quinta-feira, abril 20, 2023

Quinta, 20.

A guerra prossegue contra os que se posicionam de cada um dos lados gritando pela paz. Esta foto, que ganhou o primeiro prémio da Associated Press, da autoria de Evgeniy Maloletka, foi registada durante o bombardeamento russo à maternidade de Mariupol. A mãe perdeu a filha e acabou por morrer também devido aos bombardeamentos. Que alguém leve esta foto aos senhores Xi Jinping e Lua da Silva. 

        - Ontem tive aqui um trabalho que me obrigou a estar de pé, em movimento constante, durante mais de quatro horas. Contratei um homem para me vir cortar o enorme loureiro cujos ramos já batiam na casa. Cortar, não abater, porque a minha intenção é fazer daquele espaço um lugar de estudo e serenidade para os dias de intenso calor. O corte aconteceu nos tentáculos mais altos, de forma a deixar ampliar os outros de modo a gerar uma sombra abrangente, onde sob a folhagem irei instalar uma mesa e cadeiras. Escusado será falar do espanto que a operação me causou, do imenso prazer de ter aguentado o labor duro, logo seguido do jantar ligeiro pelas nove da noite, e quase de imediato a subida para um sono que só espreguiçou às sete e meia. Ainda tenho muita tarefa, sobretudo a erradicar centenas de braços de silvas-machas, gordas, que inundaram completamente a árvore. 

         - No Sudão eclodiu mais uma guerra civil que, por enquanto, opõe os dois principais oficiais do Exército. Suas excelências não hesitam a fazer centenas de mortos civis e a arrasar cidades e vilas. Ambos lutam pelo poder... simplesmente. 

         - A Tunísia que eu conheço de perto, é uma nação de heróis e mártires. Os homens imolam-se pelo fogo para fazer vingar a democracia e os direitos humanos. Desta vez um conhecido jogador de futebol (atenção não se trata de Ronaldo, o pobre só imolará por dinheiro), de nome Nizar Issaoui, pai de quatro filhos, morreu em protesto contra “o Estado policial”. Durante a cerimónia do enterro, a multidão gritou: “Com o nosso sangue e a nossa alma vamos sacrificar-nos por ti, Nizar.” É impressionante! Curvo-me ante gente desta qualidade que não só dignifica a democracia, como é exemplo mais nobre dos sentimentos árabes. 

         - Termino o meu registo, com as palavras da nossa cara Che Guevara, Ana Benavente. Ela deu uma longa entrevista ao Público um dia destes,  onde explana a sua passagem pelo Governo de Guterres, a militância comunista, depois socialista, de deputada e mais outros cargos que a vida lhe ofereceu. Falando da Assembleia da República, diz: “as campanhas eleitorais, quando eu entrava numa sala, eles calavam-se, estavam sempre a tratar de negócios em que eu não entrava”. (...) “Vivia-se muito para o espectáculo, os “bons deputados” eram aqueles que faziam aquelas risotas, aqueles discursos gongóricos – e eu não sou nada desse estilo – e não os que trabalhavam.” Mais adiante, continuou a falar da Casa do Povo: “Não gostei. Tinha a imagem de um trabalho mais estruturado; de uma prestação de contas aos eleitores mais próxima. E não foi isso que eu vi.” Perguntam-lhe sobre a guerra na Ucrânia, eis a resposta: “Eu detesto tanto a actual Rússia como os Estados Unidos. A Ucrânia foi invadida? Foi. Por um imperialista. Não tenho simpatia nenhuma por Zelensky, por razões anteriores, pelo tipo de política que ele fazia. E porque acho que está a sacrificar o povo dele, que é quem mais sofre.” Dito isto, não apresenta nenhuma alternativa, não como se pode fazer a paz., acrescenta: “Mas mais vale uma paz que não é perfeita que a guerra”, as mesmas ideias dos seus antigos camaradas comunistas. Abandonou os socialistas no tempo de José Sócrates “e ainda bem que saí do PS, porque teria vergonha”. Arruma a entrevista falando de regressão, deste modo: “Como se a política estivesse divorciada dos cidadãos. Isso começou muito cedo e tem vindo a concretizar-se.”