terça-feira, setembro 14, 2021

Terça, 14.

Somos um país de crianças mimadas. Não importa a categoria – deputado, ministro, polícia, militar, bombeiro, autarca, operário, gestor – desde que saia da rotina devido a uma qualquer circunstância pública inerente ao cargo, para logo receber palmadinhas nas costas dos seus superiores elogiando-o e apareça na TV, quando a acção praticada se circunscreve tão só ao dever e responsabilidade que lhe compete no exercício que lhe foi confiado. Só falta provocar-lhe o arroto televisivo, para que a criança emita um sorriso feliz e se transforme em herói nacional. Ninguém tem a coragem de dizer simplesmente: esse é o seu dever, é para isso que lhe pagam.  

         - Esta vem no Público de hoje e não é novidade para ninguém: “40% dos governantes têm ligações ao sector privado.” É também por esta que o país não passa da miséria. A propósito: 45 por cento dos portugueses, por serem pobres, não paga uma série de taxas e impostos. Não digas isso! Chiu, somos ricos. 

         - Já que toda a gente bota discurso e emite pareceres, aqui vai o meu: Não creio que seja boa a ideia “deixar os miúdos em paz e vacinar quem precisa”, porque as crianças, sem o saberem e sem culpa, transmitem aos adultos o vírus que apanham com frequência e a elas não faz grande mossa.  

         - Voltei ontem a almoçar com a Marília e o João no meu velho restaurante do Largo do Rato, 1800. O que nos reuniu foi uma gentileza minha para a solução de um problema que os preocupava. Dali fui ao Corte Inglês fazer duas compras e regressei a casa sob ameaça de chuva forte. Que só veio a cair muito mais tarde para benfeitoria minha e das árvores, dióspiros, figos, uvas e tudo o que tumesce com a natureza no seu estado puro. Quando subi para dormir, pelas 11 horas e trinta minutos, já do céu vinha um murmúrio contínuo que me embalou até de manhã. Não será o Inverno que se antecipou, mas sente-se já no ar os aromas do Outono.