quarta-feira, fevereiro 22, 2017

Quarta, 22.
O catamarã que me deixou no Cais das Colunas, trazia fogo nos costados. O baile foi tão grande e tão rodopiado, que os passageiros desataram num alvoroço. Logo me veio à lembrança a viagem de avião entre Viena e Madrid no início deste ano. A turbulência foi tal e tão demorada, que os viajantes pensaram que era chegada a sua hora, as mulheres gritavam, os homens abraçavam-se a elas, o ululo anunciava o fim de tudo. Curiosamente, nesse dia, como segunda-feira, mantive-me absolutamente sereno. A maior tormenta, foi no ar e não vos digo o respeito que a coisa provoca. Mas eu, não sei porquê, interiorizo imediatamente que a minha hora chegou e, portanto, tenho de aceitar o facto como inevitável. Depois – medito tantas vezes! – a morte é apenas um instante, um sopro de nada, para nos transformarmos em outra coisa ou ser, vida ou renascimento.

         - Falava eu ontem demoradamente ao telefone com o Robert, sobre o que vem acontecendo de bárbaro na zona de Bobigny que eu bem conheço por lá ir almoçar a casa dos Legros. A semana passada, outro adolescente foi violado com a matraca de um polícia, tal como aconteceu ao pobre africano que ao princípio se dizia ter sido com o cabo de uma vassoura. Seja como for, um juiz achou desta vez que a selvajaria configura um crime, nada que eu não tivesse dito quando Théo, a primeira vítima, foi agredida. Este provocou durante semanas gigantescas manifestações e distúrbios. O povo tem todo o direito de agir em conformidade – é tudo o que tenho a dizer.

         - Outro dia, o grande Virgílio fez 85 jubilosos anos. Reunimo-nos na Brasileira para festejarmos com um almoço a data. Eu contei ao Guilherme que na véspera tinha tido um sonho esquisito segundo o qual havíamos organizado uma viagem com Virgílio, o Irmão e a Marilda sua mulher a Madrid, à Feira de Arte Contemporânea. Quando nos acomodámos no carro, o Guilherme tinha nos joelhos um gato amarelo que saltou sobre nós e nos arranhou deixando-nos ensanguentados. Logo o Irmão, sentenciou: “É por isso que eu estou a pensar em lá ir mas... de avião!” Diz-me, Virgílio, entre dentes: “Ele anda sempre a queixar-se que não tem dinheiro, que não lhe pagam as obras que faz. – Dinheiro terá – digo eu – porque gasta todos os dias no Príncipe 15 euros para almoçar.” Medita Virgílio um instante para concluir: “Pois.”

         - O Mágico e seus acólitos sem esquecer o sacristão, andam ufanos com os 2.1 por cento do PIB alcançado pelo Ministro das Finanças. O que eles não dizem é como foi possível esse feito. Eu digo. É simples: fechou o investimento do Estado, cortou nas despesas de saúde e escolas, aumentou os impostos e a gasolina, o IMI e outras mais coisas por aqui e por ali, deu aumentos de 2 euros aos reformados e deixou abandonados os funcionários públicos com a ilusória reposição do que o anterior governo havia cortado. Não é por acaso que a UE rejubilou. Mas isto vai ter as suas consequências, não tenham dúvidas. A propaganda socialista ao nível da Europa, é patética e boçal. A dívida aumentou e o investimento é nulo. Entretanto, têm a sorte de não haver oposição credível. Os que integram a Geringonça, engolem todos os dias sapos vivos. Todavia, basta perguntar a qualquer das meninas das caixas dos supermercados, para sabermos o que por aí vai – elas sabem mais de economia e finanças que toda a equipa governativa.


         - Há um jornal Holandês citado por Rentes de Carvalho no seu blogue que chama pateta a António Guterres. A mim custa-me que o Secretário-Geral das Nações Unidas esteja sujeito a estes epítetos. Mas o facto é que o nosso amigo pôs-se a jeito, quando defendeu a Arábia Saudita (um dos principais países que financiam a ONU) como um país de mudança e luta pelo progresso. Acontece que a Arábia Saudita é um coito de repressão, onde a censura impera, dá ajuda o Daesh e propaga por todo o lado as suas convicções retrogradas, nomeadamente, contra as mulheres. De Guterres espera-se que faça diferente e não entre naquela ronceirice universal que deixa andar as coisas com o mínimo de ondas. Quero dizer estagnadas.