por cima de forma anónima, para comportamentos que considere violar o casamento e a família, que diz estarem consignados na Constituição. Isto vai dar pano para mangas e os homossexuais vão ficar expostos a toda a sorte de arbitrariedades, enclausurando as suas vidas num inferno.   

         - Os “casos” estão transformados na forma intrínseca de ser socialista. Uma vez mais, está na berlinda o senhor Carlos Pereira, deputado, desta vez porém, por lhe ter sido perdoada pela CGD uma dívida de 66 mil euros de crédito devido a empresa da qual era avalista. O banco já veio dizer que não é verdade, cumprindo assim a verdade de desmentir como é verdade sempre acontecer.   

         - Outra da esquerda que sempre apregoa a moralidade e é exímia a encontrar fossos magnânimos de podridão nos outros, foi apanhada no mesmo lodaçal em que é mestra a combater os de mais. Trata-se da queque Mariana Mortágua. Eu confesso que até tenho simpatia pelo seu dizer, por aquele ar defunto, aquele mistério que desce do olhar invariavelmente parado, de esquerda sixties, padronizada num recuo inocente de quem pode quer e manda. Então não é que a senhorita, como tantos outros da sua espécie (salvo o honrado António José Seguro), meteu-se em ganâncias capitalistas, ganhando excessos na SIC notícias, a debitar ideias de esquerda, furando assim a exclusividade que a lei lhe impõe enquanto deputada! É certo que a viúva devolveu o dinheiro que tanta falta lhe fazia, e eu até lhe perdoaria ficando o assunto encerrado, mas tal não concorda o Ministério Público que a vai constituir arguida. É tudo tão rasca, Santo Deus! 

         - Escutei a uma mulher ao telefone na viagem de Lisboa/Pinhal Novo: “Compras um casaquinho lilás que para este tempo dá muito jeito.” A frase é deliciosa e não podia ser composta noutra língua, com a exuberância do diminutivo que só nós usamos em profusões sucessivas. 

         - O que me segura em vida e me faz vivê-la intensamente, é a crença na eternidade. 


quinta-feira, abril 13, 2023

Quinta, 13.

Não acho que António Guterres tenha sido um secretário-geral das Nações Unidas que fique na história, mas não entendo ou não nos são facultados documentos que me levem a aceitar a argumentação dos EUA, segundo a qual, António Guterres, tem sido demasiado solícito a tentar ajudar a Rússia a melhorar a sua capacidade de exportação de cereais e fertilizantes. Para Washington algumas acções de Guterres "têm prejudicado esforços mais abrangentes para responsabilizar Moscovo pela invasão da Ucrânia". É um facto que ele levou tempo a agir e até pareceu ausente no início do conflito, mas recuperou e foi capaz de desbloquear a trágica situação dos cereais que tanta falta fazem às populações. De qualquer modo, como se trata de fuga de informação do Pentágono posta a circular na Internet, tudo pode ser refeito, cortado, acrescentado e, portanto, untado do ódio de todas as facções político-militares. 

         - O doutrinador da esquerda, Boaventura de Sousa Santos, afinal acumula uma surpreendente ganância não só política como sexual. Honra lhe seja feita na sua idade! A notícia foi dada por três ex-colegas que denunciaram os abusos na instituição onde o virtuoso senhor trabalha (Centro de Estudos Sociais) como orientador de doutoramento. Quem não aceitasse de boa vontade o assédio e mais qualquer coisinha do ilustre senhor, estava tramada porque a nota e o avanço no curso patinava. Aliás, isto não é novo. Muitas alunas e até alunos das grandes universidades, vêm-se queixando das mãozinhas marotas esquecidas nos seus corpos virgens, dos convites à dança em noites de lua cheia, dos jantares tocados a álcool, de uma ou outra viagem romântica ali para os lados da Batalha onde um amigo meu tem estalagem... Todavia, o facto mais interessante é a utilização do romance enquanto forma literária de narrativa. Aquele e outros professores que são denunciados são uma construção romanesca? Porque nenhuma das personagens da obra em causa, se chama Boaventura ou Bruno. Quem os denunciou pelos quadros físicos e psicológicos que as personagens oferecem, foram os próprios ao sentirem-se retratados: “estes somos nós”, gritaram. É muito inteligente da parte das três novas novelistas. Fico a aguardar novo romance com a chancela da Coimbra editora (em minúsculas porque nem sequer sei quem o publicou).  

         - O anafado Lula da Silva chegou à China. De lá lançou o grito de vitória: “O Brasil abriu-se, enfim, ao mundo!” Quer estar no centro desse mundo completamente dividido, a cair aos bocados, onde a humanidade prefere morrer a viver sob a inteligência de homens como ele. Depois das bacoradas sobre a situação territorial da Ucrânia, quer desenvolver negociatas com Xi Jinping. Não só ele como o infeliz banqueiro que nem o seu país é capaz de governar. Neles e um pouco por toda a Europa onde o oportunismo passeia na arrogância destes abrenúncios, todos liberais, que parecem nada ter aprendido com o que se passa nos regimes autocráticos como o russo e o chinês, para quem o Ocidente e a União Europeia são filamentos de conhecimento que vão da Inteligência Artificial ao comércio, sem esquecer a micro-electrónica, a computação e a biotecnologia hoje assaltada por tudo quanto é rei e senhor do mundo. Não percebem que não podem ser livres a comercializar com regimes que disputam entre si o domínio do mundo, depois de terem subjugado e amarrado o seu povo. Não aprenderam nada com o que veio da Rússia, obcecados como estão pelos negócios, a sua imagem, o seu poder. Entregam o povo europeu àquela máfia de ditadores, que submeteram as respectivas Constituições e para elas ditam quantos anos querem ficar no poder a enriquecer e a alimentar a canalha que os mantém. Dir-me-ão que isso de imperialismo também os americanos possuem o dom; há, contudo, uma diferença: em qualquer altura os seus povos podem inverter o rumo porque a democracia o permite, enquanto na China, Rússia, Coreia do Norte, e nos satélites países sul-americanos, não. 


quarta-feira, abril 12, 2023

Quarta, 12.

O cansaço de ontem foi tal, que me atirou para a cama às dez da noite e prontamente o sono me veio abraçar e nem direito tive àqueles sonhos libidinosos que me fazem tão feliz... 

         - Comecei a leitura dos Livros Históricos e logo com a decifração entre YHWH e Josué. Frederico Lourenço ajuda-nos explicando que na forma grega o nome é Iésous, já em hebraico, passa a Yehoshua, mas com o significado de YHWH e em latim Josué. Finalmente vieram os Setenta sábios que, para evitar confusão, fixaram o glossário em Josué e não Jesus. Assim, tenho de primeiro encaixar na minha cabeça esta atribulada situação, para poder prosseguir na leitura do Antigo Testamento. Se conhecia o tetragrama hebraico YHWH, e me habituara a identificar por Jesus, vou ter agora de separar as águas no estudo e conhecimento do texto de Josué. Oh, céus! Toda a filosofia e teologia juntas, não possuem a força da oração – um simples padre-nosso salmodiado com fervor, deixa de lado todos os tratados teológicos e toda a parafernália religiosa. 

         - Acabei de acartar o entulho das yuccas. Foram mais quatro carros para o sítio onde no próximo inverno desaparecerão no fogo. Vou despachar-me para fazer meia hora de natação. O tempo mudou. O que veio agora é uma manta cinzenta descendo do firmamento e matizando a Terra de uma leve tristeza – a tristeza que não consente a luz das manhãs claras da Primavera. (Escrevo para fugir ao apontamento político que corrói estes milhares de palavras aqui debitadas. É uma alegria e um bálsamo para a minha mente, declinar tudo quanto se passa neste país abandonado à sua sorte, pilhado de todos os valores, morais e materiais.) 

         - Há um estudo curioso saído (julgo) em 1947, da autoria do Dr. Gregorio Marañon, A Evolução da Sexualidade e os Estados Intersexuais, referido algures nas leituras de Julien Green. O médico diz coisas como estas: os últimos filhos de um casal, são frequentemente invertidos, porque a mãe está esgotada e também o pai; as gravidezes sucessivas são menos diferenciadas. Não sei se estou de acordo, mas quando observo o que se passa à minha volta, e, sobretudo, aquela expressão tão cândida “éramos quatro e só aquele saiu homossexual”, sou levado a pensar que há qualquer coisa de misterioso na homossexualidade que a ciência não conseguiu até hoje explicar e a Igreja encaixar. E acho que a coisa também lá não vai, com a equiparação da homossexualidade à heterossexualidade e muito menos na gritaria LGBTQQICAAPF2K e mais a tralha anexa. A sexualidade em toda a sua dimensão, tem de ser consentida e vivida de acordo com a natureza de cada um e não com a oficialização de padrões morais e sociais que não têm em conta o ser humano. Quanto mais a sigla LGBT e o resto se libertarem do espectáculo muitas vezes ridículo e recusarem equiparar-se em vidas paralelas às dos heteros, mais a afirmação da sua natureza será reconhecida como contributo enriquecedor da diversidade natural.  

         - “L´inspiration est décidément la soeur du travail journalier”, dizia Baudelaire. Vou encaixar esta afirmação de um homem que tanto trabalhou e levar a cabo o fim da primeira parte do romance. 


terça-feira, abril 11, 2023

Terça, 11.

Poder-se-á argumentar como faz o PCP para quem só existe uma forma de estar na vida: a favor da Rússia contra os EUA, ou do lado destes contra aquela. Ainda que os factos sejam claros como a água, o que importa é manter a chama viva do ódio que se encarrega por sua vez de dar vida ao paraíso marxista onde reina a fraternidade e a igualdade, mas onde falta o essencial - a liberdade e dignidade humanas. Deste modo, é evidentemente uma manobra norte-americana, o Institute for the Study of War (ISW) suspeitar que a organização de criminosos que dá pelo nome de Wagner, ter decapitado soldados ucranianos exibindo-os nas redes sociais russas. Isto não é novo. Eu lembro-me de ver idênticas imagens dos nossos soldados destacados para a guerra nas colónias, cabeças e até pénis espetados em paus para a fotografia.  

         - A propósito, deixem-me registar mais esta derrota para a ala marxista-leninista: a semana passada a Finlândia tornou-se no 31º estado-membro da NATO. Putin que invadiu a Ucrânia com medo que esta se tornasse associado da OTAN, tem agora mais acima a Organização do Tratado Atlântico-Norte a barrar-lhe o poderio bélico e a loucura ditatorial que o cega.   

         - Há mais um facto relacionado com o homem que hoje dirige a TAP e engordou e fez-se dantesco e importante, apoiado na relevância que lhe confere não só o cargo de ministro como a barriga em balão: senhor João Galamba. Aquilo é aproveitar, espremer todo o leite que a vaca dá porque a decência, a honestidade, o mecanismo perverso do exercício da democracia, tornou-se moeda corrente do salve-se-quem-puder. Conhecemos agora mais esta: a mulher, perdão a excelentíssima esposa, do senhor ministro das Infra-Estruturas foi catrapiscada para o ministério das Finanças pelo ministro que detém a  respectiva pasta, senhor Fernando Medina, cognominado  o sacristão. Claro, trata-se de alguém com elevadas habilitações socialistas, ao ponto de não ter sido registado o emprego (e remuneração a condizer) no Diário da República como manda a lei. Entrou pelas portas do fundo, depois da meia-noite para que ninguém a visse. 

         - Não saí deste paraíso onde o sol derrama felicidade, ternura e conforto. Ocupado com uma catrefa de assuntos, do IRS que enviei via Internet, ao roçar da erva nos fundos da quinta, leitura, montagem do lounge (assim batizado pelo Carlos Neto), ao carregar de três carros de entulho vegetal para o local da queima.. só de registar toda esta azáfama me cansa. 

         - A Maria Luísa é assistente há anos do Virgílio Domingues e tem o hábito diário de lhe ler o que eu aqui anoto. Ontem na Brasileira, disse-me que selecionava muita coisa. Não lhe lia, por exemplo, matéria relacionada com peidos, bufas, traques e afins... “por respeito”. Homessa! Se não estivesse tão farto do assunto, sobretudo relacionado com o cheirote socialista, teria substância a desenvolver. Talvez um dia destes quando o ar ficar perfumado da honestidade que devia caber a quem nos governa, tente. 


sábado, abril 08, 2023

Sábado, 5.

Devido ao fedor socialista que por aí tresanda, fico-me hoje pelo que escreveu Rentes de Carvalho:

“TAPa, que fede

"O peido que a senhora deu,

Não foi ela,

Fui eu." 

Quantas variações do espectáculo burlesco da TAP, do governo, do parlamento e do inefável presidente, levam a recordar o poema de Bocage?”


sexta-feira, abril 07, 2023

Sexta-feira Santa, 7.

Ucrânia em alerta contra a ofensiva russa em Bakhmut, ali se decide a importância de cada um dos contendores. Entretanto, numa viagem de negócios, Emmanuel Macron está na China acompanhado pela senhora Ursula von der Leyen que o preservará de dizer asneiras e ser banqueiro ao serviço da França. Basta ler as palavras de um e de outra, para se ver quem possui a grandeza do cargo que ocupa. Longe dali, Lula da Silva que só diz imbecilidades, sugere a Zelensky que ceda a Crimeia porque “não pode querer tudo” como se a Crimeia não pertencesse à Ucrânia. Modo fantasioso de governação à brasileira. 

         - Acabei a correcção do romance (do manuscrito até aqui escrito). Como esta cabeça não pára um segundo, decidi fazer duas partes distintas da história de Boavida Mantovani. Grosso modo, o muito que li e corrigi, agradou-me sobremaneira. Há, todavia, uma parte que penso acrescentar um pouco mais à descrição da Ilha Juliana, onde a narrativa decorre, rica em vegetação, animais e história. 

         - As greves estão em todas as organizações públicas e numa ou outra privada. O país está literalmente abandonado à fúria dos partidos que manobram com mãos de mestre os lacaios. Respeito pelo povo, pelo “nosso povo”, não há. O assalto-ensaio à democracia prossegue nas barbas do Presidente da República, enquanto o Governo se diverte com histórias de milhões e defesa patriótica da TAP. Bem faz o ex-primeiro-ministro socialista, José Sócrates, que se ausentou do país ao encontro do camarada Lula para umas férias de Páscoa tranquilas. Assim vai a república das bananas. Viva a choldra! Viva o socialismo! Viva a Justiça, a ordem e a desordem! Viva o Algarve para onde se deslocam as sardaniscas inchadas! 

         - Quando vou ao Dr. Cambeta, passo em frente à Igreja Evangélica Alemã, e sempre me lembro da Isabel da Nóbrega. Das nossas longas conversas, nunca me apercebi que professasse o catolicismo, mas sim o protestantismo. De facto, quando José Saramago começou a escrever O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ela disse-me: “Ele não devia escrever aquilo, porque não conhece (tenho a vaga ideia de ter dito ele nunca leu) a Bíblia.” Fui consultar a obra do Nobel e dou-me conta que o derradeiro livro que ele me ofereceu dedicado pelos dois, foi a Viagem a Portugal (1981). Acontece que para um protestante a Bíblia é o mais delicado e profundo conctato com Deus. Dai, provavelmente, a sua indignação. Relendo algumas dedicatórias, dou-me conta quanto o escritor me estimava. Por isso, ainda hoje sinto tristeza por não ter feito as pazes com ele. 



quinta-feira, abril 06, 2023

Quinta, 6.

Por que razão não me ouviram? Há anos que venho aqui desvendando a forma de governar socialista e os apetites dos seus militantes-governantes pelo foro das finanças e dos negócios. A telenovela TAP é um dos muitos empreendimentos que tanto gozo deu a António Costa destruir e nela investiu a ideologia barata que a liquidou e nos pôs a todos mais miseráveis. O modo displicente, arrogante, que eles condenam aos capitalistas, foi em todo o processo da TAP aplicado com pompa e circunstância, como se depreende do inquérito parlamentar em curso. Outro elemento que aparentemente parece ser falso - refiro-me à pressão de Hugo Mendes, secretário de Estado das Infra-estruturas, socialista, naturalmente, sobre a CEO (oh, também tu!) para que aceitasse mudar o voo de Marcelo “que é o nosso principal aliado político” no seu regresso de Maputo – é mais uma prepotência socialista contra os 200 passageiros que viajavam no avião desse dia. A senhora, enquanto presidente executiva da companhia, recusou por respeito e consideração dos viajantes. Mas há mais. O deputado socialista Carlos Pereira, que faz parte da comissão parlamentar à TAP, na véspera de a senhora Christine Ourmières-Widener ir ao Parlamento, esteve a coordenar directivas com ela. Esta mixórdia política, não termina aqui. Alexandra Reis, com aquele seu ar bonito e serena de freira no activo, disse que podia ter renunciado “sem contrapartida” da TAP; diz-se também que a CEO (outra vez!) quis pôr na rua o motorista por ele ter falado em uso de carro da empresa por familiares; entre tanta outra marmelada que atesta o desempenho do ex-ministro da ala esquerda do PS e agora deste que lá está fazendo figura de pateta. Se António Costa fosse de facto primeiro-ministro de Portugal, esta cambada toda devia ser julgada por traição aos portugueses e utilização indevida dos seus dinheiros, e o seu sacristão e o do brinco na orelha esquerda, demitidos. Os que lhes deram a maioria, que os suportem. Marcelo Rebelo de Sousa, quer-me parecer, que também não é alheio a este desnorte. Depois admiram-se que o Chega suba exponencialmente nas próximas eleições. 

         - O executivo de Costa, andou a sornar e a propagandear durante sete anos e o resultado está à vista por todo o lado. Portugal viu passar os dinheiros que a UE nos davam para reestruturar as CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional). Incumpriu todos os prazos, deixando para trás o reenquadramento dos serviços que mais tarde serão transferidos para as regiões. Há competência num governo destes? Não há nem pode haver, porque todo ele responde ao partido e à obsessão pelo poder.  

         - Anteontem fui com o João visitar a Teresa Magalhães. Que tristeza! Já não nos reconheceu e todo o tempo que lá estivemos, esteve sempre aos berros. Aparentemente, não tem dores – à excepção daquelas que murmuram e agitam no seu cérebro. Vim para casa a pensar. Na saleta estava uma mulher e um homem. Este dormitava, aquela mastigava com os dois únicos dentes um pedaço de pão. De todas as vezes que lá fui, nunca vi uma só visita e o prédio de três andares é todo ele um lar. À senhora que eu não percebia o que dizia, perguntei se costumava sair, ir ao café em baixo. Não sei se entendeu a pergunta, porque a resposta foi interminável e quando íamos no corredor ainda estava a responder-me. Um fim assim que Deus nos leve. Porque o tempo que ali começa até ao fim, é já um tempo fora do tempo, um mundo enfiado noutro mundo, uma espécie de antecâmara que só eles conhecem os contornos. Sem lucidez, estamos à mercê da solidão da morte; com lucidez experimentamos o amargo antecipado da despedida. Para os que acreditam na salvação, na ressurreição, pode ser um período onde a esperança se junte à alegria de enfim ficarmos frente a frente com Deus. Neste sentido a morte pode ser vivificadora. 

         - Acabei o trabalho a arroste da casa e avancei para o interior da quinta a roçar a erva daninha debaixo das figueiras. Piscina. Na tarja estava uma mulher e um homem. Ela fazia costas, ele dava saltinhos sempre no mesmo sítio. A dada altura ela sai e ao sair, diz: “Boa Páscoa, querido.” Olhei em volta à procura do “querido”, os óculos embaciados. Quando os tirei, ouvi: “É para si, boa Páscoa, querido.” Bah! Só me aparecem duquesas.  

         - A SIC informava os espectadores que as trotinetas foram proibidas em Paris e acrescentou que só na Cidade Luz tal aconteceu. Ignorância. Há muito que o Canadá e Barcelona as interditaram. Em Lisboa só acontecerá quando por todo o lado forem proibidas.  


segunda-feira, abril 03, 2023

Segunda, 3.

No fim-de-semana houve escaramuças entre manifestantes e a polícia. Os do costume, quero dizer PCP e BE, com os seus míseros 6 por cento juntos, mobilizaram os legitimamente descontentes por não terem um tecto decente onde dormir, para descerem à rua em protesto. São eles que se julgam os guardiães da democracia, embora nada tenham feito quando estiveram coligados na famigerada “geringonça” pelos infelizes. A importância que a comunicação social dá aos sindicatos manobrados pelos interesses de poder da esquerda, é-me revoltante. Eles galopam sobre as justas razões das pessoas, mas não vejo programas concludentes. Porque é muito fácil apregoar tudo e nada, quando se sabe que nunca chegam ao poder. O exemplo do governo Vasco Gonçalves logo a seguir ao 25 de Abril, foi marcante do que nos pode acontecer se algum dia tiverem a governação. É verdade que o plano para a habitação do Governo PS, não passa de uma manta de retalhos ideológica onde todos cabem e todos ficam de fora.    

         - São também estes senhores que manobram os sindicatos. Acenam-lhes com mais dinheiro e a “classe operária” que ambiciona chegar aos calcanhares de Ricardo Espírito Santo, do ricaço José Sócrates ou Soares dos Santos, logo rasteja às suas ordens. Assim se passa com a CP. Estão de novo em greve e, desta vez, por um mês. Os barões e condes das infra-estruturas, ligados ao PCP e, portanto, protectores do “nosso povo”, não se importam pelos desarranjos, prejuízos, indignidade daqueles que precisam de trabalhar e ganham muito menos de metade do que eles auferem. Mas como só eles são fortes e o Governo de “gente fraquinha” como diz o pregador da SIC que tudo faz para se candidatar a Belém, a turba de passageiros vai continuar a suar as estopinhas. 

         - Um tal Vladlen Tatarsky, defensor acérrimo da guerra contra a Ucrânia, foi assassinado violentamente em São Petersburgo. Parece que tinha um batalhão de almas a seguir o que debitava todos os dias no seu blogue. Foi presa uma mulher que o Ministério do Interior da Rússia diz ser a autora. O café onde o sujeito estava, ficou em pedaços tal a potência da bomba. Temo pela vida de José Milhazes. 

         - Esta manhã, depois de hora e meia de correcções no romance, enfim, fui continuar (sem acabar) de roçar a erva em frente à casa. A seguir fiz meia hora de natação e após o almoço terminei as memórias de Simone Veil. Que mulher! Que política! Só não gostei que a dada altura da sua vida pública, tenha tecido panegíricos de honestidade a Lula da Silva, sobretudo no modo como o faz. Eu não ponho as mãos no lume pelo actual Presidente do Brasil. 

         - Faleceu a minha querida amiga e antiga colega de jornalismo Maria Antónia Fiadeiro. Era uma mulher secreta, sensível, bonita que sempre me apoiou. Houve um tempo que nos víamos com frequência. Depois as amarguras da vida dela e o meu isolamento, suspenderam os encontros que só aconteciam circunstancialmente. Que Deus a tenha no Céu.  


sábado, abril 01, 2023

Sábado, 1 de Abril.

Não tenho apetência para me encostar aos outros. Assim, tentei pintar os vidros da janela da biblioteca de cima, evitando que o John cá viesse. Não sei se ficou bem, mas para o caso pouco importa. O que interessa é que o conjunto cumpre integralmente o objectivo e o resultado não me parece de todo mau. Criou-se ali um ambiente propício ao estudo, às tardes de calor quando as horas voam na leitura dos meus autores. Por outro lado, esbateram-se as sombras que atapetavam os degraus nas escadas, criando hesitação perigosa quando se desce; para além de evitar que o sol bata intenso nas lombadas dos livros, queimando-as. 

         - A Maria José e eu, fomos sempre grandes entusiastas da obra de Sebastião Fortuna e estamos  agora tristes por ver o destino que uma vida a ela consagrada parece estar a tomar. Fortuna arrastou-se já no limite das suas forças e dos seus dias, acelerando a construção do seu museu perdido o grande espaço que possuía um pouco mais adiante da sua casa. Os filhos parece que não têm dinheiro para pagar o lar onde está a mãe (ele é professor universitário e deve ganhar pelo menos 3 mil euros) e querem desfazer-se daquele espólio e alugar a casa para ajudar nas despesas da viúva. A junta de freguesia e a câmara também não se aproximam para fazer da casa museu e assim responder ao muito que Palmela e Quinta do Anjo devem ao ilustre desaparecido. A nossa indignação de nada serve. Todavia, pela minha parte, não conto com nada da parte dos autarcas que nos governam – são incultos, saloios, rudes, oportunistas, sectários e governam a mando dos partidos. Resta-me pensar que Sebastião Fortuna viveu a vida a realizar os seus sonhos e decerto foi feliz assim. Fez bem a muita gente, sobretudo às sucessivas camadas de ucranianos e romenos que acolheu, deu trabalho e uma família. Um ainda hoje vive na casa que deixou.   

         - Vamos entrar na Semana Santa e mais tarde no Pentecostes assim entendido por católicos e ortodoxos. Contudo, os ingleses protestantes de antigamente, chamavam a esse dia Whitsuntide quando o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos cinquenta dias depois da Páscoa e Jesus Cristo ressuscitou. 

         - A prova que vivemos consecutivamente em propaganda, está nas palavras de António Costa e no zero iva dos produtos essenciais, depois de terem censurado aqueles que o reclamavam e eles respondiam não ser possível. Pois eu, esta manhã, pedi no café uma garrafa de água de 33 cl. e paguei 1.30 euros quando antes custava entre 80 e 90 cêntimos.  

         - Acabei hora e meia de trabalho no corte (pela terceira vez) do mato acumulado à frente da casa. Espero que seja a última e não venha mais chuva a povoar a terra de toda a sorte de erva. Vou tomar um duche e por hoje basta.