quarta-feira, setembro 15, 2021

Quarta, 15.

É muito engraçado sem ter graça nenhuma. Há pouco liguei à SIC para saber novas do mundo. Aparece António Costa, anafado, de fato e gravata, falando, feliz, com tudo o que foi feito para erradicar o coronavírus das nossas vidas e agradecer aos professores, médicos e pessoal auxiliar e aos portugueses por terem sido exemplares e obedientes das regras da DGS. A seguir vem uma série de notícias: professores em greve, médicos a manifestarem-se contra os baixos salários e a saturação de trabalho, doentes sem médico de família, empresas a fechar com os trabalhadores e pedirem medidas de protecção, funcionários de autarquias na rua a reivindicar justiça e melhores ordenados, à porta do Parlamento estão em protesto professores do ensino artístico e o cortejo de descontentes não tem fim, como se Costa vivesse num país e os demais noutro. 

         - Quando ontem falei das ligações perigosas entre políticos que viajam do público para o privado, não sabia quanto a coisa é escandalosa. Veio orientar-me sobre o assunto o médico Bruno Maia, que parece milita do partido das duas meninas, mas isso pouco me interessa sendo mais importante o que ele diz no livro que acabou de sair: O Negócio da Saúde: Como a medicina privada cresceu graças ao SNS. Segundo ele “a destruição das carreiras médicas através da empresarialização dos hospitais e da introdução de contratos individuais de trabalho representam 40% do total”. Por outras palavras: cada médico privado é para o negócio da medicina, um empresário individual com tudo o que isso implica. A pouca vergonha entre hospitais públicos e privados, vem de longa data,  e faz com que os que laboram no público só façam 42 horas por semana, dados de 2018, o resto do tempo quem os quiser encontrar sabe onde os procurar, digo eu. Diz ainda o neurologista que estudou o percurso de 45 ministros e secretários de Estado da Saúde depois do 25 de Abril de 1974 até 2020. “40 % apresentam ligações a empresas do sector anteriores ou posteriores ao início de funções governativas”. É este o Portugal que António Costa quer e os acólitos aplaudem. O povo doente que se amanhe, que morra se tiver que morrer, posto que o país continue com doentes de primeira (ADSE e privados e de segunda (SNS esfarrapado).  

         - Sua Santidade o Papa Francisco está de visita pastoral à Eslováquia depois de ter passado pela Hungria. Antes de deixar o Vaticano, escreveu a introdução ao livro do seu antecessor Bento XVI, A Verdadeira Europa, Identidade e Missão : “Hoje, na Europa, perde-se cada vez mais a ideia de respeito por cada vida humana, a partir da perda da consciência da sua sacralidade, isto é, a partir do ofuscamento da consciência de que somos criaturas de Deus.”  

         - Bom. Não me posso queixar, os exames globais que hoje me chegaram, indicam um homem de vinte anos pleno de saúde. Todos os parâmetros estão largamente dentro do que é considerável não para uma pessoa de mon âge, mas para imberbes. Até a tensão há uma semana que não descola dos 13,2 - 7.6. Para somar ao dia fulgurante, adquiri bilhete para Charles de Gaulle e não deixei este mosteiro onde fui apanhando o resto dos figos, envasando a antúrio de um vermelho intenso que os Corregedor da Fonseca além do lauto almoço que me ofereceram (todo de marisco do princípio ao fim) adicionaram como prenda de aniversário. Nos intervalos, fui começando a arrumar livros e papéis, objectos dispersos, de modo a deixar a casa mais aligeirada de maneira que a Piedade leve o trabalho penoso das ditas limpezas de verão menos árduo.